Atenção: Essa fic foi um pedido e desafio da Uhura, então a culpa é toda dela e não minha. Aliás, amiga, meus parabéns pelo dia do seu nome.
Desafio: "Minerva sempre evita de se transfigurar em gato em determinada época do mês, mas, nesse mês, algo faz com que, por reflexo, ela assuma sua forma animal. Ela permanece em sua forma animal por pouco tempo, mas isso é o bastante para que o corpo produza hormônios típicos do cio felino. E, quando ela volta à sua forma humana, começa a experimentar algumas... hm, reações diferentes..."
Parte um
Capítulo 1: Confusão de datas
Era verão, mais precisamente o fim das férias de verão de 1959. O clima estava abafado com aquele calor denso que precede uma grande tempestade e o castelo estava irritantemente vazio. Dumbledore tinha uma pilha imensa de trabalho em sua mesa, pelo menos umas cinco corujas pra enviar antes da noite e uma reunião chatíssima no ministério depois do almoço. E nesse momento daria qualquer coisa por um sorvete de limão.
Ele suspirou e olhou para a bruxa à sua frente. Minerva estava debruçada sobre a papelada de sempre, a pena trabalhando incansavelmente, mais uma vez ajudando-o com cálculos que ele não conseguiria fazer sozinho nem com toda a mágica do mundo. Diretora-adjunto, rá! Ambos sabiam que ela poderia perfeitamente administrar aquela escola sozinha, mas a recíproca nunca seria verdadeira.
Porém, havia algo diferente nela naquela manhã. Algo que ele não saberia apontar precisamente... algo inquietante.
Por conta do calor insuportável ela estava extraordinariamente livre o manto exterior, as mangas da camisa branca dobradas até a altura do cotovelo, alguns fios de cabelo teimosamente se soltando do coque e grudando na nuca suada. Então ela abandonou os pergaminhos por um instante para se servir de um copo da jarra de limonada pousada sobre a mesa e o bebeu de uma só vez. Uma gota solitária escorreu pelo queixo e desceu pelo pescoço até sumir no colo, escondido pela gola da camisa cujos últimos dois botões de cima estavam displicentemente desabotoados.
A professora suspirou e Albus imediatamente virou seus olhos para a janela, com medo de que ela o pegasse olhando.
– Desculpe, mas eu não estou com cabeça para esse tipo de coisa hoje – ela desabafou e tirou os óculos para enxugar a testa suada. Voltou a colocá-los com um muxoxo frustração. – Simplesmente não consigo me concentrar em nada.
– Tudo bem, não tem pressa. Exceto pela lista dos alunos.
Era a obrigação preferida de McGonagall preparar a lista com os nomes dos novos alunos já matriculados para o ano letivo que se iniciaria dentro de alguns dias, assim como escrever e enviar as cartas com todas as informações e avisos para suas respectivas famílias. É claro que o trabalho já estava mais do que pronto e todas as providências da escola já haviam sido tomadas, mas a cópia que deveria ser entregue com a confirmação das matrículas ao Ministério ainda não.
– Por quê? Nós temos até a semana que vem para entregar.
– Não, minha cara, temo que o prazo final seja hoje. Tenho que apresentá-la na reunião desta tarde.
– Mas hoje ainda é dia quatorze.
– Não, hoje é dia vinte e um – Albus a corrigiu, divertido. Era tão incomum vê-la se enganar em qualquer coisa que fosse. – Não me diga que você confundiu as datas? Bem que eu estranhei, nunca me entrega nada com menos de dois dias de antecedência.
As sobrancelhas dela se juntaram e os olhos se abriram muito numa expressão perplexa, os lábios sumindo de tão contraídos, a mão a meio caminho do tinteiro completamente esquecida de mergulhar a pena. Pelo visto, tinha os pensamentos muito longe.
– Então se hoje é dia vinte e um, ontem foi vinte...
– E muito provavelmente amanhã será vinte e dois – Dumbledore completou muito espirituoso, mas longe de se divertir com o comentário, ela ainda parecia em choque. – Está tudo bem com você, Minerva?
McGonagall abandonou a pena e se pôs de pé num salto, a cara mais preocupada do que nunca. E se passou quase um minuto inteiro até que se lembrasse de respondê-lo.
– Está – ela olhou rapidamente em volta e arrumou a pilha de pergaminhos em que estava trabalhando, para em seguida empurrá-la na direção do professor. – Mando a lista por um elfo ainda hoje.
– Mas e quanto a...? – o diretor perguntou enquanto gesticulava na direção dos papéis sobre a mesa.
– Não vou poder – a bruxa o interrompeu, ainda visivelmente nervosa. O sotaque escocês era então mais evidente, algo que acontecia sempre que ela estava exaltada de alguma forma. – Eu estou... Estou doente.
Albus se levantou preocupado e ela deu dois passos para trás, como se estivesse acuada.
Longe de se importar com o trabalho, o que o deixou perplexo foi vê-la tão alterada. Justo Minerva, que sempre fez tanta questão de jamais demonstrar emoção alguma, se mostrava completamente transtornada sem nenhum motivo aparente.
– Tem certeza? Você me parece perfeitamente saudável.
– Tenho sim. E sinto por deixá-lo sozinho com todo esse trabalho, mas ficarei alguns dias de cama.
Notando a desconfiança do outro ela respirou fundo e recuperou a compostura habitual, tão séria e profissional quanto alguém poderia ser. Isso pareceu acalmá-lo, mas nem por isso Dumbledore abriu mão de sua cortesia em escoltar a amiga até seus aposentos.
– Eu te acompanho até... – o bruxo anunciou e deu a volta na mesa.
– Não! – ela interrompeu novamente, só que dessa vez com tamanha ênfase que ele levou um sobressalto. Como McGonagall manteve a mão estendida com advertência para que ele ficasse parado, não havia motivo ou coragem o bastante para fazê-lo desobedecê-la. – Fique aí mesmo onde está!
– Mas...
– Eu só preciso de um pouco de repouso e tranquilidade, e agradeceria muito se ninguém fosse me ver por uns dias.
– Se é assim que você quer.
– Obrigada e tenha um bom dia – ela se despediu, girou os calcanhares e saiu batendo a porta atrás de si.
– Bom dia – Albus respondeu para a sala vazia.
