TEMPOS SECRETOS

Arashi Kaminari e Brazinha

Prólogo

Hiei POV

É um dia calmo... A neve cai lá fora... As flores estão escondidas sob o branco que se alastra pela cidade... Como é de se esperar de um inverno no Japão. E eu? Bem... Eu estou sentado ao pé da cama de Kurama... Sua face está tão calma e serena, como todas as vezes que o vejo dormir.

Quando toco seu rosto branco – branco como a neve –, posso sentir a maciez de sua pele entre meus dedos, o calor de seu corpo... E com todas estas sensações, eu sinto... O medo quase que palpável que tive de perdê-lo.

Brigamos, quase todas as vezes, por motivos fúteis. Aliás... Eu brigo. Mas daquela vez, eu vi seu rosto se contorcer em lágrimas. Pude ver a triste expressão que nunca em minha vida, eu desejo ver de novo. E mais do que isso... Vi a descrença do meu amor por ele. Aquilo foi mais do que eu poderia suportar.

Eu nunca quis machucá-lo. Mas daquela vez, eu o machuquei. E até hoje, ele não me perdoou por isso...

Suspirando, olho para fora e começo a divagar em pensamentos. Acabo sendo tragado por velhas lembranças.

oOo

Passeávamos juntos naquela manhã de domingo. E ele estava calado, como quem queria me perguntar algo. Seus olhos faiscavam com algum sentimento contido, o qual eu não conseguia distinguir.

Quando já estávamos longe das pessoas, sentamos numa pequena praça da cidade – a qual vivia deserta a maior parte do tempo. E aquele dia então... Não havia uma alma sequer. Apenas os animais e o vento que bagunçava nossos cabelos.

Então, a briga começou. Enfim, eu podia ver claramente qual era aquele sentimento que envolvia Kurama.

– Hiei... – ele começou com a voz baixa, como se medisse as palavras que usaria. Mas sua voz mantinha um tom raivoso.

– O que foi, Kurama?

– Quando pretendia me contar?

– Contar o quê? – naquele momento, eu me senti apreensivo. Meu corpo inteiro se estremeceu por dentro, apesar d´eu não demonstrar isso. Será que ele havia descoberto? Ele não podia ter descoberto naquela hora! "Eu iria resolver tudo!" Era nisso que eu pensava. Meu coração estava disparado. E eu sabia que ele podia ver meu estado, apenas olhando em meus olhos.

– Ah, por favor! Não se faça de cínico, Hiei! – sua voz havia aumentado naquele momento. Num piscar de olhos, Kurama já estava de pé, apontando freneticamente para mim. Seus olhos faiscavam de raiva. Por um momento eu me vi com uma feição surpresa e incrivelmente patética.

– Kurama, do que você está falan...

– Você sabe muito bem do que estou falando! – ele rebateu com o tom de voz mais alto ainda, me interrompendo. Entendi na mesma hora que ele sabia. Mas como?

– Como você descobriu? – minha voz saiu baixa. Quase num sussurro. Ele me encarou com lágrimas nos olhos.

– Então você não nega... – e aos poucos sua voz foi sumindo, dando lugar a soluços de cortar o coração.

– Kurama, eu...

– Eu acreditei em você... Como você pode me enganar desse jeito?

– Eu...

– Provavelmente eu não significo nada demais para você. Nada mais do que isso, não é? ME RESPONDA, HIEI!

– Isso não é verdade!

– Como não? Então você acha divertido enganar os outros? VOCÊ FINGIU QUE ME AMAVA! FINGIU! NÃO FINGIU TUDO O QUE PASSAMOS? JUNTOS! TUDO UMA DIVERSÃO! UMA DIVERSÃO! – ele apontava para mim, enquanto me acusava.

As lágrimas cristalinas caíam de forma abundante pela pele alva e delicada. Eu queria envolvê-lo em meus braços, passar um pouco de conforto. Mas sequer ousava abraçá-lo naquele momento. Eu queria dizer tantas e tantas coisas... Mas minha voz não queria sair.

Queria dizer o quanto ele era importante para mim. Que não era apenas mais uma diversão e que eu o amava de verdade! Mas eu não consegui dizer aquilo para ele.

Por um momento, no auge da minha estupidez, pensei que o estava perdendo. Então, ele correu. Pela primeira vez, me vi confuso e sem saber o que fazer. Fiquei sozinho naquele parque escuro, lembrando-me de como toda aquela história havia começado. De como nós dois fomos parar naquela situação.

oOo

E agora, tudo veio a ficar numa paz... As coisas melhoraram, é verdade. Mas nunca ficarão num constante de mar de rosas.

Continua...