Alistair - O que um rei pode fazer
"- O rei pode fazer o que quiser." Mahariel disse-lhe no dia de sua coroação, mas agora estava comprometido em um casamento com a rainha Anora. Quem dera se ela estivesse certa e ele realmente pudesse fazer o que quiser.
Suspirou. A futura esposa estava realmente bela, num vestido de seda tão azul quanto seus olhos, e o cabelo, loiro, preso num coque com uma flor adornando-o e a maquiagem, imaculada (não que ela precisasse) digna da rainha que era.
- Estou tão ansiosa – Anora sussurrou em seu ouvido – triste, sim, com a morte do seu irmão, era um bom homem. Porém espero um futuro melhor com você ao meu lado.
Qualquer homem teria inveja de Alistair, sim, a rainha Anora sorrindo-lhe, murmurando-lhe gracejos, arrumando-se para agradar-lhe, com vestido de seda e joias. Mas não se considerava um homem de sorte.
Era Mahariel quem amava, e ela não usava vestido naquela noite, mas sim a armadura cinza com detalhes em dourado dos Grey Wardens. E não era convidada na sua cerimônia de casamento, era apenas uma Grey Warden a serviço do futuro rei e estava lá como tal.
- Querido – Anora tentou se aproximar – está bem? Tenho notado que está um pouco... Como posso dizer? – gesticulou com as mãos – Distante...
- Sim, um pouco nervoso, talvez? – sorriu timidamente – preciso de um pouco de ar, senhora.
Caminhou entre o salão com a música animada e o cheiro de vinho, saiu entre os portões enquanto cumprimentava os Grey Wardens. Assim que o viu, a heroína de Ferelden fez um gesto para se afastarem. Enfim, sós.verificou.
- Deuses, Alistair, - Mahariel disse assim que teve a oportunidade de falar com ele - acho que você se casar com Anora não está sendo uma boa ideia, afinal.
- Preferiria Loghain?
- Não, prefiro você... – disse, por fim -... Comigo.
- Pelo criador, Mahariel! – colocou a mão em seu ombro – Você sabe... Sobre elfos Dalish e humanos. Se fosse apenas por mim, eu... Droga... Eu amo-a, sabe disso.
- O rei pode fazer o que quiser. – A elfa sugeriu pela segunda vez, enquanto as mãos envolviam seu rosto. Beijou-lhe suavemente nos lábios.
-Não, não pode. – afastou-a. – O rei tem deveres, e inclui casar-se e consumar o casamento.
- Faça-o então. – a tentou parecer indiferente.
Ele sorriu.
- Amo-te, juro. Também não quero essa cerimônia de casamento.
- Faça o que achar melhor, majestade, mas lembre-se, dói mais em mim que em você. – Choramingou, se virando e indo embora, enquanto as adagas gêmeas tilintavam em suas costas.
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Ele ali, em pé. Anora em sua frente. Mahariel em algum lugar do salão.
Ouviu sua futura esposa proferir os votos, e depois sua vez de proferi-los, segurou sua mão e beijo-a rápido e desajeitado, enquanto, de fundo, ouvia o grito do povo, saudando o novo rei e a rainha. Olhou todos os rostos sorridentes ao redor, e procurou o rosto da elfa, sem sucesso.
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A rainha era tão sorridente, e parecia tão feliz, mesmo com a morte do ex-marido e do pai. E agora estavam a sós, o quarto era aconchegante e luxuoso, mas preferia estar dividindo-o com Mahariel.
- O que houve, Alistair? – Ela perguntou.
Anora chegou tão perto que ele conseguia sentir seu hálito doce, pôs as mãos dele nas costas do vestido, seus dedos enroscaram-se nas cordas.
- Desate-as, sim?– ela sussurrou em seu ouvido, tão doce quanto mel.
- Anora... Desculpe-me, acho que não consigo fazer isso e...
Ele se afastou e sentou na cama, se assustou ao sentir a mão da esposa estapear seu rosto
- Pelo criador, tenho mais problemas e nem por isso fico choramingando. Plante sua semente na minha barriga e nunca mais faremos nada – todo seu semblante sorridente desapareceu.
Por fim, segredou-lhe: - Detesto isso tanto quanto você.
E assoprou a luz da vela, a única coisa que iluminava o quarto.
Definitivamente, o rei não pode fazer o que quiser.
