Naruto não me pertence.

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Só de quatro em quatro anos nós podemos passar por um 29 de fevereiro, e eu sempre gostei de deixar algo marcado em algum lugar, preferencialmente por escrito, quando aparece alguma data curiosa. Sei, esse tipo de motivo é muito besta, mas é por isso que esta fanfic está hoje aqui.

A música que aparecerá mais adiante neste capítulo é esta aqui: http:/ www. / watch?v= 0iP5GPPVIU4&. O vídeo também conta com a letra dela traduzida em espanhol.

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B. Lilac, você já sabe! Pronta para desatar o laço e abrir o presente?


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- Apple Lady -


Parte 1

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A aranha, tão pequenina e frágil, apareceu descendo seu fio de teia enquanto Ino ajeitava o colar. A visão focalizou toda no animalzinho. Sem dó, passou a mão por aquela linha quase invisível de tão fina e meneou a cabeça meio como se estivesse pedindo desculpas ao espelho.

Não que Ino estivesse com pressa, essa era a última coisa que ela podia sentir naquele momento. Porém, insegurança havia de sobra. Mal havia galgado uma das posições mais nobres da Grande Casa e já recebia uma missão daquelas. Dava até a impressão de que os mais velhos estavam tentando, de alguma forma, se livrar dela por não ser bem o tipo de pessoa que eles esperavam ser a primeira, da última geração, a assumir um alto posto. A jovem resolveu sorrir. Ora essa, ela era a único ser capaz de fazer com que a lua se torne mais brilhante do que o sol apenas com um pedido, porque então não poderia convencer um colega a voltar para onde jamais deveria ter saído?

Mesmo que ele ainda fosse o carinha que não arredava fácil, como na época de seus 5, 6 anos, bastaria um pouco de tática e paciência.

- Quer que eu mande alguns dos nossos homens para lá?

- Huh? – Só agora reparara no súdito escorado à porta, os braços cruzados – Não, não, Sai. Três é o suficiente, e só para abrir o tapete vermelho para mim, certo?

- Humm... Não quer que eu já junto? Sabe como é, caso o nosso desertor comece a sentir sintomas como palpitação, palidez, um pouco de histeria e enrijecimento dos músculos ejaculatórios. – Reforçou o sorriso de plástico assim que recebeu uma expressão nada feliz da chefe – Ora, não fique assim, preciosa. Vou avisar o pessoal.

- Você fica aqui! – "Antes que eu torça sua língua!" Ino deu um peteleco no pingente da jóia: Uma maçã prateada. Em seguida, virou-se, pronta para sair – A Rainha mandou encomendar um quadro para amanhã, já sabe disso, não sabe?

- Guardei minha madrugada para ele.

Ino suspirou. Bom, nada de repetir nada do que dissera. Nada disso, entendeu? Nem se ele resolver pôr no seu ombro aquela mão pálida e cheia de segundas intenções – apesar da quietude indicar apenas um gesto de amizade - na hora em que você fosse cruzar a porta. Se já era para pôr à prova sua capacidade de se impor, aquele então era o momento de treinar.

- Aliás, parabéns pela promoção. Me desculpe por não ter te cumprimentado antes.

- Já está perdoado. – Ela falou enquanto repelia delicada mas firmemente aquela mão.

- Vou estar te esperando – Mas ele chegou um pouco mais perto – que nem uma pobre dama adolescente.

Os dois deram uma risadinha como quem não leva a sério o outro. Se bem que, quanto à Ino, isso era verdade. Pobre Sai, vítima das malditas ambições que se agarram a objetivos inalcançáveis. As mesmas que o faziam manter o sorriso enquanto o longo e esvoaçante quimono preto com detalhes laranja e rosa quentes dela não desaparecesse no corredor.

A jovem seguiu séria até chegar na gloriosa varanda que, literalmente, assinalava a fronteira entre o mundo dos senhores do universo e as milhares de árvores, casinhas, ruas e lagoas que dominavam o panorama ao pé da montanha. Uma vista bastante agradável, para falar a verdade. Dava mesmo vontade de descer para ver se havia mais algum tesouro escondido naquela imensidão plácida. Súbito, Ino se viu pensando na capacidade dos humanos de fazerem coisas maravilhosas de vez em quando. Quem os criou com certeza sabia o que estava fazendo.

Porém, a verdade é que, por mais que eles se esforcem, ainda não existe um lugar melhor do que o topo de monte. E nem uma vida melhor do que a que Ino e seus colegas privilegiados tinham.

"Agora só falta você se convencer disso, Shikamaru.". E a figura da moça se desfez no ar.

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Yasashii kaze ga nagarete kimashita...

Porém, o rapaz que acabava de pôr a água para ferver já estava convencido. Só que mesmo os melhores lugares têm suas facetas tediosas, irritantes e, às vezes, até macabras. Aliás, uma destas últimas esteve muito bem encarnada na mocinha que estava acolá na poltrona, cantarolando e com uma das mãos sobre o delicado fone de ouvido. Sakura teve o coração levado embora justo por um dos que viviam naquele lugar e que estava tão solto pelo mundo quanto o próprio Shikamaru. Mas já estava recuperada, aparentemente.

E o, entre o que se mandou por querer mais poder através dos mortais e o que queria só ter uma vida tranquila, o pessoal resolve ir atrás de quem, no fim das contas?...

Atatakana ano ie mo natsukashii hito-tachi mo...

- Cheguei!... Oba, música!

E acabava de entrar pela porta dos fundos (?) o maior responsável pela recuperação daquela garota: Apenas um moço apaixonado que, desde o início da crise, resolveu se empenhar ao máximo para trazê-la de volta à alegria, e tudo isso sem se deixar amargurar também.

- Pô, Naruto! Assim você estraga tudo! – A voz baixíssima que saía dos fones era quase idêntica a de Sakura. De fato, um dueto com o rapazinho não seria uma boa ideia.

Watashi no watashi no shiawase mitsuke ni!...

Principalmente nesse verso*.

- Ô, problemático! Você trouxe aquilo? – Shikamaru perguntou mais para acabar com aquele espetáculo patético. Já sabia o que o outro iria responder.

- Bah, não me amole! – Um baque leve sobre a mesa – Olha aqui, dattebayo!

A sacolinha das folhas para chá estava bem à frente. Rodeada pelas de enlatados de sempre, claro.

- Você bem que podia nos apresentar esse povo que gosta tanto de te visitar, Shikamaru. Tô precisando de mais amigos...

- É só gente chata, Naruto. – "Você nem imagina o quanto..." – Não acha que eu e a Sakura já somos o suficiente?

- Putz, isso de novo? – Sakura havia deixado o radiozinho só (e ainda tocando) para gastar seu tempo em fazer caretas ao olhar as latas de tudo quanto era coisa. Shikamaru não deu nem cinco segundos para ela se virar com aquele olhar assustador – Quando é que vocês vão colocar na cabeça que nós precisamos IMEDIATAMENTE de coisas FRESCAS?

- S-Sakura-chan... É o hábito, 'ttebayo.

- VOCÊS DEVIAM TER APRENDIDO A COZINHAR!... Huh? – A garota parou com a bronca e correu para a sala quando reparou no silêncio. E lá vai de novo aquela música.

Um pouco de fumaça já saia pelo bico da chaleira. Sakura tinha razão de reclamar: Dos três, ela era a única que sabia manejar decentemente o fogão, as panelas, aquelas coisas coloridas que tem que misturar para depois ferver ou assar... Naruto só virava um mestre-cuca se o que tivessem em mãos fosse um pacote de rámen instantâneo. E, Shikamaru... bem...

O rapaz passou uma das mãos pela nuca. Que droga. A linha de raciocínio, e mais a cara enfezada da garota, e mais o fato de a música ter chegado à parte da "velha gente familiar" acabaram tirando de baixo do tapete aquele sentimento problemático de novo. Podia até soar egoísta de sua parte, mas Shikamaru não podia ficar remoendo aquilo, ou o topo do monte logo usaria isso com trunfo. Era o preço a ser pago, infelizmente, mas a culpa era deles se as coisas tiveram que ser resolvidas na base do "é pegar ou largar".

Visitas ao velho lar também estavam fora de questão. Se o fizesse, só voltaria para os mortais apenas para pegar suas coisas e deixar seu mundinho de paz para trás. Um vez, uma colega da Sakura, e que vinha vê-la muito durante a fase da depressão, lhe disse que ele tinha um "coração de manteiga". Shikamaru não concordava de todo, mas sabia que seu principal ponto fraco estava justamente aí. Por isso uma pessoa tão inteligente podia, fácil e simplesmente, virar uma arma muito útil no mundo cheio de intrigas e desavenças que era aquele complexo de palácios lá em cima. Todo mundo tinha sua função no topo do monte, e, enfim, a dos Nara era... Tsc!

De qualquer forma, era algo com o qual Shikamaru não queria mesmo perder tempo. Nem que, para isso, tivesse que se conformar em nunca mais ter um serviçal sequer na vida...

- Está rindo de quê? – Naruto perguntou.

- Nada. – "Só um pouco de saudade... Apesar de tudo."

- Então me ajuda a abrir isto aqui?

Claro. Naruto não sabia sequer usar o abre-latas. Que se inicie então a rodada de seleção e uso dos ingredientes mais oportunos. E esqueça. De uma vez. Os serviçais. Você já devia ter esquecido, você já teve tempo o suficiente para tanto.

Agora sim, parecia que a água já estava pronta. Shikamaru apenas mudou a chaleira de lugar para que Naruto pudesse acomodar alí a frigideira. Depois do almoço, provavelmente, o loiro iria todo animado levar Sakura para passear, ver a cidade e as poucas – mas valiosas e fiéis – amizades de ambos. Sempre foi assim nas quartas-feiras. O Nara puxou para si a sacola das folhas e começou a separar as melhores. Por que Naruto e Sakura ainda não namoravam afinal?

Também era certo que, sempre que o casal ia se divertir, alguém chegava para, em nome do topo do monte, iniciar mais uma rodada de persuasão. Rotinas. Porém, um dia, quem sabe aquele povo resolva se dar conta de que a única coisa que Shikamaru pode lhes dar é um chazinho básico.

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As roupas fluidas e macias escorregavam um pouco pelos galhos de um velho carvalho. Aqueles dois homens e mais 223 mortais, escolhidos a dedo, eram os únicos agraciados pela convivência direta com os poderosos, e eram todos eles pessoas muito determinadas a dar o melhor de si pelos seus senhores.

A dois quarteirões de distância deles, Ino assentou melhor no corpo um vestidinho branco cheio de detalhes azulados, só para em seguida tirá-lo e testar outra roupa. Estava espantada com a facilidade que era manusear e testar aquelas peças. Quem teve que passar a vida toda usando apenas quimonos sabia muito bem o quão complicado podia ser a tarefa de vestir-se. A maçãzinha do colar bateu na porcelana do vaso, tilintando. Isso fez Ino sorrir com uma ideia besta, mas que fazia todo o sentido: Havia uma história, da qual os mortais gostavam muito, em que uma rainha malvada se disfarça de vendedora para fazer a princesa comer uma maçã envenenada. A única diferença é que, desta vez, isso tinha que ser feito para o bem de todos.

Enfim, a jovem parou com o deslumbramento e, tendo uma vez escolhido o que vestir, ela terminou a sessão e saiu para se misturar às pessoas na rua. Ino até pensou em apressar o passo, mas não podia. Não com aquela sensação nova que lhe viera ao se ver entre bicicletas travessas, cachorros, conversas sobre amenidades, lanchonetes cheirosas e cerejeiras disfarçadas de árvores quaisquer.

- Ai!

- Desculpa! Foi mal! – Foi apenas um rapazinho de uns 12 anos que corria com um pacote de pães.

Ver as pessoas passando sem suspeitar quem ela era também tinha um lado muito, muito doce. Apesar da vontade – que ela reprimiu rápido – de gritar para o apressadinho e obrigá-lo a pedir perdão por ter ofendido uma legítima representante do topo do monte. Com o passo seguro, a jovem foi caminhando pelas ruas até um dos locais onde as casas pareciam terminar. Sabia que a toca do desertor era mais para a frente. Ele não podia mesmo negar o sangue, hehe, só assim para preferir morar em um lugar afastado.

Glomp!

"O quê?". Suando frio, Ino saltou longe. Que merda! Será que ele descobriu tudo? Ao contrário do que imaginava, a poça de sombra que acabara de surgir alí não se expandiu mais, pelo menos não para os lados. O que a jovem viu foi aquilo se converter em uma estranha coluna, cuspir fora dois de seus homens pela boca na parte de cima e, enfim, se dispersar e se misturar com as outras sombras ao redor.

- Senhora... Desculpe.

Ainda impressionada com a demonstração de força de seu alvo, Ino demorou a se virar para o súdito. Ele e o colega estavam com uma bela cara de quem achava que ia sofrer mais. Ele e o colega. Dois.

- O Kite ficou lá, não é? – Perguntou, a postura inconscientemente imponente. Os súditos apenas menearam a cabeça em concordância – Ah, então tudo bem. Estão dispensados, bom trabalho!

"Agora é que começa a parte mais difícil.". Ino deu de 10 a 15 minutos, considerando a distância de onde estava até a casa do alvo, para o terceiro homem volta. Seja a pé ou também pegando carona em uma sombra, embora o mais provável seja a primeira opção.

- O que foi? É sério, podem ir! – Ino insistiu sorrindo. Os caras ainda estavam no mesmo lugar, sem entender nadinha, coitados.

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Aquele sujeito esquisito desapareceu por entre as árvores.

- Shika, tem alguém aí, é? – Estranho. Sakura não costumava falar com a boca cheia.

- Não, foi só impressão. – "Ou melhor, um carinha problemático com um recado mais problemático ainda..."

Por segurança, Shikamaru passou a trava na porta antes de voltar para a mesa. Não acreditava que podia acontecer de o pessoal lá de cima mandasse os súditos perderem as estribeiras e irem com tudo, mas era perfeitamente possível que o próximo passo fosse invadir. Por um minuto, foi o que o rapaz pensara que o homem lá fora queria fazer.

Porém, tudo o que o outro fez foi dar uns dois passos para frente e avisar, com todas as letras, que...

- ...os meus senhores e todo o topo do monte decidiu respeitar a sua escolha de agora em diante. Porém, com a condição de que, neste ano, o senhor...

Definitivamente, isso cheirava mal, muito mal. Era uma armadilha, provavelmente até em três ou quatro camadas para convencer o ratinho de que o queijo lá dentro era muito gostoso. Suspirou antes de puxar sua cadeira e se refestelar nela. Finja que está tudo bem, você sabe fazer isso como poucos, certo? Seus companheiros de casa não podem, de jeito nenhum, suspeitar que há algo de errado.

Ao contrário do previsto, Sakura e Naruto não saíram. Os dois ficaram lavando a louça suja e depois subiram para mais uma sessão daquilo que Shikamaru costumava chamar ora de "sondagem" ora de "enrolação". Ou simplesmente já estavam tendo um relacionamento e decidiram esconder isso só porque moravam de favor. Tsc... Que besteira!

O objetivo do Nara agora seria passar o resto da tarde jogado nas almofadas da sala, isso se aquela maldita mensagem não insistisse em lhe assaltar a mente. Não havia como não deixar de pensar naquilo. Após fitar o ambiente em volta várias vezes por pura falta de calma, Shikamaru jogou a toalha e foi lá para cima falar com os amigos sobre a novidade. Já imaginava que os dois ficariam bastante animados. Principalmente a Sakura.

Mas foi complicado ouvir os dois conversando alegres após o rapaz já ter saído e encostado a porta do quarto. Ele reprimiu com força um "Mortais idiotas..." que tentou escorregar para sua garganta sem que ele se desse conta. Tinha que acabar de vez com esses resquícios de arrogância, agora pertencia a outro mundo. Do qual não sairia por nada. Nada mesmo.

Se bem que aquilo foi mais coisa de outros sentimentos agridoces. Que complicado...

Shikamaru resolveu ir para o quintal. Certificou-se de que as nuvens colaborariam desta vez e seguiu andando. Área verde e boa grama não faltavam, seria fácil escolher um cantinho tranquilo para relaxar e, se possível, esperar.

Optou por um pouco longe da casa, já fora dos limites da "cerca". O lado ruim de se refugiar no silêncio é que agora sim o jeito era dedicar alguma cota de atenção ao que iria acontecer, mesmo que não quisesse. No entanto, as coisas boas sempre se revelavam muito mais fortes. Tanto que, quando Shikamaru se deu conta, a posição do sol havia mudado. Muito.

Já era quase tardinha.

Um pressentimento estranho o forçou a se sentar mais rápido do que o normal. As nuvens ficaram um pouco densas e as sombras levemente apagadas, mas o tempo voltou rápido ao normal. E com uma sombra a mais por perto, tocando a do Nara.

Shikamaru não esperou alguém falar alguma coisa para, então, se virar e ver quem estava alí. O conjunto do que viu lembrou um pouco aquela musiquinha dos fones. Combinavam: Era a posição do sol, a trama rala dos pouquíssimos galhos a filtrar a luz e a garota loira no meio do disso tudo.

Era uma belíssima moça, e aparentemente também muito simpática. A mochila preta com amarelo neon destoava do ar sóbrio, mas leve e jovem, das roupas dela. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo, a fitinha preta e fina desenhando um laço simples mas perfeito. Se tivesse cachos, seria quase como as protagonistas daqueles mangás que a Sakura gostava de comprar em sebos. O sorriso da desconhecida foi trocado por um ar de quem não estava entendendo nada. Ué, ela esperava que ele fosse ficar efusivo e dizer "Bem vinda, moça bonita! Eu já estava te esperando!"?

- Então é você? – Shikamaru simplesmente perguntou.

- Sim, senhor. – Certo, era ela mesma, a reverência e o tratamento respeitoso já diziam tudo.

A súdita que eles disseram que mandariam...

- Me desculpe se fiz você ter que esperar eu acordar.

- Não, imagina! Cheguei aqui agora. – Enquanto isso, ele esticava os braços e ela começou a olhar para os lados – Lugar bonito, hein! E alí onde você mora?

- É. – "Tsc... Intransigente." – Com mais duas pessoas. E nem pense em me chamar de senhor na frente delas, tá? É que vai soar estranho.

- Tudo bem. – "Ufa, eu já não gosto disso mesmo, então pra mim tudo bem!"

- Qual é o seu nome?

A maçã refletindo um pouco a luz do sol. Mentir?

- Tanemura Ino. – Só um pouco mesmo, sem exageros.

- Servia a quem antes de vir pra cá?

- Aos seus pais! – Quase que Ino arrematou a frase com um "Quem mais poderia ser?". Era evidente que ele estava fazendo uma investigação sumária naquele momento, e isso a incomodou. Engoliu em seco ao se dar conta de que acabar de ser, digamos, enfática demais.

Não teve dúvidas do porquê a prova que a Rainha lhe dera para subir de posição fora algo para "treinar sua humildade". Com certeza, a ideia desde o início era mandá-la para essa missão.

- Acho que não precisa nem dizer meu nome, né? – Ele se levantou sem olhar para a moça – Vamos lá pra dentro, você vai gostar do pessoal.

- Eles também te obedecem?

- Não, são só meus amigos. Nada mais.

- ...

- Só mais uma coisa. Por favor, não vamos começar logo com os preparativos não, tá? Eles gostaram da ideia mas, você sabe, esse tipo de coisa é muito problemática...

- Não tem problema, senhor.

Ele apenas a olhou de soslaio e continuou andando. Bom, ela era realmente muito bonita, tinha que admitir. O tipo de mulher que faria os homens brigarem entre si para conquistar o coração dela. O tipo do qual ele mais queria manter distância... Ei, porque seus pensamentos tomaram esse rumo? Foco, cara, foco!

Shikamaru arrastou a porta e permitiu que ela entrasse primeiro. A moça ficou olhando ao redor como se nunca tivesse entrado em uma casa daquelas na vida, estranho. Caso de garota pobre que recebeu uma chance na vida graças à benevolência do topo do monte, decerto...

- Pode jogar a mochila no sofá, se quiser.

- Não, não precisa. Eu prefiro... – Pôr no seu quarto como se você ainda estivesse na condição de mandatária? Cuidado com o modo de falar. – Deixa pra lá.

Quando ela o olhou de volta, ele já estava se dirigindo para mais dentro da casa, embora ele tenha estacionado na altura da cristaleira e gritado pelos outros ocupantes do lugar. "Mas já!", Ino escutou alguém rebater.

- Ela resolveu chegar um dia antes e nem me disse nada. – Shikamaru acabava de se jogar em uma poltrona, os braços mergulhados no corpo, quando Naruto e Sakura chegaram.

- Uaaaaaaaau! Mas que... Ai! – Com o quê se assustar mais? Com o súbito desejo do loirinho ou com a força do soco da garota?

E ainda havia um terceiro detalhe: Os dois mortais que só faltavam ter a palavra escrita na testa e a figura de Shikamaru totalmente inserida naquele quadro como se ele fosse tal qual como eles. Nenhum traço de imponência, nada. Ele absorveu os maneirismos humanos tanto assim?

- Desculpa, esse baka aqui às vezes é assim mesmo! – A voz de Sakura quase a assustou – Eu sou a Sakura.

- Prazer. – Apertou a mão da moça. Não é assim que os mortais fazem? – Tanemura Ino.

- Nome bonito!

- E eu sou o Naruto!

- Prazer também. – "Só não surja mais assim de repente na frente dos outros. Quer me matar do coração, é?"

- Vocês não iam sair hoje? – Shikamaru perguntou como quem nada queria. Relaxou completamente a postura.

- Ah! – E, súbito, Sakura se virou para a Ino – É a primeira vez que você vem aqui, não é?

- Bom, é sim. – "E como é!" – Disseram que aqui era o melhor lugar para ver o Tsubasa cruzar o céu! – Ino colocou bastante empolgação na voz.

- E vai ser quando isso? – Foi Naruto quem perguntou – Eu não sabia de cometa nenhum.

- É porque você não acompanha o noticiário, idiota!

- E você muito menos.

- Ele vai passar daqui a exatos dois meses e 11 dias. – Melhor responder rápido e evitar uma cena que prometeria ser assustadora - Se quiserem, podem assistir ao show dele junto comigo quando chegar a hora.

"E é claro que vou querer a presença de vocês... De uma boa quantidade de gente, aliás!"

- Então, enquanto o tal Tsubasa não chega, que tal ir conhecer um pouco a cidade agora mesmo? – Sakura ofertou - Aqui é cheio de lugares legais, você vai gostar. Ah, e tem também um lugar onde nossos amigos costumam ir...

Ino arregalou um pouco os olhos, não esperava conseguir tanta informação assim tão cedo. Praças, parques, restaurantes... Simpatizou com a moça.

- Mas é claro que eu gostaria! – Desde que, já que era uma súdita agora...

A jovem olhou para Shikamaru, que parecia estar em qualquer lugar menos alí. Os outros dois logo reparam no gesto da visitante.

- Shikamaru, vem com a gente! – Naruto quase gritou.

Ele apenas olhou para os três, numa reclamação desanimada e muda. Voltou a ignorá-los em seguida.

- Você sabe desde quando esse seu amigo é assim tão antissocial, 'ttebayo? – A pergunta fez Ino soltar uma risadinha.

- Boa pergunta, mocinho. – "Acho que é algo que você nunca será capaz de compreender!" – Ei, e o que estamos esperando. Se aqui é um lugar tão bom quanto dizem...

- Só um minuto, Ino! Vamos alí acomodar suas coisas no meu quarto e aí a gente vai! – Sakura falou – E se quiser tomar um banho, trocar de roupa também, fique à vontade!

Shikamaru agradeceu mentalmente quando ouviu dois pares de passos ecoando e deixando a sala. Começou a pensar em que instruções mais deveria dar à Ino antes que ela fosse sair. Sair... Mais um tempinho de paz para ele se acostumar com a situação e conjecturar sobre o que o topo do monte estava aprontando desta vez. Se haviam mesmo decidido não incomodá-lo mais, o normal seria se alguém de lá, ao menos uma pessoa próxima, viesse lhe dar a notícia. Mas mandar uma súdita?

No mais, parece que essa garota, a Ino...

- Hum hum...

- Putz, Naruto! Avisa antes de dizer alguma coisa, tá?

- Me diga uma coisa, Shikamaru. Você é só amigo dela mesmo?

- Sou, senão você teria me visto fazendo chamadas interurbanas a torto e a direito, eu acho. – Como era bom ter uma resposta na ponta da língua. - Faz tempo que eu não vejo essa garota...

"Na verdade, nunca a vi ". Mas, de repente, Shikamaru teve a impressão de que a primeira frase era mais verdadeira do que a segunda. Franziu as sobrancelhas enquanto cruzava as pernas sobre o assento.

- É que ela olha demais para você, 'ttebayo. Não notou.

Cala a boca e vai logo passear, Naruto.

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Após um suspiro, ele começou.

- Ino, como você já deve sabe, aqui não é como o topo do monte, certo? Por isso pode acontecer e vai acontecer algumas vezes de eu servir alguma coisa para você e não o contrário. É assim que funciona com amigos. Toma. – E ele lhe estendeu a caneca.

Na verdade, ela já havia entendido isso, o que não queria dizer que não achasse mais isso estranho. Foi com assombro que, antes do jantar, ela assistiu a ele e os dois colegas preparando o jantar, como iguais, enquanto ela teve que ficar sentada no sofá porque "era uma convidada". Palavras de Sakura.

Só não foi de todo ruim por causa do costume de ver as outras pessoas fazendo essas coisas por ela. E também porque era divertido ver o rosto de Shikamaru se contraindo de vez em quando. Era notável que ficar na cozinha também não o agradava muito. Finalmente um traço que sinalizava o quão iguais eram ele e Ino.

Ao mesmo tempo em que isso era um trunfo, também acabava sendo um problema com o qual, Ino sabia, teria que tomar o máximo de cuidado. Ouvir um dos amigos de Naruto chamá-la de mandona azeda foi um alerta de grau máximo. Além disso, nem Sakura e nem Naruto mereciam isso: Apenas 5 minutos de passeio e a jovem percebera o quanto que aqueles dois eram pessoas legais. Melhores do que muitos de seus súditos, até.

Para o bem deles e para o bem de Shikamaru, melhor começar a se comportar devidamente como uma mortal. Ou seria muito fácil para este último descobri-la. Aliás, aí residia a grande dificuldade do plano: Os Nara sempre foram pessoas de grande inteligência e Shikamaru não fugia a regra, fora que o rapaz devia ser bastante perceptivo também. Ino teria que ponderar qualquer coisa dita ou não-dita o tempo todo enquanto estivesse naquele mundo, principalmente na frente dele.

Resumindo: Isso era um porre.

- Não vai pegar? – Opa! Ele ainda estava esperando.

- Ah, sim, sim, senhor. Muito obrigado.

- Aliás, só uma coisa que eu quero mudar aqui. – Ele jogou a mão atrás do pescoço – Esse negócio de "senhor"... É melhor parar com isso, tá? Não gosto muito.

- Mas eu sou sua súdita! Não posso fazer de outra maneira.

- Eu sei, mas você pode. É que não estou acostumado a ser tratado dessa maneira, entende? Sugiro que passe a me chamar pelo nome ou, se não se sentir muito à vontade, pelo sobrenome mesmo.

- Pelo sobrenome? – Ino se espantou – Isso é arriscado, não acha?

- Nem tanto. Parece que "Nara" é muito comum por aqui...

Ino encolheu os ombros.

- Então tá, senh... – "Opa!" - Digo, Shikamaru!

Por vários segundos, parecia que ele não diria mais nada. O rapaz ficou só olhando, a expressão de um jeito como quem sentia o maior tédio do mundo. Porém, era certo que havia um algo mais que Ino não conseguiu decifrar. Nessas horas, era de se agradecer aos céus por Sai não estar alí. Aquele língua suja teria muito bem aproveitado para fazer piadas non sense com aquilo.

- Problemática... – Ele finalmente falou – Vá dormir, tá?

E foi embora, deixando a porta aberta.

Minutos depois, Ino precisou se virar na cama e acabou fitando a caneca vazia. Havia se esquecido, aquilo era outro sinal de sua realeza. A jovem sempre ordenava que lhe trouxessem um copo de leite antes de dormir. Droga! Se quisesse manter o hábito agora, teria que pedir com mais jeitinho ou ela mesma ir se servir. Talvez a segunda alternativa fosse melhor. Saco!

Mas a neura logo passou. Foi substituída pela figura de um certo jovem desertor. Engraçado com Shikamaru parecia ter mudado muito e, ao mesmo tempo, praticamente nada. Foi tão simples reconhecê-lo deitado na relva, como costumava fazer quando ela começava a falar demais sobre a boneca X que a menina Y quebrou por inveja. Eles eram pequenos demais, talvez ele já não se lembre.

Precisava ter confiança. Shikamaru ainda era menino quando saiu do topo do monte, com o pai, para nunca mais voltar. Com certeza, a decisão de abandonar o lar não foi dele, foi por influência externa. É muito fácil convencer uma criança a fazer certas coisas, para isso é que existe o argumento do "isto é o melhor para você". Porém, foi aí também que Ino relembrou o porquê de ter aceitado uma tarefa dessas. Era algo que ela tinha certeza que não faria por mais ninguém, nem mesmo por Sasuke.

A figura do seu amiguinho de infância, agora crescido, insistiu em grudar-lhe na mente até que Ino pegasse no sono. Só não imaginava que ela ainda estaria lá quando chegasse o dia seguinte.

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.Continua

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*Na língua japonesa, existem várias palavras para dizer "eu". A que está no verso, "watashi", é a forma feminina do pronome, sendo que a masculina é "boku" ou "ore". Essa foi a furada no Naruto na hora da cantoria.

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