"Knock... knock knock... knock"

Reconhecia essa batida.

- Pode entrar, Latios. - comunicou a humana de cabelos vermelhos e olhos amarelos.

Latios acabara de adentrar no velho edifício, abandonado, cheio de pedaços do teto no chão, com apenas um tripé, uma tela, um banco e uma irmã.

- Continua pintando isso? - perguntou o mais velho a Latias.

- Claro que sim! É muito bela, não é? Por ter colorações tão diferenciadas, vou acabar demorando mais do que o esperado. E tá reclamando por quê?! É pra você!

E sem rodeios, pulou do banco onde estava para os braços do irmão. Repentinamente, uma das janelas foi derrubada por um vento forte, fazendo com que no local uma quantidade indeterminada de raios de luz aparecesse. O olhos de Latias doíam, a medida que os raios se intensificavam. Antes que pudesse perceber, tudo não passava de um clarão de luz, forte, quente...

Latias conseguiu abrir seus olhos novamente. Percebeu estar em um grande jardim, sem qualquer sinal de vida, com exceção das grandes e até incrivelmente verdes árvores e dos insetos, sozinha. Outro sonho. Quando levantou vôo, ouviu um barulho que se assemelhava ao de um sino. Era [i]aquela[/i] jóia. Aquela maldita jóia, que só a fazia lembrar-se dos piores momentos com o irmão. Principalmente [i]aquele[/i] momento. O momento em que teve de usar todo o seu poder para salvá-la e a todos os seus amigos, daquela estúpida onda provocada por aqueles humanos idiotas.

Então se lembrou que nem todos eles eram idiotas, e que até amou um. E que o fato de seu irmão e ela em seu sonho terem aparecido na forma humana, não era coincidência. Latias sentiu como se tivesse dormido por anos e... De fato tinha.

"Não, tenho que terminar aquilo!", ouviu em sua cabeça. "Mas você não pode, não há tempo suficiente!", retrucava o irmão. A discussão não demorou, pelo fato dos tremores estarem cada vez maiores. "Estou indo, Latias... Adeus, e nunca se esqueça de mim." disse o irmão, sumindo em um feixe de luz.

Agora Latias já sabia o que fazer. Comprou uma tela, um tripé, e um banco, porque sabia exatamente onde aquele prédio estaria. Até que lá chegou. Deixou-se cair ao chão, soluçando, e sentindo um rio de lágrimas escorregando à face. Era inevitável. Mesmo depois de acordada, o "sonho" continuava, mas ao invés de um irmão, agora possuía nada. Pelo menos nada de bom que o recordasse. Até que juntou forças a ponto de conseguir começar uma nova pintura. Uma pintura bela, que a trazia grande felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Uma pintura dela e de seu irmão, ambos voando, em suas formas originais, só que dessa vez de cabeça para baixo, como ela sempre pedira a ele, que nunca acatava. O olhar no rosto de Latios exibia claramente uma preocupação com a irmã, e só queria fazer de tudo para vê-la feliz. Já em Latias, estava o seu sorriso resplandecente de sempre, e os olhos cheios de vivacidade. Atrás deles, como uma espécie de plano de fundo, via-se muita luz, com variações de vermelho e azul.

"Bem...". "Se nada é certo, o que mais eu posso fazer?... Vou continuar a pintar flores para você...".