Nota: Os personagens de Saint Seiya não me pertencem, pertencem ao mestre Masami Kurumada e empresas licenciadas.


Olá pra todos!

Aqui está, mais uma nova história e... Um pedido seu, né Jéssy? Quem é que me disse que queria uma fic do Máscara da Morte com a Shunrei? Sim, minha gente, essa é uma outra história com casais improváveis. Eu adoro casais improváveis e é tudo culpa da Julie Chan que começou com essa história de 'juntar o impossível'... rsrsrs

Sempre achei que a pobre da Shunrei sofria demais no anime e que merecia ser correspondida se não for pelo Shiryu... Bem, que seja pelo Máscara da Morte então ué? XD

Enfim, estou preparada para as possíveis pedradas, pontapés, ameaças de morte e...

Uma boa leitura a todos! XD


Ao menos uma vez

Capítulo I: Tarde demais

Suas mãos pequenas agarravam-se fortemente ao travesseiro no qual jazia abraçada. Era como se aquilo lhe trouxesse uma estranha sensação de prazer, proteção, ou seria... Afeição? O tecido macio contra o seu rosto parecia uma mão cálida e invisível, a acariciá-la no silencio da noite. Era como se estivesse ciente do que acontecia consigo, da luta interna que travava naquele momento.Era noite, era tarde e era hora de dormir, mas... Era tão frio. Tão frio sem ele.

A luz pálida vinda da janela recaia sobre seu rosto, sobre seus grandes e tristes olhos escuros. Eram olhos de menina... Uma menina que havia sofrido demais, chorado demais, visto coisas terríveis demais e com isso crescido antes do tempo. Parecia carregar o peso de centenas de anos em seu corpo jovem e frágil e o pior, a maioria deles infelizes. Felicidade havia se tornado um estado fugaz como a brisa suave de um fim de tarde, algo raro, como uma flor que só floresce uma única vez no ano.

Era uma lagarta que jamais se tornaria borboleta. Tão pouco uma mariposa, que se arriscaria corajosamente noite a fora atraída pela claridade de prata da lua. A noite era fria, cheia de incertezas e temida. Sim, sentia frio, muito frio, mas o frio que sentia não provinha da janela aberta e sim, da imensa solidão que lhe destroçava o peito. Era uma solidão esmagadora que se abatia sobre si e parecia a enterrar no interior de seu casulo. A casa estava vazia, aquele que cuidara de si como se fosse seu verdadeiro pai havia se ido há muito tempo.

E ele, também...

-Shiryu...

Sussurrou o nome dele sentindo a imensa onda de tristeza que se abatia sobre si, mais uma vez, desabar e afogou-se nela. Dissera que não iria mais chorar, mas anos após anos se traia e traia a sua promessa. Lágrimas dolorosas inundaram seus belos olhos deixando-lhe a visão embaçada e molharam o travesseiro.

Aquele por quem ansiara por toda uma vida – aquele a quem dedicara toda a sua vida – jamais voltaria até aquela casa simples. Jamais voltaria até si. Não havia mais nada que o prendesse ali não é? Agora que o mestre havia se ido, o que ele faria ali? O velho mestre era o único elo que sempre o trazia de volta. De volta pra casa, mas não para si.

Tudo o que havia lhe restado eram fragmentos de momentos felizes entre os dois homens amara. Um como a seu pai e o outro... O outro não havia passado de uma paixão platônica não é? Em anos de convivência Shiryu não lhe demonstrara uma única vez que a via como realmente era: uma mulher. Aquela mulher ansiava por ele, chorava por ele e orava por ele todas as vezes que ia pra alguma batalha de vida ou morte. E ele lhe era grato, sabia disso, mas era só o que ele lhe demonstrava, gratidão.

Cuidara dele quando estivera cego, de seu âmago ferido quando pensara que nunca mais voltaria a enxergar e se juntar aos amigos. De todas as suas feridas, fossem elas visíveis em seu corpo ou apenas em seu espírito. Orara por ele quando estava em perigo e lhe dedicara toda uma vida, mas... Será que era tão difícil assim pra ele perceber que só fazia isso por que o amava? Obvio que não negaria ajuda a quem quer que fosse – o velho mestre havia lhe ensinado isso –, mas cuidar de Shiryu sempre fora sua prioridade. Era a única forma que tinha de estar perto dele, de sentir a presença dele. De poder tocá-lo.

Muitas vezes chegara a se trair lhe lançado olhares contemplativos e apaixonados, mas ele sequer parecia notar. Será que era mesmo tão insignificante assim pra ele? Não mais que: A garotinha chinesa que lhe fazia curativos e preparava o jantar quando ele retornava? Sempre ansiosa por uma migalha de afeto, um olhar que fosse?

E o pior é que sempre esperava por ele. Ainda hoje, anos depois, ainda esperava por ele. Ainda o queria servir com um chá quente após uma longa viagem, ainda queria cuidar dele como sempre havia cuidado. Doía demais não poder mais fazer tais coisas. Era jovem, era bonita – as mulheres da aldeia lhe diziam isso –, os rapazes viviam a lhe fazer gracejos quando ia até a feira vender suas hortaliças, mas seu coração continuava preso a ele, a imagem de Shiryu.

Por anos ansiara por um beijo seu, por um toque, um abraço, e a única vez em que pensara estar perto de conseguir isso o que ele havia feito? Havia partido sem sequer lhe dar tempo para argumentar. Ele sequer se preocupara com as lagrimas amargas que derrubara, com a dor que lhe dilacerava o peito. Sabia que não podia ser orgulhosa a ponto de desejar que ele ficasse quando o destino de tantas pessoas estava em jogo, mas a idéia de perder não só a ele, mas ao velho ancião lhe era dolorosa demais. O velho Dohko havia deixado claro que jamais voltaria, era a sua ultima batalha, e lhe desejara que fosse feliz ao lado de Shiryu. Iria para a batalha para que certa forma pudesse poupar Shiryu e também lhe proporcionar aquela tão sonhada felicidade. A utopia com que tanto havia sonhado.

Aquilo fora algo triste, doloroso, e ao mesmo tempo fora uma alegria imensa, tão forte quanto à queda d água das cachoeiras de Rozan. Aquela possibilidade lhe invadiu o peito de felicidade naquela noite fria, aqueceu-a, acalentou-a, sem que pudesse impedir tal sentimento egoísta. Shiryu realmente ficaria consigo? Fora tola de acreditar que sim, tola e incrivelmente egoísta por ficar feliz com tal 'troca'. Ele jamais iria abandonar o seu dever como cavaleiro e tão pouco deixar que seu velho mestre se 'sacrificasse' por ele. Shiryu era orgulhoso demais, fiel demais ao seu destino como cavaleiro e aos seus amigos para permitir algo do tipo. A amizade e o dever sempre estariam acima de tudo. Era leal a essas duas coisas cegamente e sempre o seria.

Talvez fosse por isso que gostasse tanto dele, mas... Um cavaleiro não tem o direito de amar também? Será que ele nunca tivera sonhos ou desejos como qualquer pessoa? Será que nunca se sentira só e com uma necessidade brutal de ser abraçado ou tocado por alguém? Pois era exatamente isso o que sentia. Sentia-se como uma boneca de cera que dia após dia fazia movimentos mecânicos e nada mais. Apenas sobrevivia. Não tinha calor, não tinha vida pulsando dentro de si.

A garota que um dia havia sido ansiara por ele, dia após dia, anos após anos, o idealizando como o príncipe encantado, por um único olhar. Já a mulher, aquela que tentava a todo custo esconder, calar e sucumbir dentro de seu casulo, desejava ardentemente, mesmo que em segredo, ser dele de corpo e alma. Queria saber como seria ser acarinhada por ele, beijada, tocada, dormir aconchegada em seus braços fortes. Queria poder construir uma vida ao lado dele, como o velho mestre lhe dissera para fazer. Ele também desejava que fosse feliz e sabia que sua felicidade morava no antigo discípulo. Só que assim como não estava em suas mãos fazer com que Shiryu olhasse pra si com amor, também não estava nas mãos do velho ancião mudar isso.

Shiryu sempre fora e seria o homem de sua vida, sabia disso, mesmo depois de tantos anos sem o ver. Tudo o que queria era poder ouvir a voz dele dizendo o seu nome... Sentir o cheiro dele quando ele lhe abraçasse daquela forma quase que paternal.

Tudo o que queria era vê-lo mais uma única vez...

-Shunrei...

Shunrei estancou, seu corpo gelou, diante daquela voz conhecida. Aquilo não podia ser real, não depois de tantos anos...

Não podia ser...

Ele.

-Sou eu Shunrei, Shiryu. Eu voltei; disse o cavaleiro depositando a mochila que trazia nos ombros ao lado da porta, foi quando finalmente a garota se levantou e se sentou olhando pra si.

Ela ainda era a mesma. Doce e bela, delicada como uma flor que acaba de desabrochar; ele pensou. A garota jazia sentada sobre a cama com os longos cabelos negros sempre presos na costumeira trança agora soltos, a deslizarem de forma displicente por seus ombros delicados e alvos. Usava apenas uma camisola de tecido claro que em nada evidenciava suas curvas. Era infinitamente comportada, mas a delicada alça a deslizar por seu ombro nu era um convite sensual aos olhos, mesmo que casto e sem qualquer pretensão.

Ela ainda tinha aqueles olhos de menina... Aqueles mesmos olhos que tanto o haviam encantado.

Como pudera ter esperado tanto tempo para voltar?

Para voltar pra ela?

-Pensei que não iria mais voltar, agora que o mestre se foi; ela disse com um olhar deveras magoado.

O que diria a ele? Ou melhor, o que ele esperava que lhe dissesse? Que ficara todos esses anos chorando e esperando por ele? Que tudo o que queria era ser tomada por ele àquela noite como se nada tivesse acontecido? Que ainda o amava como a mesma adolescente apaixonada de anos atrás? Aquilo não era justo. Mas o ter ali tão perto de si, se ver refletida naqueles olhos azuis só tornava a situação ainda mais difícil. Metade de si dizia que ele não merecia seus sentimentos depois de todos aqueles anos de abandono sem sequer lhe mandar uma única carta, mas a outra metade, a mesma que exultara com a noticia de que Hades fora derrotado através de um telegrama mandado por Saori, aquela metade, ainda queria que ele lhe abraçasse, que lhe beijasse com toda a paixão que seu coração ansiava sentir.

-Não queria que eu voltasse? –ele indagou ao perceber a mágoa quase palpável da garota, entretanto, ignorando tal fato se aproximou e se sentou aos pés da cama fitando-a diretamente nos olhos.

-Foram cinco anos. Achei que tivesse até se esquecido desse lugar; ela respondeu no mesmo tom de amargura.

-Shunrei, eu...

-Nem ao menos uma carta? –ela indagou ao vê-lo titubear sem saber o que lhe dizer. –Em todos esses anos você sequer se preocupou de me mandar uma única carta. Só soube que você estava vivo através de outra pessoa. Se não fosse o telegrama da Saori eu ainda estaria chorando a sua morte, como chorei a ainda choro a do mestre.

-Me perdoe Shunrei; ele sussurrou quase que numa súplica.

-Eu sinceramente não sei o que faz aqui depois de tantos anos; seu tom fora deveras duro como jamais pensou que o seria, muito menos com ele. Mas era exatamente o que se passava em sua cabeça agora.

Shiryu ponderou fitando-a por longos instantes. Estava enganado, ela não era mais a mesma garota gentil e tímida que deixara há anos atrás. Ela era uma mulher agora, alguém que com toda certeza havia se cansado de esperar, de ansiar por alguém como a si. Via isso com total clareza em seus olhos escuros. Em todos esses anos as palavras do velho mestre retumbaram em sua mente: "Como podia ter abandonado Shunrei?".

Era mesmo um tolo!

Jogara para o alto a sua chance de ser feliz ao lado dela, primeiro por ter partido para a batalha contra Hades sem que lhe deixasse claro o seu amor por ela e depois, quando não voltara pra ela quando tudo havia se resolvido. Em cinco longos anos se atormentara por isso até que tivera coragem de voltar até ali, de voltar pra ela. Mas será mesmo que ela ainda o desejava perto de si?

Havia tentado reconstruir a sua vida após o fim das guerras, mergulhado de cabeça no trabalho com a fundação, mas nada daquilo era o que realmente queria. Nada mais era que uma fuga da realidade, uma realidade que não queria enfrentar. Teria mesmo a perdido para sempre? Sua vida não tinha o menor sentido sem ela. Em cinco anos não tivera vida, porque não a tinha ao seu lado. Por covardia? Sim, por pura covardia de enfrentar suas incertezas como enfrentava os seus inimigos, até que Shun o convencera de que se não tentasse nunca saberia se daria certo ou não. Saber se ela iria lhe perdoar, se ainda o amava dependia de uma única coisa: ir até ela.

E era o que havia feito não? Não era hora para ser covarde.

-Eu te amo Shunrei...

-O que? –ela arregalou os orbes assustada. –O que disse?

-Disse que te amo, por isso voltei; disse Shiryu fitando-a diretamente e tentando entender o que aquelas palavras significavam pra ela naquele momento.

Shunrei tentou sustentar aquele olhar por mais algum tempo. Igualmente tentava descobrir o que estava oculto por detrás daquelas palavras, por detrás daquelas íris azuis escuras. Entretanto, não pode sustentar tal coisa por muito tempo. Suas pernas jaziam trêmulas, suas mãos suadas e seu coração acelerado. Havia ouvido direito? Ele havia dito que... A amava?

-Não brinque comigo Shiryu; Shunrei corou desviando o olhar.

-Acha mesmo que estou brincando? –ele indagou sério.

-Acho; ela voltou a fita-lo nos olhos.

-O que eu tenho que fazer pra te convencer do contrário? –ele indagou mais uma vez lhe estudando os gestos a procura de sua salvação. Da salvação deles dois, do que ainda poderiam ter.

Depois de um longo silencio Shunrei lhe respondeu e tinha os olhos marejados.

-NADA! Não há nada que você possa fazer! Eu te esperei a minha vida inteira, mas você sequer olhava pra mim ou então percebia o quanto meus gestos e olhares eram carregados de afeto. Que não eram nem de longe fraternais. Eu dediquei minha vida a você, a cuidar de você, a esperar e ansiar por você. Meu coração só parecia bater quando você retornava a Rozan. Quando não estava aqui eu me sentia morta. Senti-me morta todos esses anos como se houvesse morrido no mesmo dia em que você e o mestre partiram. Agora acha mesmo que é fácil voltar aqui depois de tantos anos e dizer que me ama? O que espera que eu faça? Que corra desesperada pros seus braços? Que implore por um beijo seu? Por algo que idealizei e sonhei durante anos?

-Shunrei; Shiryu murmurou com tristeza. Ela tinha toda a razão, a magoara demais, que direito tinha de exigir recíproca? De exigir o seu amor depois de tantos anos?

-Eu; Shunrei ponderou desviando o olhar, grossas gotas de lágrimas passaram a pingar sobre suas mãos que se contorciam sobre o colo. –Eu te amo! Sempre te amei e sempre vou te amar, não importa quanto tempo se passe, mas amar sozinha não é amor Shiryu. Amar sozinha é padecer num inferno gélido e duro criado por si mesmo. É deixar que sua alma seja dilacerada por uma lamina afiada e se tornar o seu próprio algoz. Dói demais amar sozinha e eu não quero mais isso, já sofri demais. Não quero mais ansiar por um olhar, um toque, por um beijo seu sem de fato nunca poder te tocar e...

Shiryu a calou.

Aproximou-se e a beijou. Encontrou resistência por parte dela a principio, o que era esperado. Shunrei segurou sua mão em sua face com o intuito de afastá-lo de si, mas sem obter muito resultado. Mais uma vez suas duas metades se digladiavam entre si. A que dizia que estava sendo tola em ceder e a que depois de tanto ansiar por aquilo estava maravilhada com a sensação de por fim descobrir qual era o sabor dos lábios dele. Tão logo estava completamente entregue a ele.

Sentiu-o se aproximar e envolveu os braços no pescoço dele. Como era fraca, como era tola... Como podia ceder tão fácil? Ceder a aquele homem que a abandonara todos aqueles anos, aquele mesmo homem que nunca lhe dera um fio de esperança?

E então anos de dor e sofrimento se abateram sobre a delicia daquele beijo. Lágrimas amargas, noites insones. Aquela ferida aberta em seu peito ainda pulsava. Empurrou-o com todas as forças que tinha.

-Shunrei; Shiryu fitou-a confuso ante aquela explosão.

Plaft!

Shunrei o esbofeteou e então começou a limpar os lábios com as costas das mãos freneticamente.

-O que pensa que eu sou? Uma prostituta? Que apenas espera a sua chegada e então se abre pra você? Ou então aquela tola menina ingênua que você abandonou há anos atrás e que ainda anseia loucamente por você?

-Acabou de dizer que me ama; disse o dragão. Estava estupefato com o acesso de fúria da garota. Jamais sequer imaginou Shunrei proferindo tais coisas.

-E disse também que não quero mais amar sozinha e tão pouco as migalhas do seu amor; Shunrei estava irada. Nem de longe aparentava aquela frágil garota que Shiryu conhecia.

-Shunrei...

-Vá embora Shiryu e nunca mais volte! –a chinesa apontou a porta com o dedo em riste. –Eu não quero e não preciso de você...

Lágrimas amargas rolaram dos orbes de Shiryu, mas ele nada mais disse ou fez. Levantou-se e pegou a mochila na porta do quarto e então sumiu para longe da pequena cabana. Shunrei fitou por longos instantes a porta aberta do quarto por onde o vira passar até que, caiu num pranto desenfreado e enterrou a cabeça entre os travesseiros.

Naquela noite não teria bons sonhos, mesmo tendo por fim recebido o beijo de seu príncipe...

Continua...