NARUTO NÂO ME PERTENCE, NEM A HISTÓRIA! I

Com o rosto banhado de suor, Hinata Hyuuga seguia pelo último quarteirão do percurso de sua corrida matinal. Era um belo dia de verão, radiante e já quente o bastante para justificar um mergulho na piscina da casa vizinha à sua. Mas não haveria tempo para nadar naquela manhã, nem para tomar a xícara de café que Sasuke Uchiha, o vizinho viúvo, automaticamente começaria a preparar se a ouvisse ultrapassar o portão instalado na cerca que separava seus quintais.

Não fosse o barulho provocado pelo avião que cruzara o céu pouco antes, ela nem teria despertado a tempo de correr naquele início de quinta-feira. Mas, mesmo sabendo que deveria estar satisfeita por ter sido despertada, permanecera com a estranha sensação de que fora arrancada do sono por um pesadelo.

Chegando diante do gramado de sua casa, respirou fundo e começou a fazer flexões com os joelhos. Só então notou um carro estacionado na entrada da sua garagem. Era um modelo importado, de luxo, novinho em folha! Mais impressionante ainda era o homem que saía do veículo naquele instante. Parecia um ator de cinema! Pelo menos aos olhos de uma divorciada de trinta e quatro anos, que começava a perceber que já estivera sozinha tempo demais.

O homem devia ter menos de quarenta anos, era alto, moreno e usava um impecável terno listrado de fundo preto que lhe realçava a silhueta elegante. Seus movimentos ágeis e a pele bronzeada indicavam que devia passar as horas de folga praticando esportes ao ar livre.

Hinata lamentou que o desconhecido não houvesse aparecido uma hora mais tarde. Então, já estaria pronta para ir à imobiliária onde trabalhava, estreando o belo vestido de linho azul, comprado na semana anterior. Era constrangedor se apresentar a um homem daqueles vestida com um agasalho empapuçado. Se bem que o traje rosa e púrpura que estava usando contrastava de maneira vistosa e agradável com seus cabelos escuros, olhos claros e pele clara.

Mas o estranho nem sequer a notou, embora estivessem a poucos metros de distância um do outro. Caminhando até a cerca de estacas que separava a propriedade dela da de Sasuke Uchiha, manteve o olhar fixo no gato siamês do vizinho que, de modo imperativo, exigia a sua atenção. Depois de pegar o animal no colo, acariciou-lhe as orelhas e o pescoço, fazendo-o ronronar e esticar as patas de prazer.

Só então percebeu a presença de Hinata. Sem disfarçar o deleite que sentia ao vê-la, sorriu e cumprimentou:

— Bom dia! — Em seguida, passou a examiná-la dos pés à cabeça.

Hinata perdeu a fala. Viu-se instantaneamente hipnotizada pelos olhos azuis e brilhantes do estranho que a observava com óbvio interesse. Não estava acostumada a ser alvo de olhares masculinos como aquele. Desde que se divorciara, o acontecimento máximo de sua semana rotineira consistia em um jantar no Pizza Palace na companhia do vizinho Sasuke e de cinco crianças: duas dele e três dela. Mas até esse evento tornara-se raro no último verão, pois os pequenos Uchiha, Sarada e Obito, passavam as férias com a avó, e os filhos dela, Himawari, Hanabi e Boruto , na companhia do pai. Mesmo assim, o afastamento de Sasuke era inexplicável.

— O nome... dele... é... Capitão... — gaguejou, apontando para o gato. — Ele gosta de atenção, mas pode ser um pouco... agressivo, às vezes. Nessas ocasiões, costuma morder os dedos da gente.

— Sei disso — declarou o estranho, sempre acariciando a orelha do gato. — Capitão e eu já nos conhecemos. Brigamos um pouco da primeira vez e, se não me engano, levei uma bela mordida! — Ele enfatizou a narrativa com um sorriso quase infantil, que revelou covinhas próximas às extremidades da boca sensual. — O gato da minha filha também morde... — contou. — Ele é parecido com o Capitão: quando está de bom humor, exige atenção, mas quando quer ficar sozinho e você insiste em brincar... — Parando de sorrir, ele comentou: — Pensando bem, minha filha se parece muito com o gato dela...

Hinata não sabia o que dizer. De repente, o homem pareceu ficar triste, deprimido até. Fosse Sasuke o autor daquelas palavras amarguradas, ela faria um gracejo, certa de que com isso ele recuperaria o bom humor. Em se tratando daquele estranho, achou melhor não se arriscar, pois poderia ofendê-lo.

— Está... procurando alguém? — perguntou com simpatia.

Após um instante de hesitação, o homem respondeu:

— Vim buscar Sasuke. O carro dele não está funcionando. Como estava adiantado, resolvi conversar um pouco com o Capitão. — Então, ele sorriu e fitou Hinata com evidente interesse:

— E com qualquer pessoa que aparecesse...

Ela retribuiu o sorriso, convencida de que interpretara erroneamente o comentário que o desconhecido fizera pouco antes. Por azar, bem na hora em que ia se apresentar, ambos tiveram a atenção captada por um carro grande e velho que, depois de dobrar a esquina bruscamente, estacionou na entrada da garagem de Sasuke. Moegi, a estudante que o vizinho costumava chamar para cuidar de seus filhos, saiu às pressas do veículo e correu para a casa.

— Me desculpe, sr. Uchiha! — foi a primeira coisa que a jovem disse ao ver a porta se abrir e revelar um homem alto, moreno e bem vestido. — Sei que me pediu para estar aqui às seis, mas... — Moegi continuou a se desculpar lá dentro.

Mas Hinata não precisaria entrar para saber como estava o cenário na casa dos Uchiha. Ela a conhecia tão bem como a sua, desde os adesivos coloridos em forma de coração que Sarada, de dez anos de idade, colara no sofá sete anos atrás, até a toalha velha que tapava o buraco aberto no teto da sala por uma tempestade ocorrida no último Natal. Obito, de oito anos, devia estar ainda de pijama, esfregando os olhos e reclamando da cor do creme dental daquela semana. Não era difícil imaginar por que Sasuke custava tanto a sair para o trabalho todas as manhãs.

Ainda querendo travar conhecimento com o estranho, ela comentou:

— Sasuke deve sair a qualquer momento, senhor...

— Inuzuka. Kiba Inuzuka. — Ele olhou para os três números de ferro batido pregados na fachada da casa de Hinata e depois para os da casa de Sasuke. — Fazia tempo que eu não vinha aqui — explicou, ao perceber que estacionara na entrada da garagem errada. — Já tinha me esquecido de como essas duas casas eram parecidas.

As casas de Hinata e de Sasuke eram parecidas realmente, embora há algum tempo o jardim dos Uchiha fosse a piada da vizinhança. Sasuke costumava recomendar aos amigos que, caso resolvessem visitá-lo, procurassem pela única casa do quarteirão em que ninguém parecia morar. Mas o novo gramado melhorara muito a apresentação da casa de número 347 da alameda das Amoreiras, bem como os canteiros de rosas e os brincos-de-princesa pendentes sob o beiral do telhado.

Hinata precisava cumprimentar Sasuke pelo esforço; afinal, se ela não cumprimentasse, quem o faria?

Os Hyuuga e os Uchiha sempre haviam sido muito unidos. Naruto, o ex-marido de Hinata, já fora o melhor amigo de Sasuke, e Sakura, a esposa de Sasuke, fora como uma irmã para Hinata. Assim, quando Sasuke enviuvara, ela e Naruto o apoiaram em tudo o que foi possível: Hinata, que naquela época era dona de casa em tempo integral, oferecera-se para tomar conta dos filhos dele, passando a criá-los junto com os seus.

No ano anterior, após o divórcio de Hinata e Naruto, o apoio de Sasuke fora fundamental na recuperação emocional da vizinha, que não se conformava com o fato de ter sido trocada por uma mulher mais jovem. A amizade entre os dois se tornara ainda mais forte desde então.

Nesse momento, Kiba Inuzuka voltou a falar:

— Espero que não tenha ficado aborrecida, senhora...

— Hyuuga, Hinata Hyuuga. Sou vizinha do Sasuke.

— Você é Hinata? — ele exclamou, sorrindo de forma radiante. — Que prazer ouvir isso!

Surpresa e curiosa, ela indagou:

— Por quê?

— Porque faz meses que Sasuke está tentando me apresentar a você! Pensei que você talvez não fosse do meu tipo, mas... — Ele voltou a apreciar Hinata com o olhar e completou: — Agora vejo que o subestimei.

Hinata sorriu largamente, sentindo-se tranqüilizada e esperançosa. Afinal, Sasuke jamais teria pensado em apresentá-la a um homem que não fosse confiável ou não estivesse disponível! Será que aquele bonitão estava mesmo interessado nela? Mal podia acreditar, pois, desde que Naruto a abandonara para se casar com uma jovem de vinte e dois anos, ficara com complexo de idade, sentindo-se uma velha, apesar de Sasuke insistir em dizer-lhe que, na verdade, ela estava ficando melhor. Para provar isso, ele até prometera dar uma estrondosa festa de aniversário quando ela completasse trinta e cinco anos, em outubro.

Não havia dúvida de que Hinata apreciava a lealdade do vizinho para com sua aparência, mas... não havia comparação entre a admiração do amigo e a de um homem como aquele que estava diante dela.

A verdade era que Sasuke a acharia bonita até vestida com um papel de embrulho, o que era confortador, mas não excitante. Àquela altura de sua vida, com o abandono de Naruto ainda tão fresco na memória, a adulação era muito importante para seu orgulho feminino.

— As pessoas costumam fazer isso — replicou ela, tentando disfarçar o entusiasmo. — Aparentemente, ele continua a ser o mesmo velho Sasuke, mas por trás...

— Estou bem atrás de você; portanto, cuidado com o que diz! — advertiu Sasuke, que acabara de cruzar o gramado e se juntara a eles.

Hinata estranhou o tom de voz do amigo, que normalmente era mais caloroso. Sem dar importância ao fato, voltou-se para encará-lo e levou um susto: a aparência dele também já não tinha nada a ver com a do Sasuke que ela conhecia!

O novo Sasuke Uchiha trajava um belo terno de tweed preto, que lhe realçava os brilhantes olhos negros. Além disso, todas as peças do vestuário combinavam, o que era surpreendente no caso dele! Ele também deixara a barba crescer e eliminara a pequena pança adquirida no último ano.

Hinata vira Sasuke poucas vezes desde junho, sempre à distância, e realmente notara algumas mudanças em sua aparência, sem pensar muito no assunto, entretanto. Sendo assim, naquele momento, vendo-o tão diferente, ficara chocada.

— Hinata! — Sasuke chamou, preocupado com o semblante da amiga, que lhe admirava o corte de cabelo perfeito. — Está se sentindo bem?

Hinata ficou embaraçada. Sabia que devia estar satisfeita com a mudança para melhor que se operara em Sasuke, mas, por alguma razão, sentia-se pouco à vontade. Era como se ele tivesse se transformado num estranho.

— É que... você ficou tão diferente nos últimos dias. Está muito elegante. E eu nem ajudei! — justificou ela.

Tardiamente, Hinata percebeu que fizera um comentário ambíguo. Viu Sasuke dar um sorriso amarelo, numa tentativa de disfarçar o embaraço. Se Kiba não estivesse presente, ela repararia a gafe dando um abraço no amigo.

— Temos de ir agora, Hinata — informou Sasuke, em tom complacente, como que a perdoando pelo comentário. — Até amanhã.

— Amanhã?! — ela exclamou. Só então, ela se recordou de ter recebido um telefonema de Sasuke no início da semana convidando-a para jantar fora na sexta-feira. Ele até inventara uma piada sobre ter feito reservas e ela concluíra tratar-se de uma brincadeira, pois estava certa de que o amigo a levaria ao Pizza Palace.

Não havia muitas opções em Coltersville: um restaurante de beira de estrada, onde caminhoneiros costumavam parar, dois restaurantes self-service e uma lanchonete freqüentada por adolescentes. O município vizinho, Morgantown, a meia hora de carro dali, por ser a sede do condado, dispunha de estabelecimentos mais requintados, mas Sasuke nunca se mostrava disposto a voltar lá só para jantar, visto que passava o dia todo trabalhando naquela cidade.

— Claro, Sasuke! — emendou, esperando que a resposta simples satisfizesse o amigo, pois maiores detalhes poderiam dar a Kiba uma impressão errada do relacionamento entre eles.

Havia algo intrigante no homem que Sasuke escolhera para ela; algo que ia além de sua beleza impressionante. Era o sorriso, Hinata pensou, ou talvez a maneira como acariciava Capitão. Qualquer homem que gostasse de gatos e crianças não podia ser mau.

— Foi um prazer conversar com você, Hinata — Kiba declarou, sempre sorrindo. — Mas agora precisamos mesmo ir à refinaria. Houve uma explosão lá e...

— Uma explosão?! — Hinata empalideceu. — Está falando da nossa refinaria?

Ela fizera uma pergunta sem sentido. Red Rock era a única refinaria num raio de quase cem quilômetros a partir de Coltersville. Localizada a menos de três quarteirões daquele onde ela e Sasuke moravam, o estabelecimento ficava junto da escola em que a maioria das crianças do bairro estudavam, do jardim-de-infância à última série do primeiro grau. Desde que ela passara a viver naquela cidade, haviam acontecido poucos acidentes em Red Rock e todos sem gravidade, mas ouvira contar de uma terrível explosão ocorrida na década de cinqüenta.

— Sasuke?!— Hinata chamou, enquanto o amigo entrava no carro de Kiba. Aflita, lembrou: — As aulas começam daqui a duas semanas! Há perigo para as crianças?

Ele fitou-a nos olhos por um momento. Em seguida, saiu do carro, foi até ela e tocou-a no rosto com as costas da mão.

Hinata fechou os olhos, surpresa e comovida com o gesto inesperado de ternura. Mas a resposta cautelosa, vinda de Sasuke, só podia significar uma coisa: o perigo era ainda maior do que ela imaginara a princípio.

— Vou cuidar disso, Hinata. Você sabe que eu jamais deixaria algo de mau acontecer a nossas crianças. — E, em tom firme, completou: — Eu jamais deixaria algo de mau acontecer a você.

Hinata aquiesceu, tentando se tranqüilizar com a determinação de Sasuke. Ele era muito bom em seu trabalho e totalmente confiável no que se referia às promessas que fazia. Mas parecia tão... diferente naquela manhã! Estava com boa aparência, mas se expressava de forma bem diversa da habitual.

Sorriu para ele e viu-o voltar para dentro do carro. Então, olhou para Kiba, cujo semblante indicava uma mistura de admiração por ela e preocupação com a explosão.

— Talvez nós... voltemos a nos encontrar — ele sugeriu a título de despedida.

Hinata imaginou que o comentário podia significar alguma coisa... ou nada! A que se devia sua estranha reação ao conhecer Kiba Inuzuka?, se perguntou. Significaria que já estava pronta para novos relacionamentos, ou que havia algo de realmente especial entre eles?

— Espero que sim! — declarou, em tom mais entusiasmado do que pretendera.

Kiba deu um largo sorriso, parecendo ficar lisonjeado por aquela confissão. Depois de cumprimentá-la com um gesto de cabeça, sentou-se ao volante do seu carro de luxo.

Hinata observou o automóvel se afastar e retribuiu aos acenos dos dois homens.

Adaptação da história "O amor mora ao lado" de Suzanne Ellison.

Um romance diferente, com um mocinho apaixonado e disposto a conquistar sua amada! Hahha

Quero chamar atenção pra uma outra adaptação, é GaaraxHinata, não ficaria boa com outro como par romantico!

Estranho sedutor!

Gaara descobriu que a noite de paixão que tivera acarretara duas consequências. Sem se anunciar, ele apareceu à porta de Hinata... para levar seus filhos gêmeos à Grécia! Chocada por ainda se sentir atraída por ele, ela temia perder seus bebês. Desde que se tornara mãe, batalhara para criá-los sozinha. Mas talvez houvesse uma solução...