Fic de Universo Alternativo escrita para o I Challenge de Vampiros do fórum 3V.

Agradecimentos:

Em primeiro lugar, um especial obrigada à DarkAngel que, para além de ter lançado tão apetecível challenge, ainda teve a delicadeza de me dar mais umas horas para entregar a fic e me sugeriu o shipper - o qual eu nunca pensei escrever. Por último, e não menos importante, à Evoluxa Black, que continua firme na sua função de betagem das minhas insanidades e que está pronta a dar uma ajuda e a desatar um nó.


Prólogo

Era algo distinto de tudo o que eu havia alguma vez provado. Não era doce como tinha imaginado nos meus devaneios mais fictícios, muito pelo contrário, era ácido com um leve toque metálico e, de alguma forma, levava-me a querer mais, mais e mais. Senti-me como um dependente, tal alcoólico necessita de bebida. Aquele sabor único sobre os meus lábios, deixando-os manchados num tom de pecado e roubando-lhes o seu frio natural, estava, aos poucos a tornar-se um desejo sórdido que eu não conseguia deixar de beber.

Senti o calor da sua mão sobre o meu rosto, fazendo-me abrir os olhos, abstrair-me por segundos daquele sabor, e fixar os olhos nos dela, tão expressivos, tão profundos, tão maravilhosos que era difícil de acreditar que estavam prestes a perder o seu brilho. E, quando eu me perguntava o que fazer para ceder ao seu olhar, quando, mesmo sedento pelo seu sangue, eu me preparava para a poupar, ela fez algo que eu pensei ser impossível naquele momento. Ela, simplesmente, sorriu. E, com o seu sorriso, lágrimas quentes e translúcidas surgiram dos seus olhos e rolaram pela sua face. Vi, por fim, o outro lado daquela mulher. Um lado que sente, que sofre, que ama. E logo, um enorme sentimento de culpa voltou a tomar posse de mim. Eu não podia fazê-lo, não a podia privar de continuar a sorrir assim, de continuar a verter lágrimas quentes e verdadeiras, de continuar a ser humana.

A muito custo, afastei os lábios da pele pálida e sedosa que ela possuía. Deixei de sentir o calor do seu sangue na minha boca, ficando apenas o seu gosto metálico. Desisti do seu sangue, não entendendo completamente o motivo de tal decisão.

- Não pares - ouvi a sua voz, baixa e fraca, a implorar-me. Não compreendi, não consegui perceber a origem do seu pedido. Porque estava ela, naquele momento, a incentivar-me a continuar, mesmo sabendo que isso era sinónimo de assinar a sua sentença de morte? Olhei-a, quase incrédulo por aquela atitude, por aquele acto de coragem - ou de loucura.

Senti novamente a sua mão sobre o meu rosto. O seu calor já se encontrava mais fraco, mas, ainda assim, conseguia, de alguma forma, aquecer-me o coração gelado. Os seus dedos contornaram calmamente os meus lábios, espalhando o sangue que neles continha, como se simplesmente estivesse a tentar memorizar cada pormenor dos seus contornos. O sorriso não saía da sua face, as suas lágrimas não deixavam de correr e eu continuava ali, segurando-lhe o pulso fraco e ensanguentado, contornando-lhe a fina cintura com o braço, vendo-a a perder, aos poucos, a vida nos meus braços.

- Porquê? - perguntei. Precisava de saber o motivo de tal sacrifício. Era uma necessidade quase tão grande como aquela que era tomada pelos meus instintos. Assim como eu queria o sangue dela, eu precisava daquela resposta para que o meu desejo fosse satisfeito sem qualquer ressentimento. Sem que aquele incómodo sentimento de culpa voltasse a tomar posse de mim.

Ela segurou o meu rosto, afastou uma mecha loira dos meus cabelos da frente dos meus olhos e voltou a sorrir. Parecia tão incrivelmente segura de si, como se aquilo fosse o seu propósito de vida. Como se ela apenas conseguisse ser plenamente feliz com a minha felicidade, mesmo que essa felicidade trouxesse a sua morte. Era como um sacrifício por...

- Porque tu ficas tão perfeito quando estás feliz - disse ela num murmúrio, interrompendo o meu raciocínio. - Porque eu sei o quanto desejas o meu sangue, sei o quanto precisas dele e... eu apenas quero ver-te feliz.

O ribombar de um trovão marcou o final da sua frase. A tempestade intensificava-se aos poucos, mesmo que agora já não chovesse. Ali, apenas o seu desejo, o seu último desejo, me ecoava nos ouvidos. Sorri levemente, inclinei-me, beijando-lhe ao de leve os lábios quentes e cedendo, por fim, a tamanha tentação. Voltei a levar os lábios ao seu pulso, cravando, mais uma vez, as minhas presas naquela pele de seda. Rocei suavemente os seus tendões para atingir uma das artérias principais, rasgando-a com uma estranha delicadeza e obrigando o sangue puro a deixar aquele corpo, permitindo-me saborear novamente o fruto do meu tão incontrolável desejo.

Amargo... com um leve toque metálico. Intoxicante, inebriante, impossível de resistir. Quente, aquecendo o meu corpo gelado, apoderando-se aos poucos dos meus sentidos.

As batidas do seu coração, fracas, marcavam o caminho da sua perdição, o tempo restante da sua vida naquele mundo. E, quando a última gota de sangue passou os meus lábios, abri os olhos e fixei-os nas suas íris castanhas, permitindo-me apreciar a beleza mórbida daquele momento, vendo o brilho vitalício dos seus olhos desaparecer para sempre na escuridão daquela noite.

Continua...


N.A.: Reviews, please.

Just