I

Japão, 2002

A moça acordou, um tanto quanto assustada. O amante, com quem ela tivera uma noite de sexo, a beijava de maneira sonolenta, porém apaixonada. Ela não entendera... dado que o homem em questão não lhe tinha nenhum sentimento, e deixara isso bem claro.

Tudo ficou mais claro quando ela o escutou falar:

- Uhn... Mana...

De novo.

De novo aquele negócio de Mana. Céus... fazer sexo com desapego era uma coisa (com a qual a maioria das mulheres não lidava bem, mas enfim...), mas fazer sexo com o camarada falando nome de outra pessoa... era o fim da picada.

Ele, de fato, continuou beijando e abraçando... e falando "Mana". Logo, aquele nome começou a vir acompanhado de algumas frases:

- Hun... Mana-chan... amorzinho, eu tive um sonho tão ruim...

As mãos do rapaz foram para o ventre da moça, e depois para seus glúteos...

- Hun... Maninha... eu sonhei que a gente tinha se separado... Caaaara, foi tão ruim... e o pior é que eu havia pedido a separação... onde que eu estaria com a cabeça pra fazer uma merda dessas, né? Mas tudo bem... foi só um sonho, e você está aqui...

A moça começou a ficar de saco cheio de toda aquela "melação". Ia levantar da cama e deixar o outro falando sozinho, quando...

...quando a mão dele foi direto para seus seios, impedindo-a de sair.

- Hun, Maninha... seus peitos estão grandes...! Que porra é essa, cara, colocou silicone...? Pois ficava melhor sem... você sabe que eu gosto de você como homem, né... mas você quem sabe da sua vida...

Irritada, a moça retirou a mão de seu seio e respondeu, para a surpresa do amante sonolento, com uma voz bastante feminina:

- Mas que droga, Közi! Não vai me dizer que transou comigo pensando num homem?

O "maluco" despertou completamente ante aquela interrogação quase estridente, e olhou enfim para a moça. É... era uma moça, não o Mana.

- Puta que pariu, Megumi! Que é que eu já te falei sobre NÃO dormir comigo após a gente trepar?

- E você queria que eu fizesse o quê, dormisse na rua...?

- Sei lá, porra...! Dormisse onde quisesse, até no sofá... mas não aqui comigo! Eu não tenho... não tenho intimidade o suficiente com você pra isso! Por mais que a gente transe...

- É. Eu sempre soube que era só pra trepar, pra "gozar e sair fora" mesmo. Mas Közi... você está passando dos limites! De todos eles! Közi, eu posso até aceitar transar sem vinculo - mas você pensando em outra pessoa... como se tivesse tesão por essa outra pessoa, e não por mim... é um golpe na minha auto-estima!

Közi levantou da cama, indo até o chuveiro, pensando em refrescar a cabeça - e porque não, as ideias também. Megumi tinha razão... ele transava com ela pensando no Mana. E transava com ela tão-somente porque Mana não lhe dava outra chance.

Diabo de crossdresser orgulhoso!

Ao sair do banho, a moça lhe pediu ao menos permissão para tomar um banho antes de sair... e ele, com um gesto, indicou para que ela o fizesse. E, enquanto ela se banhava, Közi pensava... em como aquilo estava sendo injusto. Estava usando a mulher como quase um "holograma" pra pensar no Mana... mas isso era usá-la de "penico". E, bem, parece que ela se incomodava com isso.

Assim que Megumi saiu do chuveiro, Közi ia secamente abrir a porta pra ela sair, mas ela resolveu tocar naquele assunto tão delicado para si:

- Kouji-san... esse tal de Mana... parece ser alguém muito importante pra você, sim?

Közi coçou a cabeça, não sabendo se era bom ou não falar daquilo com a moça. Enfim acabou falando, dado que mulheres usualmente eram tidas como boas confidentes praquelas coisas:

- É... é sim. Ele... é meu ex namorado.

- E você ainda gosta dele...

- Muito...! Olha, Me-chan, eu sei que é uma puta de uma sacanagem o que eu tou fazendo contigo... mas o que é que eu poderia fazer? Você tem o biotipo dele, é alta como ele, tem pouco seio como ele - aliás, ele não tem... mas você tem pouco em comparação a outras mulheres... enfim... você me lembra ele, e como preciso... preciso transar com alguém... é com você que vai. Espero que me entenda...

- Entender eu entendo. Porém... você não acha que já estava na hora de abrir o jogo pra esse cara?

- Não dá. Já tentei, ele me repele de tudo quanto é jeito.

- O que você fez a ele pra ele te repelir?

- Eu... terminei o namoro.

- Você...? Parecendo estar tão apaixonado como está?

- Mas é...! É uma merda, mas eu terminei mesmo estando completamente louco por ele...! É que... eu tive ciúmes, foi isso!

- Ele te traiu?

- Não, nunca...! Ele não é disso... é que... ele teve um namorado antes de mim, que era bem mais bonito e tal... mas era um canalha.

- E o tal de Mana flertava com esse ex?

- Não, nem falava mais com ele! Eu... eu que fiquei de cismeira.

- Que bobagem...! Közi, você terminou um namoro por ciumes infundados?

- Sim... e cara, cara, como eu gosto dele...! Como eu acabei me arrependendo depois! Foi uma merda, uma merda completa tê-lo deixado afinal...!

- E agora ele não quer mais saber de você.

- Isso mesmo... não sei o que fazer. Não sei, cara! Já se passou mais de um ano, mas eu não consigo esquecer... parece que foi na semana passada que terminamos, tão intensa essa dor é...! Aí eu fico usando mulheres assim, como você, pra fingir que ainda estou com ele... e não estou! É tão difícil... e é uma merda eu tratar vocês assim.

- Eu entendo. Mas olha, apesar de não achar legal o fato de você me comer pensando nele... acho que deveria tentar ao menos conversar com ele. Nota-se que você está incompleto, infeliz... e só ele pode preencher esse buraco da sua alma.

Közi a olhou surpreso. É... apesar de ser uma mulher que usualmente saía em casual com o povo, ela tinha bom senso.

- Tem razão, Megumi... o problema é aquele... ele não me quer mais. Eu já tentei voltar diversas vezes, e dar murro em ponta de faca é doloroso... logo, queria que ele ficasse comigo, porém... se ele não quiser voltar, que é que eu posso fazer?

- Ao menos tente expor esse sentimento pra ele. E depois pode ficar com a consciência tranquila por ter feito tudo - tudo mesmo - que estava ao seu alcance.

- É... tem razão. Vem cá, quer comer alguma coisa...?

- Não, obrigada. E, Közi... não encare isso como uma ofensa, mas não quero mais sair com você. Não é justo comigo, que sirvo apenas como "algo secundário" em face do que você realmente quer... injusto com você, que na verdade está amando a outra pessoa... e injusto até mesmo com esse seu ex, que não está sabendo da situação na qual você se encontra, e o quão importante é pra você.

- É... você tem toda a razão. Tenho de parar de fazer isso com mulheres como você... mas aí não sei como vai ficar a minha vida sexual.

Megumi deu um sorriso amarelo, se despediu de Közi e saiu da casa dele. Era ainda bastante cedo, não mais do que sete da manhã. Közi, sem ter maiores compromissos àquele dia, não sabia o que fazer a esse respeito.

Tentou se deitar mais um pouco, acendendo um cigarro. Fumou, tragando profundamente... mas os pensamentos não se desvaneciam de sua mente atormentada.

"Eu não devia tentar manter contato de novo com o Mana... ele vai me rechaçar, eu sei! Mas... e agora! E essas mulheres...? Essas pobres mulheres, que têm de escutar eu gemendo 'Mana' enquanto transo com elas...? É um saco... elas não merecem isso. E nem eu... mas... como fazer? Comprar uma boneca inflável parecida com ele? Tentar ficar só na punheta? Me condenar a uma vida sem sexo sendo que nem sou assim tão velho...?"

Após o cigarro, tentou cochilar - sem sucesso. Chegava a pegar no sono, porém acordava logo depois. O cheiro de Megumi... permanecia na cama, e ele se lembrava do que havia feito a ela - transado com ela pensando em Mana. Aquilo lhe deixava meio mal...

Resolveu trocar a roupa da cama e tentar escrever algo novo pro projeto no qual entrara recentemente¹. Nada. Estava sem cabeça.

Que faria, portanto?

Estava quase pensando em sair pra fazer qualquer coisa na rua, quando o telefone tocou. Pensou no pessoal do Eve of Destiny. Deviam ser eles, apressando o trabalho ou qualquer coisa do tipo. É claro... eles eram profissionais. Claro que, quando Közi trabalhava com Mana, o então namorado também era bastante profissional, porém... era namorado. Entre beijinhos e risadinhas, ele lhe dizia: "Vamos, amour! Temos apresentação semana que vem..." e, entre um carinho e outro, o trabalho enfim saía.

Velhos tempos... tempos tão bons, que só a lembrança deles fez com que a espinha de Közi tivesse um arrepio. Tempos que não voltavam mais...

Foi até o telefone. Conferiu a chamada, e o coração deu um pulo.

Não era o pessoal da nova banda.

Era o Mana.

To be continued

OoOoOoOoOoOoO

¹Quando o Malice Mizer entrou em hiatus, Közi foi para um projeto gótico chamado "Eve of Destiny".

Agora o bicho pegou! Que será que o Mana quer com o Közi após um ano de término de namoro? E essa Megumi, será que ainda vai render coisa na história?

Em breve posto o resto!

Beijos a todos e todas!