Gokusho1

"Eu disse: 'Me dê a definição de solidão.'

Você disse: 'Quando ninguém está ao seu lado.'

Eu disse: 'E se você estiver ainda mais solitário que isso?'

Você disse: 'Então quando não há ninguém para amá-lo.'

Eu disse: 'Defina a maior solidão de todas.'

Você disse: 'Quando ninguém te entende.'"

Mahvash Sabet

Once I rose above the noise and confusion

(Uma vez me levantei sobre o barulho e a confusão)

Just to get a glimpse beyond this illusion

(Para vislumbrar o que está além dessa ilusão)

I was soaring ever higher, but I flew too high

(Eu estava flutuando cada vez mais alto, mas voei muito alto)

Ao contrário do que muitos pensavam, estar na prisão não era tão terrível assim. Havia três refeições por dia, um lugar para dormir e até pessoas para conversar, se ele conversasse.

A única coisa que não podia suportar naquela maldita prisão era o fato de ter que conviver com sua própria mente. Havia algo no fato de estar encarcerado ali que apenas despertava suas piores lembranças, não que houvesse alguma boa lembrança para lhe animar em meio àquele ambiente de paz que criaram no Reikai. Se ao menos tivesse conseguido obter o poder que queria poderia se consolar com esse fato, mas não. Ele falhara. Falhara consigo mesmo e com Yukina.

Seus únicos objetivos eram encontrar sua Hirui Seki e proteger sua irmão à distância e falhara. A única habilidade que tinha era a luta, e perdera para um inútil que trabalhava para o Reikai. Hiei deu um soco na parede.

Não fazia ideia de quanto tempo teria que passar ali. Ninguém lhe dizia nada. E a única pessoa que ele via era a Guia Espiritual estúpida que ajudara aquele humano. O olhar de compreensão que ela sempre lhe lançava era irritante. O que ela esperava? Que ele se arrependesse e fizesse uma confissão de seus pecados? O koorime deu um sorriso malicioso. Talvez devesse fazer exatamente isso. Duvidava que uma Guia Espiritual fosse ter estômago para ouvir toda a sua história e continuar achando que o mundo era um grande arco íris.

Though my eyes could see I still was a blind man

(Embora meus olhos pudessem ver, eu ainda era um homem cego)

Though my mind could think I still was a mad man

(Embora minha mente pudesse pensar, eu ainda era um homem louco)

I hear the voices when I'm dreaming, I can hear them say:

(Escuto as vozes quando estou sonhando, posso ouvi-las dizer:)

Ele podia ouvir os passos dela se aproximando de sua cela. Aquela Baka Onna sempre tinha um sorriso no rosto... E ele adoraria apagá-lo. Obviamente ela não entendia que ele não queria vê-la. Não queria ver a alegria dela. Ela era o resumo de tudo que ele nunca seria. De tudo que ele nunca poderia ter. De tudo que ele nunca poderia se aproximar. Até seu cheiro lhe perturbava.

- Bom dia, Hiei. – Ela disse sorrindo. O koorime apenas ficou olhando para a parede para não ter que fixar seus olhos nela. A jovem suspirou. – Não vai me responder hoje também? – Ela passou a bandeja com o café da manhã dele pela abertura da cela. – É uma pena, pois eu li um livro incrível e gostaria muito de comentá-lo com você, por isso eu o trouxe para te emprestar. Se você fizer um gesto com a cabeça já vou considerar um gesto de paz, que tal? – Ela esperou alguns segundos. – Nada? – Hiei parecia que nem sequer respirava diante dela. – Ok. Vou levar o livro embora então. – O youkai ouviu os passos dela se afastando e depois voltando em direção à cela. – Você é impossível, sabia? – Ela disse colocando o livro junto com o café da manhã dele. – Sei que ainda vou fazer você me responder, seu chato. – E depois disso a jovem voltou a partir. Hiei esperou alguns minutos até ter certeza de que ela não voltaria e se aproximou da bandeja. Pegou a bandeja e a colocou sobre a mesa que havia na cela. Sentou e bebeu um gole de seu café enquanto analisava o livro que ela deixara. "O conde de Monte Cristo". Era um livro enorme. Hiei o colocou de volta sobre a bandeja e continuou bebendo seu café.

O melhor a se fazer era deixar o livro sobre a bandeja e devolver a ela. Não queria lhe dar a satisfação de saber que ele aceitara a oferta de paz dela. Nunca poderia haver paz entre eles... Mas havia tão pouco para se fazer ali. Talvez pudesse ler aquele livro e esquecer as coisas que o atormentavam, ao menos por um tempo. Ele leu o primeiro capítulo enquanto bebia o café e depois disso foi impossível simplesmente deixar o livro de lado.

Quando Botan foi levar seu almoço recolheu a bandeja vazia e viu o livro sobre sua mesa. De alguma maneira, aquilo pareceu deixá-la feliz.

- Espero que goste do livro. – Ela disse antes de partir com um sorriso no rosto. Hiei suspirou depois que ela partiu. Talvez tivesse feito bem em aceitar o livro, afinal dessa vez ela não se demorara tanto.

Carry on my wayward son

(Continue meu filho rebelde)

There'll be peace when you are done

(Haverá paz quando você tiver terminado)

Lay your weary head to rest

(Coloque sua cabeça cansada para descansar)

Don't you cry no more

(Não chore mais)

[Carry on Wayward Son – Kansas]

Início e Término: 14/02/2017.

1 Prisão – Tradução do Japonês.