-Não adianta. Desista, ele nunca mais será o mesmo.
-É meu primo! É minha obrigação cuidar dele!
-Eu sei, Hina, mas você está se desgastando pra nada.
-Farei tudo que puder e não puder.
-Mas você não pode fazer nada! Deveria desistir e acabar com esse sofrimento de uma vez por todas! Você sabe que ele não vai mais acordar!
-Ele vai sim.
-Tudo bem. Suponhamos que ele acorde, ele não poderá falar ou andar, será a mesma coisa!
-Pensei que você fosse amiga dele, Tenten...
-Eu sou! É por isso mesmo! Já chega! Não agüento mais te ver sofrer! Não agüentarei ver o Neji sofrer também!
-Desculpe por isso, mas se é pra ser assim, é melhor que se afaste de nós...
-Eu nunca faria isso. Se você escolheu esperar... Vou esperar com você.
Hinata não entendia que daquele jeito seria pior, Neji já estava em coma há quase um ano e alguns de seus órgãos já não funcionavam com tanta perfeição por falta de exercícios.
Tudo começou há mais ou menos um ano, como eu havia dito, Neji voltava de viagem com os pais, o carro capotou e ele foi lançado pra fora pelo pára-brisa antes do automóvel pegar fogo e matar seus pais. Ele foi encontrado inconsciente e não acordou desde então.
Neji dormia tranquilamente no leito do hospital, estava frio e se não fosse pelo leve e quase imperceptível movimento que a caixa torácica fazia com ajuda dos aparelhos, jamais diríamos que ele ainda estava vivo, essa era minha esperança. Os médicos disseram que se ele acordar terá seqüelas graves e talvez nunca possa levá-las pro resto da vida, eu não poderia vê-lo sofrer sem nada que pudesse fazer, então bem lá dentro de mim eu desejava que ele não sobrevivesse, talvez fosse melhor principalmente pra ele.
Alguns dias se passaram, os batimentos pareciam acelerar gradativamente até que um dia ele acordou. Estava muito assustado, não lembrava de nada, nem o próprio nome ou onde estava. O médico explicou que era por passar muito tempo parado, o cérebro não estava sendo exercitado como deveria e por conta disso esqueceu-se de tudo, o corpo também precisaria de algumas semanas de fisioterapia pra lembrar de como se mexer, estávamos com um adolescente de 17 anos se portando como um bebê de 7 meses, mas o que importava era que agora ele precisava muito de mim e eu não iria fraquejar, seria forte por ele, e por mais ninguém.
Passou uma semana, Neji havia voltado à casa que ele não podia lembrar e estava morando com a prima que ele não "conhecia" e o pior é que nem podia fugir já que seu corpo não respondia à sua mente. Fui visitá-los numa tarde.
-Olá Tenten. – cumprimentou-me Hinata abrindo a porta.
-Oi. Onde está o Neji?
-Está no quarto dele.
-Já contou tudo?
-Quase tudo. Eu não contei sobre o acidente, tenho medo de assustá-lo.
-E como explicou como ele ficou desse jeito?
-Não expliquei, ele não perguntou.
-Você tem que explicar! Está deixando-o confuso!
-Não sei como fazer isso.
-Eu faço então. – entrei sem esperar o convite, afinal, sou amiga de infância deles e não preciso de formalidades – Boa tarde, Neji. – ele estava deitado, sua aparência estava tão frágil e delicada, parecia que se eu o tocasse ele poderia se despedaçar, possuía um olhar distante, pensativo, como se dissesse "O que estou fazendo aqui?", eu iria esclarecer tudo.
-Boa tarde. – respondeu como alguém que responde a um estranho.
-Tudo bem com você? – ele ficou em duvida do que responder, estava escrito em sua expressão – Não se preocupe, Hinata é meio exagerada, estava com medo de te assustar, mas vou tirar todas as suas duvidas, ok? – ele respondeu com um aceno de cabeça – Eu sou Mitsashi Tenten, tenho 16 anos e nos conhecemos desde criança, somos melhores amigos e confidentes. Hinata é sua prima, ele tem minha idade e veio da Califórnia pra cuidar de você.
-O que aconteceu comigo? – a voz dele era um murmúrio.
-Era exatamente aí que eu queria chegar. Você não se lembra de nada e não pode se mover por conta de um acidente ano passado, você estava com seus pais e o carro capotou, mas só você sobreviveu. Não se preocupe, seus movimentos vão voltar logo e você está em boas mãos.
-Não pode me dizer pra eu não me preocupar! Eu não conheço vocês e não sei porque me trouxeram aqui.
-Viu? Isso foi quase um desabafo e prova que algum lugar dentro de você se lembra de nossa amizade. – dei um pequeno sorriso na esperança de animá-lo, mas estava angustiado demais, pobrezinho – Não somos estranhos, acredite em mim.
-Por que tudo aqui faz meu coração doer?
-Porque foi aqui que você cresceu, meu lindo. Não precisa se esforçar pra lembrar, vai ficar tudo bem. – aninhei-o em um abraço, eu tinha que oferecer um pouco de segurança, ele pegou no sono e eu o ajeitei na cama, parecia um anjo dormindo, tão lindo e sereno, os fios castanhos compridos se destacando no travesseiro branco, ele tinha, de fato, uma beleza natural que não se via em qualquer lugar, nem parecia que dentro daquela cabecinha as coisas estavam tão confusas.
Voltei pra sala, Hinata estava quase fazendo um buraco no chão.
-Você demorou tanto! Como ele reagiu?
-Ele ficou confuso, mas está tudo bem agora, ele está dormindo.
-Você é alguma fada? Ou uma senta milagreira?
-Quem dera!
-Obrigada, Tenten. Você tem me ajudado bastante.
-Foi o máximo que pude fazer, vi todo mundo se afastando aos poucos depois do acidente... Eu tinha que fazer algo.
-Muito obrigada mesmo, eu não teria conseguido sem sua ajuda.
-Você sabe que eu nunca abandonaria um amigo quando ele mais precisa de mim não é?
-Até a Sakura falava isso.
-Ela falava as coisas sem pensar. Se afastou assim que soube que o Neji teria seqüelas se acordasse, ela foi fraca, como todos os outros.
-É verdade...
Naquela tarde não houve mais comentários, voltei pra minha casa depois de um chá e só.
Algumas semanas passaram-se, eu estava acompanhando os Hyuuga de perto, Neji já tinha recuperado os movimentos, mas sua memória estava a mesma, ainda assim ele confiava mais em mim que em Hinata, e isso a deixava enciumada, era de fato cômico. Agora Neji já não trazia mais uma feição emburrada, trazia feições inocentes, como qualquer criança normal que ele não pôde ser. Seu pai era muito rígido e exigia muito dele, ele não conhecia a alegria de sair com os amigos e se divertir, os sorrisos que dava eram escassos e nem sempre traziam a felicidade. Acho que na verdade esse acidente serviu pra dar uma nova chance de ele ser feliz, e mesmo que inconscientemente, ele está sabendo utilizá-la muito bem.
Fomos dar uma volta e deixamos Hinata estudando, ela tinha muito o que fazer.
-Onde vamos? – perguntou curioso.
-Não sei, estamos andando sem rumo. – respondi sorrindo.
-Isso não é perigoso?
-Relaxa. Conheço Tóquio como a palma da minha mão.
-Tenten...
-Sim?
-Eu costumava sair com você antes?
-Bem... Pra falar a verdade... Você odiava sair – entramos numa praça e nos sentamos à sombra de um velho carvalho.
-Me fale mais sobre mim... É tão estranho eu não me conhecer...
-O novo você está ótimo.
-Mas eu tenho que saber como eu era, o que eu fazia, do que eu gostava ou não gostava.
-Promete não voltar a ser como antes?
-Por quê?
-Prometa.
-Prometo.
-Bom... Você era um menino de poucas palavras, não sorria muito e não importava o que fizesse sempre tinha que ser melhor que o dos outros. Seu pai exigia coisas que você não podia fazer, ele não conhecia seus limites e te obrigava a excedê-los, você era fechado, só falava comigo, com Hinata e com outras pessoas que não são mais importantes.
-Por que não?
-Eles te abandonaram quando você mais precisou, não são dignos de sua amizade, esqueça-os.
-Eu parecia ser uma pessoa triste... – lamentou-se por si mesmo.
-Você era mesmo... Então eu acho que o acidente não te fez mal no final das contas, não é? – sorri esperando outro de volta, mas ele parecia pensativo, estava distante, talvez nem tenha me ouvido – Neji? – olhou pra mim como se não fosse com ele – Neji... Tem alguma coisa errada?
-Não, está tudo bem. – ele sorriu, percebi que havia sido forçado, por mais que seus lábios se esticassem seus olhos estavam repletos de tristeza.
-Tem certeza?
-Não é só porque eu não sei quem sou ou não lembro dos meus amigos e da minha família que eu vou ficar triste, não é? – ele estava de costas pra mim, a voz embargada, se segurava pra não chorar.
-Tenha calma – abracei-o por trás – Tudo vai voltar ao lugar. – eu podia sentir suas lágrimas pingando nos meus braços, ele exalava desespero e eu não conseguia acalmá-lo, então o único jeito era ficar lá, imóvel, abraçando-o.
-É tão confuso você acordar pela manhã e não conseguir entender que aquela é sua casa, se olhar no espelho e não entender que aquele é você e você nem ao menos tem certeza de seu nome...
-Não sei como se sente, mas posso imaginar que é muito difícil. Eu sei que é impossível, mas tente não se preocupar com isso, ta? – ele respondeu com um aceno, permanecemos lá por mais alguns minutos, estava escurecendo – Vamos? Está escuro e a rua é perigosa à noite – saímos da praça, eu sabia que estávamos perto da casa dele, mas onde exatamente? Eu nunca havia me perdido! Mas é claro! De noite as coisas são tão diferentes... – Er... Neji...
-Sim?
-Acho que estamos perdidos...
-Você não disse que sabia onde estávamos?
-É... Eu sabia... Mas de noite é diferente...
-E agora?
-Trouxe seu celular?
-Não.
-Droga, também esqueci o meu. Vamos, eu acho é por aqui.
-Não adianta achismo agora, ou é ou não é! – naquele momento senti um pouco do velho Neji, ele costumava usar um tom parecido, o pai exigia dele e ele exigia dos outros, naquela hora não achei mais aquele "novo" Neji tão inocente.
-Não sou obrigada a saber! Você costumava conhecer tudo, senhor sabichão! – no momento eu havia esquecido que aquele não era o Neji arrogante e impenetrável de antes.
-Me desculpe se não lembro onde estamos! – ironizou tristonho andando pra qualquer lado, afastando-se de mim.
-Neji! Espera! Me desculpe, falei sem pensar! – ora, quem mandou ele falar naquele tom? Alcancei-o logo em seguida, e percebi que estávamos nos afastando cada vez mais da praça, eu podia sentir o vento forte e gelado e um cheiro de maresia – Pára! – puxei-o pelo braço – Desse jeito vai acabar entrando no mar! – eu não podia culpá-lo por estar zangado, eu realmente havia dito besteira, mas ele não deveria sair por aí assim!
-O que você quer? – lá estava o tom frio de novo.
-Tudo bem, olha, me desculpe por dizer aquilo, mas não pude evitar, eu sempre lhe respondia assim quando você falava com arrogância. – ele parou de repente, havia se dado conta que havia quebrado a promessa, estava sendo como era antes, será que no fundo estava feliz por ao menos se lembrar de algo?
-Desculpe... Não foi minha intenção.
-Eu sei que não, estamos quites! – estava muito escuro e frio, o vento estava forte e salgado e pra qualquer lugar que olhássemos não havia estrada, só areia ou água – Ai meu Deus... O que faremos?
-Não sei. – estaríamos encarando um ao outro se o que conseguíssemos ver não fosse apenas os contornos um do outro. Eu comecei a tremer de frio, ele também, mas mesmo assim me deu seu casaco, eu não deveria aceitar, não fui eu quem passou um ano em coma, mas nem deu tempo pra eu recusar, ele tirou dele e pôs em mim.
-Você vai ficar bem?
-Ficarei.
-Vamos tentar achar o caminho de volta?
-Não será pior?
-Estamos juntos, não estamos? Podemos proteger um ao outro.
-Tudo bem então. – e andamos pelo caminho de volta, talvez se andássemos em linha reta encontraríamos o caminho de volta. Andamos e andamos, mas não saíamos da praia – Estou cansado, nem sabemos onde estamos!
-Temos que sair daqui, você saiu de um coma há 5 semanas, não pode se dar ao luxo de dormir no relento.
-Não me trate como um doente, eu estou bem.
-Não está. – tirei seu casaco de mim e pus nele de volta – Seu pulmão está fraco, você pode pegar uma pneumonia.
-E ficar andando em círculos não é a mesma coisa? – fiquei sem reação, ele tinha completa razão, e agora? O que faríamos? Era tudo culpa minha, se não tivesse sido tão descuidada a ponto de deixar escurecer... Ou se ao menos não tivesse deixado-o bravo.
-Vou ficar bem, não se preocupe. E você? Ficará bem?
-Claro que sim! – eu nunca havia gripado na vida, tinha saúde de ferro.
-Tenten...
-Sim?
-Eu... – ele ia falar, mas não soube o que era, naquele instante ele desfaleceu em meus braços.
-Neji? Neji! Neji! – tentei sacudi-lo, acariciei seu rosto, de nada adiantou, ele estava inconsciente – Ai meu Deus... O que eu faço? O que eu faço? – eu estava perdida, na praia, no escuro, com um recém saído do hospital desmaiado em meus braços. Pensa Tenten, pensa! Pensar em quê, pelo amor de Deus? Não havia nada o que fazer, a luz da lua minguante era fraca demais para enxergar alguma coisa, nem pude saber o que havia provocado o desmaio, e se ele ficasse doente? Ai meu Deus... Tudo culpa sua, Tenten! Tudo culpa sua!
Desisti de tentar fazer alguma coisa, aninhei-o em meu peito e acabei pegando no sono, a ultima coisa que me lembrava era de ter sentido a areia fria me tomando.
Yo minna-san! \o/
Espero que tenham curtido o começo da minha nova fic.
Ela será feita em 5 capítulos.
Nos próximos posts darei dicas sobre alguns segredos.
Obs: Eu só postarei o próximo capítulo semana que vem, mas caso esse primeiro atinja 10 reviews (o que eu acho BEM impossível), eu posto antes, caso contrário, postarei um novo cap todo sábado.
Beijinhos Beijinhos
Tchau Tchau
