A manhã foi de puro nervosismo: mãos suando, coração palpitando; precisava estar perfeita para o casamento e chegar antes da maioria dos convidados. Com seu smoking impecável se dirigiu para a floresta onde a cerimonia e festa aconteceriam.
Tudo corria como planejado e logo os convidados começaram a chegar. Metade da cidade deveria estar presente, todos sorrindo e empolgados; a outra metade da cidade provavelmente estava grudada em Snow White morrendo de inveja e ódio. No entanto, nada disso importava naquele dia, somente a felicidade da noiva.
E como ela estava feliz, e linda de tirar o fôlego. Seus cabelos negros soltos com uma coroa de flores brancas no topo, seu vestido simples tomara que caia marcava bem as curvas e dava destaque a sua pele bronzeada, o contorno preto destacando seus olhos castanhos praticamente caramelo, as bochechas rosadas e os lábios destacados com um gloss nude. Era a imagem da perfeição.
Os votos foram ditos em meio as lágrimas, tanto do casal quanto dos convidados. De longe podia-se ver e sentir todo amor e carinho colocado no beijo que selou a união de dois amores inesquecíveis. Os aplausos e gritos ecoavam pela floresta, a alegria irradiava por todos os cantos e sorrisos não eram negados a ninguém.
Logo o choro deu lugar ao riso, a música, a dança e divertimento. Os músicos tocavam canções dos velhos tempos que animavam o casamento de camponeses e vilarejos inteiros. Os mais adultos ensinavam os pequenos os passos de dança e dividiam as histórias do passado.
Emma mal conseguia tirar os olhos da morena que sorria e rodopiava no meio da roda de dançarinos. Seu sorriso ofuscava o próprio sol de tanta felicidade, os pés descalços pisoteando a grama em passos certeiros e graciosos, a todo instante um dos convidados adentrava a roda para dançar com ela por alguns minutos. Se não soubesse que magia existe, aquele momento com certeza lhe faria acreditar.
Em certos momentos o tempo parecia não passar, em outros passava rápido demais. O papel em seu bolso pesava e lhe fazia lembrar que a vida deveria ser aproveitada ao máximo e o amor, sentido por todos, sem exceção.
O dia foi passando, a festa se prolongando e ao que parecia, sem hora para terminar. Olhou para o relógio em seu pulso direito, quase 17h, foi até o bar e preparou uma dose de whisky, pegou o copo e adentrou a floresta de maneira despercebida.
Os minutos passaram, o sol agora se pondo e pintando o céu de cores vivas e vibrantes. Foi tirada de seus pensamentos pelo barulho de galhos e folhas secas sendo pisados.
"Emma! O que faz aqui sozinha?" Fechou os olhos e se deleitou com aquela voz tão familiar e acalentadora.
"Vim apenas arejar, mas parece que me perdi em pensamentos e memórias." Não se virou, continuou apenas olhando a paisagem.
"Estou te procurando já faz tempo, mas ninguém parecia ter visto onde você tinha ido." Olhou para o relógio, os minutos na verdade tinham se tornado em hora. Suspirou.
"Me perdoe, não foi minha intenção." Tomou o último gole da bebida ao senti-la se aproximar.
"Eu sei que não." Parou ao seu lado, também admirando a paisagem. "Vamos voltar, você ainda me deve uma ou duas danças." Sorriu puxando-a pela mão. Mas esta escapou das suas quando a loira não se moveu um centímetro sequer. "Emma? O que foi?" Notou o olhar distante da loira.
"Lembra-se de quando cheguei na cidade? Eu conseguia sentir seu ódio por mim do meu quarto no B&B." Sorriu com a lembrança nostálgica.
"Como eu poderia esquecer? Tudo o que eu pensava era em como e quando você roubaria Henry e fugiria para Boston ou New York." Observava como as cores ficavam mais vivas conforme o sol se escondia.
"E pensar que essa nunca foi minha intenção. Em um ano que fiquei aqui antes da maldição quebrar só consegui convencê-la disso depois de seis meses." Riu puxando a morena para um abraço lateral.
"Estou feliz que me convenceu. Não sei o que faria sem você ao meu lado." Encostou a cabeça no ombro da loira.
Emma respirou fundo algumas vezes, o perfume da morena invadindo seus sentidos e lhe acalmando instintivamente.
"Regina?" Chamou baixinho, um simples sussurro.
"Hm?"
"Lembra-se do dia que ficou bêbada?" Colocou as mãos no bolso para esconder os tremores. Por qual razão estava falando? Não era esse o plano.
"Como poderia esquecer? Foi a primeira e última vez, acordar de ressaca e não me lembrar da metade das coisas que fiz foi terrível. Mas por que pergunta?"
"Bom, eu menti quando disse que nada aconteceu." Coçou a nuca, desajeitada. "Agora que comecei a falar é melhor dizer tudo de uma vez." Soltou o ar dos pulmões pesadamente.
Se desvencilhou do abraço e caminhou em passos curtos em frente a morena, resmungando palavras de encorajamento para si mesma. Parou à dois passos de distância, passou a mão pelos longos cabelos loiros e inspirou a maior quantidade de ar possível.
"Depois de toda a loucura daquela semana, entre Snow tentando matar sua mãe, Rumple morrendo e voltando dos mortos, a extensa conversa entre você e Cora, achei que merecia beber e relaxar se quisesse. Enquanto estávamos deitadas no cobertor no quintal você disse que estava com frio e praticamente se jogou em cima de mim, não tive nem tempo de reagir e quando me dei conta você estava me beijando." Sentiu suas bochechas esquentarem, não conseguia lhe olhar nos olhos.
"Eu... O-O que..." Não só estava sem palavras como também foi interrompida com o simples toque de um dedo em seus lábios.
"Eu te levei para cama depois disso. Eu passei a noite em claro Regina, toda vez que eu fechava os olhos lembrava do beijo e me perguntava se deveria te contar pela manhã, se foi só uma consequência por estar bêbada ou talvez algo mais, quais seriam as consequências, o que significava para mim e essas perguntas consumiram minha mente.
"Quando levantei para preparar o café da manhã estava determinada a contar tudo, fiquei tão perdida pensando como abordaria o assunto que não notei as batidas na porta ou você a abrindo. Fiquei tão assustada quando ouvi o barulho de vaso quebrando que corri para a entrada." As memórias eram tão vividas em sua mente. "Não tive reação alguma quando vi você se jogar nos braços do homem à porta repetindo várias vezes seu nome: Daniel." Respirou fundo uma vez mais, lágrimas começando a se juntar em suas pálpebras. "Foi naquele momento que minha determinação sumiu, minha mente repassando o beijo, mas dessa vez uma luz tinha se acendido e a ficha caiu. As emoções antes obscurecidas pelo pânico se revelaram; eu podia sentir seus lábios de volta nos meus, a pressão e a maciez, como se moldavam aos meus e arrepiava todos os pelos em meu corpo." Trocou o indicador pelo polegar, segurando em seu queixo e acariciando os mesmos lábios que consumiram seus sonhos por dois anos. "Vocês dois estavam tão consumidos pela surpresa que nem me notaram observando tudo da entrada da cozinha, tinha tanto amor e saudade no modo como se olhavam que tive a maior realização a minha vida." Parou por alguns segundos, seu coração palpitando e algumas lágrimas escorrendo por seu rosto.
"O que Emma? Diga, por favor." Regina tinha certeza que sabia o rumo dessa conversa, no entanto, não conseguia acreditar ou assimilar. Tudo estava uma confusão dentro de si, seus pensamentos, sentimentos, mal conseguia reagir ou respirar.
"Naquele momento eu percebi que amava e amaria eternamente uma mulher cujo coração já pertencia a outro." O choro apesar de silencioso era notável pelas bochechas continuamente sendo banhadas e o esforço para manter a voz firme.
"Emma..."
"Não Regina, por favor, não fale nada." Foi interrompida pelo alerta do celular. Tirou do bolso e abriu a mensagem.
Chegada do táxi em 20 minutos.
"Táxi? Para que táxi Emma? O que está acontecendo?" Os sentimentos confusos deram lugar a exasperação.
Guardou o celular no bolso e segurou com as duas mãos ao rosto da morena, polegares acariciando bochechas igualmente molhadas e vermelhas. "Não era minha intenção te dizer nada disso Regina, não era minha intenção estragar o dia mais importante da sua vida e deixar essa bomba em suas mãos. Você estava sorrindo radiante naquele altar casando com o grande amor da sua vida e eu estraguei tudo e manchei esse dia lindo e que deveria ser apenas seu. Porém, sou covarde e fraca. Não consigo ser forte por você Regina." Abraçou-a forte.
"O que isso quer dizer Emma? Por favor diga que não é o que estou pensando." Não se incomodou em esconder o desespero em sua voz.
"Quero que você seja feliz Regina, que viva a vida que foi privada por tanto tempo, que Daniel faça de tudo para manter este sorriso lindo em seu rosto... Pois eu estou partindo." Confessou em um último ato de coragem.
"Não!" Quase gritou, mas sua voz mal passava pelo nó em sua garganta.
"Sim." Afastou o rosto para olhar uma última vez os olhos chocolates que roubaram seu folego diariamente. "Estou partindo e pode ser que eu volte logo, que demore ou talvez não volte jamais. No momento não consigo mais ignorar a dor de saber que você nunca será minha, que seus lábios nunca mais encontraram os meus por mais feliz que eu esteja pela sua felicidade." Olhou rapidamente a hora em seu relógio de pulso e suspirou. "É hora de ir."
"Não Emma! Por favor não. Não me deixe, não vou aguentar te perder." Seu choro era compulsivo e alto, não se incomodaria em esconder se isso ajudasse a fazer a loira mudar de ideia. "Você é minha melhor amiga, o que farei sem você?"
"Daniel está aqui agora, será seu melhor amigo e companheiro. Seja feliz Regina." Beijou o canto de seus lábios, secou algumas lágrimas com os polegares, sorriu e desapareceu como poeira, deixando para trás apenas as partículas magicas brilhando nos últimos raios de sol e o aroma suave de canela.
Regina foi ao chão em questão de segundos, seu choro intensificando em meio a sussurros do nome da loira. O coração doía como nunca antes, parecia que ia explodir do peito e deixar apenas um buraco no lugar, um vazio obscuro que não poderia ser preenchido por nada nem ninguém. Braços fortes lhe puxaram para um colo e por um momento pensou ser a salvadora de volta. Entretanto, a voz de Ruby tentando acalmá-la só piorou a situação e logo seu corpo tremia e chacoalhava com os soluços.
"Ela não podia ficar Regi, vê-la tão feliz nos braços de Daniel matava-a um pouquinho mais a cada dia e eu temo o que teria acontecido se ela tivesse ficado. Por mais que ela escondia de você como tudo a afetava, tentando não te preocupar ou atrapalhar sua felicidade, eu vi os cacos que o coração dela estava. Não pense que ela queria ver vocês separados, jamais, ela só aguentou por tanto tempo justamente por ficar feliz cada vez que via você feliz, não importava quem te trazia tal felicidade." Aquelas palavras fizeram a morena se levantar abruptamente com determinação em seus olhos. Um segundo depois e tinha sumido em sua famosa fumaça púrpura.
Emma fechou o porta-malas que agora guardava seu mochilão. O motorista ainda estava confuso e apreensivo em pegar um passageiro no meio do nada, mas o dinheiro valia a pena. Abriu a porta e parou para dar uma última olhada para a placa "Bem-vindo a StoryBrooke". A fumaça púrpura sumiu tão rápido quanto veio, deixando uma bela morena em seu lugar, mesmo com o vestido sujo de terra e a maquiagem borrada. Com um sorriso triste levou a mão até o coração e fechou em um punho por cima da roupa, estendeu a mão em direção a prefeita e abriu em um gesto de entrega dizendo em um sussurro "Eu te amo, minha rainha." Para logo entrar no carro, o choro voltando com força, dando tempo apenas de soluçar um "Vamos!" Para o motorista que permanecia ignorante aos acontecimentos do lado de fora de seu carro e os motivos para uma loira tão linda carregar tanta tristeza em seus olhos. Ignorante ao último adeus. E ambos ignorantes a morena parada no limite da cidade com a mão estendida tentando alcançar o que lhe foi dado.
