Ele estava fugindo de novo. Já havia perdido as contas de quantas vezes trocara de rua, cidade, estado e até país para se esconder, ou melhor, esconder "ele". Olhou para o garoto de quatro anos que lhe acompanhava olhando fascinado tudo a volta. A criança nem tinha ideia de que o que ocorria era por sua causa, mas essa era a intenção do mais velho. Proteger o menino de qualquer um ou qualquer coisa que pudesse afetar sua estrutura física e mental. O menino virou os olhos azuis e estendeu os braços pedindo colo.

- Já pego você. - Disse o homem de cabelos brancos compridos sorrindo para o menino e olhando pela vigésima vez em volta procurando seus perseguidores. Não viu nenhum movimento suspeito de imediato e começou a separar as pessoas que os cercavam em categorias verificando o risco que cada uma podia oferecer. Sentiu um cutucar nas pernas e um puxão no braço direito e pegou o menino sem abaixar a cabeça ou desviar os olhos de sua tarefa. Finalmente satisfeito foi até o portão de embarque e entregou sua passagem para a aeromoça e entrou no corredor do avião. Enquanto cruzava com os demais passageiros verificava se não havia deixado nenhum suspeito passar despercebido. Chegou à classe A sem problemas, deixou o menino sentar na janela, prendeu o cinto dele e se afastou alguns passos levando um pequeno choque no pulso. A pulseira estava funcionando corretamente. Sentou no corredor, prendeu o cinto e empurrou a cadeira para trás.

- Senhores passageiros… - Ele não ouviu até o final, pois já estava dormindo.

OOOO

- Senhor Uchiha, o avião particular está pronto para partir. - Informou um homem mantendo a cabeça baixa em sinal de respeito, um pequeno sinal da mão do Uchiha o dispensou. Enquanto se afastava um pequeno sinal de desgosto passou por seu rosto, mas desapareceu antes que qualquer um percebesse.

- Vamos embarcar senhores. - anunciou o homem chamado de Uchiha para os outros 10 homens que o obedeceram sem pestanejar. Dono da empresa com maior lucro do Japão o Uchiha estava muito acostumado a ser obedecido, mas seu olhar, sempre tão duro, suavizou ao encarar o pequeno menino de quatro anos que aguardava pacientemente no colo do irmão mais velho.

- Cuide bem do seu irmão, Itachi. - Disse num tom mais suave que o usual e o rapaz de 17 anos concordou. - Ano que vem você vai assumir a empresa na Inglaterra.

- Obrigado, pai. - Itachi disse fazendo uma reverência respeitosa. O Uchiha sorriu rapidamente. Deixar a nova empresa a cargo do filho faria os conselheiros protestarem, mas era o único modo de ver se o rapaz saberia colocar tudo que aprendera em prática. Se soubesse, a empresa do Japão seria dele e a inglesa poderia ficar para o menino. O homem entrou sem olhar para trás, e os dois filhos observaram o avião misturar-se ao céu.

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Cinco anos depois...Londres, Inglaterra

- Ero-Senin! - gritou um menino de doze anos correndo feliz até ele, e levando um cascudo quando chegou perto.

- Já disse pra não me chamar assim Nathan! - Protestou o homem com os cabelos brancos cortados curtos, óculos escuros e um terno discreto.

- Desculpe tio Jim… - Choramingou. O homem suspirou. Sabia que era difícil para o menino usar os nomes falsos, mas usar um apelido tão extravagante podia arruinar a paz que haviam conseguido. Já faziam quatro anos que conseguiam viver discretamente na Inglaterra. Os olhos azuis e cabelo loiro do menino passavam mais despercebidos ali do que no resto da Ásia o que tornava mais fácil se esconder, mas eles não podiam facilitar.

- Que tal um ramen para o almoço de hoje? – O menino começou a saltitar alegremente repetindo "rámen, rámen, rámen, eu vou comer rámen, rámen…". E Jim sorriu. – Como foi a sua aula hoje? – Perguntou recebendo todo o relatório da vida estudantil do menino com mais atenção do que qualquer pai ou mãe coruja faria. Com perguntas ele verificava se não havia riscos na escola. Se suspeitasse, mesmo que levemente de alguém, os dois se mudavam para outra cidade.

- Tio Jim… Eu tenho aula amanhã de tarde? - Perguntou o menino quando estavam sentados no restaurante.

- Sabe que sim, Nathan. - Respondeu automaticamente. Pela manhã o garoto ia para a escola e a tarde tinha aulas em uma escola de artes orientais chamada Pakua. -Por quê? -Perguntou ao reparar no silêncio e olhar para a criança amuada.

- A Sakura tá de aniver e me convidou. - Informou Nathan com o rosto transparecendo esperança e alegria quando viu o prato de rámen vindo. Jim pensou um pouco. Haruno Sakura era aluna do intercâmbio e colega do afilhado.

- O Uchiha também vai? - Perguntou pedindo a conta.

- A turma toda vai. - Desconversou o menino fazendo uma careta. Jim riu de leve. Ia buscar Nathan todo dia e percebera rapidinho que o menino estava interessado na Haruno que só tinha olhos para o Uchiha. - Eu posso ir?

- Vou pensar. - Disse saindo do restaurante e começando sua estranha rotina de olhar vitrines procurando seguidores enquanto pensava. Estava com uma pulga atrás da orelha quanto ao Uchiha. Além de ser o filho mais novo do dono da maior corporação japonesa era colega de Nathan na escola e fazia várias aulas a tarde junto com o afilhado. Talvez eu esteja me preocupando demais pensou. - Eu te levo e eu te busco. - Disse interrompendo o que quer que o menino estivesse falando, mas ele não pareceu se importar, já que começou a saltitar feliz pela rua.

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- Sakura! - A menina virou para trás ouvindo seu nome, o cabelo estranhamente cor-de-rosa acompanhou o movimento e os olhos verdes-esmeralda logo localizaram o menino loiro de olhos azuis que nunca lhe deixava em paz. Ela suspirou zangada com a mãe por ter convidado todos os seus colegas de aula e preparou o soco que teria que dar para afastar Nathan. Mas ao contrário dos outros dias ele não tentou lhe abraçar, só ficou parado a sua frente com um olhar de cachorrinho abandonado. Ela suspirou de novo e abriu os braços. - Feliz aniversário Sakura! - Gritou o menino na frente da escola levando o cascudo que ela guardara.

- Para de gritar, Nathan! - Brigou e então seu rosto franzido se abriu num sorriso ao ver o menino de olhos e cabelos negros que se aproximava. - Bom dia Sasuke-kun. - Cumprimentou usando o modo japonês de falar, e seu sorriso se expandiu ao vê-lo acenar para ela. - Vai ir na minha festa hoje? - Perguntou timidamente.

- Estarei lá. - Respondeu o menino e olhou para o loiro emburrado. - Você vai? - Perguntou por educação.

- SIM! Meu tio deixou! - Respondeu animado, escapando do soco da menina e aproveitando o sinal para correr para a sala. - VAMOS! -gritou acenando para eles que deram um sorriso involuntário e começaram a segui-lo.

OOOO

Sentado na sacada de um apartamento que dava de frente para a escola, "Tio Jim" observava a movimentação através dos binóculos. Cada movimento era friamente analisado, como se todas as crianças fossem assassinos em potencial. Ele não perdeu um só movimento até os dez minutos finais da aula, quando teve que começar a se mover para ir buscar o garoto.

OOOO

- Tenham uma boa festa! - Desejou a professora se despedindo dos alunos assim que seus parentes vinham. - Nathan, seu tio chegou! - Anunciou colocando seu melhor sorriso para o homem que se aproximava. - Bom dia senhor Meyer.

- Apenas Jim, moça. - Retrucou o homem sorrindo. - Você deve ser a professora nova que Nathan tanto fala.

- Espero que bem. - Ela comentou olhando para o garoto com a testa levemente franzida.

- Claro! Eu adoro a sua aula! - Anunciou o menino com seu jeito efusivo de sempre. - Eu disse que ela era bonita!

- É você disse a verdade. - Galanteou, vendo-a ficar vermelha. - Vamos, você tem uma festa pra ir. - Disse estendendo a mão que foi ignorada. - Até mais, moça. - Cumprimentou afastando-se sem perceber o sorriso envergonhado transformar-se em um de satisfação.

- Te encontrei. - Murmurou ela com os olhos tornando-se vermelhos.

OOOO

Interação é bom. Pensou Jim aceitando o copo de saquê alcançado pela professora nova. Ela havia aparecido para avisar os pais e alunos que havia um animal selvagem atacando as pessoas e os Haruno haviam insistido para ela ficar um pouco, assim como haviam feito com ele quando chegara para deixar Nathan. Agora os dois "penetras" estavam conversando animadamente com os outros adultos, apesar de Jim sempre ficar com os olhos ou ouvidos seguindo o afilhado.

- Você se preocupa muito com ele. - Comentou Anko e Jim percebeu que havia dispersado da conversa.

- Desculpe, sempre acontece algo com ele quando paro de olhar. - Retrucou um pouco envergonhado. A professora estava claramente interessada nele e ele estava estragando sua chance, mas ela riu levemente e retrucou:

- Eu queria ser ele, para que você não tirasse seus olhos de mim. - Ele a encarou surpreendido e antes que pudesse dizer algo ela se levantou: - bem, é melhor eu ir, está ficando tarde.

-Espere. - Jim chamou levantando rapidamente da cadeira e vendo o mundo girar por um instante. Bebi demais, concluiu, mas firmou as pernas e encarou a mulher de cabelos curtos castanho-escuros e olhos com cor de chocolate. - Eu levo você, é perigoso andar sozinha de noite.

- Obrigada. - Ela sorriu timidamente indo se despedir de Sakura e dos pais dela enquanto Jim falava com Nathan e depois fazia o mesmo. Alguns minutos depois eles estavam andando na rua. - Minha casa é longe, mas se puder me acompanhar até o ponto de táxi ficarei lhe devendo. - Ela comentou sorrindo e ele retribuiu concordando. O ponto de táxi ficava a algumas quadras dali, mas teriam que cruzar por uma praça que a noite se tornava um bom ponto para ladrões.

Conforme avançavam Jim sentia as pernas mais instáveis e começou a perder o foco do que via. Também não sabia quando havia parado de ouvir a conversa entre Nathan e Anko. Um sinal de alerta tocou no seu cérebro, mas ele já não podia mais reagir. Um grupo de homens saiu da praça e os cercou. Nathan, estranhamente notando o perigo, voltou para perto do tio só para encontrá-lo sentado no chão com os olhos arregalados, a professora o abraçava escondendo o rosto no pescoço dele.

- Tio… - as palavras se perderam no caminho devido ao choque. A professora havia virado o rosto para ele e de sua boca escorria algo vermelho.

- Corre… - Ouviu a voz do tio murmurar, e mesmo que não tivesse ouvido, já estava dando um passo para trás quando algo lhe acertou com força.

- Precisamos dele vivo! - Rosnou Anko para o homem que segurava um taco de beisebol. Olhou para a criança deitada no chão e viu com alívio que ainda respirava. - Mas não precisamos de você, Jiraya. - Continuou afastando-se para que os outros pudessem fazer seu trabalho.

Nathan viu os homens chegarem mais perto de seu tio e algo brilhava nas mãos deles. Não! Pensou antes de perder a consciência.

OOOO

- Sasuke-kun, seu irmão chegou. - Avisou Sakura um pouco tristonha com a partida do moreno, que cumprimentou educadamente os pais dela e lhe deu um suave abraço.

- Feliz aniversário Sakura-san. - Disse se despedindo e entrando junto com o irmão no banco de trás do carro. - Papai chega hoje? - Perguntou quando o carro tomou a direção do aeroporto.

- Sim. Estamos indo buscar ele. - Respondeu Itachi sorrindo. - Como foi à festa?

Itachi ouviu a com atenção tudo que o menino lhe dizia vendo os olhos vermelhos do garoto voltar a ficar pretos. Melhor avisar o pai pensou. O carro levou 10 minutos para chegar ao aeroporto e os dois desceram e entraram no hall. Sasuke correu para as grandes janelas que deixavam ver os aviões e Itachi logo lhe alcançou. Os Uchiha haviam conseguido pré-reservar o horário das dez horas da noite, assim toda vez que precisassem fazer alguma viagem, ligavam para o aeroporto que não recebia nem mandava voos naquele horário.

Faltavam dois minutos para as dez e um avião pequeno apareceu e, ao contrário do que sempre ocorria, continuou sua rota rumo ao chão. Itachi não teve nem tempo de pensar algo e o avião se chocou contra a pista, uma bola de fogo aparecendo antes do som da explosão chegar até eles.

Itachi caiu de joelhos e abraçou Sasuke que, apesar de assustado, não entendeu o motivo do irmão estar chorando. - Aquele era o avião do nosso pai. - O ouviu dizer.