N\A: Achei esses rascunhos no meu computador e me perguntei "Por que não postá-lo?". Espero que gostem, suspense, romance e alguns assassinatos.


Prólogo


Subúrbio de Tóquio, às 01h16min

Achou engraçado de uma maneira ridícula como aquele pequeno espaço poderia ser tão idêntico a sua imaginação. O cheiro, a cor, os móveis... Tudo tão igual à quem morava ali. Entretanto não esboçou sequer um sorriso diante dessa conclusão mental. Apenas se limitou a seguir até a cozinha e pensar o quanto, aquela luz, era ofuscante e barata.

Ridículo e excessivo.

Insignificante. Sua atenção voltou-se sobre o corpo no carpete de madeira. A polícia teria um grande trabalho em limpar tudo aquilo, pensou ao ver a poça de sangue chegando quase até os seus pés. Já havia limpado a sala, contudo sabia que eles achariam alguns rastros ali ou em qualquer outro canto. O que pretendia era que o foco não fosse perdido e nem a beleza menos apreciada devido a outros detalhes.

Passou sobre o corpo tomando cuidado para não pisar no sangue, e chegou até o canto da cozinha. Ajeitou a flor roxa e abundante dentro de um vaso. Parou por um momento e a fitou, esboçou um sorriso.

O significado

Piscou duas vezes voltando à realidade e logo depois não havia mais o sorriso. Olhou o relógio, 01h22min. Tudo aquilo acabou mais cedo do que o planejado. E chegariam muito em breve. Retirou as luvas e voltou a passar sobre o cadáver tomando cuidado não somente com o sangue, mas também com as flores.

A polícia ainda as veria intactas e vivas, entretanto não soube dizer se isso adicionaria mais sentido. Depois esticou seus braços e girou os pulsos, pois odiaria ter dores no dia seguinte.

Deu uma última olhada no corpo jazido, ainda não havia alcançado a palidez de um cadáver, porém era só uma questão de tempo e, então, quando fosse limpo e enfiado em uma geladeira, só restaria de interessante a marca sobre seu peito. Tinha sido cravado com uma faca de cozinha e por causa disso chegou a pensar que poderia ter feito melhor. No entanto não importava, não havia qualquer coração pulsando ali para que pudesse refazer os seus atos. Talvez com o próximo. Então simplesmente se despediu silenciosamente daquela antiga existência e foi embora.


Capítulo 01

Tédio


21 de setembro de 2007


Gaara – Metrô, próximo à estação Shibuya às 14h38min.

Tédio? Talvez...

Estou no metrô, provavelmente essa é a quinta volta e nem ao menos me dei o trabalho de mudar de lugar. Você deve imaginar o quanto estou entediado. Não entediado porque não tenho nada pra fazer, mas porque simplesmente não existe nada para ser feito.

Comer, falar, gabar, sorrir, chorar, forçar, amar e defecar. Tudo muito entediante.

Eu quero um cigarro, mas sempre olho para a plaquinha sobre a gorda mulher com cara de vilã: "Proibido fumar em estabelecimento publico". Realmente... Uma droga.

Ultimamente as coisas andam meio paradas, mas do que o normal. As pessoas mais desinteressantes. A solidão constante e bem vinda. Apesar de nunca ser absoluta. Hoje mesmo estava em um estado de inércia tão insuportável que nem esperei o terceiro horário para pular o muro e fazer qualquer coisa. Ou pelo menos era essa a intenção.

Ou seja: tudo está incrivelmente entediante.

(...)

Eu realmente queria acender um cigarro. E pela primeira vez nesse pequeno passatempo eu tive vontade de que o metrô chegasse logo na próxima estação – independente de qual fosse. Mas por algum sacrilégio ou simplesmente interpretação equívoca da minha mente, ele parece mais barulhento, mais cheio e mais lento.

- Licença.

Um velho chegou repentinamente e sentou ao meu lado oferecendo um sorriso simpático que por algum motivo, seja cigarros ou impaciência mesmo, não contribui.

- Hoje ninguém sorri para ninguém não é? – ele observou com um sorriso sem graça nos lábios e estranhei o fato dele permanecer com a simpatia.

- Realmente.

- Pelo menos o jovem me responde.

Não o olhei. Percebi que uma de suas mãos enrugadas levava um jornal de hoje e que na outra ele manuseava uma bengala de madeira. Pareceu-me um estereótipo de velho sempre cansado e alegre. Repentinamente ele começou, mesmo que eu estivesse ereto e olhando para frente, o ignorando completamente.

- Quando você chega a certa idade, onde a frequência dos acontecimentos torna tudo muito simplório... – ele deu uma pausa como se tivesse imensa dificuldade de respirar – Você... – ele insistiu e aquilo me incomodou. – Você vê que as coisas mais insignificantes valem a pena ser vividas, simplesmente... Por que... Você não quer parar de... – ele tossiu e respirou fundo não terminando o que dizia.

Por algum motivo tive a estranha curiosidade de pedir que ele terminasse, mas não tinha coragem, estímulo, ou simplesmente vontade de abrir a boca para fazê-lo. Ficamos então em silêncio, apenas com o vasculhar do vagão, os murmurinhos e a mesmice daquele espaço. Se eu tivesse perguntado provavelmente eu não estaria atento a esses detalhes... Eu só precisava perguntar e deixar o tédio passar.

- Você poderia...?

- Desculpa... – o senhor se voltou para mim com dificuldade. – O que dizia?

- Você não terminou de falar.

Ele estreitou seus olhos miúdos como me perguntando o que eu estava falando. Entendi que ele não se lembrava, provavelmente por causa da idade. Talvez se eu tivesse perguntado antes minha curiosidade teria sido saciada...

- Tudo bem. Não é nada. – disse e ele voltou-se para frente como se nada tivesse acontecido.

Meu enfoque no velho fez com que eu não notasse o quanto rápido foi chegar à próxima estação. Levantei-me; ele fez o mesmo, mas com uma dificuldade aparente, andando apenas com ajuda da bengala enquanto reajustava seu jornal com a outra. E então eu estava lá, na estação, com o velho andando na minha frente, apesar da sua incrível lerdeza.

Surpreendi-me quando ele cambaleou e com sorte caiu sobre um dos bancos da estação. Respirava com dificuldade, como se fosse os últimos suspiros de sua vida. E por algum motivo eu realmente acreditei nisso.

Ele se levantou, sumiu entre as centenas de pessoas e permaneci parado em silêncio. Fiquei ali. Sentado em um dos bancos pensando seriamente no que fazer.

Estava frio e minha ânsia por cigarros se intensificou, tirei um do bolso, acendi e traguei. O cheiro de tabaco me faz lembrar que tudo continuava exatamente do mesmo jeito. Naquele tédio infinito.

Ao meu lado procurei um acento livre para apagar o primeiro cigarro de muitos e então, mesmo sem transparecer, me surpreendi com um jornal devidamente dobrado sobre o assento. Lembrei novamente do velho e suas veias saltadas.

O toquinho foi jogado no chão, desinteressado abri em uma página aleatória e li: "Corpo é encontrado em apartamento no subúrbio. Os donos são procurados e até o final dessa reportagem não se sabe sua identificação.".

(...)

Realmente... Aquele velho vivendo provavelmente os últimos dias de sua vida, e eu aqui, entediado, ao marasmo, esperando calado qualquer suspiro de vida que me faça mover. Algo vivo. Ou alguém morto. Por que não?


Sakura – Biblioteca do colégio Kitagawa às 15h04min

Estar entediada é uma fase. É o que Tenten normalmente me fala quando eu digo que gostaria de abrir uma loja de cookies e largar os estudos. Logicamente, eu falo isso brincando, mesmo por que eu sei que não há qualquer chance de eu abrir uma loja de cookies sem que tudo pegue fogo antes disso.

O que eu quero é dizer é que estou realmente entediada. Tudo o que eu faço, tudo que eu vivo, tudo, tudo, é demasiado chato para mim. A princípio eu realmente achei que era uma fase... Mas uma fase não dura meses.

O dia-a-dia em Kitagawa tem se tornado realmente maçante, para não dizer insuportável. Ser representante, estudar, ir às aulas de reforço, estudar novamente, fingir simpatia, conseguir favores, comentar sobre livros que nunca li na vida.

Tudo muito chato.

Droga. Eu deveria parar com isso. Vamos Sakura, tente se concentrar em algo interessante.

Procurei pela biblioteca onde me encontro, algum rosto bonito para ver se eu me apaixonava por alguns minutos. O quê? Me disseram que isso era totalmente possível. Isso não acontece em shoujou mangás?

- Sakura? – girei a cabeça e me deparei com a estagiária de língua estrangeira. Ela tem olheiras e os cabelos bagunças, e mesmo assim sorri para mim. – Achei o livro que você queria. – Ela disse logo após o sorriso se desmanchar. Droga, eu devo ter esquecido de sorrir de volta.

- Ah, me desculpe estava distraída. – fingi um sorriso de animação e levei as mãos às têmporas como se dissesse "Como estou cansada, tadinha de mim, essa menina dedicada." – Onde você o conseguiu? – Era o romance americano, Lolita de Nabokov, onde, apesar de ser tão famoso, eu misteriosamente não o achava na edição que eu queria de jeito nenhum. A estratégia era simples e aplicada desde o ginasial; depois de conseguir o livro e fazer uma análise crítica sobre ele – após ler uma resenha qualquer da internet –, essa estagiária estará tão satisfeita comigo que poderei, caso seja necessário, pedir alguns favores em relação a minha nota.

Ela disse que era um de seus livros favoritos e que o havia comprado no colegial. Falei qualquer coisa em relação à situação histórica do país, a polêmica que foi na época de sua publicação e lá estava ela, pronta para me conceder favores quando necessário. Ela foi embora e eu voltei minha atenção aos livros de história e geografia sobre minha mesa. Eu tinha prova amanhã e nenhuma nota maior que um MS me agradaria.

Antigamente aquele joguinho de manipulação, o fingimento bem ensaiado e os resultados perfeitos, me animavam e eram suficientes para substituir a incansável preguiça e vazio que as atividades humanas me provocavam. Não tenho nenhum hobby, se você quer saber. Já fingi que gostava daquela banda The Gazette. E tenho conta em todos os sites sociais necessários para ser socialmente aceita por ai. Que aliais é cheio de amigos que apenas cumprimento e tenho conversas forjadas e vazias. Com exceção de Tenten.

Acho que vou deixar os estudos de lado e vou comer qualquer coisa gordurosa no supermercado ao lado... Apesar de que andar até lá não me anima em nada, e se eu não tirar um MS amanhã estarei realmente ferrada comigo mesma.

Deixei minhas coisas sobre a mesa e avisei à bibliotecária, que já voltava. Sorri enquanto falava. O sorriso mais simpático do mundo arrancando o sorriso da bibliotecária mais insuportável que conheço e que é totalmente evitada pelo restante dos alunos. Estou te falando, eu tenho o talento.

Entrei no supermercado e logo na entrada eu vi os cigarros. Marlboro Vermelho. Os meus preferidos. Mas estou perto demais do colégio e não quero nenhum possível boato ao meu respeito. Ignoro-os e engulo em seco. Ajeitei meu cachecol nesse clima ridiculamente frio e comprei um pote daqueles sorvetes calóricos com muito chocolate. Um pouco acima do meu orçamento, mas ando tão sem paciência para viver, que minha última preocupação no momento é se terei dinheiro para comprar aqueles cigarros ali na lojinha de esquina há uns dois quarteirões de distância.

Sobraram alguns trocados e coloquei dentro dos bolsos do meu casaco. Passei pela rua principal indo em direção ao colégio, quando escutei bem atrás de mim alguém chamar:

- Você...

Virei e vi um pedinte sujo e cheirando a álcool estendendo a mão para mim. Na hora deu vontade de ignorar, mas por qualquer que fosse a razão eu não consegui. Ele tinha os cabelos sujos, escuros e parecendo palha, uma barba grande e branca e olhos miúdos de um marrom bem claro podendo ver claramente a pupila negra brilhando. Ele não tinha expressão alguma, mas me implorava com aqueles olhos. Por alguma razão senti meu coração acelerar por um milésimo de segundo e depois parar. Naquela hora eu não sentia nada, nem tristeza ou pena. E muito menos, me sentia mal por causa daquilo.

Tirei dos meus bolsos uns trocados e entreguei. Ele não disse nada e eu fui embora. Retornei a olhar para trás para ver se talvez ele estivesse me seguindo com olhar e fui surpreendida quando uma folha de jornal bateu na minha cara.

Merda. Por um momento pensei que fosse uma vingança divina pela minha insensibilidade.

Peguei o jornal que estava amarelo provavelmente por urina de cachorro e até pensei jogar fora, mas uma pequena notícia em um canto do jornal chamou minha atenção.

"Corpo é encontrado em apartamento no subúrbio. Os donos são procurados e até o final dessa reportagem não se sabe sua identificação."

Que saber? Acho que vou terminar meu sorvete e esquecer minha prova de amanhã. Entediada? Ah... Talvez não mais.


N/A: Primeiro capítulo é sempre mais lento, mas prometo que o próximo será mais dinâmico. E bom, o foco de A Última Rosa é o mistério, haverá com certeza o romance, mas mais como consequencia dos acontecimentos do que o contrário. Espero que se animem em desvendar o final haha'

Sei que o casal Gaara e Sakura não é exatamente muito querido, mas espero que essas personalidade tão incomuns atraia um pouquinho alguns de vocês. Gaara distante, indiferente e completamente dependente da nicotina. Sakura falsa, manipuladora e fortemente atraída por assuntos não exatamente convencionais. Espero que tenham gostado e não deixem de comentar ;)

Pricililica: Divulgar sua opinião é sempre bom e importa sim , é dessa maneira que eu descubro como está o andamento da história ;) . Pois bem você torceu e conseguiu, o casal vai ser Gaara e Sakura, espero que continue lendo ;D

Hisui Ai: hauha' eu ri com o seu comentário, Gaara psicopata é um verdadeiro charme, concordo plenamente. E concordo com você Ino e Gaara é meio batido e sinceramente não vejo nenhuma química entre eles, mas a Ino tem mais a ver com o personagem do que a Sakura... Mas ignorei isso, por que bem... Ninguém gosta de escrever sobre um personagem que não tem muita afinidade XD Mas irá aparecer e terá um papel forte na história. Espero que continue acompanhando e obrigada.

Hyuuga Nathy: Personagens sádicos sempre fazem sucesso, impressionante hauah' apesar que o Gaara vai mudar muito ainda pela frente, sem perder sua essência é claro. Pois bem... Que Ino é um personagem forte ninguém discute, mas não acho que Sakura fica muito atrás. Confesso que acho que a Ino combina muito mais com o personagem pelo qual eu coloquei a Sakura, mas a Haruno tem potencial, e assim como Gaara ela vai evoluir muito com tempo, nenhum dos dois pode ser insensível para sempre, certo?Mas a Ino vai ter um papel super importante na história e ela será bem do jeito que você descreveu, bem descarada hauahah' Obrigada pelo comentário e continue lendo ;D