ILHA DE ESME

A àgua negra era um mar sem fim cintilando à luz da lua como se milhares de diamantes flutuassem na superfície.
Eu me virei e coloquei as malas no píer com cuidado.
A noite estava muito quente; Era difícil acreditar que já passava das dez. Pude sentir o ar ficar cada vez mais espesso, o calor brotando dentro d'água.
A temperatura era extremamente agradável; Mais ou menos como quando Bella respirava perto de mim. Realmente delicioso.
Eu me virei e fitei seu rosto por um momento. Senti um sorriso se formar involuntariamente.
Não era algo com que eu pudesse me acostumar.
Eu não deixaria de me surpreender com sua presença - Ou com o que o som do seu coração provocava em mim - Mesmo agora, quando sabia que de alguma forma a teria para sempre.
Estendi a mão para ela.
O contraste entre nossa pele não era lisonjeiro. Assim como a eletricidade instantânea que fluía entre nós dois.
Como fogo e gelo. Verão e inverno. Jamais haveria meio termo para nós.
Em um movimento inumanamente rápido eu a puxei para o círculo dos meus braços, aninhando seu corpo junto ao peito.

- Não deveria esperar pelo momento de passar pela soleira da porta? - Perguntou ela, a voz falhando de surpresa.

Eu ri.

- Tudo o que faço tem de ser completo.

Sua voz ainda quicava em minha mente, provocando uma expectativa um tanto desagradável.
Bella, Bella, Bella. De repente eu estava ainda mais consciente de sua presença. Hiperconsciente. Mais ligado à ela do que em qualquer outro momento da noite.
Seu corpo tão próximo ao meu era ao mesmo tempo bom e ruim - Como encontrar um flash de luz no céu após ter vivido a eternidade no escuro; Ou como o alívio do ar nos pulmões humanos após ter ficado embaixo d'água por tempo demais... Mas, por outro lado a sede era deplorável. Queimava mais forte do que nunca. Alguém preso nos abismos do inferno não poderia arder tanto.

Eu procurei me concentrar em Bella ainda mais, olhando o seu rosto o tempo todo enquanto caminhava pela muralha verde.
O silêncio dominou o ambiente por alguns segundos. E então, do nada, seu coração começou a crepitar de hiperatividade. Eu nunca a havia visto daquele jeito - Se alguma vez Bella entrara verdadeiramente em pânico não fora nada comparado àquilo. - Seus olhos esquadrinharam cada centímetro da casa a nossa frente e o coração dobrou a velocidade e não recuperou o ritmo.
Engoli em seco.
É claro que agora o pânico me assaltara também - Mais por presenciar o nervosismo dela do que por qualquer outra coisa - E eu percebi que estávamos muito perto do desconhecido. Perto demais.

Por que eu concordei com aquilo mesmo?
Ah, sim, porque eu amava a garota em meus braços mais do que qualquer um na historia do mundo pôde amar alguém.

Devia contar para alguma coisa...