Fanfic CDZ
Only yesterday
Vieira Magnus
"Baby, baby, feels like maybe things will be allright.
Baby, baby, your love's made me free as a song, singing forever.
Only yesterday when I was sad and I was lonely,
You showed me the way to leave the past and all its ters behind me.
Tomorrow may be even brighter than today, since I threw my sadness away... Only yesterday..."
The carpenters – Only yesterday
Capítulo 1.
Tókio.
Em meio às barulhentas e movimentadas ruas do centro de Tókio, uma mulher caminhava tristemente, alheia a todo o caos que a rodeava. Era uma bela mulher, apesar da profunda tristeza que demonstrava no olhar. Seus longos cabelos desarrumados davam-lhe uma expressão de desleixo e abandono.
A mulher caminhou por cerca de vinte minutos, chegando a uma área residencial nobre da cidade. Ela então entrou num luxuoso prédio, passando pela portaria tão silenciosamente que o porteiro quase não notou sua presença.
(Porteiro, apressadamente) Senhorita Saori! Nem a vi entrar! Boa noite!
Ela apenas olhou para ele, forçando um sorriso. Entrou no elevador e subiu até o último andar, onde ficava sua ampla suíte. Ao chegar em casa, foi recepcionada pelo sorridente mordomo Tatsumi.
(Tatsumi, com um largo sorriso) Boa noite, senhorita Saori! Que bela noite esta de hoje, não acha?
(Saori, num tom de voz fraco) Sim, Tatsumi...
(Tatsumi, preocupado) Está tudo bem, senhorita?
(Saori, com um sorriso forçado) Não se preocupe Tatsumi, estou apenas cansada...
Ela então entrou em seu quarto, fechando a porta atrás de si. Tatsumi ficou olhando para a porta do quarto. Já estava na família há quase duas décadas, desde quando o avô de Saori ainda era vivo, Durante todo tempo em que esteve na casa, nunca a viu tão triste, tão desanimada.
(Tatsumi, pensando) Senhorita Saori... Não se deixe abater dessa forma... Volte a encher essa casa de luz e alegria...
Em seu quarto, Saori estava deitada na cama, olhando pela janela a bela lua cheia que lançava uma luz pálida no quarto. Olhava, mas sem prestar atenção. Estava perdida em pensamentos e lembranças dolorosas. Sabia que essas lembranças não lhe faziam bem, pois quanto mais estas povoavam sua mente, mais dor sentia em seu coração, mais ela se sentia completamente sozinha, sem forças. No entanto, não conseguia desvencilhar-se delas.
(Saori, pensando) Não posso continuar assim, tenho que fazer alguma coisa... Mas toda vez que eu penso naquele idiota... Ah! Olha só o que fez comigo? Está satisfeito agora?
Seus olhos então se encheram de lágrimas e ele começou a chorar silenciosamente, as lágrimas inundando-lhe a fronte. Era uma dor tão grande que sentia no peito... Há pouco tempo, cerca de duas semanas, havia passado por uma grande decepção amorosa, a maior de sua vida. No início, tinha pensado em se matar, mas logo descartou esse pensamento, sua vida tinha algum valor, por menor que fosse, e não ia desperdiçá-la por ninguém. Mas ainda assim sentia um grande vazio dentro de si. Não tinha mais ânimo no trabalho, já não sorria mais como antes e nem ao menos comia direito. Tudo que fazia era repetir diariamente uma rotina que já não lhe dava mais alegria, arrastando-se tristemente de um lugar a outro. Chegava em casa, engolia a comida sem ao menos prestar atenção em seu sabor, tomava um banho quente, deitava em sua cama e, perdida nas dolorosas lembranças que não conseguia evitar, chorava até adormecer.
(Saori, levantando-se rapidamente e enxugando as lágrimas) Não posso ficar mais neste quarto.. Tenho que ir a algum lugar... Algum lugar em que haja um pouco de vida, um pouco de alegria... Quem sabe assim eu não me sinta um pouco melhor?
Ela então penteou os longos cabelos, lavou o rosto, o que melhorou consideravelmente sua expressão tristonha, e colocou um vestido preto de alça na altura do joelho. Ao abrir a porta do quarto, dirigindo-se à sala, Saori encontrou Tatsumi confortavelmente sentado no sofá, lendo um livro de filosofia de um escritor norueguês.
(Saori) Tatsumi, vou dar uma volta pela rua... Não precisa me esperar, talvez eu demore..
(Tatsumi, levantando-se rapidamente) Não acha melhor descansar, senhorita?
(Saori, dirigindo-se à porta) Apenas preciso ficar um pouco sozinha, Tatsumi. E num lugar que não seja meu quarto.. Acho que passear pela rua me fará bem...
(Tatsumi, abrindo a porta gentilmente) Divirta-se então, senhorita! E tome cuidado!
Saori apenas acenou em resposta. Ela desceu até a garagem do prédio, pegando seu conversível prateado, e saiu pelas ruas de Tókio sem destino certo. Passou pelo movimentado centro da cidade, onde viu vários adolescentes, alguns bebendo, outros com trajes estranhos, cada um com seu respectivo grupo e todos se divertindo bastante. Passou também por uma famosa avenida conhecida por seus excelentes restaurantes que serviam uma enorme variedade de iguarias. Até que, um pouco adiante, entrou numa área residencial onde nunca estivera antes.
Saori decidiu reduzir a velocidade para melhor observar a região. Era um conjunto de casas simples, sem luxo, mas muito bonitas. Em quase todas havia um jardim muito bem cuidado. Nas varandas das casas viam-se algumas pessoas conversando, outras apenas sentadas apreciando a lua cheia e a brisa noturna.
(Saori, pensando) Não deve ser muito comum ver carros como este passando por aqui... Estão todos olhando para mim! Nessas horas eu penso que um carrinho mais simples seria mais apropriado...
Passados alguns minutos, Saori avistou, ainda naquele bairro, um grande parque. Era incrivelmente belo: havia cerejeiras por toda sua extensão, de modo que no chão as pétalas de sakura(1) formavam um belo tapete róseo, cujo beleza era acentuada pela luz branca vinda dos postes. Havia, apesar da hora, várias crianças que, vigiadas por seus pais que conversavam sentados em alguns bancos, corriam, brincavam e jogavam bola.
Saori então estacionou o carro no parque e foi até uma parte mais elevada do mesmo, de onde podia observar tudo tranquilamente. Sentou-se num grande banco e ficou admirando as crianças brincarem.
(Saori, pensando) Parecem tão felizes... Sem preocupações... É como se tudo que importasse para elas fosse continuar a divertida brincadeira...
Ela então apoiou seu rosto uma das mãos e, com um sorriso no rosto, ficou observando as crianças brincarem e rirem. Estava tão entretida que nem viu o tempo passar. Aquela brincadeira a fazia lembrar sua infância, quando brincava no jardim da antiga mansão de seu avô com as outras crianças da vizinhança. Era verdadeiramente feliz naquele tempo, quando seu avô estava sempre ao seu lado. Sentia tanta falta dele...
Estava imersa nesses pensamentos quando uma voz firme e gentil vindo da outra ponta do banco em que estava sentada a trouxe de volta à realidade.
(Voz) Parecem anjos brincando, não acha?
Saori olhou para o lado. Ali estava um jovem alto, de cabelos e olhos castanhos traços que indicavam claramente que era estrangeiro. Possuía olhos grandes e vivos, sobrancelhas bem desenhadas e a pele ligeiramente bronzeada. Seria provavelmente de algum país mediterrâneo. Estava tão distraída que nem percebeu sua chegada. Ele também olhava para as crianças com uma expressão tranqüila e um leve sorriso nos lábios.
(Saori) Sim... Realmente parecem.
(Jovem) Não importa o quanto vivamos e estudemos... As crianças sempre sabem melhor que nós a melhor maneira de se viver com alegria...
Saori então olhou mais atentamente para o jovem, examinando-o melhor. Podia perceber em seus olhos certo brilho. Havia no olhar daquele homem algo que ela não conseguia identificar, mas que de algum modo lhe atraía. O jovem finalmente voltou seu olhar para ela, olhando-a nos olhos.
(Jovem, chegando mais perto) Eu sou Aiolos. Posso saber seu nome?
(Saori) Meu nome é Saori. Você não é japonês, é?
(Aiolos) Não, você acertou, Saori. Nasci e vivi durante muito tempo em Atenas, na Grécia.
(Saori) E o que o trouxe aqui, Aiolos?
(Aiolos) Bem... Há bastante tempo eu administro um restaurante em Atenas. Ano passado eu vim para Tókio nas férias a convite de um amigo meu e me apaixonei pelo país. Então decidi abrir uma filial aqui em Tókio. E você, Saori, é daqui mesmo?
(Saori) Vivo aqui desde que nasci...
(Aiolos, com um leve sorriso) Vivendo numa cidade linda como esta, você deve ser muito feliz.
Saori baixou o olhar. Realmente fora muito feliz em Tókio por muito tempo. Mas não mais. Não queria falar sobre isso com alguém que nem ao menos conhecia direito e também porque seria doloroso para ela falar sobre este assunto. Aiolos percebeu a mudança de estado da bela mulher ao seu lado e tratou de mudar de assunto.
(Aiolos) Este lugar é adorável, não acha?
(Saori, num tom de voz fraco) É muito diferente do centro da cidade. É a primeira vez eu venho aqui. Nunca tinha visto crianças brincando tão tranquilamente num parque numa hora dessas.
(Aiolos) Sim, Saori, exatamente. Este lugar é simplesmente incrível. Desde que o descobri venho para cá sempre que posso. (olhando para o céu com o mesmo brilho no olhar que tanto intrigava Saori) Às vezes é bom fugir das modernas grades em que nos enclausuramos para colocar os pensamentos em ordem.
Ela olhou para Aiolos com um misto de espanto e interesse. Como alguém que ela acabara de conhecer podia dizer algo tão profundo e que se encaixava perfeitamente ao que ela estava vivendo? Afinal, ela não tinha saído de casa exatamente para fugir de sua "prisão emocional"? Ela estava começando a gostar mais da companhia dele.
Aiolos, por sua vez, percebeu o olhar que Saori lhe lançou, corando levemente. Ele simplesmente tinha dito o que estava sentindo, num dos poucos momentos em que se permitia falar francamente sobre suas emoções. Tinha ido ao parque exatamente para espairecer, para pensar com calma, para fugir da estressante rotina de um restaurante movimentado.
(Saori, sorrindo timidamente) Devo considerá-lo um fugitivo então?
(Aiolos, com um belo sorriso) De certo modo, sim... (olhando para o relógio) Nossa, perdi a hora! Já passam das nove!
(Saori, também surpresa com o horário) Já? Nossa, acabei perdendo a noção do tempo também!
(Aiolos, apontando para o carro de Saori) Imagino que seu carro seja aquele, já que nunca o vi por aqui...
(Saori, em tom de brincadeira) Chef de restaurante, fugitivo e agora detetive? O que mais falta saber sobre você?
(Aiolos, rindo) Bastantes coisas, senhorita. Confesso que há muito tempo não ria assim... Eu a acompanho até o carro.
(Saori, com um leve sorriso) Eu também, Aiolos... (começando a caminhar em direção ao carro) Vou aceitar sua companhia.
Durante o trajeto, nenhum dos dois disse palavra alguma. Apenas caminhavam lentamente lado a lado. Estavam gostando um da companhia do outro.
(Saori, pensando) Faz realmente muito tempo desde que ri assim... Muito tempo. No entanto, ele conseguiu naturalmente. Não há como negar que é uma boa companhia: inteligente, educado, discreto. Mas ainda gostaria de saber o que é aquele brilho que vejo no olhar dele...
(Aiolos, pensando) Ela é realmente muito simpática. Conseguiu fazer com que eu esquecesse o turbilhão de pensamentos em minha mente por algum tempo... Mas por que ela não sorri completamente? Para ser sincero, naquele momento em que baixou os olhos ela pareceu muito triste...
Chegaram finalmente ao carro. Aiolos apertou suavemente as mãos de Saori, despedindo-se.
(Aiolos) Obrigado pela companhia, Saori.
(Saori) E... Eu é que agradeço, Aiolos. (pensando) As mãos dele são cálidas... Passam uma sensação agradável...
Aiolos entregou a Saori um pequeno cartão azul-céu com letras douradas, em que se lia: "Parthenon – Comida típica grega".
(Aiolos) Estamos na quarta-feira... Por que não almoça comigo no sábado em meu restaurante? Prometo que vai gostar da comida de lá.
(Saori, hesitando) Melhor não, Aiolos. Acho que...
(Aiolos, interrompendo-a) Ora, o que há de mais, Saori? Encare como meu jeito de te agradecer pela companhia na noite de hoje.
(Saori) Bem... Acho que não fará mal aceitar... Estamos combinados então. Que tal às 13h?
(Aiolos, sorrindo) Tudo bem. Aguardarei ansiosamente até lá. Boa noite, Saori!
(Saori, sorrindo timidamente) Estarei lá, não se preocupe... Boa noite também, Aiolos...
Naquele exato momento, antes de seguirem cada um sua direção, seus olhos se cruzaram mais uma vez. Na mesma hora, um que o vento soprou de leve, agitando as pétalas de sakura no ar.
N.T.
(1) Sakura = Flor de cerejeira.
--------------------------------------------------------------------------------
Palavra do autor:
Uhull, primeira fic do ano o/! Esta fic vai falar principalmente sobre fortes sentimentos a dor, a tristeza e, principalmente, o amor. Os personagens apresentarão um grau maior de complexidade e haverá também mais personagens. A história girará em torno da vida de Aiolos e Saori, mas haverá mais casais. Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Não garanto que haverá periodicidade. Aliás, esqueçam qualquer esperança de periodicidade. Somente posso prometer que serei o mais rápido que puder, sem, no entanto, comprometer a qualidade da fic.
Agradecimentos à minha amiga Chiisana Hana, cujas fics sempre me inspiram a escrever. Também aos meus amigos do coração, que sempre me incentivam e se entusiasmam com minhas histórias.
Bem, é isso. Até breve então. Agradeço aos que dedicaram seu tempo à leitura desta fic. Muito obrigado.
Abração e até o próximo capítulo!
Vieira Magnus
