Título: Os Corações Da Questão
Autora: Lab Girl
Beta: Poly
Categoria: Bones, B&B, 5ª temporada, romance/drama
Advertências: Os temas a serem abordados nesta história são de conteúdo adulto, com linguagem e situações muitas vezes inapropriadas para menores. Favor levar em consideração o alerta antes de prosseguir com a leitura!
Classificação: NC-17
Sumário: Às vezes é preciso dois corações para se chegar ao âmago de uma questão.
Linha do tempo: Esta fan fiction situa-se na 5ª temporada, devendo ser considerados apenas os acontecimentos que vão até o episódio 5x20 (The Witch in the Wardrobe), pois é a partir daí que esta história começa a se desenrolar – para este universo os dois últimos episódios não ocorreram; ou seja, a finale oficial não se encaixa aqui.
Nota da Autora: Esta fan ficition será escrita em forma de série – narrativa longa, dividida em diversos capítulos. Ainda não faço ideia de quão longa será. Esta história é baseada e inspirada em diversos spoilers que chegaram a ser divulgados sobre o que poderia acontecer no final da 5ª temporada. Tomando a liberdade de utilizar vários desses spoilers como ideias, esta história foi tomando corpo e surgiu. Portanto, qualquer semelhança com algo que já tenham lido por aí, não deve ser mera coincidência ;)
Os Corações da Questão
por Lab Girl
~ Parte I: Graus de Aproximação ~
Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência
- Pablo Neruda
#1: Como Uma Batida Do Coração
Ele trouxe o corpo da parceira para junto do seu, sentando-se cuidadosamente no chão. Gentilmente, com uma das mãos, acomodou a cabeça dela contra seu peito, enquanto, com a outra, pressionou a região logo abaixo do ombro esquerdo, tentando desesperadamente estancar o sangue que não parava de jorrar.
"Aguente firme, Bones... o socorro já está a caminho" murmurou contra os cabelos dela, mal reconhecendo o pânico na própria voz.
Ele a segurou de modo mais firme contra seu corpo, tentando envolvê-la com um pouco de seu calor.
"Só mais um pouco. Aguente só mais um pouco, meu bem… eles já estão quase chegando…"
Seeley Booth mal estava consciente do pavor estampado no próprio rosto.
Ele mal estava consciente do movimento dos agentes de segurança do Instituto, que já se podia ouvir a uma pequena distância dali, correndo de um lado a outro em busca do suspeito. Na verdade, não estava consciente de qualquer coisa além do lento e fraco movimento do peito de Temperance Brennan e da sensação quente e molhada do sangue que escapava dela e ensopava sua mão, firmemente segura no ponto em que muito provavelmente alguma artéria havia se rompido.
O mundo poderia ter parado exatamente ali, no quente e úmido espaço entre seus dedos, que tentavam desesperadamente reter a vida dela até que o socorro chegasse.
.. ~ .. ~ .. ~ .. ~ ..
Meia hora antes...
Instituto Jeffersonian
"Aos amigos... ao trabalho em equipe. Ao poder da união, e, especialmente... ao amor!"
Os olhos de Seeley não puderam evitar encontrar os de Brennan assim que o amigo, Jack Hodgins, terminou o discurso emocionado. Erguendo a taça de champanhe em sinal de cumprimento, notou que, por uns instantes, o olhar dela também encontrou o seu.
Com um gesto de cabeça, deu um meio sorriso e levou a bebida aos lábios, o olhar ainda preso ao dela. Risos e palmas se seguiram, todos os amigos presentes empolgados com o momento. Seeley, porém, permaneceu afastado, em seu canto, apenas observando a movimentação dos outros.
A pequena confraternização na plataforma tinha sido uma surpresa e, de fato, Hodgins e Angela haviam surpreendido a todos ao anunciarem que não só haviam se casado, mas que estavam saindo em lua de mel para o Caribe pelos próximos dois meses.
A notícia só não o surpreendera tanto quanto a que havia recebido dois dias antes, de que Temperance Brennan, sua parceira, também estava prestes a deixar o laboratório do Instituto Jeffersonian em breve. Fora durante um almoço na lanchonete que ela, repentinamente, havia comentado a respeito do convite que tinha recebido para participar de uma escavação na Indonésia, para onde partiria dentro de uma semana. O detalhe desanimador havia sido a comunicação do período de duração daquele projeto que a afastaria dele – um ano.
Seria algo muito bom para o currículo, segundo ela, e os achados tinham relação com uma época histórica muito pouco explorada, o que poderia representar um grande passo academicamente falando. Mas, para Seeley, aquilo apenas significava uma coisa – estava prestes a perdê-la. Não em seu sentido mais profundo – porque, afinal, ela jamais havia sido sua – mas, de certa forma, não deixava de ser uma perda.
Poderia ter tentado dissuadi-la, apelado para o trabalho, a necessidade que tinha dela a seu lado ajudando a solucionar crimes... mas tinha lhe parecido egoísta tentar dizer qualquer coisa que expressasse sua angústia com a partida dela enquanto Brennan falava de todos os prós para seu trabalho como antropóloga.
Sabia que ela era uma mulher inteligente – um gênio, certo – totalmente dedicada ao trabalho e sempre com sede de aprender mais. Não poderia querer retê-la a seu lado, reduzindo o mundo dela a solucionar homicídios. Aquele era seu universo, não o de Brennan. Por mais que, no fundo, quisesse acreditar que ela sentia o mesmo que ele em relação ao trabalho que faziam juntos, sabia que ela tinha sido feita para mais do que aquilo.
Ela havia se tornando sua parceira em campo por iniciativa própria, não por qualquer imposição de sua parte. Mas, no fundo, sempre soubera que o mundo dela era bem mais amplo que o seu e que um dia ela sentiria a necessidade de alçar voos mais altos. E ali estava – aquele dia havia finalmente chegado. E ela havia acabado de aproveitar a ocasião do anúncio de Hodgins e Angela para dar a notícia aos demais amigos.
"Você não vai cumprimentar os noivos?" a voz dela o arrancou de seu mundo de pensamentos.
"Claro. É o que se deve fazer numa recepção de casamento", brincou.
"Esta não é uma recepção, Booth. Eles apenas quiseram nos reunir para comunicar o casamento e para se despedirem de nós antes de saírem em lua de mel pelos próximos meses."
"Eu sei, Bones. Estava apenas brincando" disse, rumando para onde Angela e Hodgins recebiam animadamente os votos de felicidade dos outros colegas.
Seeley aproximou-se para felicitá-los e, por alguns breves minutos, trocaram algumas palavras. Ele podia se dizer realmente feliz pelos amigos – finalmente eles haviam encontrado o caminho e a maneira de ficarem juntos. Apesar disso, não conseguia evitar uma pontada de tristeza no fundo do peito.
Não, Seeley Booth não estava com inveja. Mas uma certa dose de pesar. Sabia que em sua vida algo do tipo parecia cada vez mais longe. A esperança de encontrar alguém... ou de fazer alguém encontrá-lo, estava se esvaindo cada vez mais.
Tentando não transparecer sua pequena depressão interna para os amigos, desculpou-se dizendo que precisava ir ao banheiro. Enquanto se afastava do pequeno grupo reunido na plataforma, Seeley foi subindo as escadas que levavam ao andar superior. Era um lugar de que gostava, de onde podia observar o laboratório do alto, com uma visão ampla de todo o ambiente.
Quando finalmente alcançou o segundo piso, encostou-se à grade de proteção, inclinando-se o suficiente para ver os amigos lá embaixo. O som de risos e conversa animada preenchia o lugar, que àquela altura estava praticamente deserto, com exceção dos cientistas lá embaixo e de dois seguranças parados na entrada que dava acesso aos laboratórios, afastados o suficiente para permanecerem alheios à comemoração na plataforma.
Seeley respirou fundo, tomando mais um gole do champanhe que ainda restava em sua taça.
"Está fugindo dos outros?"
Sua cabeça virou-se no mesmo instante para vê-la a poucos passos, segurando a própria taça em uma das mãos, um leve sorriso no rosto.
Ele sentiu uma pequena onda de calor em seu pescoço e, endireitando o corpo, afrouxou um pouco o nó da gravata com a mão livre.
"Não, eu só quis me afastar um pouco do barulho por alguns instantes. Eu não estou me sentindo muito sociável hoje e não queria estragar a comemoração da Angela e do Hodgins."
Diante de sua explicação, Brennan acomodou-se a seu lado, inclinando-se um pouco contra a grade de ferro. Olhando para os colegas lá embaixo por uns segundos, ela virou-se para ele novamente em seguida.
"Isso é algo incomum. Você é sempre bom com rituais sociais. O que houve?"
A pergunta era simples. E demonstrava interesse genuíno, ele podia ver pelo olhar sério e levemente preocupado que ela lhe lançava. Mas ele temia não poder ser sincero como gostaria com a parceira.
"Não é nada, Bones. É que têm dias em que nem mesmo os mais sociáveis se sentem muito animados" deu de ombros, voltando a inclinar-se sobre a grade, olhando para baixo, tentando não encará-la enquanto omitia a razão de seu desconforto. "Acho que estou apenas cansado."
"É compreensível" ela disse, balançando a cabeça. "Você tem trabalhado muito ultimamente."
Seeley não pôde conter uma risada.
"Vejam só quem fala", seus olhos voltaram-se para ela. "A antropóloga forense que trabalha dez horas por dia e como passatempo escreve best sellers, Doutora Temperance Brennan!"
"É, sou eu!" ela sorriu, erguendo a taça com uma das mãos.
Seeley sacudiu a cabeça. "Bones, você é uma legítima viciada em trabalho. Eu, perto de você, sou uma pessoa absolutamente normal."
"Está dizendo que eu sou anormal?" ela franziu a testa.
"Não. Não num sentido ruim", explicou.
"Eu não entendo o que você quer dizer. Mas eu gosto do que faço. Meus trabalhos me realizam de muitas formas. Eu pensei que você também gostasse do que faz."
"E eu gosto, não me entenda mal", tentou explicar. "O que acontece é que eu chego num ponto em que sou capaz de mudar o meu foco, de me dedicar a outras coisas que me dão prazer."
"Eu também. Consigo me dividir entre tarefas múltiplas. Não só trabalho com você nas investigações de homicídios como também tenho meu trabalho aqui no Jeffersonian, meus livros e minhas pesquisas..."
"Viu só?" ele a interrompeu. "Era isso o que eu queria dizer. Você está sempre trabalhando, Bones. De uma forma ou de outra, seus passatempos são sempre ligados a sua profissão. Está sempre trabalhando ou estudando."
"Eu gosto de aprender. Não vejo nada de mal nisso."
"Nem eu. O que quero dizer é que sempre você está envolvida até o pescoço com coisas que não têm nada de... de pessoal, entende? Que não podem ser classificadas como frivolidades e prazer."
"Pois eu acho que na minha vida existe espaço para frivolidades, como quando vamos beber depois de um caso, ou quando saio com Andrew. E o prazer também se encaixa quando..."
"Eu já entendi, Bones" ele a interrompeu mais uma vez, antes que ela começasse a descrever com detalhes científicos desnecessários a relação que mantinha com seu chefe. "Eu só queria dizer, em resumo, que você trabalha muito mais do que eu."
"Isso é verdade" ela concordou, levando a taça aos lábios.
Seeley sacudiu novamente a cabeça, já imaginando como sentiria falta daquele tipo de comentário exageradamente sincero dali a algum tempo. Quando ela estivesse bem longe dali...
Sentindo o humor se apagar um pouco, remexeu o conteúdo que ainda restava em sua taça, olhando novamente para a plataforma lá embaixo. "Já está com as malas prontas?"
Ela pareceu ser pega de surpresa com a pergunta, ficando em silêncio por alguns instantes. Quando Seeley pensou em repetir, ela finalmente falou.
"Estou com boa parte das coisas prontas. Mas ainda tenho algumas para arrumar."
Ele sentiu um gosto levemente amargo no fundo da garganta. Engoliu com uma certa dificuldade antes de tornar a falar, evitando olhar para ela.
"Deve ter muitas coisas para levar. Afinal, não é uma viagem de fim de semana, não é? Um ano pede uma bela bagagem."
As palavras lhe saíram doloridas, mas ele tentou parecer o mais neutro possível. Quando se virou para ela, no entanto, percebeu que Brennan não tinha o mesmo brilho de emoção que costumava ter nos olhos toda vez que falava de um novo trabalho que considerava importante ou especial.
"Eu não pretendo levar muita coisa. Apenas o essencial" ela informou.
"Mas um ano... é muito tempo, não? Eu não sei como viveria tanto tempo sem um bocado das minhas coisas. Acho que teria que levar metade delas comigo para me sentir em casa."
"Essa não é a minha preocupação. Eu não costumo me apegar às coisas como você" ela lançou-lhe um olhar que pareceu constrangido segundos depois, provavelmente ciente de que talvez tivesse soado ríspida e indiferente demais. "Eu quero dizer, eu sou mais desapegada do que você. Sempre fui assim. O que é bom. Em momentos como esses, por exemplo, eu não tenho por que me preocupar em me ausentar."
"Eu sei. Você é mais prática do que eu", Seeley tentou forjar um meio sorriso "Mas, mesmo assim, é um ano, Bones. Longe de tudo e de todos."
"Eu não vou para o fim da civilização, Booth. Estou indo para a Indonésia, é um país muito populoso, por sinal."
Ele sacudiu a cabeça, rindo da resposta dela, mais por hábito do que por outra coisa.
"O que eu quero dizer é que vai ficar longe do seu pai, dos seus amigos..." de mim, ele quis acrescentar, mas conteve-se.
"Todos vão ficar bem. Os outros aqui no laboratório vão suprir minha ausência nos casos em que você precisar de ajuda. E eu só vou me ausentar por um ano. E, além disso, não estou indo sozinha. A Daisy vai comigo."
"Pois é, está aí uma coisa que eu não consigo entender" Seeley murmurou, incrédulo.
"O quê?"
"A Daisy e o Sweets acabaram de ficar noivos... e ela vai embarcar para a Indonésia... por um ano!" murmurou, franzindo o cenho.
"Daisy é uma cientista. Como eu, ela entende a importância de trabalhos de pesquisa como o que vamos fazer, e sabe que é inútil se apegar demais às pessoas de forma excessivamente emocional e irracional."
"Desculpe, mas eu discordo" ele disse, sério. "Pelo pouco que conheço da Daisy, ela é bem mais emocional do que você."
"Acha mesmo?" Brennan o encarou, os olhos surpresos.
"Acho" Seeley balançou a cabeça levemente. "O simples fato de que ela considera se casar com Sweets, formar uma família, ter uma ligação mais profunda com ele, atesta isso."
"Bom, seja como for, ela está indo comigo. E foi decisão dela."
"É... talvez eu não entenda muito bem como funciona a dinâmica da relação dos dois" Seeley refletiu, por fim. "Eu só não achava que a Daisy fosse capaz de uma atitude assim."
"Que atitude? Fazer parte de um projeto de pesquisa encabeçado por alguns dos maiores nomes da antropologia internacional?"
"Não. Se afastar por um ano do homem que ama."
Brennan ficou em silêncio por uns instantes.
"Acho que ela entende que existem coisas maiores do que os interesses pessoais" ela finalmente falou.
"Mas não do que o amor" ele murmurou, olhando diretamente nos olhos da parceira. "Nada é maior nem mais importante do que o amor."
Brennan o encarou por alguns segundos, novamente em silêncio. Talvez finalmente tivesse ficado sem resposta. Ou não... porque ela soltou uma pequena risada de desdém logo em seguida.
"O que você chama de amor é só uma relação que pode acabar amanhã mesmo, como outra qualquer. A Daisy certamente entende que é muito mais importante e satisfatório para ela participar de uma pesquisa que pode render grandes achados que entrarão para a História das civilizações do que se manter presa aqui por um vínculo emocional passageiro."
"Eles se amam, Bones" Seeley declarou, como se não houvesse acabado de escutar tudo o que ela havia dito. "Eu sei que fui o primeiro a debochar e a dizer que isso não ia durar porque os dois são de mundos completamente diferentes. Mas eu estava errado."
Ela o fitou mais uma vez em silêncio, os olhos brilhando com uma sombra de dúvida.
"Eu fui precipitado e julguei que eles não iam durar", Seeley prosseguiu. "Mas aí estão eles. Prestes a se casarem."
"E só por isso conclui que eles se amam?"
Os olhos de dele encontraram o casal em questão lá embaixo, entre a pequena multidão na plataforma. Os dois estavam lado a lado, Sweets com a mão no fundo das costas da noiva enquanto Daisy tinha a cabeça confortavelmente aconchegada ao ombro dele.
"Não. Não é só por isso. Mas por todos os sinais que eu já vi. Entre eles existe algo, Bones. E esse algo é amor" murmurou, olhando para o casal.
"Bom, você é o romântico, não eu" ela tentou sorrir. "Eu ainda acredito que formaram um laço por necessidades biológicas e sociais."
"Nem todos conseguem ser práticos como você, Bones. Só espero que o Hacker seja tão mente aberta e entenda" debochou.
"E o que você acha que ele deveria entender?" ela perguntou, parecendo repentinamente confusa.
"Ora, que a namorada dele vai passar um ano na Indonésia em meio a esqueletos e quinquilharias milenares", brincou.
Ela não riu.
"Eu sei que você não é adepta a relacionamentos de longo prazo, mas acho que você e Hacker estão se dando muito bem" ele ainda comentou, sentindo uma pontada de frustração bem no fundo do peito.
O comentário tinha sido desnecessário, Seeley sabia. Mas tinha sido impossível segurar.
"Eu não sou..." ela começou a dizer.
Um som alto o bastante para fazer a estrutura da plataforma estremecer de leve tomou tanto Seeley quanto Brennan de surpresa. Ambos arregalaram os olhos, assustados. O instinto policial dele o fez sair em disparada pelas escadas. O barulho não parecia ter vindo do andar onde estavam. Enquanto corria em direção à plataforma, gritos se uniam ao som dos alarmes do sistema de segurança.
"Mas o que foi isso?" Cam correu na direção dele, encontrando-o no meio do caminho.
"Alguma espécie de explosão. E, pelo barulho, foi uma das grandes" Seeley falou alto para ser ouvido em meio ao barulho das vozes assustadas dos outros amigos e o som intermitente dos alarmes que ainda soavam. "Estão todos bem?"
Seus olhos percorreram os rostos espantados de cada um deles; Hodgins tinha os braços em volta do corpo de Angela, que parecia petrificada; Daisy segurava com força um dos braços de Sweets, e Camille agora corria até o segurança que estava de guarda na entrada da plataforma forense.
Verificando que estavam todos bem, exceto pelo susto, Seeley virou-se para Brennan, que descia da plataforma.
"Vou checar com a segurança o que aconteceu", ele informou.
"Vou com você" ela gritou, correndo atrás dele.
"Talvez seja melhor você ficar aqui, Bones. Ainda não sabemos o que houve."
"Somos parceiros" ela disse, como se aquilo explicasse tudo.
Seeley não pôde contradizê-la – e, no fundo, sentiu orgulho por ela colocar a parceria dos dois em alta consideração, o que era uma espécie de conforto diante da partida iminente dela.
Com um sorriso contido, Seeley rumou para o guarda que falava através de um rádio-comunicador.
"Positivo. Continuarei de prontidão" o homem disse, desligando o aparelho em seguida.
Cam já estava a postos, de braços cruzados, à espera que o homem terminasse a comunicação para obter alguma informação. Os alarmes finalmente pararam de soar, aliviando os ouvidos de todos. Mas luzes vermelhas continuaram piscando em pontos estratégicos do local.
"O que aconteceu?" Seeley perguntou antes que a amiga tivesse a chance.
"Uma explosão no andar de baixo, na ala do museu" o guarda informou.
"Explosão?" Cam perguntou, visivelmente assustada.
"Ainda não sabemos com certeza, a segurança está lá embaixo, checando."
"Algum ferido? Alguma instabilidade na estrutura?" Seeley foi direto.
"Parece que não havia ninguém lá, exceto pessoal da própria segurança. O andar não foi todo comprometido, apenas uma parte foi atingida. Enquanto checam, temos de esperar aqui."
"Eu vou até lá" o agente anunciou.
"Espere, senhor, todos temos que ficar aqui até que..." o segurança começou.
"Amigo, eu não pedi permissão" Seeley informou, encarando-o. "Sei que está fazendo seu trabalho. E eu estou fazendo o meu. Sou do FBI."
"Eu vou com ele" Brennan anunciou, tomando a direção do elevador, ao lado do parceiro.
"Dra. Brennan, a senhorita não pode..." o segurança começou a dizer.
"Ela está comigo" Seeley declarou, encerrando a questão e rumando para o elevador.
"Foi automaticamente desativado, senhor" o segurança disse.
"Beleza! Vamos de escada" murmurou, correndo na direção dos degraus.
"Tenham cuidado" a voz de Cam pôde ser ouvida antes que começassem a descer as escadas.
"O que acha que houve, Booth?" Brennan perguntou assim que estavam sozinhos na escadaria.
"Eu não sei, Bones. Pode ter sido alguma espécie de atentado."
"Atentado?" ela repetiu, incrédula. "Mas quem faria um atentado contra o Jeffersonian?"
"Provavelmente alguém que não gosta muito de cientistas e ossos", debochou, mas achou melhor retomar a seriedade em seguida. "Para dizer a verdade, eu não sei, Bones. Mas não podemos descartar a hipótese de algum grupo terrorista."
"Eu não creio, Booth. Terroristas teriam como alvo algo politicamente simbólico e o Instituto Jeffersonian não tem nenhuma simbologia nesse sentido."
"Eu não sei. Pode ser qualquer coisa até que eu veja com os meus próprios olhos o que aconteceu. Até lá, não vou descartar nenhuma hipótese."
"Seja o que for, é lamentável. Naquela ala ficavam artefatos antigos inestimáveis."
Quando finalmente atingiram o andar onde havia ocorrido a explosão, Seeley avistou vários guardas da segurança se movimentando freneticamente. Ao fundo do enorme salão, era possível ver um amontoado de escombros. O estrago havia sido feio.
Aproximando-se da área, ele retirou a credencial do bolso, ostentando-a para que todos no caminho pudessem vê-la.
"Agente Seeley Booth, FBI. A Dra. Temperance Brennan está comigo."
Um segurança negro e alto se virou para ele.
"Agente Booth, já chamamos a polícia. O esquadrão anti-bombas está a caminho. Houve uma explosão e ainda estamos tentando verificar se o prédio está seguro ou se corremos o risco de algum desabamento ou uma nova explosão. Seria bom se vocês se mantivessem distantes. Pelo menos a Doutora."
"Eu sou parceira dele", Brennan resmungou.
"Quero dar uma olhada na parte dos escombros", Seeley anunciou.
"Se quiser dar uma olhada, tudo bem. Desde que não mexa em nada. Como eu disse, a equipe de especialistas está a caminho."
"Eu conheço o protocolo" Seeley resmungou, caminhando cautelosamente até a área afetada.
Passando sobre alguns pedaços de concreto destruído, seus olhos percorreram o amontoado de poeira e, para sua total surpresa, avistaram alguns ossos.
"Bones!" chamou a atenção da parceira, apontando o que havia acabado de descobrir. "Você disse que aqui ficavam artefatos antigos. Era só isso ou havia algum osso nesta parte do museu?"
"Não, aqui ficava a ala de artefatos da História Americana do século XVIII."
"Então alguém trouxe estes ossos para cá", Seeley concluiu.
"São algumas falanges e parte de um crânio" ela se abaixou, examinando melhor os ossos. "Booth..."
Ele sentiu que ela havia acabado de descobrir algo. E algo importante.
"Eu conheço estes ossos..." Brennan murmurou, assustada.
"Como?"
"Eu os identifiquei... são ossos antigos, da segunda guerra mundial. Estavam na minha sala, eu os cataloguei na semana passada e iria entregá-los antes de viajar."
"Então alguém pegou esses ossos na sua sala" Seeley murmurou, uma repentina sensação de aperto na boca do estômago.
"Como eles vieram parar aqui? E no meio dessa explosão?" ela se perguntou, totalmente confusa.
"Essa é uma ótima pergunta" ele esfregou o queixo.
Enquanto seguranças do Instituto tentavam resgatar alguns restos de objetos em meio ao caos, Seeley caminhou para o meio deles, alteando a voz.
"Quero toda essa área cercada, ninguém chega perto nem retira nada desse local" falou, apontando para o ponto onde sua parceira ainda observava, confusa, os ossos.
Alguns homens se aproximaram para ouvir as instruções de Seeley a fim de isolarem o local até que a polícia chegasse e fizesse o serviço adequadamente. Em seguida, o agente suspirou, levando as mãos aos quadris. Percorreu o local com os olhos, varrendo a imagem de poeira, pedaços de concreto e caos total. Algo estava errado ali... muito errado. E aqueles ossos, retirados da sala de Brennan, lhe diziam que não era nada que iria gostar de descobrir. Mas precisava. Seu instinto lhe dizia que fosse o que fosse, aquilo tinha a ver com ela e os squints.
Retesando a mandíbula, caminhou calmamente em direção à saída. Não sabia por que estava tomando aquela direção, mas automaticamente foi andando e deixando o barulho de vozes e passos apressados em volta de si para trás.
Sua experiência investigativa lhe dizia que o responsável pela explosão era alguém com fácil acesso ao edifício do Jeffersonian, ou, do contrário, jamais teria conseguido se apossar dos ossos de Brennan, e muito menos explodir o local. O museu do Instituto era muito bem guardado, havia seguranças espalhados praticamente por todo os lados, assim como câmeras.
Câmeras... seriam um dos pontos de partida, mas algo lhe dizia que o sujeito responsável por tudo aquilo não era estúpido e certamente havia tomado cuidado suficiente para não ser pego em algo tão primário como câmeras de vigilância. Estavam lidando com alguém que havia sido suficientemente cuidadoso para conseguir acesso ao interior do Jeffersonian, portanto, era alguém que conhecia como funcionava o esquema interno de segurança.
Levando a mão ao bolso da calça e apertando o velho isqueiro dos tempos do Exército que sempre trazia consigo, Seeley continuou andando, resoluto. Se o cara fosse algum maluco com tendências terroristas ou incendiárias, provavelmente ainda estaria por ali. Era o comportamento padrão desse tipo de criminoso, manter-se na cena do crime, mesmo que à distância, a fim de acompanhar os resultados de sua insanidade.
Quando se deu conta, Seeley estava na área dos jardins do Jeffersonian. Seus olhos se apertaram e ele parou, ficando imóvel por alguns segundos, atento aos sons que o rodeavam, tentando visualizar qualquer movimento ou algo suspeito no entorno.
A iluminação dos jardins permitia ver com clareza até um determinado ponto, mas havia uma grande parte do gramado que se estendia para além das luzes, indo dar na parte em que uma espécie de bosque pequeno se abria. Qualquer um poderia estar escondido por trás de alguma das árvores que a iluminação artificial não alcançava e a constatação o deixou nervoso.
Retesando a mandíbula, Seeley apertou o isqueiro entre os dedos com um pouco mais de força, dando alguns passos na direção mais escura. Tentou caminhar de forma suave, a fim de não fazer muito barulho caso realmente houvesse alguém se esgueirando por ali.
Podia ouvir o som da própria respiração em seus ouvidos, o que o deixou ainda mais tenso. Tentando concentrar-se apenas nos sons de fora, lembrou-se de seus tempos como franco-atirador. Usou suas velhas táticas para manter a ansiedade em suspenso, de modo que sua atenção se concentrasse apenas no alvo que buscava, e não no que estava sentindo naquele instante.
De repente, seu coração saltou. Acabava de avistar algo se movendo por trás de uma árvore. No mesmo instante, sua mão largou o isqueiro no bolso e encontrou o coldre em sua cintura, abrindo-o e puxando a arma pela coronha.
Suas mãos seguraram a 9 milímetros à frente, todo seu corpo entrando em estado de alerta. Deu passos mais rápidos e decididos na direção onde acabava de avistar movimento, ainda tentando ouvir qualquer coisa que denunciasse a presença de uma outra pessoa a poucos metros.
Sem avistar nada, Seeley parou, ficando de pé no meio de alguns arbustos. Virou o corpo cuidadosamente, atento e à espera. Por alguns segundos, não ouviu nada além dos sons normais da noite. Sentiu a boca seca e correu a língua sobre os lábios.
Então, um barulho novamente, dessa vez na direção oposta. Sem esperar mais, saiu correndo, certo de que havia alguém por perto.
Antes que atingisse o ponto mirado, uma voz familiar chegou a seus ouvidos.
"Booth!"
Virando-se na direção da voz da parceira, só teve tempo de avistar um vulto se mover na escuridão antes que o som inconfundível de um tiro cortasse o ar, fazendo seu corpo inteiro gelar.
Todo o entorno pareceu desaparecer no mesmo instante em que seus olhos acompanharam o corpo de Temperance Brennan cair no gramado, uma mancha vermelha inconfundível espalhando-se pela blusa impecavelmente branca.
Seu foco voltou-se completamente para ela. Sabia que o desgraçado estava escapando, mas nenhuma outra coisa seria capaz de impedir que Seeley corresse para o lado dela naquele instante.
"Meu Deus... Bones!" sua voz saiu mais desesperada do que pretendia.
Seu coração estava saltando com tanta fúria contra o peito que não poderia ouvir nada além, mesmo que quisesse. Recolocando a arma rapidamente de volta ao coldre, abaixou-se para checar a respiração da parceira.
Ela estava viva, graças a Deus! Uma rápida sensação de alívio percorreu todo seu corpo.
"Bones, fale comigo!" pediu, sem se dar conta de que estava praticamente gritando enquanto seus dedos alcançavam o celular em um dos bolsos.
Discou o número da emergência o mais rápido que conseguiu, fornecendo as informações necessárias à atendente do outro lado da linha. Em seguida, apertou na agenda o número da central de segurança do Jeffersonian, informando que um suspeito nos jardins havia acabado de balear a doutora Temperance Brennan e solicitando reforços para buscá-lo enquanto esperava a chegada da ambulância para a parceira.
Assim que terminou as ligações, Seeley voltou sua atenção completamente a ela... a visão de Brennan caída no gramado, a mancha de sangue logo abaixo do ombro dela se tornando cada vez maior, fez o desespero subir em ondas por sua garganta. Ela estava sangrando bastante em questão de muito pouco tempo e ele temia que a bala pudesse ter atingido, ainda que de raspão, alguma artéria próxima que atravessava a região, o que poderia ser fatal.
Tentando controlar a própria respiração e não pensar no pior, imediatamente levou uma das mãos ao ferimento, ciente de que precisava manter pressão até que o socorro chegasse. O corpo dela estava trêmulo, quase toda a cor se esvaindo do belo rosto.
"Vai ficar tudo bem, Bones" murmurou, mesmo que a incerteza percorresse suas veias naquele momento.
Esforçando-se para manter a calma, trouxe o corpo dela para junto do seu, sentando-se cuidadosamente no chão. Gentilmente, com uma das mãos, acomodou a cabeça dela contra seu peito, enquanto, com a outra, pressionou a região logo abaixo do ombro esquerdo, tentando desesperadamente estancar o sangue que não parava de jorrar.
"Aguente firme, Bones... o socorro já está a caminho" murmurou contra os cabelos dela, mal reconhecendo o pânico na própria voz.
Ele a segurou de modo mais firme contra seu corpo, tentando envolvê-la com um pouco de seu calor.
"Só mais um pouco. Aguente só mais um pouco, meu bem… eles já estão quase chegando…"
Seeley Booth mal estava consciente do pavor estampado no próprio rosto.
Ele mal estava consciente do movimento dos agentes de segurança do Instituto, que já se podia ouvir a uma pequena distância dali, correndo de um lado a outro em busca do suspeito. Na verdade, não estava consciente de qualquer coisa além do lento e fraco movimento do peito de Temperance Brennan e da sensação quente e molhada do sangue que escapava dela e ensopava sua mão, firmemente segura no ponto em que muito provavelmente alguma artéria havia se rompido.
O mundo poderia ter parado exatamente ali, no quente e úmido espaço entre seus dedos, que tentavam desesperadamente reter a vida dela até que o socorro chegasse.
"F-frio..." a voz dela, rouca e quase inaudível, chegou a seus ouvidos, e uma sensação de alívio e esperança se misturou em seu peito, aquecendo-o.
Apoiou com todo o cuidado a cabeça dela em uma de suas coxas, despindo-se do paletó num movimento malabaresco com apenas uma das mãos. Seeley colocou a peça sobre o corpo trêmulo de Brennan, tornando a amparar a cabeça dela contra seu peito.
"Melhor?" sussurrou, encostando os lábios contra o ouvido dela.
Ele não obteve resposta.
"Bones?"
De repente, ele já não a sentia tremer. E já não conseguia ver o movimento de subida e descida do peito dela, nem ouvir o suave e apertado som das leves arfadas que até então ela emitia.
Medo, tão primitivo e arrasador como jamais havia sentido antes, apossou-se dele.
"Bones?" chamou, dessa vez mais alto.
Então, sentiu-a estremecer quase imperceptivelmente, e soltou um longo e trêmulo suspiro, fechando os olhos em agradecimento.
"Vamos, Bones, continue comigo. Não feche os olhos, você tem que manter o foco, ok?"
"Booth..." a voz dela saiu fraca e rouca como minutos antes.
"Só mais alguns segundos, Bones... a ambulância está chegando" ele pressionou um pouco mais forte contra o ferimento e a ouviu gemer de dor.
Mas Seeley não aliviou a pressão. Sabia que era a única coisa que a estava impedindo de desmaiar antes que o socorro viesse.
"Me desculpe, Bones… eu sei que está doendo, mas eu preciso fazer isto."
"Booth... eu acho... eu não vou…" ela tentou falar, a voz estrangulada pela dor.
Ele a aninhou mais perto de seu peito.
"Não, Bones. Eu não vou desistir e nem você, me ouviu?" murmurou as palavras, beijando levemente a têmpora suada da parceira. "Nós não vamos desistir."
De repente, uma das mãos de Brennan escapou de baixo do paletó e encontrou a dele, que continuava pressionando a ferida. Ela colocou a palma sobre as costas da mão dele que servia de compressão. O toque era tão leve, tão fraco, e os dedos estavam incrivelmente frios, causando um arrepio no corpo de Seeley.
"Sinto muito, Booth..." ela disse, num fio de voz, as pálpebras se fechando lentamente.
"Não, Bones!" ele a sacudiu levemente. "Bones!?"
Ele virou-se para olhar em redor, os olhos marejados impedindo-o de distinguir o borrão que eram as luzes e pessoas ao fundo, correndo a alguns passos dali.
"Onde estão os malditos paramédicos?" seu grito rouco ecoou, desesperado, pelo ar.
Por que raios ainda não estavam ali? Tinha ligado minutos antes, minutos que agora pareciam horas. Tinha avisado aos interinos do Instituto Jeffersonian que a Dra. Temperance Brennan havia sido baleada nos jardins. Onde estavam eles, afinal?
De onde estavam, os dois deitados na grama, quase debaixo de uma árvore, Seeley via um borrão de movimento, homens correndo e gritando ao fundo, mas nenhum deles era um paramédico, nenhum deles estava trazendo socorro.
"Droga, Bones!" murmurou, voltando sua atenção novamente para o corpo frio e inerte da parceira. "Não faça isso comigo" pediu, num sussurro abafado.
Por quê? Por que ela tinha que estar na frente da bala?
Da bala que, ele sabia muito bem, era para ser sua. O sujeito que estivera perseguindo o havia distraído com algum barulho para que corresse na direção oposta enquanto, sem dúvida, mirava em sua direção, não em Bones. A bala era para ser sua, tinha seu nome escrito nela, mas, mesmo assim, ela tinha sido a atingida. Ela devia ter se abaixado, devia ter se protegido e se retirado da linha de fogo, como ele sempre dizia a ela que devia fazer. Droga, ela nunca fazia o que ele pedia, e ali estava o resultado.
"Por que não se abaixou, Bones?" ele nem percebeu que havia feito a pergunta em voz alta até ouvir o próprio murmúrio, suave e rouco.
"Eu não... podia... ele ia... acertar você", ela apertou sua mão convulsivamente e Seeley percebeu que ela cerrava os dentes, visivelmente sentindo muita dor.
Mas o simples fato de vê-la reagir trouxe uma onda de alívio que se derramou sobre ele como uma espécie de bálsamo.
"Foi muito… rápido…" ela sussurrou.
As imagens de minutos atrás varreram a mente de Seeley numa espécie de flash. A voz da parceira gritando, chamando seu nome... sua virada rápida a tempo de ver o vulto apertando o gatilho... o corpo dela caindo para trás...
Sim, tinha sido tão rápido. Rápido demais a ponto de não poder fazer nada além de correr para o lado da parceira ao ver o sangue vermelho se espalhando pela blusa branca...
Não houve tempo para nada. E o maldito, fosse quem fosse, ainda tinha conseguido escapar. Tudo o que conseguira fazer naquele átimo de segundos fora ligar pedindo uma ambulância e, em seguida, uma chamada relâmpago para o interior do Instituto, pedindo que enviassem reforços da equipe de segurança para tentar alcançar o desgraçado que havia atirado em Brennan e tentava escapar.
Agora ela estava ali, trêmula e com as forças se esvaindo em seus braços. E não havia nada que pudesse fazer. Nada além de continuar pressionando o ferimento quente e úmido.
"Você devia ter se abaixado" sussurrou, acariciando os cabelos dela com a mão livre.
"Você… é meu parceiro…" ela murmurou numa espécie de choro sufocado. "Eu tinha... que proteger... você..."
Seeley sentiu o coração se apertar. Seus olhos arderam e uma espécie de nó se formou no fundo de sua garganta.
"Bones, não fale… você está fraca, tem que poupar energia" disse, embalando-a contra seu corpo.
"Somos… parceiros…" Brennan gemeu e ele percebeu que ela tentava sorrir, mas a tentativa surtiu efeito contrário e as feições dela se apertaram em uma visível expressão de dor.
"Somos. Somos parceiros. Sempre" murmurou, beijando o topo da cabeça dela, pressionando um pouco mais o ferimento.
O corpo de Brennan se movimentou num trêmulo espasmo e Booth sentiu o próprio corpo estremecer numa espécie de reflexo solidário.
"Parceiros se... se protegem..." ela sussurrou, baixinho.
Ele não queria que ela falasse mais. Sabia que ela estava se esforçando, mas, por um lado, sentia-se agradecido por ela estar consciente. Mesmo que quisesse que Brennan poupasse esforços, ainda era uma forma de saber que ela permanecia ali, com ele.
"Eu… protegi você…" a voz apertada e fraca de Brennan continuou a falar.
Seeley pressionou os lábios contra os cabelos dela mais uma vez, sentindo o coração se encher de amor e gratidão por ela naquele instante, com uma tal força que chegou a doer.
"E eu agradeço, Bones. Mas, da próxima vez, deixe eu cuidar do bandido enquanto você se abaixa, está bem?" ele tentou aliviar o clima, esforçando-se para sorrir, embora sua voz soasse trêmula a seus próprios ouvidos. "Temos que estabelecer melhor as prioridades. Você protege o seu traseiro primeiro. O seu é muito mais valioso que o meu."
Ela emitiu um som abafado, meio estrangulado, que ele podia jurar ser uma tentativa de rir de seu comentário. Em seguida, ela foi tomada por um acesso de tosse e o corpo balançou contra o seu, a respiração entrecortada.
Foi quando Seeley conseguiu ouvir o som das sirenes. Seu coração saltou, apressado. O barulho foi se tornando exponencialmente mais alto e ele ergueu a cabeça para tentar visualizar a ambulância de onde estavam. A excitação percorreu seu corpo tenso assim que conseguiu ver as luzes vermelhas estacionando na frente do Jeffersonian.
"A cavalaria chegou", anunciou para a parceira, um sorriso inevitável surgindo em seu rosto. Seeley depositou mais uma vez a cabeça de Brennan em uma de suas pernas enquanto erguia um dos braços e acenava, gritando para chamar a atenção da equipe de socorristas. "Aqui!"
Dentro de poucos segundos, uma dupla de paramédicos se aproximou, ajoelhando-se no gramado ao lado deles, com os equipamentos à mão.
"O que temos?" uma mulher perguntou, erguendo o paletó do corpo de Brennan.
"Ferida de bala, abaixo do ombro esquerdo... pode ter atingido uma artéria" Seeley informou, tentando passar os dados da forma mais objetiva possível enquanto uma parte de si sentia-se apoderar pela sensação de impotência e medo.
O outro paramédico puxou sua mão que ainda pressionava firmemente a ferida, afastando-a para examinar o caso. O jovem apertou os lábios ao ver a quantidade de sangue que escorria do ferimento, sacudindo levemente a cabeça enquanto o examinava.
Seeley fechou os olhos por alguns segundos... Deus, meu bom Deus, não deixe que nada aconteça a ela. Não deixe... Eu já vi muitas mortes, já lidei com tantas, mas não me deixe lidar com a dela. Não com a dela... Não deixe que nada aconteça a ela, por favor. Se estiver me ouvindo agora, por favor... eu não posso perdê-la, não posso...
Ao abrir novamente os olhos, ele percebeu que o paramédico continuava a observar o ferimento e uma urgência insana de socá-lo tomou conta de Seeley. O enfermeiro não percebia que enquanto apenas observava o sangue continuava a escapar de sua parceira? O sujeito não percebia que o mundo estava girando cada vez mais rápido enquanto o corpo quase inconsciente de Temperance Brennan tremia em seus braços?
"Vamos colocá-la na ambulância, Kristen" o enfermeiro anunciou para a colega.
"Já não era sem tempo!" Seeley deixou escapar enquanto os paramédicos tomavam Brennan de seus braços. "Por que diabos demoraram tanto?"
"Demoramos menos de cinco minutos, senhor" a enfermeira dirigiu um olhar sério para ele, tentando não parecer ofendida.
"Pois então, por que pareceu que levaram horas para chegar aqui?" ele não conseguiu impedir que as palavras escapassem de sua boca.
"Fique calmo. Quando estamos numa situação destas o tempo parece passar ao ritmo de uma batida do coração" o jovem enfermeiro disse, já rumando com Brennan para o interior da ambulância.
Seeley percebeu que aquelas palavras não poderiam ser mais verdadeiras. E enquanto via sua parceira sendo preparada para ser levada ao hospital, esvaindo-se em dor e sangue, o tempo ainda parecia correr como uma inconstante batida do coração dela, pulsando, ele pedia, não pela última vez.
AGRADECIMENTO especial a Poly, minha leitora-beta e termômetro para esta história :)
Obrigada por suas observações sempre pertinentes, e pelo incentivo constante.
REVIEWS serão muito bem vindas e apreciadas.
