Baseado em Fatos Reais!

Esta história é baseada na vida da gueixa Harumo (1097 - 1127), da época Heian Japonesa (794 - 1192). Contos Japoneses: O segredo de Harumo.

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Ai no Kiso Koigatari - Contos de um Amor Proibido

Prólogo

Tudo tem um começo... Inclusive as mais belas histórias de uma vida. Esta aqui contada relata não mais que o verdadeiro amor... O pecado de dois corações puros invadidos pelo sentimento fulminante do desejo que por seu tamanho e intensidade iriam contra todo e qualquer tabu, mesmo que este fosse grande demais que os faria nunca ter paz novamente...

Ano 1107...

Uma bela garota de longas tranças negras brincava com a água do rio próxima a uma ponte. Esta mesma menina devia ter em torno de dez a doze anos, pois os pequenos seios começavam a dar sinais de existência no simples Yukata.

Um rapaz ao longe observava a garota com os olhos fixos a cada movimento dado por ela. Estava admirando o modo como ela sorria, a graciosidade de seus passos e o som de sua voz. Aos dezesseis anos já convivia com as mais belas mulheres, sendo nobres ou não. Mas aquela menina... Havia algo nela... Algo que o prendia... O fascinava.

Num de seus pulos sobre a margem a garota perdeu um de seus getas, pois a correnteza tratara de o levar para longe de sua dona. Ela emburrou sua face demonstrando sua chateação, observando-o ir para cada vez mais distante de seu alcance.

Por indefinido tempo, a menina ficou imóvel observando o movimento das águas... De maneira vagarosa começou a entrar no rio, levantando discretamente o seu Yukata. O rapaz assustou-se com o inesperado gesto dela e correu ao seu encalço. Segurou fortemente seu braço a puxando para ele a impedindo de fazer aquela loucura.

- O que pensa que estava fazendo menina tola! Não vê a correnteza? Você provavelmente seria levada!

- Esta doendo! Solte já o meu braço!

Ele o soltou demonstrando sua contrariação. Ela rapidamente afastou-se dele segurando seu braço dormente e o olhando de forma temível. Aquela expressão de medo e ódio em suas orbes castanhas não combinava em nada com seu rosto angelical.

- Como se chama, menina tola?

- Não me chame assim!

- Então me fale logo seu nome... Menina tola. - Ele sorriu. Achava estranhamente divertido atiçá-la, já que seu gênio difícil fazia aquilo se tornar cada vez mais interessante.

- Kagome!

- Kagome? Um belo nome para uma menina tola.

Já em seu auge, ela não mais agüentou e acabou o empurrando. Ele, por um mero reflexo, segurou sua mão e a levou consigo, caindo, assim, os dois no chão. Apesar dele ter amortecido sua queda, Kagome começou a esmurrá-lo batendo com toda a força que seu pequeno corpo possuía. Aparentemente não era o bastante para causar-lhe algum efeito.

Ele segurou seus braços e trocou de posições com o intuito de fazê-la parar e assim tentar acalmá-la de algum modo. Vendo que não tinha sequer uma chance de vencê-lo, ela desistiu. Seu espírito indômito a mandou continuar com aquela luta, mesmo em clara desvantagem... Mas resolveu ignorar aquele comando, já que o protesto de cansaço vindo de sua parte física se fez maior do que todo o seu orgulho.

O misterioso rapaz sorriu ao vê-la se entregar. Observou sua face corada e a respiração acelerada devido ao esforço utilizado pela pequena. Era uma visão embriagante para seus olhos. Por mais que em seu íntimo algo o gritava dizendo que aquele ser divino era apenas uma criança, seu corpo não escutava. Perdeu o parco controle que ainda mantinha dentro de si e deixou-se levar pela situação, passando suas mãos num carinho suave pelas tentadoras bochechas avermelhadas.

Kagome sentiu um calor delicioso percorrer cada fibra de seu ser, principalmente quando sentiu as mãos dele acarinharem seu rosto de maneira inocente, porém ao mesmo tempo estranhamente sensual.

- E você... Como se chama?

- Quer saber meu nome menina tola? - Sua expressão mudara, agora o mesmo sorriso que ela tanto odiava estava estampado em seu rosto.

- Já disse que tenho nome! - Vociferou, desvencilhando-se de seus braços. Voltou à razão e recriminou-se por dentro por ter se deixado levar tão facilmente.

Ele levantou-se sem pressa retirando as pequenas folhas e gramíneas que grudaram em sua roupa. Sorriu para ela de maneira pretensiosa, enquanto agachava-se para igualar suas alturas.

- Quando crescer Kagome... Você será minha noiva. Até lá trate de ser uma boa menina. Estamos entendidos?

- Jamais afirmei que queria ser sua noiva... - Disse fazendo uma expressão desdenhosa.

Ele passou seu dedo indicador contornando suas feições. Queria gravar em sua memória a beleza daquela pequena naquele estágio em que estava para depois, futuramente, ter para si aquela mesma beleza, porém madura e pronta para ele.

Deixando-se levar por aquele estranho sentimento o rapaz a puxou e deflorou seus lábios sem permissão. Um beijo forte e decidido. Ela relutou debatendo-se contra seu peito. Ele segurou suas mãos e aprofundou o beijo acariciando sua boca com a língua, por fim beijou-lhe o pescoço e a soltou logo em seguida.

Kagome não conseguia se mover, seu corpo não a obedecia mais, sentia-se fraca e dependente. Nem mesmo seu orgulho que tanto a recriminava havia se pronunciado depois daquilo. Mesmo assim sentiu ódio em seu coração. Aquele homem deflorara sua boca... Seu primeiro beijo... Ele havia tirado dela.

- Seu... Seu... Monstro! Nunca mais ouse se aproximar de mim!

- Tem certeza disso Kagome? Tem certeza que não gostou?

- Eu... Eu... Mas é claro que não! Eu jamais haveria de gostar vindo de um ser tão desprezível como você!

Ele a olhou sério, mudando sua face travessa de antes. Estava óbvio que suas palavras o atingiram profundamente. De certo modo, mesmo com sua inexperiência, Kagome havia percebido isso. Por um momento sentiu-se culpada, mas logo sua memória tratou de lembrá-la do que havia acontecido há instantes atrás.

- Kagome... Eu realmente a quero... Não agora, és muito jovem, mas eu a quero.

Sentiu-se emudecer. Não pelo que ele havia dito, mas pelo seu olhar. Entristecido, intenso, preocupado... Ele era mesmo muito bonito, naquele momento ela reparava em suas feições. Antes a raiva nublava-lhe a visão, agora, porém, o via plenamente... Belo... Como um príncipe.

- E então Kagome? Prometo que serei um bom marido e não irei mais lhe forçar a nada.

Ela avaliou por instantes, colocando sua mão sobre o queixo demonstrando que estava ponderando sobre o assunto. Por vezes parecia até uma adulta, mesmo que sua aparência comprovasse exatamente o contrário.

- Não me chamará mais de "menina tola"?

Ele riu.

- Não, não a chamarei mais de "menina tola".

- Então não vejo porque de não aceitar sua proposta...

Ele sorriu de maneira doce, transformando a tensão que sua expressão demonstrava, para o claro alívio que o invadiu. Aproximou-se dela e beijou-lhe a face. Conseguiu ver, mesmo que por meros instantes, a sua surpresa quando assim o fez. Ela, por sua vez sentiu-se incrivelmente bem com aquele gesto tão meigo.

- É uma promessa. Você é minha agora Kagome...

Continua...

Yukata: Kimono de verão. Também pode ser usado como robe.

Geta: Tamancos de madeira com duas tiras.