Olá!
Antes de mais nada, quero reafirmar que o único casal "fixo" da fic é Máscara da Morte e Aiolia. Qualquer outro casal entre qualquer outro personagem é possível durante o decorrer da fic (mesmo que inicie com alguns, só dou esse aviso para que eu tenha mais liberdade de relacionar os personagens).
A fic tem situações bem exageradas e elas são propositais, viu?
Pretendo postar toda sexta feira (tenho alguns capítulos adiantados, mas não vai ser postagem programada) e creio que eu não vou atrasar (primeira vez que escrevo com capítulos adiantados, olha a glória)
Sem mais delongas, aproveitem
Parte I
Era uma alma tão negra e tão corrompida que Shion, o diretor do Setor de Reencarnações do Departamento de Almas Corrompidas teve que jogar farinha de trigo para que conseguisse ver os traços da alma, que se mostrava apenas como uma bolha negra disforme.
Era uma técnica bastante rústica, mas que funcionava pelo contraste entre as cores.
Aquela bolha, que nem tinha nome mais, havia adotado a alcunha Maschera Mortuaria e foi um serial killer siciliano com impressionantes duas mil e quinhentas e setenta e quatro mortes no currículo, tendo arrancado a cabeça de exatos hum mil, novecentas e trinta e duas e embalsamado. Ganhara o apelido pela mania absurda de decorar sua casa com os troféus.
O tal Maschera Mortuaria morreu aos oitenta de velhice e por Shion iria direto ao inferno que o acolha. Mas, seguindo as ordens superiores, era obrigado a dar uma última chance àquela alma, tendo a mesma recebido o objetivo 9d para salvação – encontrar o amor da sua vida, em nível extremo de dificuldade.
Shion suspirou. Duvidava muito que uma alma tão negra conseguiria cumprir um dos objetivos mais cruéis de todos os quinze mil objetivos de vida disponíveis para distribuição. De qualquer forma, já que aquela alma reencarnaria mesmo, Shion decidiu ajudar a clareá-la.
Assim, ao invés de reencarnar de imediato, a alma de Maschera Mortuaria ficou quinhentos anos mergulhada em alvejante.
Parte II
Máscara da Morte está online, piscou a tela do bate-papo em azul e branco. Nos últimos tempos essa era a melhor parte do dia de Golden Lion. Aiolia suspirou. Chegava a ser triste o ponto alto do seu dia ser uma pessoa que nem conhecia logar em uma sala virtual.
Máscara da Morte disse:
[Olá, Lion
Como está?]
Golden Lion disse:
[Mais ou menos, o dia foi bem duro
E você?]
A parte recordável e boa dos dias de Aiolia se resumiam a conversar com Máscara da Morte, pessoa que ele esperava não ser um serial killer em potencial, dado o nick no Sanctuary Online. Costumavam varar a noite conversando, mesmo que nunca tivessem se visto pelo Skype ou uma foto que seja. Verdade seja dita, Aiolia não ia sair espalhando sua face para desconhecidos na internet. Máscara da Morte não parecia pensar diferente.
No entanto, do outro lado da tela, Máscara da Morte (ele de fato preferia ser chamado assim) sorria enquanto conversava com Golden Lion e tinha uns motivos mais pessoais e intransferíveis para não querer mostrar suas fuças para o amigo virtual, mesmo depois de dois anos conversando todos os dias.
E era estranho isso, já que moravam relativamente perto, mesmo que em países diferentes.
Digo, ambos sabiam que eram europeus, mas não faziam idéia de que país o outro era. Só sabiam que nenhum era britânico pelo inglês dos dois não ser lá grandes coisas. Chegava a ser ridículo o excesso de zelo lingüístico e pessoal por parte dos dois, mas né, fazer o quê.
(internamente, Máscara da Morte queria ser um pouco mais pessoal, mas Aiolia era arredio – e com razão, "Máscara da Morte" não é um nick muito confiável em uma sala de bate-papo)
Então, devido a esse histórico de amizade impessoal, Máscara ficou bem impressionado e quase cuspiu o frappé na tela do notebook quando leu a mensagem
Golden Lion disse:
[Daí que fiquei puto porque não pude ir no show deles aqui em Atenas
Tinha esperado o ano todo por isso, caralho
E não vou poder ir tão cedo
Acho que nunca mais]
Ok, mais do que impressionado e penalizado por Golden Lion não ter ido ao show do Scorpions por estar no hospital e aparentemente estar puto com o fato por "não poder ir nunca mais", mesmo que um show dos Scorpions não é coisa muito rara, Máscara da Morte ficou absorto ao descobrir que Golden Lion é grego – na melhor das hipóteses, um estrangeiro que mora em Atenas, mas muito provavelmente grego.
Máscara da Morte disse:
[Vai ter um show deles aqui em Roma próximo fim de semana]
Só depois de ter visto que Máscara da Morte é de Roma, Aiolia percebeu que tinha dito que era de Atenas.
É que, percebam, Aiolia estava muito puto com o fato de ter perdido o show e esqueceu do acordo mudo de não falar de onde era. Aparentemente Máscara da Morte revelou de forma proposital que era de Roma, numa espécie de "toma lá, dá cá".
Golden Lion disse:
[Ah, não tenho grana para ir até Roma, cara
Mas se você for no show eu quero fotos]
Máscara da Morte disse:
[Mas hein
Pedindo fotos de repente assim
Se quisesse era só pedir
Até por que não tenho grana pra ir no show]
Tendo atravessado aquela linha tênue que os deixavam um tanto impessoais demais, decidiram em outro acordo mudo que estava tudo bem em dar as caras finalmente, ou ao menos cada um dizer o próprio nome, sei lá.
Tipo, já fazia dois anos. Que espécie de amigos virtuais nem sabem o nome um do outro depois de dois anos?
Aiolia já imaginava nomes italianos para nomear Máscara da Morte, já que não curtia muito o nick e pensar nos diversos nomes era engraçado, Carlo, Giuseppe, Gian, Emanuele, Gabriele, Rafaele, Ettore, Luca.
Isto é, se Máscara da Morte fosse um homem.
Parecia e ele falava no masculino, mas vai saber.
Por sua vez, Máscara da Morte esperava que, de fato, Aiolia não pedisse a foto, perguntasse o Skype ou seu nome. Não é como se fosse engraçado dizer "Oi, meu nome é Chiara", com a cara máscula que tinha.
Não na Itália, ao menos.
Golden Lion disse:
[Sei lá, acho que está na hora de me apresentar direito
Meu nome é Aiolia
E o seu?]
Máscara da Morte disse:
[Chiara]
Aiolia riu. Então Máscara da Morte era uma menina e não um Gian Carlo qualquer, de barba por fazer, ombros largos e voz grossa. Decepcionante. Do outro lado da tela, Chiara, digo, Máscara da Morte abaixou a cabeça em resignação. Odiava ter que se apresentar. Já sabia o que tinha por vir.
Golden Lion disse:
[Ah
Não imaginei que fosse uma garota
Parece homem
Até fala no masculino]
Bingo.
Máscara da Morte disse:
[É por que sou um homem]
Golden Lion disse:
[Parece que vai chover hoje, não?
lol]
Ok, reafirmar seu gênero foi mais fácil que dizer o próprio nome, ao menos com Aiolia. Aliás, que espécie de nome era esse? Não era muito dado a nomes gregos, mas "Aiolia" era estranho por demais e lhe dava vontade de comer spaghetti aglio e olio.
Sei lá, por mais idiota que a piada soasse, "Aiolia" parecia ser o nome correto do molho que leva aglio e olio, então mais que preocupado com o próprio nome ou ter que dizer, de novo, que era um homem, Máscara da Morte ria.
Golden Lion disse:
[Agora que já nos apresentamos formalmente
Eu gostaria de confirmação da sua masculinidade
Que tal Skpe?]
Ok, isso soava como um convite pornô, Aiolia pensou depois de teclar o enter.
Golden Lion disse:
[Não que eu queria fazer sexo virtual com você
Quer dizer, faria, mas não é isso que eu quis dizer]
Máscara da Morte disse:
[Faria é? Por que acha que eu sou uma garota ou...?]
Golden Lion disse:
[Ambos?]
Era a primeira vez que Aiolia saía do armário para alguém que não incluísse seu namoradinho de infância, Mu, ou o namoradinho da adolescência, Shaka, ambos seus melhores amigos, obrigado, que decidiram se comer para tirar sarro com sua cara. Ou para alguém do grupo de amigos de seu irmão, que os havia inserido sem pedir permissão e que agora fazia parte da sua vida e estava muito agradecido por isso. E tinha Milo, é.
E pretendia continuar escondendo isso.
Que era bi, digo.
E só contara para Chiara (ou Máscara da Morte, que o valha) por puro impulso e a ainda existente impessoalidade entre eles. Existiam muitos Aiolias gays ou bis em Atenas, certeza.
Máscara da Morte disse:
[Bem, eu diria que também gosto da fruta. Da sua, ao menos]
De todas as coisas que saíam de seu armário, dizer que era gay era o menor dos problemas de Máscara da Morte. Para ele não era grande coisa, Roma inteira sabia que ele era gay e se perguntava pra quê toda aquela testosterona injetada se ia gostar de pintos e não de pererecas (exatas palavras partidas de sua mama certa ocasião).
Mas para Aiolia era grande coisa e sorriu de orelha a orelha, mas meio desconfiado.
Golden Lion disse:
[Sério é?
Não ta tirando sarro de mim?]
Máscara da Morte disse:
[E por que eu tiraria?]
Golden Lion disse:
[Sei lá
Tenho que ir agora
Até]
Por mais que Aiolia quisesse continuar conversando com Chiara (ou Máscara da Morte, não sabia do quê o chamar agora) e dar prosseguimento ao primeiro papo de viés pessoal que tiveram nesses dois anos, tinha que sair. Sabia que a situação no geral da casa estava tensa por ver as sombras nervosas pela fresta da porta fechada, mas, obviamente, não ouvia nada.
Digo, desde aquela famigerada noite no hospital, em que perdera o show dos Scorpions, não ouvia basicamente nada.
Observando a situação nada confortável de seu lar antes, durante e depois de sua convalescência, Aiolia às vezes se sentia grato por não conseguir ouvir as brigas mais, mas esse era o único momento em que se sentia minimamente grato por ter ficado surdo. Todos os outros momentos de sua vida que o lembravam disso eram um pé no saco.
De qualquer forma, Aiolos, seu irmão, já acendia e apagava a luz para chamar sua atenção quando Aiolia deslogou do chat e olhou para o irmão.
- Tá na hora de ir, anda.
Aiolos era uma das poucas pessoas que não conversavam devagar como se Aiolia fosse retardado. Aiolia conseguia ler lábios, obrigado, e falava muito bem, obrigado.
Às vezes, na verdade, muitos se esqueciam que ele era surdo, o que ocasionava em um Aiolia perdido na conversa e nada a fim de se inteirar do assunto.
Aiolia desligou o notebook e o colocou em cima da cama, vestindo uma roupa decente, estava só de cueca, para sair. Toda sexta-feira saía com o irmão e os amigos e isso significava que se mantinha longe do computador ou do app do Sanctuary Online para celular.
Por sua vez, Máscara da Morte já esperava que Golden Lion barra Aiolia fosse sair, era o que acontecia todas as sextas-feiras. Pela piada e pelo prazer de poder dizer que "olha, você não estava online, mas eu te comi" no próximo bate-papo, Máscara da Morte foi até a cozinha do diminuto apartamento em que dividia com certo sueco espalhafatoso fazer spaghetti aglio e olio. Ainda teria que trabalhar hoje, mas era um pouco cedo, principalmente pelo fato de Sven não ter levantado ainda. Ele costumava levar horas no banho.
Falando nele, ele saía do quarto agora, descabelado e com sono e ainda assim perfeito. Máscara nunca entenderia como, mas nunca havia visto o amigo em um ângulo ou situação ruim. Chegava a ser injusto.
- Fazendo o quê?
Máscara respondeu rindo, não conseguia olhar pro macarrão e não se lembrar de Aiolia – Espaguete alho e óleo. Vai querer, Dite?
Afrodite deu de ombros e se sentou na cadeira. Coisa linda era Máscara gostar de cozinhar, já que se dependessem dele morreriam de fome. – Pode ser.
Se conheceram no trabalho, em uma boate gay em Roma, em que Sven, nome de registro, fazia certas performances como Afrodite, nome que adotava para a vida. Máscara, por sua vez, começara como barwoman aos 16, ainda menor, e agora aos 25 era barman e essa mudança de nomenclatura significava tudo.
Parte dele adorava responder com voz grossa quando perguntavam pela Chiara e recebiam como resposta um cara grande de voz grossa.
Quer dizer, alto ele era (e agradecia à genética por isso), mas seus ombros não eram lá tão largos, infelizmente. Não que alguém fosse reparar. Isso tava mais para o que Camus chamava de Transtorno de Imagem Corporal, mas Chiara barra Máscara da Morte não admitiria isso nunca.
Às vezes também era muito inseguro com a própria imagem e com o quê as outras pessoas pensariam ou se ele parecia estar com a imagem de sua carteira de identidade na testa, Chiara Lucchese, sexo feminino.
Do mesmo modo que, mesmo não gostando muito de ser um homem com um nome feminino, se recusava a escolher um nome, que era o caminho comum quando se fazia a transição de gênero.
Vai entender, ele diria.
De qualquer forma,na Itália não dava para mudar os documentos, sexo e nome. As pessoas ficavam surpresas e viam como um item fofo saber que o nome do barman da Il Paradiso, conhecido como Máscara da Morte, se chamava Chiara. Isto quando não sabiam que ele era transgênero. Quando sabiam desse detalhe a coisa costumava mudar de figura.
Falando nisso, o apelido "Máscara da Morte" surgira quando um pré-adolescente pré-transição Chiara, lendo sobre assassinos em série, ficou sabendo sobre o famigerado siciliano chamado Maschera Mortuaria e decidiu ser de bom tom usar o nome nas partidas de Counter Strike. Para o apelido pegar foi rápido, principalmente levando em consideração o excesso de habilidade do Chiara com First Person Shooter, aqueles joguinhos de tiro em primeira pessoa.
Já comendo, Máscara da Morte e Afrodite receberam uma ligação para comparecer ao trabalho com urgência. Aparentemente teriam uma festa surpresa para o gerente, Aldebaran, antes de abrirem a boate às 10.
De uniforme, na boate e no meio da festa, Máscara se pegou pensando se Lion pediria novamente para irem para o Skype e se concordaria com isso, com medo de que o grego descobrisse sobre o pequeno detalhe que não tinha entre as penas.
Bebendo ouzo e observando os amigos conversarem, Aiolia se perguntou se Chiara (definitivamente preferia esse nome) lembraria do pedido de Skype e se pediria conversas com áudio e descobrisse sobre a surdez.
Resignados e ambos arrependidos de terem entrado no âmbito pessoal demais da amizade internética, logaram no Sanctuary Online.
Olá!
Gostaram? Espero que sim! Tenho motivos para não ter escolhido um nome masculino para o Máscara, não me matem ainda D:
Obrigado por lerem, até a próxima
