Capitulo 2 – A Prisão
No meio das areias do deserto localizado na região que hoje conhecemos como Oriente Médio, uma das regiões mais ricas em minérios de todo planeta, encontrava-se uma cidade que não precisará ser citada ao longo da história, pois sua aparição é breve, e, provavelmente, não existe mais para ser traçada ao longo do curso da história.
A maioria da população era de origem árabe, pequenos grupos distintos e nômades, que circulavam em torno da região. Estes habitantes haviam surgido destes pequenos grupos, pois quando viram que a região possuía um lago às proximidades e que a terra era fértil o suficiente para plantar comidas, esta população estabeleceu a nascimento desta cidadela.
Mesmo sendo uma jovem cidade, que, como citado anteriormente, não possuía um futuro histórico, seus habitante haviam desenvolvido o que se pode chamar hoje de uma sociedade bem estruturada, a medida do possível, pelo menos. Lá, havia um conjunto de regras naturais, isto é, não escritas; e um representante estabelecido pelo povo, ou talvez por este ser o nômade mais rico a chegar na região. Em torno dos ensolarados dias, a população, podia-se dizer, vivia em plena harmonia. Não havia uma alta taxa de crimes, já que a maioria dos criminosos eram estrangeiros, e por causa disso, suas rigorosas leis, que, depois de muitos anos foram chamadas pelos historiadores da lei Dente por Dente, era ali aplicada.
Muitos viajantes apareciam para conhecer a cidade, ou, pelo menos estavam de passagem em busca de uma das mais preciosas gemas de todo deserto, a cidade vizinha, um dos principais paraísos religiosos da região, e, muitas vezes curiosos e interessados atravessavam as dunas de areia durante dias para chegar à cidade.
Portanto, pode-se concluir, sábio leitor, que esta cidade era, o que poderíamos reconhecer como próspera.
Porém, dentro das entranhas da história tranquila desta cidadela, havia algo que intrigava os habitantes da pequena comunidade, a ocorrência de um crime dentro da mesma.
Há alguns dias, uma jovem moça de características notáveis havia chegado perto da região. Até aí, tudo bem para a jovem cidade hospedeira, o que mais ajudaria esta do que o recebimento de novas visitas? Porém, esta curiosa mulher havia sido encontrada junto de dois corpos de homens mortos, na mesma noite em que ela havia chegado na cidadela. Os moradores, obviamente, ficaram intrigados, quando constataram o fato, porém, nada poderia ser provado, pois, junto a moça não se encontrara marcas de sangue. Ademais, para não causar qualquer transtorno, o representante legal da cidade havia decretado que a jovem moça seria presa, até que pudessem comprovar sua culpa na morte dois habitantes de sua cidade. Portanto, a partir daí, não se havia tido paz naquela cidadela. O pequeno posto de guardas que a mesma possuía estava todos preocupados em como constatar a culpa da estranha mulher.
Então, a mulher permanecera trancada naquela cela por alguns dias, até receber sua sentença, ou arranjar um modo de sair da mesma. Depois dos mesmos, a vida tornara-se entediante dentro da mesma. Não havia nada para fazer, e ainda por cima aqueles bastardos estavam atrapalhando sua viagem, uma pequena voz no fundo de sua cabeça dizia que isto não poderia ser perdoado, mas ela ignorou-a.
Parou para olhar pela janela, e ver como o movimento da cidadela se encontrava. Nada de especial a mesma tinha. Apenas a velha praça central do município à sua frente, onde se encontravam cadeiras e uma forca bem no centro. Fora isso, apenas os velhos guardas ainda tentando brincar de serem inspetores ou algo parecido, e tentando arranjar qualquer prova evidente de que ela era culpada.
Ela não era culpada, tinha acabado de chegar na cidade! Sim, na verdade chegara de manhã, antes que o Sol tocasse o chão. Depois disso apenas havia arranjado uma pequena estalagem para ficar durante a noite, mas quando esta finalmente chegou, ela, perdida em pensamentos, não conseguiu dormir, e saiu para dar uma volta. Uma das grandes manias que havia desenvolvido vivendo sozinha foi sempre andar pelos becos, já que muitas vezes, mulheres andando sozinhas pela rua era o estereótipo para prostitutas. Quando finalmente entrou em um beco, sem qualquer receio pelo fato de estar escuro, ouviu a briga de dois homens, provavelmente nativos da cidade, já que estes se comunicavam na mesma língua, porém, não entedia sobre o que falavam. Logo, permaneceu escondida na penumbra do beco. Porém, começou a ouvir que os indivíduos tinham sacado suas espadas, e começaram uma batalha. Quando finalmente o barulho cessou, ela se aproximou, com o pensamento que os homens haviam se afastado, mesmo que ela não ouvira os passos. Porém, quando viu os dois corpos esparramados sobre o chão, tentou usar seus poderes de cura rapidamente sobre eles, mas já era tarde. Ambos haviam se matado, algo raro de ocorrer em um duelo. Infelizmente, aparentemente, não foi apenas ela que notou o barulho. Outros homens chegaram, e ao vê-la junto dos corpos começou a chamá-la de assassina.
Pelo desencadear dos fatos, sua adaga e seu cavalo haviam sidos retirados dela. Tudo o que havia sobrado eram as roupas em seus corpos.
Inclinou sua cabeça em uma das paredes de pedra da sala úmida, deixando seus fios de cabelos violetas tamparem uma boa parte de sua face, e deu um forte suspiro para aliviar a tensão. Não havia sido a pior coisa que ela havia passado, mas isso também não podia ser citada como uma das melhores. O pior de tudo é que ela se encontrava em um território desconhecido, muito longe do que podia chamar de casa. Ela era de origem nórdica, a terra das feiticeiras e bruxas, porém, por uma boa parte de sua vida viveu em uma península localizada na região da Ásia, a qual hoje conhecer-se como Japão.
Muitos costumes havia herdado destes doze anos presentes em na região asiática, como por exemplo a higiene pessoal, algo não praticado muito por esta região, pelo o que tinha constatado; e, também, beber bebidas leves como o chá. Porém, não foram apenas hábitos culturais ou culinários que ela havia desenvolvido da região, a arte da guerra também era uma dela.
Mesmo tendo sido criada em um mosteiro, onde havia aprendido toda sua educação religiosa, ela havia aprendido muitas das técnicas ensinadas por samurais e artistas marciais. Mesmo que era algo proibido para as mulheres neste período histórico. Nunca realmente tinha sido ensinada por qualquer um deste indivíduos, na verdade havia aprendido assistindo os mesmos dando aulas para seus discípulos. Parece que os genes de seu pai sempre havia dado um modo de se sobressair sobre seu lado humano. Sim, não poderia nem ser considerada humana, era apenas uma mestiça suja.
Tudo havia começado no Norte Europeu, sim, onde havia sido comentado que ela tinha sido criada. Lá, era muito comum existirem tribos de bruxas ou feiticeiras, sendo que, como os preconceituosos diziam, as primeiras era conhecida por ser, muitas vezes, adoradoras do demônio. Um dia uma das bruxas havia previsto que Trigon, o Terrível, havia enviado um chamado à ela, dizendo que tinha chegado a hora de ele ter um individuo com seu sangue andando por esta dimensão, e que este seria a porta para trazê-lo para a mesma. A bruxa, sendo adoradora do demônio, não discordou, e enviou o comunicado para suas irmãs.
Na primeira Lua Cheia do próximo mês, tudo havia sido preparado. No meio da floresta temperada, encontrava-se uma grande mesa de pedra, utilizado pelas bruxas nórdicas para realizar encantamentos e sacrifícios. Em volta dela, as mulheres vestidas com túnicas negras realizavam uma dança ritualística, seguindo o ritmos dos tambores, tocados pelas bruxas de vestimenta roxa. Aquela seria a noite em que Trigon enviaria o sinal de quem seria a escolhida para ser a esposa que daria a luz ao seu primogênito.
Foi naquele instante em que um homem com uma túnica preta, detalhado com bordados vermelhos, representante direto do Culto de Sangue, reconhecido pelo pseudônimo Irmão de Sangue, surgiu. Este trazia junto consigo uma mulher de estranhos cabelos e olhos roxos, uma genética rara, que com a passar dos anos, desapareceu do mundo dos homens. Quando as irmãs haviam visto o semblante da mulher, havia, concluído, com certeza era o noiva que traria o herdeiro de Trigon neste mundo.
A mulher cujo nome era Arella, também era de origem nórdica, e também era seguidora da culto de sangue, já que este havia lhe dito que, com toda certeza, orando para seus "deuses" ela encontraria o homem que sempre sonhara. E, quando Irmão Sangue havia lhe dito que suas preces haviam sido ouvidos, ela não hesitou, e foi com ele realizar o ritual. Debaixo da túnica ela encontrava-se completamente nua, pois já havia sido que o homem iria primeiramente unir a relação entre ambos para toda eternidade.
Irmão Sangue finalmente havia soltado seu braço, naquele momento, iria acontecer tudo o que sempre tinha sonhado para ela. Ela iria finalmente se casar, o santo culto de sangue era a única religião que valia a pena para ela, a única que havia realizado todos seus sonhos. Naquele momento sorriu, um sorriso inocente e orgulhoso, algo que nunca mais seria visto naquela bela face.
Começou a caminhar no meio de suas irmãs. A música havia cessado agora o que mais importava era o ritual em si. Quando ela finalmente chegou à tábua de pedra, a maga mestra retirou seu mato, deixando-a completamente despida, e deu-lhe uma adaga. Esta seria utilizada no meio do ritual de acasalamento, onde os amantes iam ter que se alimentar do sangue um do outro. Mesmo com estas condições, Arella sorriu, ia finalmente encontrar o homem amado que buscara durante tantos anos.
Depois de recitar os ritos sagrados para que iniciasse finalmente o ritual, as mulheres encapuzadas começaram a se afastar, de frente ao altar, já que virar as costas à ele era considerado um pecado fatal. Andaram um pouco mais, até sumirem dentro da mata da floresta, onde deviam esperar que Trigon finalmente consumasse o corpo da ingênua e bela mulher. Elas não podiam olhar qualquer parte do ritual, agora, a vinda do primogênito de Trigon à Terra dependia de Arella, já não estava mais em suas mãos. Apenas esperavam que a mulher de cabelos roxos não as desapontasse, pois teriam que preparar outro ritual, algo cansativo de se realizar.
O silencio invadia a floresta. Arella, então, se deitou sobre a mesa de pedra, nua, assim como suas irmãs haviam lhe dito. Porém, minutos foram se passando, e ninguém aparecia. Logo, a ar começou a ser coberto com uma névoa espessa, fria e escura. Nada podia se ver. Nada podia se sentir. Pela primeira vez da noite, a mulher teve medo. E se não fosse aquilo o que ela imaginara ser? Não houve mais tempo para pensar. Tudo já havia sido consumado. Não havia tempo para recuar, afinal, nunca se pode voltar atrás quem faz um pacto com o demônio.
Finalmente passos foram escutados. Passos extremamente leves, algo que a filha de Trigon herdaria do mesmo mais tarde. Um passo de cada vez, com um tempo rigorosamente cronometrado. Se Arella tivesse parado para pensar, teria notado que não eram passos humanos. Nenhum homem na face da Terra tem a capacidade de andar vagarosamente estando despido e excitado. Ela teria notado que o homem que se aproximava não sentia excitação, mas sim apenas o prazer de destruir os sonhos de mais uma mulher. Os passos se aproximavam, e aos poucos ela pode ver a forma do homem. Ele tinha cerca de um metro e oitenta de altura, e pesava cerca de 80 quilos. Sua forma magra possuía uma estranha musculatura definida, o que, para um homem desse porte, era absolutamente estanho. Ele possuía cabelos encaracolados e curtos, com cerca de sete centímetros cada fio. No meio do ritual, Arella iria ver que a textura de seus cachos eram ruivas. Seus olhos eram de um azul extremamente claro, o qual só poderia ser notado se os visse de perto. Seu rosto estranhamente angelical, realizando um harmonioso equilíbrio com o corpo magro.
Arella, quando viu o homem próximo a ela, começou a arder de excitação. Ela, naquele momento, sabia, que era com aquele estranho homem que iria viver o resto de sua vida. Logo ele se aproximou, e subiu na mesa de pedra junto a ela. Eles trocaram seus olhares por um instante. Os dela repletos de paixão. Os dele repletos de frieza. Porém, estranhamente, ela queria dormir com aquele rapaz que nem conhecia. E, logo o ritual foi iniciado.
Ele começou colocando suas mãos magras com dedos longos sobre os seios da mulher abaixo dele, virando-as em sentido circular, o que fez a jovem gritar de prazer. Ela, neste momento, foi infectada por uma doze de luxuria, e o que havia sido planejado, tornava-se espontâneo. Ela pegou a adaga que lhe fora dada, e cortou sua mão direita com a lamina extremamente afiada, e quando seu sangue começou a ser derramado, o homem de prazer repulsivo começou a bebê-lo de forma desesperada, e sua forma começou a mudar. Seus belos cabelos ruivos começaram a crescer e branquear. Seus olhos azuis gélidos duplicaram para quatro grandes orbes amarelos, sem qualquer íris ou pupila. Sua pele tornava-se vermelha. Sua musculatura se tornava definida e selvagem. Em suas talentosas mãos magras surgiam garras negras enormes e afiadas. Chifres idênticos aos de um veado, porém negros, cresceram em sua testa. E, por ultimo, seus pés tornavam-se grandes cascos, como de um cavalo.
A delicada mulher tentou gritar, mas era tarde, o demônio já havia começado a realizar seu ritual. Bruscamente ele arranhara suas costas, derramando mais do sangue da mulher, e bebia-o como vinho. Forçou-a a deitar, e com seus enormes dentes brancos e afiados mordia seus seios. Quando aproximou-se de sua cabeça, e os estanhos orbes amarelos olhavam para os as orbitas roxas da mulher, uma onda de temor invadiu a mesma. Não havia mais retorno. Ela daria a luz a filha de um Lorde Demônio. Cansada de tentar lutar contra o ser de força sobrenatural, abriu suas pernas, e deu permissão para que o direito do monstro consumar o que iria ser feito. Logo, que notou isso, o demônio colocou seu enorme órgão peniano ereto no na vagina da mulher virgem. Neste momento, lágrimas começaram a se formar involuntariamente nos olhos da mulher. Não sabia se isso por causa da dor que sentia neste momento, ou da traição que recebera de suas irmãs.
O Lorde Demônio, ficou horas brincando com seu novo brinquedo. Fez sexo com a mulher de todos modos que queria. Não a respeitou por um só momento. A mulher já se encontrava atordoada quando ele finalmente parou. Logo ele levantou a figura abobalhada, e deu-lhe a ultima ordem da noite, cortando seu pescoço com mesma lâmina que ela havia usado horas atrás, deixando cair um grosso e negro liquido, seu sangue demoníaco, e disse: "Beba", o que ela obedeceu fielmente. Permaneceu alguns minutos bebendo do sangue de seu Senhor com repudio do ato grotesco, mas logo os instintos de sua hospedeira falaram mais alto, fazendo-a perder, definitivamente, toda sua humanidade em uma só noite, humanidade que apenas recobraria quando o fruto do estupro de Trigon, Ravena, nascesse. Sugou o sangue do Lorde Demoníaco como se esse fosse a Ambrosia dos Deuses. E, logo que tudo havia acabado, e, logo a sua frente se encontrava o rapaz de olhar gélido de horas atrás, o homem apenas se levantou, sem dizer qualquer palavra, e sumiu na espessa névoa. E, a única coisa que a mulher pode fazer foi chorar, e depois desmaiar por falta de sangue.
Quando finalmente acordou, recebeu uma noticia que não lhe deixou qualquer impacto: estava grávida do seu amante de uma noite. Nasceria de seu ventre um individuo aparentemente inocente, porém perigoso. Nasceria dela um ser que não era nem humano, nem demônio. Um mestiço. Um meio demônio nojento, que, quando crescesse, apareceria durante a penumbra da noite para destruir sonhos de mulheres inocentes e virgem. Daria a luz a um destruidor de sonhos, que fez com que todos os hábitos de sua mãe mudasse durante sua formação em seu ventre. Foram longos e exatos nove meses comendo sugando sangue de suas irmãs. Foram exatos nove meses da pior gestação que uma mulher poderia ter em sua vida. As dores eram constantes. A mulher, a cada mês que se passava, se tornava mais pálida. Era como que aquele monstro que crescia em seu ventre sugasse o aroma de sua alma, e a carne em seu corpo. Era, na verdade, uma nova força neste monstro que surgia.
Quando finalmente havia chegado a hora do ser sobrenatural que vivia em seu útero nascer, Arella realmente passou muito mala. Começou a sentir contrações terríveis, e logo fora levada para a líder da tribo, quem iria ser sua parteira. A primeira coisa que fizeram foi colocar uma toalha em sua boca, para ter certeza que ela não destruiria nenhum de seus dentes enquanto tentavam retirar o herdeiro de Trigon de seu útero. Retiraram suas calça, deixando sua região venérea completamente exposta, o que na hora lembrou-a do momento em que este monstruoso ser fora fecundado. Dava para ver a vagina alargada, era a hora do filho de Trigon nascer.
Enquanto a mulher dava o sinal a futura mãe, esta fazia o possível para expulsar o seu incomodo de nove meses. A mulher com o pano na boca agonizava de dor, enquanto a outra mulher gritava para ela continuar forçando a saída do bebê. A cabeça começou a aparecer, logo atrás o corpo. Ao todo foram cerca de uma hora de trabalho de parto, mas felizmente, para Trigon e seus seguidores, o bebê havia nascido saudável. Porém, de sua mãe não se podia dizer o mesmo, logo após o nascimento de seu filho, ela acabou vindo a desmaiar de cansaço, sem poder ver o fruto maldito que nascera de seu ventre. Logo após esse fato, foi confirmado pela parteira que era uma menina, cujo nome seria definido quando a mãe acordasse.
Quando Arella finalmente acordou, tudo não parecia ser nada mais que um sonho ruim. Ela vendo Trigon estuprando-a em sua mente, enquanto ela realizava o parto da criança maldita. Porém, quando ela ouviu um choro de bebê vindo de um berço improvisado ao lado dela, ela teve certeza que tudo aquilo havia sido real. Mesmo com todo esforço que tinha realizado para parir a criança de meio sangue, ela conseguiu alcançar o bebê para retirar todas as dúvidas que haviam lhe perseguido durante toda sua gestação. Aproximou-se do berço. Suas mãos tremiam com o pavor que tinha de ver a sua criança com os olhos malditos de Trigon. Para sua surpresa, não havia nada lá, apenas uma delicada menina com características completamente humana. Neste momento até parou para se perguntar se aquela noite com Trigon não havia sido mais nada que um pesadelo, porém, não poderia ser, era tudo tão real. Será que realmente havia sido um humano depois de tudo? Mas, e as sua feridas? Foram projetas pelos cortes da afiada adaga, ou de garras de um ser grotesco? Tudo aquilo realmente havia sido um fruto de sua imaginação?
Suas dúvidas foram retiradas quando apareceu a parteira da noite passada logo atrás dela. A velha mulher possuía cerca de sessenta anos de idade, anos que poderiam ser facilmente demonstrados pela pele enrugada. Seus olhos com as pálpebras caídas por causa da idade eram de um cinza pálido e sábio. Seus cabelos lisos eram longo, e completamente brancos. Seu corpo encurvado chegava a cerca de um metro e cinquenta e oito centímetros de comprimento. Mesmo com o sedentarismo que levava com uma vida sobre um bengala feita de madeira, nunca perdera sua forma, já que a dieta da comunidade era restrita a peixes e algumas frutas. A mulher não possuía apenas olhos sábios, esses também podiam demonstrar experiência no fundo deles. Várias vezes havia tentado procriar um fruto de Trigon, muitas vezes havia falhado. A maior parte de seus experimentos nascia com um corpo completamente disforme, o qual levava as crianças à morte e as mães a loucura. Porém, essa menina havia sido uma exceção, tudo nela era idêntico à sua mãe, ela era praticamente humana, não que isso fizesse dela menos poderosa, já que de longe a ancião podia sentir a alma da criança, e, nela havia completas trevas. Aproximou-se da mãe da criança, Arella, e elogiou-a, dizendo que nunca fora capaz de ver um meio demônio tão perfeito em sua vida. A mulher de cabelos roxos olhou para a criança espantada, aquilo tudo realmente tinha acontecido!
Quando a ancião tinha ido embora, a mulher permaneceu lá, imóvel como um estatua. Aquela criatura que estava na sua frente era realmente obra de seu acasalamento com um demônio? Não poderia ser! Ela era perfeita. A única coisa que poderia ser vista como estranho era a coloração da pele da criança. A cor de um cadáver. Sua pele era de uma estranha coloração cinza pálido. Se ela não estivesse se mexendo, teria retirado a conclusão que esta se encontrava morta. Um ser que nasceu pela união de sangue de seus pais. Um ser que nasceu com a aparência mórbida. Um ser que no futuro, durante seus acasalamentos, beberia compulsivamente o sangue de sua vitima, até a última gota. Um hospedeiro. Um monstro. Neste momento, o nome da criança havia lhe vindo na cabeça. Ravena. Significava corvo. Estes eram seres que viviam perambulando em busca de sua desgraça, para comer sua carne. Ravena, aquela que havia nascido de um elo de sangue, da morte de espírito de sua mãe e destinada a matar todos aqueles ao seu redor. Seu nome seria Ravena.
Na próxima noite de lua cheia, quando Ravena completava exato um mês de vida. A tribo se uniu no meio da floresta para celebrar, finalmente, o nascimento da menina. E, enquanto todos estavam preocupados com os arranjos da mesma, Arella segurava sua criança nos braços, pensando em seu próximo movimento. Neste um mês havia desenvolvido amor pela mesma, e não desejava vê-la partir. Porém, que educação ela poderia dar àquela garota? Ensinaria a mesma a ser uma bruxa, como ela? Vivendo perambulando entre diferentes florestas, e vendo-se com filha de um demônio, a qual poderia fazer o que quiser? Não, não era isso que queria. Ravena tinha que viver longe destas bruxas loucas. Ela ia ter uma infância normal, com alguém que pudesse fazê-la uma pessoa melhor. Olhou profundamente nos olhos azuis escuros da menina. Ela, com toda certeza, seria uma mulher muita bonita, quando crescesse. Tinha que dar um jeito dessa ser uma pessoa melhor enquanto tivesse tempo.
Quando ainda estudava as culturas místicas e obscuras da bruxaria, havia ouvido falar de uma velha mulher que já fora bruxa em um momento em sua vida, porém, agora vivia distante, na Ásia, com exatidão. Ela sempre havia sido conhecida como uma maga boa, talvez ela acolhesse sua criança. Tinha que tentar. Naquela mesma noite saiu da Floresta Negra, para sempre. Atravessou todo tipo de cultura, povos e climas, até chegar ao Japão, onde havia, finalmente encontrado Azar. Havia se passado um ano desde de sua saída repentina da região nórdica europeia. Havia sido muito complicado conseguir uma audiência com a anciã lendária. Todos na cidade adoravam Azar, ela era uma espécie de deusa para os mesmos. Essa província de que falamos também já não mais existe, tendo desaparecido com a grande guerra entre os senhores feudais muito tempo depois, porém, não era muito diferente do que se conhece hoje sobre a antiga cultura japonesa. O povo da região era extremamente paciente e gentil, de tal modo que, para alguns povos, isso chegava a ser assustador. Algo que realmente foi para Arella. Esperava que, como muitas regiões em que havia passado, que seria mal vista ou expulsa, porém, estranhamente, a influencia de Azar era tão forte sobre esse povo que fazia com que ele nunca rejeitasse qualquer estrangeiro, sendo ele aliado ou inimigo.
Azar, escutando a história que Arella tinha vindo lhe contar, aceitou ficar com a criança de origem demoníaca, desde que a mulher prometesse que nunca mais a tratasse com própria filha. O motivo disso era que Azar era mestra de vários outros alunos, os quais, na verdade eram órfãos. Ravena não poderia continuar tendo uma mãe de ficasse lá com Azar, era uma espécie de lei de equidade. Mesmo que depois esse pós foi se tornar uma necessidade, quando Azar descobriu que as habilidades de Ravena eram ligadas as suas emoções. A mãe, vindo de longe, não possuía outra opção senão aceitar a oferta concedida pela antiga bruxa à sua frente. Aceitou. Deu o ultimo beijo de despedida em sua filha, e foi embora. Após tudo isso, nem mesmo as bruxas, nem mesmo o culto de Azar veriam a mulher novamente.
Os anos se passaram, e Ravena cresceu. Nada em sua aparência era derivado de seu pai. Seus cabelos e olhos eram da mesma coloração de sua mãe, roxo-escuros. Sua pele continuava sendo composta de um estranho cinza pálido mórbido, o que fazia com que ela aparentasse ser assustadora, às vezes. Nessa época ela possuía cerca de oito anos de idade,e já havia estudado muito mais do que muitos adultos mundo afora. Os monges desta cidade amavam Ravena, algo estranho, sendo ela de origem demoníaca. Claro, havia alguns homens que possuía certo repúdio da menina, sempre em alerta, visando qualquer movimento dela como suspeito. Porém, os sacerdotes de Azar que gostavam dela haviam ensinado para ela diversas artes. Ela possuía a habilidade as escrita, algo altamente cobiçado neste período da história. Ela também possuía o conhecimento de vários idiomas, ensinados diretamente de Azar, já que esta havia viajado por um bom tempo pelo mundo. A meditação era uma das técnicas que também havia aprendido, para fim de controlar suas emoções. Também, conhecia um pouco da técnica de combate corpo-a-corpo, mesmo sem a Azar concedê-lo, com alguns estrangeiros que passavam pela pequena província, porém, isto não poderia ser considerada uma de suas técnicas, já que essas técnicas também não poderiam ser consideradas bem evoluídas. Porém, havia ainda seu talento inato, ela possuía poderes fornecidos pela sua auto alma, uma espécie de projeção mágica de sua alma, alimentada por suas emoções, quanto mais sentia, mais fortes eram as habilidades com a mesma, e se essa surgisse da fúria ou ira, poderia trazer uma destruição catastrófica. Logo, ela era praticamente vazia. Nada podia abalar a aprendiz de Azar. Poderia ser considerado o que hoje chamamos de androide. Seu rosto era sempre impassível, parecia até espelhar todas as emoções externas.
A cidade pacifica em que vivia possuía cerca de um quilômetro de raio. Era incrivelmente pequena. Ela era dividida pelas planícies do lado Oeste, e da pequena cadeia de montanhas do lado Oeste, onde, respectivamente, ficavam a cidade e o templo de Azar. A primeira era um pequeno vilarejo com cerca de cinquenta casas, totalizando, ao máximo, duzentos habitantes. As casas desse eram feitas de uma mistura de madeira, palha e rocha. Aquela era utilizada para criar uma estrutura sólida para servir de alicerce para a residência. Logo após, eram colocadas as rochas pesadas, que traziam mais confiança do que o uso de uma casa apenas feita com madeira. No meio das pedras, colocava-se palha para evitar futuros vazamentos dentro do imóvel. Por ultimo era colocada o teto feito de barro seco, que seria segurado por pequenas pedras colocadas sobre o mesmo, para evitar que o vento as destruísse. Todo habitante possuía uma casa, e, logo a frente dela, uma pequena horta, onde plantavam a maioria de seus vegetais. Alguns bons samaritanos até levavam parte de sua horta em oferenda à Azar, quem ficava muito feliz em receber os afetuosos presentes. Na frente da casa também ficava a vaca leiteira, algumas galinhas e até um jumento para ajudar no transporte de coisas pesadas. Os cidadãos desse vilarejo não realizavam qualquer tipo de negócio, apenas realizavam práticas que envolviam sua subsistência ou religião.
No lado Oeste, como foi dito anteriormente, encontrava-se o Templo sobre a montanha, algo que muitos leitores podem até considerar clichê. Porém, o objetivo desta construção era proteger a deusa da cidadela com todas suas forças. Um dos próprios habitantes há muito tempo ofereceu esta ideia, dizendo que, eles estariam mais seguros em cima da enorme cadeia de montanhas. Azar aceitou a oferta, e, a partir daí, o templo foi construído. Este lembrava muito a construção dos mosteiros da futura Idade Media, já que também fora construído com pedras. Mesmo com uma aparecia feia, se comparada às construções do mundo grego, o templo era absolutamente seguro. Era alto, com cerca de duzentos metros de altura, revestido de pedras de diferentes tamanhos. Possuía ao todo três torres, nas quais ficavam os quartos dos membros mais poderosos da sociedade, Azar e seus dois conselheiros. Na área externa ficava a área verde, que era fielmente dividida. Começando do lado Oeste, havia um estábulo, onde ficavam os cavalos dos habitantes do templo. Seus cavalos eram de origem selvagem, e não tão ágeis como os árabes, porém eram extremamente dóceis, deixando até os jovens inexperientes montarem nos mesmos. Logo após havia as hortaliças, da qual a comida era destinada aos habitantes do templo ou visitantes inesperados, sua comida era farta. Depois disso havia a plantação de arroz, imensos buracos cheios d'água eram encontrados na região. Adiante se podia ver onde ficavam os outros animais, como vacas e galinhas. Por ultimo havia um pequeno jardim, onde as crianças brincavam após as aulas, ou ates os monges iam conversar após horas de meditação. Este possuía bancos de pedra, para a maior comodidade de todos, brinquedos projetados pelas próprias crianças, e flores cultivadas por adoradores da técnica, para agradar a ambientes. Depois de tudo isso, havia ainda a parte interna. No primeiro andar se encontrava a sala principal, onde Azar, em seu trono, esperava visitantes e amigos. A decoração da ala era de tonalidade escura, não muito diferente da área exterior. Os pisos eram também feitos de pedra, já que Azar disse que traria mais comodidade do que o uso de decorações muito enfeitadas. No lado direito da recepção, encontrava-se a sala de jantar, e logo depois a conzinha. No outro lado podia ver a imensa biblioteca, recheadas de livros, os quais Ravena adorava lê-los, era algo que tranquilizava seu ser. Na ala Oeste ficavam os quartos dos monges, na Leste dos alunos. Na ala Oeste podia encontrar o acesso aos quartos dos três grandes do Templo de Azar, sendo que a torre maior era destinada à própria.
Não precisava dizer que a cidade era uma região agradável de viver, pelo menos até a fim do mandato de Azar. Como foi dito anteriormente, Ravena possuía oito anos, esta época foi memorável visto que foi lá, quando ela possuía essa idade, que Azar veio a falecer. Lembrava-se de cada momento dessa história. Ela estava na biblioteca quando ouviu a noticia, lembrara que correra tanto que ficou com suas panturrilhas doloridas por dois dias após o fato. Subiu toda a escadaria, até chegar ao seu objetivo, no topo da torre mais alta. Quando chegou lá, viu a velha mulher em seu leito de morte, sua respiração estava pesada e suas pálpebras semi abetas. Sabia que a velha mulher ia querer falar com ela sobre sua herança demoníaca. Chegou perto, e Azar liberou sua ultimas e sabias palavras. Pedia para Ravena nunca deixar cair por suas emoções. Continuou dizendo que sabia que, quando mais velha a menina ficasse, mais a tentações cairiam em seu caminho para ela entrar no mundo de Trigon, não podia deixar. Foi quando terminou de dizer estas palavras, que Azar veio a falecer. Foi a primeira vez na vida que Ravena perdia um ente querido, nunca chorara, esta, na verdade, havia sido uma exceção a regra.
Quatro anos havia se passado da morte de Azar. Ravena, neste momento, se encontrava em partida. Iria agora para as terras nórdicas, onde Azar, a muito tempo atrás, havia lhe dito que nascera. Queria saber mais de sua essência demoníaca, queria saber como melhor controlá-la. Sem a proteção espiritual de Azar, sentia-se instável, e, a cada ano piorava. Lembrava-se perfeitamente do dia em que quase matara um monge em um de seus ataques de fúria. Não havia mais lugar para ela lá. A única que amara ela fora Azar, que agora se encontrava no céu. Naquele momento uma dúvida veio em sua cabeça, será que ela um dia veria o céu? Estava destinada ao inferno? Será que havia um lugar no mundo para uma meia raça? Agora com vinte e um anos sabia que nunca ia possuir resposta para isso.
Sua história sobre como chegou às Terras Nórdicas não foi tão importante assim, o que importou é que encontrou a velha tribo que sua mãe fazia parte. Fora muito bem aceita. Aprendeu muito sobre as artes mágicas naquele local. Aprendeu que seus poderes não serviam apenas para curar, como para muitas coisas. Infelizmente, chegou o momento em que as bruxas já não mais lhe serviam, e ela novamente foi para a estrada. Partiu para o mundo ocidental, em busca de mais conhecimentos sobre os demônios ao redor do mundo. Nunca havia encontrado o motivo de Trigon consumado. Continuaria a procurar. Porém, a cada dia que passava caiu mais na tentação de seu demônio interior. Talvez ela não pudesse cumprir a promessa de Azar.
Olhou pela janela da jaula que se encontrava. Sim, encontraria o motivo de seu nascimento um dia. Fechou os olhos e respirou fundo. Tudo o que podia ouvir eram os prisioneiros nas celas ao lado berrando no idioma inteligível da região. Ela possuía facilidade em compreender termos de idiomas, graças o seu conhecimentos em várias línguas, porém demorava um pouco, e precisava de contato entre várias pessoas para reconhecer o básico. Pelo tom de voz do homem da cela ao lado, por exemplo, podia ver que ele se encontrava irritado com alguma coisa. Ela se aproximou da grade para ver se poderia ver o que o mesmo estava fazendo. Viu que o homem forte batia desesperadamente uma espécie de vasilha nas grades da cela, realizando um barulho enorme. Deduziu, então, que a frase que ele repetia diversas vezes estava relacionada ao pedido de comida. Ravena era incrivelmente observadora neste ponto, já que há tempos andava por diferentes regiões.
Atualmente, Ravena possuía vinte e um anos de idade. E, ao contrário da maior parte de sua adolescência, agora ela mantinha seu cabelos roxo-escuros compridos, na altura do topo de suas costas, aproximadamente. Seu grandes olhos de uma tonalidade entre o azul e o roxo, uma espécie de azul escuro, por causa de seu tempo nas terras Nórdicas, agora eram enfeitados por um forte lápis preto escuro, deixando suas órbitas ainda mais chamativas. Seus nariz era levemente arrebitado, formando uma curva entre suas extremidades, deixando sua aparência fortemente frágil e feminina. Ela media cerca de um metro e sessenta centímetros, e seu corpo era o que podia se considerar de porte médio. Ela possuía uma musculatura levemente atlética, por causa de suas longas caminhadas por distantes países. Seus seios eram um pouco maiores do que haviam sido em sua adolescência, não tão grandes a ponto de caírem. Seus quadris também eram de médio comprimento. Algo que havia mudado na transição entre sua infância e puberdade eram cores de suas longas unhas, agora de preta tonalidade. Não havia nada de desproporcional, mas também, na cultura grega, não poderia ser considerada sensual. Era magra, pálida e, absolutamente, não possuía qualquer modo de agir feminino. Não havia sido criada para agradar homens, já que morava em um mosteiro.
Suas roupas eram também derivadas de sua passagem pelo Norte, usava um vestido preto sem alça, extremamente justo na região do tórax, deixando bem visível a proporção de seus seios; indo em direção à cintura, onde continuava afunilando até aproximadamente a altura do joelho, deixando suas coxas também expostas. Em torno da cintura usava um cinto, um pouco largo, ficando inclinado em seu quadril, com enormes rubis emoldurados por anéis de ouro da de forma cilíndrica. Usava sandálias, de couro tingido de preto, rasteiras trançadas em suas pernas. Vestia braceletes em volta de seus dois pulsos, os quais mediam cerca de trezes centímetros de comprimento, com um rui oval na parte da frente, e talhado a ouro no resto do conjunto. Um colar, dado por Azar, encontrava-se em pescoço, em forma de um corvo voando, talhado a madeira, a mais simples peça que usava em seu vestuário. Enormes brincos de ouro em forma de uma Lua crescente enfeitavam as orelhas da jovem moça. Em sua testa, encontrava-se uma xacra em forma de um losango, de tonalidade vermelha, no centro de sua testa. Para terminar o conjunto, uma capa azul marinho com capuz cobria todo seu vestuário, fechando o corpo da moça por completo quando esta se encontrava de braços fechados.
Caminhou com seus passos leves em torno da cela. Nessa velocidade, nunca sairia desse lugar, se não fosse a força. Seu cavalo, provavelmente, havia sido vendido pela dona da hospedaria, quem também não devolveria suas moedas. Sua adaga, item mágico que ganhara de uma feiticeira que encontrara nos arredores da China, também deveria ter sofrido este mesmo destino. Estava completamente perdida. Conhecia o quão hipócrita um ser humano poderia ser quando queria. Mesmo se saísse da solitária, a mulher não lhe devolveria um mínimo tostão, e ainda a convidaria para trabalhar com ela alguns dias em troca de algum dinheiro, provavelmente o seu.
Notou que os homens das celas ao lado tinham ficado em silencio, algo raro, pelo menos pelo que ela pode notar nos dias em que permaneceu no local. Ouviu passos pesados vindos do corredor central, passos, provavelmente, emitidos por um homem amadurado. O general estava chegando. Ninguém dizia qualquer palavra. Tinham medo da forca. Tinha medo da morte. Os homens apenas ficavam aliviados quando o militar passava pela sua cela. Ravena, nesse momento resolveu se sentar de forma que não aparentasse qualquer suspeita, a ultima coisa que queria era chamar atenção desnecessária. Os passos ficavam mais próximos. Podia ouvir o andar milimetricamente cronometrado do homem de meia idade. O barulho ficou mais forte. E, por um instante, a mulher realmente pensou que era em sua cela que ele iria parar, porém, para sua sorte, o homem passou reto da mesma, e parou na cela ou lado. A chave se virava calmamente. O barulho agudo emitido pela abertura da porta de metal pode ser escutado por todos presentes. Mais alguns passos. Pararam. Um combate pode ser escutado, e em apenas alguns minutos, cessara. Um grito fraco e agudo foi emitido pelo prisioneiro, que agora todos sabiam que era uma mulher. O barulho de corpo da moça sendo arremessado em direção a grade da cela também pode ser claramente ouvido. A porta, agora, se fechava. O general, agora, guiava sua vitima desmoralizadas pelo corredor afora. Ravena pode ver quando a mulher de estranhos cabelos rosa chiclete passar por sua cela. Seu corpo encontrava-se cheio de hematomas formados pela curta briga entre a ela e o general, e seu olhar demonstrava que a mulher se encontrava absolutamente deprimida. Caminharam até a saída. O ultimo som emitido pelo carrasco e sua vitima foi a porta de entrada se fechando.
Essa mulher era Jinx, aquela que trazia o azar por onde passava. Esse nome havia sido dado a ela por causa de suas habilidades. Seus poderes, os quais alteravam as obvias probabilidades. Com ele podia roubar qualquer coisa que quisesse. Por causa dele havia perdido seus pais. Havia sido chamada de assassina. Havia se tornado uma ladra para sobreviver. Como ela mesma dizia, sua vida era o que alguém podia comparar a uma merda. Como pode reparar, seu linguajar também não eram dos mais cultos, não porque ela não sabia, mas porque este cabia muito mais na roupagem que utilizava. A menina, mesmo não aparentando, era de origem indiana, porém sua genética meta-humana havia se sobressaído a humana.
Por questões obvias, havia saído da Índia após a morte de seus pais. Andara pelo mundo desde então. Certo dia, quando acabara de assaltar a casa de um homem de grande influencia na região da Arábia, isso a pouco tempo, acabara chamando a atenção de um mercenário que vagava pela região por causa de um trabalho. Quando ele a viu trabalhando, falou para ela se encontrar com um amigo dele, que vivia no Egito, para que ela se tornasse um mercenário assim com ele. Não tendo lugar para ir, e sobrevivendo de pequenos roubos, aceitou a proposta, e começou sua jornada para o Egito, localizado na África. Em certo momento, acabara passando por essa cidadela, e acabara não resistindo, roubando a loja de uma mulher da feira. Quase conseguira escapa, mas esse general conseguira pegá-la. Por motivos éticos, nunca usava seus poderes em pessoas muito próximas a ela, o que podia causar a morte das mesmas. Logo, não usou seus poderes em momento nenhum. "Mas que poderes é esse?", você se pergunta, caro leitor. Isso será explicado ao longo dos próximos capítulos, quando ela finalmente usá-los. Então, ficara aprisionada na solitária, procurando desesperadamente um jeito de se solta. Não queria morrer. Não iria morrer. Sabia muito bem que poderia derrubar o carrasco na hora da execução, fizera isso várias vezes sem hesitar. Dessa vez não seria diferente, só tinha que esperar a hora certa.
Finalmente, ela e o general haviam saído do prédio, e agora se encontravam no lado de fora da cidade, onde várias pessoas esperavam na praça publica, esperando a execução acontecer. Jinx liberou um pequeno sorriso, infelizmente teria que desapontar a plateia tão bonita. Via as pessoas a insultando. Não se importava. Sabia que o que fazia era por justiça, não por ser avarenta. Era muito melhor do que esses homens de poder que viviam para condenar o mais fraco, sem perceberem que eles eram os únicos patéticos ali. Sorria. Um dia seria melhor do que eles. Teria dinheiro. Foi esse o pensamento que cruzou sua cabeça enquanto se ajoelhava no centro da praça. Colocou a cabeça de lado sobre a tabua de pedra, esperando o momento exato para atacar.
Neste mesmo instante, Ravena assistia tudo pela pequena janela de sua jaula. Olhava procurando a justiça nessa cena. Nunca fora a favor da pena de morte. Na vila de onde vinha isso simplesmente não existia. O mundo era completamente diferente do que havia contado Azar à ela. Ele era cruel, e destruía qualquer figura que lhe trouxesse algo diferente. Ouvira os homens das celas ao lado dizendo o crime que aquela mulher havia cometido. Roubara um pedaço de pão da mulher da feira, a qual a denunciara para os guardas da cidade. Estes não eram muito diferentes dos ladrões e assassinos encontrados dentro desse prédio. Eram carrascos. Ensanguentavam suas mãos sem ao menos hesitar. Ela tinha que fazer alguma coisa, não podia viver com a memória de ter deixado um inocente morrer. Olhou para os lados para ver se alguém estava olhando-a. Ninguém. A sorte estava ao seu lado. Ergueu uma de suas mãos lentamente, formando um brilho escuro em volta das mesmas. Seus olhos normalmente roxos, agora se encontravam intensamente branquiados. Abriu a boca, e sussurrou seu mantra: "Azarath, Metrion y Zinthos".
Neste momento, o carrasco já levantara seus braços, exibindo a todos o imenso e afiado machado que possuía em suas mãos. A plateia estava agitada. A justiça seria feita. Enquanto tudo isso acontecia em questões de segundo, Jinx se preparava para golpear o carrasco. Quando, finalmente, olhara para cima para golpeá-lo, uma estranha energia negra envolveu o machado, derrubando-o do chão, desmontado. Todos olharam assustados, inclusive Jinx. O que raios havia ocorrido? Ela olhou para os lados, esperando haver alguma espécie de meta-humano como ela neste perímetro, mas o máximo que encontrou foi uma estanha mulher encapuzada dentro do prédio que acabara de deixar, com os olhos brilhando em branco por causa do uso da magia. Uma bruxa. Olhou para os lados, para notar que as pessoas ainda se encontravam perplexas com que havia ocorrido. Era sua chance. Levantou rapidamente, e correu para um beco da cidade.
Ravena olhou a figura fugindo da cena, e isso fez com que um pequeno sorriso surgisse em seus lábios. Pelo menos ela estava a salvo. Logo se distanciou da janela, para não chamar a atenção. Virou de modo que sua capa junto se mexeu, e foi procurar algo para entretê-la.
Bem, como devem ter notado, trabalhei muito mais na produção deste capitulo no que o anterior. Então, o que acharam, ficou melhor ou pior? Enrolei muito para chegar no meu objetivo? Houve muitos erros gramaticais? Há problemas de coerência? Por favor, me avisem. Comentando em nossas histórias que vocês me ajudam a melhorar.
Jinx e Robin terão capítulos apenas para eles, como fui citado anteriormente. Logo, não entrei muito na história de Jinx aqui, para contá-la em outra parte. Mesma coisa para Robin, Mutano, Estela, Ciborg, etc.
Gostaria que vocês comentassem, por favor. Não fala a língua da história, não é problema, fale em sua língua, e farei o possível para respondê-lo.
Vi que muitos leitores brasileiros entraram em minha história, agradeço a todos. Também havia um Argentino lá, agradeço a você também. Muchas gracias, amigo. Bem, vamos comentar, por favor.
