Nota: Os personagens de Naruto pertencem a Kishimoto Masashi e empresas licenciadas. Fic sem fins lucrativos a não ser diversão. Feito de fã para fã.
Sumário: Eu também te amo... Aquela era a frase pela qual mais ansiara em toda a sua vida, poder de fato compreender um sentimento literalmente tatuado em sua pele, algo que jamais pudera experimentar. Mas seria ele capaz de realmente compreender esse sentimento?
Aishiterumo
Capítulo I: O Kazekage
É estranho como às vezes a vida parece passar frente a seus olhos como se não fosse mais que o sopro vento, que consigo leva a areia, as folhas, os sussurros. Tudo. Talvez a vida também fosse ínfima e passageira, instável, como os grãos de areia que a cada instante flutuam ao sabor do vento dando origem a outras formas e paisagens em diferentes lugares. Tudo se transforma, floresce, amadurece. A vida poderia ser muito bem descrita como a uma árvore que nasce, cresce, dá seus frutos e por fim volta a terra: morre.
Mas e quando a árvore que você representa parece ter estacionado o seu ciclo de vida? Ela nasceu, cresceu, floresceu, mas ainda não teve seus frutos? Tão pouco está morta, mas é como se já o estivesse? Ela jaz seca, sem viço, diante da frustração de não ter cumprido o seu dever, seu destino, mesmo que ao seu redor tudo pareça colorido e iluminado. Faltava algo, só não sabia o que.
O sol nasce todos os dias, mas é como se sempre estivesse escuro e frio. Seria então por isso que estivesse se sentindo estéril e incompleto? Ou seriam seus olhos inaptos a jamais reconhecerem cores? Havia um vazio, um imenso vazio, como o de um abismo infinitamente escuro e profundo presente em seu peito e que a cada dia, parecia querer sugá-lo para ainda mais fundo até que se perdesse e nunca mais voltasse a ver o sol.
Mesmo que vivesse rodeado de gente, muito mais do que desejasse, sentia-se sempre sozinho, distante de tudo e de todos. Era uma árvore oca em meio a tantas outras cheias de vida e pulsando.
Era o Kazekage.
Era a árvore seca em meio ao deserto, com suas raízes sobressalentes fixas sob a areia de onde o vento jamais poderia arrancar. Era aquele que deveria ser forte como aço para proteger as demais árvores que, diferente de si, tinham o seu oásis particular, mas não a força para protegê-lo. Isso era ser o kazekage, aquele que está acima de todos a observar e proteger todos aqueles que o rodeiam, na maioria das vezes sem sequer ser percebido. Sua vila e as pessoas que ali viviam eram a sua vida, mas seria tal dever pesado demais? Estaria ele renegando o seu destino?
Aquele tido como um monstro desde o seu nascimento agora era alguém venerado e respeitado, mas a visão de que era um deus não mudava muito da de monstro a ser temido. Ainda o temiam, mesmo que já não tivesse mais o Shukaku preso em seu corpo. Ainda o achavam acima de tudo por ser o Kazekage, quando tudo o que mais queria era ser como qualquer um... Ser tratado como uma pessoa comum.
Era humano. Também sangrava, também sofria, também ansiava, mesmo que em segredo.
Ser o guardião de Suna não fazia de si menos humano.
Não estava à cima de ninguém. Já havia até pensando estar erroneamente no passado, mas agora, sentia exatamente o oposto. Era como se estivesse de fora de tudo aquilo havia ajudado a criar, daquele tempo de paz que abençoava a vila já fazia alguns anos. Era um renegado entre os demais. Como sempre o fora, mesmo que agora estivesse do lado certo. Não era mais considerado um monstro, mas tão pouco era menos temido...
Paz... Seu coração também deveria estar em paz não? Não haviam mais guerras e inimigos a temer, mas seu coração ainda jazia carregado não mais de ódio, mas de vazio. Como preencher algo invisível e que o dilacerava por dentro dia após dia? Anos após anos? Talvez a ferida jamais se cicatrizasse...
-Ojiisan já te disse que ainda não está na hora e... Gaara-sama, por favor, me ajude!
Aquela sem dúvida não era uma cena comum de se acontecer no escritório do Kazekage, mas ainda sim, começava a se repetir desde que a mais velha dos irmãos Sabaku havia se tornado mãe. Quando Temari não estava em Suna, seja em missões diplomáticas com vilas vizinhas ou por qualquer outro motivo, o que era o caso, Kankurou é quem bancava a babá do sobrinho. A irmã tal qual a si também fizera sacrifícios por Suna. Abdicara de seu amor do passado, deixando-o em Konoha e fizera o que tinha que ser feito: Se casara com um dos de Suna e tivera um filho. O marido morrera pouco tempo depois, e criava o filho sozinha dividida entre missões e o que era certo ou errado sendo a irmã do Kazekage.
Queria não ter tido participação direta nisso, mas sabia que tinha, por isso mesmo sempre mandava a irmã de volta a Konoha em missões diplomáticas. Talvez ainda não fosse tarde para tentar remediar o acontecido. Temari tinha o direito de ser feliz como o que realmente era: uma mulher. Quem sabe suas visitas e encontros formais com Shikamaru – agora conselheiro e estrategista direto do Hokage – os aproximasse novamente.
Os olhos verdes de Gaara se voltaram para o sobrinho de quatro anos a adentrar ofegante em sua sala. Atrás do garoto vinha o irmão, que parecia ainda mais ofegante devido à maratona que havia percorrido para alcançar o pequeno.
-Como vai Hajime-chan? –Gaara dirigiu um meio sorriso ao sobrinho. Já imaginava o porquê daquela correria toda: hora do banho, o que queria dizer hora do pesadelo para o garoto, se bem que Kankurou era quem mais sofria em dados momentos.
-Gaara-sama! Gaara-sama...; o garotinho continuava ofegante, porem não menos disposto a despistar o tio. –Me ajude Gaara-sama...
- Hajime! Isso lá é jeito de entrar no escritório do Kazekage? –Kankurou repreendeu o pequeno que correu para perto de Gaara e apontou o tio com o dedinho em riste.
-Gaara-sama, Kankurou-ojiisan está me perseguindo só porque...
-Porque você não quer tomar banho! –Kankurou completou a frase do garoto que franziu o cenho contrariado. –E não é Kankurou-ojiisan e sim Kankurou-sama! –o rapaz fez questão de frisar. Não era tão velho assim afinal. –Quando é que vai aprender a me respeitar hein Hajime?
-Gaara-sama; o garotinho se voltou para o tio que ainda jazia sentado em frente à mesa do escritório e apenas observava a cena.
Aquilo irritava ainda mais Kankurou. Como é que ele podia ser tão diferente para com Gaara e para consigo? Parecia um "anjo" a implorar pela intervenção do Kazekage. Já consigo...
-Na falta de sua mãe, você deve respeitar Kankurou Hajime-chan; disse-lhe Gaara tocando gentilmente na cabeça do garotinho. Era como se tivesse uma cópia mirim de Temari a sua frente. Loiro, grandes olhos azuis e... Sem dúvida alguma, também havia herdado o gênio da mãe. –E acredite tomar banho não é tão ruim assim, você apenas não aprendeu a apreciar tal momento ainda...
-Mas... Está bem Gaara-sama; o pequeno sorriu para o tio. –Mas eu vou sem ele! –Gaara seguiu com os olhos a direção apontada pelo sobrinho: um Kankurou prestes a explodir de raiva.
-Está bem Hajime-chan, mas peça pra uma das servas te ajudar.
-Hai Gaara-sama! Ja ne! –assentiu o garotinho enquanto se despedia do tio. Passou pelo mais velho e ao contrário da educação mostrada para com Gaara, mostrou marotamente a língua para Kankurou antes de correr porta a fora.
-Moleque, oras seu... Eu mereço! –Kankurou emitiu um longo e vencido suspiro. –Acho que esse moleque me detesta no fim das contas e adora você; completou sentando-se na cadeira de frente para o irmão.
-Ele gosta é de te irritar. Acha isso engraçado, já que você perde o controle com facilidade graças ao seu pavio curto; disse-lhe Gaara recostando-se melhor contra a cadeira.
-Olha só quem fala; Kankurou rolou os olhos e o irmão nada disse, apenas esboçou um meio sorriso enquanto seus olhos buscavam a paisagem árida da janela ao lado. –Mas mudemos de assunto sim?
-Claro; Gaara respondeu ainda distante a fitar a janela.
-O conselho quer se reunir com você; Gaara nada disse e Kankurou continuou. –Já faz idéia do por que não?
-A negociação com o País da Terra e o acordo de pacificação e união com a Vila Oculta da Pedra.
-Parece não estar preocupado com isso; disse-lhe Kankurou.
-E não estou; respondeu-lhe Gaara dessa vez fitando o irmão.
-Como não? –exaltou-se Kankurou quase saltando da cadeira. –Isso está diretamente ligado a você, acredito que de maneira mais pessoal impossível. Sua vida não é uma moeda de troca para ser posta num contrato entre vilas aliadas. Já se sacrificou demais por Suna e já temos Konoha e muitas outras vilas como aliadas. O próprio País da Terra se diz nosso aliado, então porque isso agora?
Kankurou parecia não acreditar na calma e passividade do irmão.
-E existe forma melhor de se selar uma união?
-Gaara...; Kankurou tomou cuidado com as palavras se controlando para não gritar em protesto. Jamais aceitaria algo do tipo se estivesse no lugar do irmão.
-Como o Kazekage é meu dever manter a paz e a união entre as vilas, como venho tentando manter há anos. Se isso faz parte do contrato de anistia, não vejo porque não cumprir tal exigência.
-Mas Gaara...
-Kazekage-sama!
As vozes firmes e graves dos conselheiros interromperam a conversa entre os irmãos.
-Perdão, Kazekage-sama, mas a porta estava aberta; disse um deles.
-Não tem importância, estava mesmo esperando por vocês; disse-lhes Gaara mesmo que o olhar cortante de Kankurou dissesse o contrário.
-Kazekage-sama precisamos conversar sobre...; Baki, o antigo sensei dos irmãos Sabaku e um dos mais velho dos conselheiros, parecia estar constrangido em tocar no assunto.
-Sobre a aceitação ou não do contrato nupcial com a Vila Oculta da Pedra...
Continua...
N/a: Bem, eu sempre quis escrever uma fic sobre o Gaara, então estou bolando algo pra digamos mais ou menos dez anos após o que foi mostrado no anime e mangá... Não faço idéia de que fim o autor dará ao mangá, e tão pouco tenho a audácia de querer dar um fim eu mesma, mas já faz um certo tempo que tento imaginar como seria a vida do Gaara como Kazekage e o Naruto como Hokage. Espero que curtam, pois isso é só o começo... rsrs
Nota 2:
Sabaku quer dizer areia, deserto (segundo minhas pesquisas... por favor, eu não sou japonesa, então não me exijam ser exata na tradução! XD), e o Gaara é chamado no anime por diversas vezes de Sabaku no Gaara/ Gaara do Deserto. Resolvi usar isso como "sobrenome" para os irmãos.
Ojisan seria "tio", mas eu vi que há variações na tradução como ojiisan que é algo como "velho/avô/homem de meia idade". Haha eu acho que isso iria irritar o pavio curto do Kankurou não? rsrs
Hai: sim
Ja ne: Até logo/Até mais
Aishiterumo: "Eu também te amo" em japonês. Sei lá, pensei que seria um nome legal por conta da tatuagem - ou seria cicatriz? - do Gaara, o kanji "Ai"que significa Amor e também por que isso será o foco da idéia central da fic: Será mesmo o Gaara capaz de amar e ser amado?
Um grande bju e um forte abraço a todos!
Hana.
P.S: Não se esqueçam do review hein? Quero muito saber a opinião de vocês!
