Fic escrita para o I Challenge Quinzenal do fórum Marauder's Map.
2º Lugar.
Calabouço
Adriana Swan
O conceito de 'covardia' é muito relativo. Você pode ter medo de baratas, de solidão. Você pode encarar seus medos quando eles se referem a ter pavor de altura, desde que isso não signifique se jogar de precipícios. Temer insetos distantes nas paredes ou sobrevoando sua cabeça, entranhando em seu cabelo.
Ter medo da morte e ter medo de alguém que ama morrer.
Draco não entendia como sua vida virara um inferno. Em pouco mais de um ano deixara de ser o 'filhinho de papai' para limpar o chão do calabouço, escravo na própria casa. Tempos de guerra não são fáceis para ninguém e poder passar despercebido por todo caos ao seu redor era sem duvido o máximo que conseguiria à seu favor.
Lama imunda, sangue misturado a terra de sapatos sujava todo corredor frio e escuro que desde os 5 anos o rapaz tinha medo de cruzar, mas lá estava ele agora, vassoura e balde, lavando o chão como um elfo-doméstico proibido de usar magia.
O rapaz fez um careta, sempre tivera um problema com sangue. Não sabia se era o odor, não sabia se era psicológico, mas fazia-o sentir-se mal. Ajoelhou, pegou um trapo sujo dentro do balde e começou a enxugar o sangue ruim de trouxas derramado ao longo do corredor de pedra. Sangue imundo, assim como Draco estava naquele momento.
- Não sei como você consegue – uma voz fina e suave comentou do canto escuro de uma das celas do calabouço – Eu teria nojo de limpar sangue.
Draco ergueu a cabeça com desprezo. Sabia á quem pertencia aquela voz irritante: Di Lua Lovegood, a garota mais estranha de Hogwarts. E olha que conseguir esse título naquela escola era um verdadeiro prodígio.
- Tenho cara de quem tem esse tipo de frescura, Di Lua? – respondeu ríspido continuando a secar o chão, desejando terminar aquela tortura o mais rápido possível.
- Acho – ela comentou aérea.
O rapaz parou o que fazia. Não podia esperar muita inteligência da Di Lua, mas às vezes ela se superava. Ele jogou o trapo de volta no balde impaciente. Na verdade sentira nojo sim, pelo menos nas primeiras vezes que o fizera. Assim como sentira vergonha de lavar o chão, mas depois de tento tempo, tantas humilhações e tanta dor, não parecia tão ruim. Pior era estar lá em cima e ver o que acontecia com as pessoas que derramavam aquele sangue.
- Estou com frio – ela comentou.
- Isso não é problema meu – respondeu ríspido. Era a parte que Malfoy não gostava quando os prisioneiros o conheciam: sempre olhavam para Draco com a ilusão de que ele podia fazer alguma coisa.
- É ruim ser prisioneira – falou como se comentasse que o dia estava quente – mas deve ser pior ser humilhado na própria casa.
- Não sou humilhado – ralhou irritado. Mais uma vez sentiu vergonha de sua situação medíocre.
- Você está lavando o chão – ela o informou como se realmente pensasse que ele não havia notado esse detalhe.
- Você está em um cativeiro – ele provocou, queria assustá-la para vingar sua vergonha – Pode morrer a qualquer momento. Vai morrer, de alguma forma feia e dolorosa. Devia começar a clamar por Merlin enquanto conta os poucos momento que tem até a hora de sua morte.
A garota piscou o encarando e ele se sentiu vingado. Era isso que ele queria: o medo de Luna era seu maior prazer naquele momento.
- Não tenho medo da morte – ela falou sem se importar.
Ele bufou cético.
- Todo mundo tem medo da morte – ele falou sendo lógico.
- Tem coisas piores que a morte, Malfoy – ela falou o olhando com tranqüilidade – Dessas sim eu tenho medo.
- O que seria pior que a morte? – ele a desafiou sarcástico.
- Lavar sangue derramado no chão de minha casa seria bem pior que a morte – respondeu serenamente. – Principalmente se limpar esse sangue nesse chão for a melhor coisa que possa fazer de sua vida neste momento.
Um silêncio se abateu sobre eles.
Draco sentiu um vazio instantâneo e de repente as coisas pararam de fazer sentido. Aliais, agora se dava conta de que não faziam sentido há muito tempo. Limpou o rosto distraído na manga da capa que usava, afastou o balde para um canto da parede. Em algum lugar na Mansão gritos ecoavam pelas paredes de pedra. Sentia saudade de Hogwarts. Agora parecia absurdo pensar que houve uma era em que se preocupava com garotas e quabribol.
Andou até as grades da cela de Di Lua e tirou a capa imerso em seus próprios pensamentos. Deixou-a cair de qualquer jeito no chão levemente úmido e saiu do calabouço sem dizer mais nada.
Luna se arrastou como pode até as grades e colocando a mão entre elas se esticou para pegar a capa que Malfoy havia deixado cair. Ela não entendia o Malfoy. Nunca entendera. Na verdade, sempre achara o Malfoy muito estranho.
Aproveitou a capa para se proteger do frio.
