Carmesim
Sinopse: Porque vermelho era tudo que ela conhecia. Tudo que amava e odiava. Madame Red centric.
Disclaimer: Kuroshitsuji não me pertence, e todos sabem muito bem disso, obrigada.
Tiveste sede de sangue, e eu de sangue te encho.
(Dante Alighieri)
Aquele líquido precioso escorria mais uma vez por suas mãos, colorindo e aquecendo a pele pálida e fria. Sangue carmesim passava por seus dedos e descia até os braços, deixando seu rasto conforme fazia sua trajetória. Era sangue que jorrava abundante, manchando-a e marcando-a da cor vermelha que ela tanto amava e odiava. E para Madame Red não havia melhor sensação do que ser banhada em sangue – a mais vibrante representação do vermelho.
Porque vermelho era tudo que ela conhecia, sempre fora. Eram apenas as emoções que a cor lhe causava que mudavam, oscilando de um extremo a outro com espantosa facilidade. Amor, veneração, ódio, repulsa e apego. Todas as sensações guardadas dentro de si em um turbilhão, apenas esperando sua vez de prevalecer.
A primeira delas fora o ódio.
Odiava os cabelos cor de fogo que herdara do pai. Tão desprovidos de brilho, tão sem graça se comparados aos fios reluzentes de sua irmã. Eram cabelos selvagens, destoando na multidão e parecendo tão fora de lugar quanto ela se sentia ao expô-los aos olhos de toda a alta sociedade. Odiava-os por não lhe parecerem adequados, odiava-os por fazerem com que ela não se sentisse adequada.
Mas então ele aparecera, o encantador Conde Phantomhive. Ela escutou aquelas palavras doces, providas do mesmo encanto que o cercava. E ódio transformara-se em amor.
Amor que perdurara, acompanhando-a por toda a sua vida. Mesmo quando eles se casaram, seu amado e sua irmã. Mesmo quando aquele pequenino nascera. Ela simplesmente não podia odiá-los; o ódio estava longe de si naqueles momentos, era apenas amor que vinha a tona. E eles eram a fonte desse amor.
E assim como todos os outros, aqueles momentos também passaram, mais rápido do que ela desejara. E novos momentos exigiam novas emoções. A repulsa caiu como uma luva.
Ela repudiava com todas as forças a cor vermelha das chamas que queimavam a mansão, olhos cheios de medo esquadrinhando cada ponto, em busca de algo que ela mesma não sabia, mas só encontravam vermelho ao seu redor. Vermelho e destruição. Vermelho e morte.
Não havia conforto, só cinzas de uma casa devorada pelo fogo, só uma mulher pela metade. Ela se perguntava se esse teria sido o seu fim também, se ele não tivesse sobrevivido. O pequenino.
Porque ela perdera tudo, o amado, a irmã, o marido...o filho dentro de si. Mas ela ainda tinha a ele, mudado sim, mas ainda vivo. E isso devia bastar para aplacar sua dor, para fazer com que ela amasse de novo.
Mas não era o bastante.
A única forma que ela encontrou era cobrir-se de vermelho. Roupas, acessórios, cabelo. E sangue. Cobrir-se do sangue daquelas mulheres que tinham a única coisa que ela jamais poderia recuperar, mas que não pensariam duas vezes antes de abrir mão.
E por isso ela as matava. Sem compaixão, sem arrependimento, apenas fúria e desprezo. Jack Estripador estava à solta na Inglaterra. E quem poderia suspeitar dela, a tão conceituada médica, a Madame Red?
Ele também não pudera, e ela achou que isso bastasse para mantê-lo afastado, a salvo de si mesma. Mas quando ele descobrira, quando a vira ali, com as mãos e o rosto sujos de sangue, tudo que ela fez foi hesitar.
Não podia destruir seu último elo, a última fonte de lembranças que a ligava ao seu amado. Não queria matá-lo. E um novo jorro de vermelho a coloriu, pela última vez. Madame Red inundava no vermelho de seu próprio sangue. Mas embora parecesse incompreensível demais para se acreditar, isso a deixava feliz. Pois era parte de si, do que ela conhecia.
Ela era todo aquele vermelho. Sempre fora.
N/A: Madame Red rula \o. Simplesmente minha personagem preferida de Kuroshitsuji, gostei muito de escrever sob a perspectiva dela, espero que vocês tenham gostado do resultado! :D
Se ler, deixe review, eu não mordo e os seus dedinhos não vão cair por causa disso. :)
