Gênero
Drama
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Classificação
Livre
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Disclaimer
Personagens e cenários que vocês reconhecerem pertencem a J. K. Rowling & Cia. Não obtenho nenhum ganho financeiro escrevendo sobre eles, estou apenas me divertindo.
"Severus,
Escrevo esta carta sentada à escrivaninha de madeira entalhada, próxima à janela de meu quarto. É a vista mais bonita da mansão.
Os jardins têm a grama coberta por uma espessa camada de neve, que mal deixa entrever algumas folhas verdes. As árvores estão salpicadas de branco, e alguns flocos pequeninos caem suavemente no parapeito, desenhando uma delicada moldura da janela.
Penso que essa paisagem e o ano que se inicia amanhã, fizeram-me acordar hoje com tal nostalgia de ser feliz!
Lucius sempre me tratou como uma boneca de porcelana. Tenho o luxo e a riqueza que tinha mesmo antes de me casar com ele, talvez mais. Só que não é o suficiente para mim. Quero sentir-me mulher. Quero sentir-me viva. Quero me apaixonar.
Por dentro sempre me persegui, nunca me perdoei por acatar, tão submissa, aos desmandos de meu marido, de minha irmã e até de meu filho. Essas atitudes tornaram-me intolerável para mim mesma. Tenho uma aparente liberdade, mas estou presa dentro de mim.
Daqui posso observar meu ateliê onde, no dia da festa de Natal, entre telas, painéis, pincéis e tintas, pudemos nos conhecer melhor.
O vestido de tafetá verde que usei naquele dia está guardado, todo amarrotado, no fundo do armário de meu closet, e ainda conserva o aroma amadeirado de seu perfume, misturado ao odor de frutas de minha colônia.
Se fechar os olhos ainda posso sentí-lo tocando minha pele, seus carinhos tão intensos, suas mãos hábeis percorrendo avidamente meu corpo, sua barba levemente crescida roçando meu pescoço, enquanto sua boca mordiscava minha orelha e sussurrava palavras obscenas.
Enquanto nos amávamos, sob as bênçãos de Vênus, meu marido e seus amigos erguiam brindes e se embebedavam com hidromel, uísque de fogo e vinho dos elfos.
Nem sempre comemorei o Natal. Quando era menina, eu e minha família comemorávamos o Yule, uma festa pagã que celebra o Solstício de Inverno, e representa o retorno da luz.
Partilhávamos vinho (ou suco de uvas, no meu caso), enfeitávamos um pinheiro do jardim com bolas coloridas que simbolizavam o Sol, a Lua e as estrelas, acendíamos velas nos ramos da árvore e fazíamos um pedido para cada vela acesa. Cantávamos e dançávamos em torno do pinheiro, festejando e honrando os espíritos da Natureza e o Deus, a Sagrada Criança da Promessa, que nasce novamente nesse dia.
Na noite mais fria e escura do ano, a Deusa traz à vida a Criança do Sol e as esperanças renascem, e Ele trará calor e fertilidade à Terra.
É essa esperança que nutro agora, meu querido. A de que podemos recomeçar e construir uma história juntos. Seus beijos e carícias foram para mim um presente e senti-me tão segura a seu lado. Com você senti-me livre como nunca fui em minha vida inteira.
Esta noite, quando todos estiverem comemorando o nascer de um novo ano, espero você em meu ateliê. Poderemos novamente nos amar e fazer planos para um futuro comum. Pense em como poderíamos ser felizes juntos.
Cissy"
Severus ouviu uma leve batida na janela e vislumbrou a coruja dos Malfoy. Abriu o vidro e retirou a carta do bico da ave, que voou imediatamente de volta à sua origem.
Com um sorriso de escárnio observou a caligrafia do endereçamento. Aproximou o envelope do rosto e inalou o perfume com que Cissy o havia impregnado no último Natal, misturado ao cheiro de pergaminho novo.
- Algum problema, meu amor? – indagou a mulher que lhe fazia companhia. – Algo urgente?
- Não. É só uma carta de Narcissa Malfoy. – respondeu ele, ainda com o envelope em mãos.
- Ah, sim? E o que ela escreveu? – ela estava curiosa.
- Não faço idéia. No momento, tenho algo melhor em que pensar. – disse Severus, caminhando até a lareira. Atirou o envelope ainda lacrado nas chamas, encerrando o assunto. – Onde paramos? – com um sorriso aproximou-se, tomou-a nos braços e carregou-a de volta para a cama.
"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se. E que companhia nem sempre significa segurança. Começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas."
(William Shakespeare)
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