Capítulo 1

Caverna de Payon, 15 horas.

No segundo andar daquela caverna amaldiçoada, tudo estava submergido na escuridão, tirando alguns pontos onde as lamparinas jaziam, com suas pequenas tochas tremeluzindo por causa do estranho vento que sussurrava pelos túneis de pedras frias.

Lá estava uma garota, de plenos 13 anos, que acabara de se tornar gatuna. Procurava esqueletos soldados, que geralmente derrubavam stilettos, uma adaga que valia um bom dinheiro para ela. Usava um velho capacete de orc, seus cabelos eram de um castanho muito escuro e seus olhos eram um meio termo entre verde e azul. A mesma adaga que ela procurava era sua arma para combater os monstros que haviam lá. Ao fundo, ela viu dois esqueletos arqueiros prepararem suas flechas para ela, enquanto mais um soldado se aproximava, sempre girando, tentando desesperadamente desferir um golpe em qualquer coisa que vier pela frente.

- Podem vir - Disse ela.

Ela ia bem, até que viu mais três esqueletos tomarem frente, fazendo um meio círculo em volta da garota. Durante toda a batalha, ficou mastigando ervas vermelhas. Conseguia desviar da maioria dos golpes, mas vacilou certo ponto, o que a resultou vários cortes da pele. Sentiu uma flecha acertar-lhe o ombro, no meio daquela dança mortal, ela já começava a sentir-se atônita. Derrotou o primeiro e ia partir para o segundo, quando sentiu uma faca lhe cravar nas costas. Enfiou a mão no bolso, a procura de outra erva, foi então que ela percebeu.

"Acabou..."

Ficou atordoada, caiu.

Os esqueletos pararam de atacá-la. No chão, a garota sangrava sozinha, no escuro e sem ajuda. De nada adiantaria tele transportar-se para Prontera, ela já não tinha mais forças sequer para abrir os olhos. Tentou, e tudo o que viu foi um sangue negro correndo pelo chão, todo o sangue que saía de suas feridas.

Adormeceu, sem ter mais o que fazer.

Se ela fosse uma aprendiz, ninguém pararia para ajuda-la, mesmo vendo a gigante abertura em suas costas. Mas é claro que um aprendiz não seria idiota o suficiente para passar do primeiro nível da Caverna de Payon. Não era a primeira vez que a jovem desmaiava, quando era aprendiz sempre tinha quedas e ninguém parava para ajudá-la, por causa da impressionante habilidade de fingir de morto que os aprendizes tem.

Mas quando a gatuna acordou, ela não estava no chão gelado da caverna, como pensou que estaria.

Era uma sala de paredes brancas, de camas brancas, de praticamente tudo branco. O sol transpassava fraco pelas cortinas amareladas da janela, o que dificultava ainda mais a visão dela. Virou a cabeça para o outro lado e enxergou a silhueta de uma noviça, que ela logo viu que não era uma mulher e sim um homem, pelo tipo de uniforme que ele usava.

- Quem... - Ela não conseguiu completar a frase, sua cabeça latejava de dor.

- Ei, vá com calma. Você perdeu muito sangue, deve estar tonta - Disse o garoto, que tinha uma voz um tanto esganiçada, típica de adolescentes.

Ele tinha o cabelo azulado e comprido, que era presa numa trança atrás da cabeça. Ele não tinha nenhum chapéu, pelo menos por hora, e sua franja comprida que ele dividia nos dois lados da cabeça tinha fios bem rebeldes. Seus olhos eram castanhos e sua pele era bronzeada de quem é alvo como leite que passa muito tempo exposto ao sol.

- Caramba, você apanhou legal para aqueles esqueletos hein? - O garoto puxou assunto, vendo que a gatuna não voltaria a dormir tão cedo.

- Você não precisava ter feito isso - Respondeu ela, ainda cansada.

- Você ia morrer! Eu sou um noviço, ajudo pessoas.

- Já aconteceu isso outras vezes. E nenhum noviço parou para me ajudar.

- Então eles não seguem o principio básico de serem noviços. Aliás, meu nome é Yuki, e o seu?

- Não perguntei seu nome. Mas meu nome é Hanyuu, muito prazer.

- Fria você hein? Como teus amigos te agüentam?

- Não tenho amigos.

Nessa hora, alguém bateu na porta. Yuki virou com um sorriso.

- Ei Kyosuke, a garota acordou!

Entrou pela porta um cavaleiro de cabelos estranhamente prateados de olhos divinamente azuis, que fitou Hanyuu de cima para baixo.

- Veja só... A coelhinha que tentou vencer os lobos finalmente despertou - Kyosuke falou, rindo. Ele parecia um garoto com bastante humor, e Hanyuu pessoalmente gostou dele, apesar de ter sido chamada de coelhinha.

- O nome dela é Hanyuu, e pelo visto não gostou nem um pouco de ser salva - Disse Yuki, no mesmo tom hilário de Kyosuke.

- Toma - Disse Kyosuke, mudando severamente o tom de voz, e lhe estendendo uma fruta amarelada - Você vai ficar nova em folha.

- Um fruto da Yggdrasil? - Hanyuu perguntou, olhando da fruta para Kyosuke, este acenando que sim com a cabeça - Obrigada.

Hanyuu comeu a fruta e se sentiu bem melhor. Como se nunca tivesse caído. Sem dizer mais nada levantou e calçou seus sapatos, colocou a adaga na cintura e percebeu que estava faltando alguma coisa.

- Cadê meu capacete? - Perguntou ela.

- Você fala daquele capacete de orc velho? - Disse Yuki, e pegou o dito cujo atrás pra própria cadeira - Ta aqui.

- O capacete pode ser antigo sim - Hanyuu colocou-o - Mas foi um presente da onee-chan.

Sem falar mais nada ela andou até a porta. Quando ia sair, ela hesitou.

- Talvez eu possa mostrar minha gratidão uma vez. Obrigada por me tirarem de lá.

- Quando precisar de ajuda é só dar um grito - Disse Kyosuke, inclinando levemente a cabeça.

- Vou me lembrar disso - Ela sorriu e saiu.

E quando saiu, desfez subitamente o sorriso.