Saloperie

Era indiretamente arrogante.
Com toda sua inteligência, sua sofisticação, seu raciocínio lógico.

Frieza e razão. Como pode ser mais arrogante?

Com seu sotaque francês, suas consoantes uvulares arrastadíssimas, sua discrição e elegância. O que pode ser mais charmoso do que o idioma francês? E o que mais pode carregar mais escárnio?

Tudo que um não queria escutar do outro. Aquele sotaque maldito, dando ainda mais charme àquelas palavras amargas que não queria ouvir de forma alguma. Pedindo algum tempo, pedindo que aquilo terminasse, pedindo que fosse mais racional, que encarasse os fatos. Mas Milo não é racional. É impulsivo, inseguro, típico. Não tem charme, não tem elegância, nem sofisticação alguma. É um grego que fala alto demais, é sem educação, é bobo. Não é o tipo de gente que faz o coração de Camus bater rápido. Ele prefere pessoas seguras, e igualmente frias. Camus gosta de compromisso sem compromisso.

E Milo agora pensava que aquele tempo que passaram juntos não teve significado algum para Camus. Mas para Milo sim. E conforme Camus tece seu discurso de fim de relacionamento com toda sua frieza, Milo sente uma pressão, como se o cérebro fosse trincar. Porque o francês de Camus faz as palavras mais tristes se tornarem as mais sedutoras. Mas Milo não ouve as palavras, só o sotaque. Até que Camus simplesmente parece ter terminado. E o silêncio se estabelece. Então o ruivo se despede, educado, sem dar chances de ouvir qualquer coisa que o outro tenha a dizer. Porque Camus é todo charme, e sua saída não pode ser menos elegante.

Milo é, inevitavelmente, deixado sozinho com seus pensamentos amargos e com seu choro contido. Não há nada que ele possa fazer. As poucas palavras de Camus às quais deu ouvidos demonstravam que não havia sentimento algum. Até, talvez, houvesse o descaso e a indiferença, mas isso é ausência de sentimento.

Os porres que tomaria não o curariam, dormir com outras pessoas também não.

Talvez devesse aprender um pouco com seu amado Camus. Talvez devesse absorver de sua razão, e se tornar mais frio. Mas, por enquanto, um porre e alguma puta pra amenizar a dor como todos os outros homens o fazem, era bem mais viável.

Ah, claro, para completar, não haveria mais aquele "dors bien" antes de dormir.


N.A.: Não gosto de yaoi, nem de Camus e Milo, nem dos cavaleiros de ouro. Espero que quem tem de ler, leia. Aos demais, bom proveito, caso lhe agrade.

Mas ela é sofisticada, elegante e racional. Talvez nem apareça por aqui.