Oi gente! Essa fic já está concluída com 17 capítulos! Atualizações todas as sextas (a começar por sexta que vem). Esse capítulo é um pouco menor, pois serve de prólogo. Aproveitem!


Eu preciso de outra história

Algo para eu desabafar

Máscara da Morte fechou os olhos, pensativo. Seu corpo estava estranho, pesado e lento. Não eram os reflexos que ele esperava ter.

Tentou se levantar, se mexer, mas parecia tão difícil. Parecia ter um corpo de pedra, imóvel, estático, inútil. Abriu os olhos, luz cegante e brancura infinita, pálpebras muito pesadas para sustentar. Tentou manter os olhos abertos, tentando levantar uma das mãos para diminuir a incidência de luz e melhorar a visão. Sentiu algumas coisas estranhas grudadas no braço, de repente sentindo a presença do mesmo, mexeu os dedos e eles doíam, como se tivessem ficado em uma posição por muito tempo. Doía demais tentar se mexer, piscou os olhos se acostumando com a luz, semicerrados.

Sentiu muito sono, como se o esforço fosse muito. Olhou para o lado e viu um borrão marrom dourado, sentiu algo o cobrir e fechou os olhos.

Então quando abriu, estava tudo escuro. Uma luz leitosa saía da janela, uma cortina leve emoldurando o vidro e estava tudo silencioso, como se o mundo estivesse com o botão mudo ligado. Então o Deus do Controle Remoto apertou o botão de aumentar o volume e tudo foi aumentando devagarzinho, audição junto com o olfato, revelando um bip constante e o tilintar estranho que não dava para saber de onde vinha. Seriam... sinos?

Isso, eram sinos. Constantes, dó ré dó ré fá dó, e o ar tinha um cheiro tão neutro e marcante ao mesmo tempo, cheiro de éter, um cheiro fraquinho de rosas, cheiro de álcool, cheiro de plástico?

E parecia tão difícil respirar, era como se fosse automático, como se alguém inflasse seus pulmões e aquela constante sensação de que alguma coisa estava ali que não deveria estar.

Máscara da Morte tentou levantar os braços, mas ainda estava tão difícil. Eles pareciam chumbo. Estavam molengos como se não tivessem ossos e a sensação era a mesma do chiar de uma televisão sem sinal, xiiiiiii. Ele estava com frio, mas era estranho sentir frio quando sabia que o ambiente estava quente.

E tinha aquele bip irritante e o teto todo branco e o vup vup vup do ventilador que rodava rodava rodava e parecia que cairia cairia cairia.

Ele tentou abrir a boca para falar, mas deveria ter algo lá por que sua boca estava tão imóvel quanto o resto de seu corpo e com gosto de meia velha, seca e malcheirosa.

Ao menos imaginava o mau cheiro pelo gosto que sentia.

E o tilintar dos sinos irritantes e harmônicos que não paravam, dó ré dó ré fá dó, silêncio e repetição.

E então os sinos pararam, de repente. Máscara ouviu algo se mover e logo tentou acender seu cosmo para se defender, apenas para descobrir que o mesmo estava tão enfraquecido que era difícil se concentrar ou senti-lo. O coração do cavaleiro acelerou e o bip encurtou a freqüência, indo cada vez mais rápido e mesmo com toda adrenalina no sangue ainda não conseguiu se mover.

Aiolia acordou com o alarme tocando, ainda com sono. Ele tinha que acordar de tempo em tempo para ver que Máscara ainda estava desacordado e estável e voltar a dormir. Dias atrás ele havia aberto os olhos, mas não havia demonstrado qualquer sinal depois disso.

Ao menos até agora.

Por que quando Aiolia acordou, viu que ele estava com os olhos abertos novamente. O monitor cardíaco disparou de repente e o canceriano começou a suar. Parecia com medo. Sorriu de lado, jocoso. Ele não parecia com medo naquela hora.

O leonino andou e checou Máscara como lhe fora ensinado e depois ficou no campo de visão do mesmo. Imaginava que o companheiro não conseguia falar, caso contrário já teria maldito até a quarta geração de Aiolia.

- Boa noite, Máscara da Morte.

Máscara encarou Aiolia, focando a visão por um momento, esquecendo de quem o outro era por breves segundos. Estava confuso e fez um esforço descomunal para conseguir falar.

- O quê...?

Aiolia sentou-se na cadeira em que passava os seus dias no hospital, no que Máscara virou o pescoço com dificuldade para conseguir vê-lo.

- Você sofreu um acidente de moto. Disseram que estava bêbado como uma porca.

As memórias vieram como um filme, distorcidas e sem nexo, a primeira coisa foi se lembrar de tomar banho na Casa de Câncer, vestir uma camisa cinza e calça jeans e sair para a noite. E então tinha a moto, e toda aquela vodka e todos aqueles drinks e aquela moça loira que estava na garupa. E também tinha aquele motel barato com cheiro de naftalina e a pior transa que já tivera em toda a vida.

E então muitas luzes, enjôo, mais vodka, os braços da moça loira... Janete? Nikki? Ariadne? Aegla. Então tinha os braços da Aegla em volta de sua cintura, o sinal vermelho, a moto, o sinal verde, o caminhão

e aquela luz com dourado e marrom e então aqui.

Máscara piscou os olhos algumas vezes. Então havia um acidente. Tudo bem. Tentou perguntar como estava a moça, como ele mesmo estava e quanto tempo tinha passado, mas não saiu de sua boca mais do que um murmúrio rouco.

Aiolia cruzou as penas, observando. O estado de Máscara da Morte era patético.

- Encontraram uma moça perto de você no local do acidente. Ela morreu na hora. – o grego viu os olhos do italiano se expandirem de surpresa e continuou – O quê você esperava? Bêbado avançando o sinal em alta velocidade? Você foi atingido por um caminhão, Ettore.

Máscara franziu o cenho. Nada na frase de Aiolia havia o agradado, parecia tudo tão surreal, mas tão fácil de acreditar. Que outra opção tinha?

Se levantando da cadeira, o leonino cobriu o corpo do outro com cuidado, observando que Máscara não reagia. Apenas grunhia, tentando falar alguma coisa, sendo compreensíveis apenas palavras simples como "quê" e "cazzo".

A luta do canceriano para dizer algo não durou muito. Logo ele foi vencido novamente pelo cansaço e adormeceu. Aiolia deu um meio sorriso. Era bom ver o companheiro de armas vivo, mas Máscara da Morte ainda teria um longo caminho pela frente.