1.

Metropolis

Lex olhava pela janela a paisagem da outrora ensolarada metrópole. Ele era o prefeito da cidade, porém só comandava a cidade em tese. De longe, dava para ver a verdadeira sede do poder, que ostentava um S metálico em sua torre principal. Kal-El era o governante de tudo e de todos e não só de Metropolis. Ele tinha um poder que não podia ser combatido, muitos heróis da extinta Liga da Justiça tentaram e falharam. Haviam bolsões de resistência mas todos viviam escondidos. Os asseclas e aliados de Kal-El, os kandorianos, vigiavam os humanos e os tratavam com mãos de ferro. Num passado distante, os kandorianos foram fieis ao General Zod, mas o mesmo foi morto por Kal-El diante das câmeras de TV que transmitiram para o mundo todo.

Lex não desafiava o ditador kryptoniano, pelo menos não abertamente. Em teoria, era mais um aliado, no entanto, em segredo, ele ajudava a Resistência contra o Kal-El. Batman tivera sérias restrições em relação a isso, mas acabara por ceder. Não é como se houvessem muitas opções. Já aconteceram muitas mortes e sabiam que haveriam ainda mais até que conseguissem derrubar o ditador.

- Sr. Luthor?

Lex olhou para trás e viu Srta. Teschmacher, sua secretária pessoal.

- O que foi, Srta. Teschmacher? Novidades?

- Procuramos onde estaria a reserva de kryptonita, mas não há nada lá. – ela informou. – Kal-El parece mesmo ter destruído toda e qualquer vestígio do seu planeta natal.

- Hum... – Lex sentou em sua poltrona. – Aquele alien é muito esperto e precavido. Ele sabe que muitos procuram derrubá-lo. Todo aquele poder, mas uma única pedrinha seria o suficiente para matá-lo.

- Mas ele tem o apoio dos kandorianos. Fiquei sabendo por fonte segura que eles estão erguendo mais um Campo Humano. Os humanos que forem selecionados irão diretamente para lá. Derrubar o antigo campo provou-se inútil.

- É porque a Resistência não tem tantos recursos. Ainda. Mas estou providenciando isso. – Lex deu um sorrisinho.

- Sr. Luthor, porque ajudar a Resistência? Acha mesmo que Batman irá deixar que o senhor assuma o comando de tudo quando Kal-El cair?

- Até lá, provavelmente aquele morcego de araque estará morto. – disse Lex com desprezo. – Eu sei que ele se considera um líder, mas eu tenho um legado a assumir e terei o meu lugar de direito, custe o que custar. – jurou Lex. – Claro, o primeiro passo é destruir aquele maldito alienígena, só não achei o recurso ideal. Com Kal-El fora do caminho, com a Terra livre desses aliens desgraçados, adivinha quem será visto como o salvador? – Lex sorriu e apontou para si mesmo. – Não se nega nada ao salvador da Humanidade, não é mesmo?

- E estará realizando o sonho de seu pai de que você se sentasse ao lado dos reis.

- Eu não irei sentar ao lado dos reis, Srta. Teschmacher. Eu serei o próprio rei e todos implorarão para me ver. – ele sorriu. – Enquanto isso, continuem procurando. Deve haver algum lugar que tenha nem que seja o rastro dessas malditas pedras de meteoro. Se o Morcego conseguiu uma pedrinha e quase morreu por causa disso, em algum lugar deve ter alguma só esperando que eu a encontre.

- Eu também mandei verificar cada aparelho na LexCorp e aqui na prefeitura. Está tudo sem grampo.

- Aqueles infelizes não precisam de tecnologia para ouvir qualquer coisa. Os alienígenas tem super audição. Acontece que Kal-El e os capachos dele me consideram só mais um humano. Um aliado, mas sem valor. E esse é o meu trunfo. Não saberão nem o que os atingiu. – Lex deu um sorriso maléfico.

-x-

Sede do poder de Kal-El

Era um local escuro e parecia sem vida. A guarda vigiava, já que eram muitos os que queriam o fim do poder ditatorial de Kal-El. As pessoas se sentiam cada vez mais acuadas, manipuladas, coagidas e com a corda no pescoço. E todos sabiam que quem fosse contra o kryptoniano, era o mesmo que assinar a sentença de morte.

Kal-El levantou da cama, nu e vestiu um robe. Serviu de um pouco de bebida embora que não fosse afetado pelo álcool. Bebia apenas para se distrair e parar de pensar em seus problemas.

Lana se espreguiçou, sentando na cama, cobrindo-se com o lençol de seda.

- Ontem você estava animalesco. – ela sorriu.

- Se veste e vai embora. – disse Kal-El, seco. – Tenho assuntos importantes a tratar. – ele terminou de beber.

- Mais importante do que nós dois? – ela sorriu e se ergueu. Abraçou-o pela cintura e beijou seu ombro. – Agora que você dispensou todas as outras para ficar comigo? Sabe... por um momento, eu lembrei da nossa época em Smallville quando éramos adolescentes e...

- Eu não sei do que você está falando. – Kal-El se afastou. Em segundos, estava usando seu uniforme de ditador, todo preto e com o S metálico no peito. – Seus serviços serão pagos.

- Eu não sou uma prostituta! – ela exclamou, indignada. – Só achei que nós dois tínhamos voltado à uma época boa... Quando éramos só dois adolescentes bobos ainda descobrindo a vida... Sem saber de nada, mas achando que sabia de tudo! – ela riu e ele continuou sério. Lana tocou no rosto de Kal-El, que parecia uma pedra. – Quando você tinha medo de se aproximar de mim porque achava que poderia me prejudicar com os seus poderes e eu não entendia porque você me mantinha longe quando eu te queria tão perto... Eu ainda lembro daquele garoto do Kansas, tímido, com medo de tudo e ao mesmo tempo tão forte. Vivendo naquela fazenda com os Kent e...

- Eu já proibi esse nome de ser mencionado aqui! – ele exclamou, impaciente.

- Eles eram os seus pais, Clark!

Kal-El segurou o pulso de Lana com força, fazendo-a sentir dor.

- Esse tempo nunca existiu! E se você pronunciar qualquer um desses nomes mais uma vez, vai sair daqui direto pro caixão! – soltou-a, fazendo-a cair no chão. – Vista-se de uma vez! – ordenou friamente.

- Até hoje me culpo por não ter tido coragem de casar com você. Um casamento no celeiro como sonhávamos. Nós teríamos sido muito felizes. E ainda podemos! Ainda dá tempo!

- Lang, você está gastando o pouco de paciência que eu ainda possuo. Eu devia mandar costurar essa sua boca para não sair tanto esgoto de dentro dela!

Lana se ergueu, irritada.

- É, mas essa boca serviu ontem pra te dar prazer, não?

Kal-El deu um sorriso de desprezo.

- Já tive melhores. As outras prostitutas foram muito mais eficientes. Aliás, vou mandar desinfetar o ambiente, deve ter sarna e pulga para todos os lados!

- Porque você me trata assim, eu te amo, Clark!

Kal-El a segurou pelo pescoço e ergueu. Lana sentiu-se sendo sufocada.

- Eu não te mato porque alguma utilidade você ainda tem. Pouca, mas tem. Um homem tem suas necessidades e você serve para me aliviar. Só que não abusa, porque para torcer esse seu pescoço não me custa nada! É o meu último aviso: se mencionar esse nome novamente, vai dormir debaixo de sete palmos de terra!

Kal-El soltou Lana, que caiu no chão, machucando o braço. Ela começou a chorar e teve vontade de ir embora, mas sabia que se conseguisse ser a preferida do ditador, poderia fazer o que quisesse e teria todas as regalias. Iria se policiar e não mais mencionar o passado.

-x-

O chefe da guarda se aproximou de Kal-El.

- Meu soberano. – ele fez uma breve referência. – Senhor, mais dois rebeldes foram capturados. E o novo Campo Humano está quase pronto. Logo poderemos enviar um maior numero dessa sub raça para os campos e de lá eles não mais sairão. – garantiu, maldoso.

- Melhor assim. Cada um que se rebelar contra mim terá a punição merecida. Quero que sirvam de exemplo.

- Será assim, senhor.

- E o espião? Entrou em contato?

- Não, senhor. Já faz duas semanas. Há uma grande possibilidade dos rebeldes terem desconfiado e o desmascarado.

- Se for verdade, ele não está mais vivo... – murmurou Kal-El, pensativo. Deu de ombros, indiferente. – Que seja. Descobrir onde aqueles ratos da Resistência se escondem é uma prioridade.

- Sim senhor. Eles serão encontrados, trazidos e julgados pelo senhor. Eu garanto.

- Então se apresse. Vá! Vai ficar me olhando para sempre?!

- Não senhor! – o guarda se atrapalhou. – Com licença, senhor! – o guarda saiu apressado.

Kal-El meneou a cabeça.

- Incompetentes. Não sei por que ainda aturo isso.

- Porque você precisa de quem te bajule e faça o trabalho mais chato. – Máxima entrou no salão onde Kal-El estava. – Ontem você não me procurou, imagino que deveria estar com alguma das suas piranhas.

- Acertou. – ele confirmou, sem humor. – E você, já satisfez todos os meus soldados? – ele ironizou.

Máxima deu um tapa no rosto de Kal-El, que não sentiu dor. Máxima ajeitou a roupa.

- Com certeza eles seriam mais divertidos do que você. Está certo que no começo, quando a gente casou, você era como um animal na cama, uma coisa que me tirava o fôlego. Depois passou o entusiasmo e você voltou a dormir com as suas vagabundas. E não faz a menor questão de ser discreto, não respeita os nossos votos.

- Não seja cínica, Máxima. – ele foi para o escritório e começou a mexer nos papéis. Máxima o seguiu. – Você está bem longe de ser a pobre esposa traída e sofredora. Ou pensa que eu não sei que você transou com o antigo chefe da guarda bem no dia do nosso tão festejado casamento? – ele disse, sarcástico.

- Não é só você que pode comer o que bem deseja. Direitos iguais, querido. – ela colocou as mãos na cintura.

- É, só que eu estou cansado. Eu me casei com você, porque achava que a rainha de Almerac poderia me dar um herdeiro poderoso capaz de fazer todos se curvarem diante dele. Não foi isso que aconteceu. Dois anos já.

- E por isso você está se esforçando para ver se engravida a metade da população feminina da Terra? Porque dado o monte de piranha que circula pela sua cama, é só o que posso pensar.

- Você acha mesmo que eu misturaria o meu sangue com o de uma humana qualquer? – ele se sentou. – Eu sou de uma raça superior, que estão destinados a dominar os outros povos. Foi isso que fiz com a Terra, com Almerac e farei com todos os outros planetas. – ele garantiu e Máxima trincou os dentes ao ouvir falar de seu planeta natal. – Eu terei um legado e a sua função é muito simples: me dar um herdeiro. Mas é obvio que você não possui essa capacidade. Portanto, pode se considerar solteira. Esse casamento acabou.

- Não pode fazer isso comigo, Kal-El! – ela protestou.

- Tanto posso como vou. – ele disse, tranquilo.

- Eu sou sua esposa! – ela deu um soco na mesa, indignada.

- Você é uma inútil! Eu só queria um herdeiro e nem isso você foi capaz de me dar! O meu sucessor! O próximo dominador de mundos! Cansei! Você vai embora daqui! – sentenciou.

- Kal... – ela fez uma voz doce e sentou no colo dele. – Deixa esses papéis e vamos para cama. Já tivemos momentos tão maravilhosos juntos... E eu sei que um filho nosso será invencível.

Máxima beijou Kal, disposta a seduzi-lo. A possibilidade de perder seu cargo de rainha e nº1 do ditador a apavorava. Não queria ser só mais uma. Seus privilégios vinham de sua união com o kryptoniano. A relação dos dois era puramente comercial. Um jogo de interesses mas o fato era que não conseguia engravidar. Tentara sem sucesso, porém o herdeiro prometido não vinha. Sabia que a única coisa que impedia Kal-El de explorar Almerac até a última gota e depois destruí-lo era a possibilidade de seu herdeiro um dia vir a surgir.

- Meu querido, hoje nós faremos o nosso herdeiro. – ela prometeu e tirou o vestido, ficando nua diante dele.

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Kal voou até Smallville. A fazenda não mais existia, era apenas um espaço com campo aberto e infértil. Jonathan ficaria triste se visse tamanha desolação. Kal pousou no cemitério local. Era noite e ninguém apareceria por ali. Já se tornara um hábito, um ritual. Aproximou-se do mausoléu. Ele mesmo mandara erguer em homenagem aos seus pais, as únicas duas pessoas que ele amara verdadeiramente na vida e que perdera. Quando Zod invadiu a Terra, seus pais foram uma das vítimas porque Zod queria destruir o Último Filho de Krypton. E conseguira. Destruíra sua alma. A partir dali, sua compaixão terminara. Não iria aturar que ninguém mais o desafiasse. Ele seria implacável, mesmo contra a vontade até de Jor-El. A Fortaleza da Solidão no Ártico silenciara quando Kal-El passou a ser um ditador impiedoso.

Kal deu um suspiro puxado e tocou nos nomes de Jonathan e Martha entalhados no mármore branco. Gostaria de poder voltar o tempo e impedir a tragédia, mas nem mais o anel da Legião ele possuía. Zod o destruíra para que não houvesse qualquer chance de Kal-El ter sua antiga vida de volta. De ser Clark Kent.

Kal fechou os olhos e uma lágrima furtiva escapou. Fora enterrado ali junto com os pais e nada o traria de volta. Enxugou a lágrima com a mão e saiu voando.