Era uma noite fria e eu estava sozinha. E era nesses momentos de solidão que eu me lembrava de você. Querido, não lhe culpo. Apenas sinto a dor de quando me abandonou. Eu havia feito minha escolha, você a sua; lados opostos, corações indomáveis separados pelos estereótipos de bem e mal. Então, naquela noite abandonou-me. Disse-me para ser feliz ao lado daquele que poderia me fazer sentir plena no lado que escolhi. Quase morri, a dor era forte demais, mas fiz como era o seu desejo, não o meu, e vivi. Casei-me com aquele que me amava e me fazia bem, e por mais doentio que fosse você ainda era meu objeto de desejo e devoção. O tempo passava e você ainda estava ali, mas eu era feliz. Era mais normal, mais suave, mais pleno. Não era como eu gostaria que fosse, mas eu estava realmente feliz. Passavam-se dias, meses, e cada vez menos eu o sentia, mas ainda sentia. Sempre sentiria. E sabia que se um dia você voltasse, eu estaria ali: pronta para lhe receber, de braços abertos, sem dores ou remorsos. Mas você não voltou, e enfim, quando eu pude ver-te mais uma vez, os sentimentos voltaram. Eu estava de braços abertos, e você do lado oposto a mim. E tudo que pude concretizar naquela nefasta luta foi o fim que merecíamos. A morte lhe acolheu de braços abertos, meu sorriso cruel – uma mistura de prazer pela vingança, que ocultava a dor de ter feito o que fiz – foi a última coisa que vistes, e em seu olhar o prazer de uma boa luta, a saudade que sentiste de mim, a felicidade do fim que mereceste. Olhei em seus olhos azuis pela última vez antes de ver teu corpo atravessar o véu, era nosso adeus.