Observava, entediada, os círculos de fumaça pairando sobre a xícara. Aspirava o doce aroma que o líquido quente desprendia, mexendo-o sempre com uma colher. A fumaça subia, subia e subia, graciosa, e então sumia. Fundia-se com o ar que preenchia sua cozinha bem limpa e arejada, ampla e cheia dos objetos trouxas que por algum motivo desconhecido não haviam sido descartados por ela.
Acompanhou com os olhos, belos olhos castanhos que ela tinha, a fumaça subir, serpear, enfraquecer e desaparecer, e logo mais fumaça vir e repetir o padrão. E repetiria até que seu cappuccino esfriasse.
Piscou, despertando de seu transe. Não poderia demorar ou a bebida ficaria fria.
Suspirou, perdendo-se novamente na fumaça. Ela conhecera a fumaça, uma vez. Há tanto tempo. Suave, gracioso, serpeando por entre os dedos de quem ousasse tentar apanhá-lo, ele era como fumaça.
A fumaça que a intoxicara tão fortemente, não porque fora forçada a aspirar, mas porque lhe era agradável. Suave aos sentidos.
A fumaça que a impregnaria para sempre, por mais que tivesse sido expulsa de seu organismo, pois fumaça deixa vestígios, e os vestígios dele não eram apagados, nem pelo tempo, nem por nada e nem por ninguém.
Ele era realmente como fumaça.
Porque por mais que você queira, você não pode aprisionar a fumaça, ou segurá-la entre os dedos.
Por mais que você tente, você não pode sentir a fumaça por muito tempo. Suavemente ela surge, suavemente ela vai-se embora.
Por mais que você a observe, não pode sempre prever para onde ela vai, que lado ela escolherá ir, que caminho escolherá seguir.
Tom era como fumaça, Ginny concluiu, enfim assoprando os fiapos branco-pérola que dançavam sobre sua xícara.
Afinal, como fumaça ele surgiu, como fumaça ele escapou e como fumaça ele enfim sumiu, fundindo-se ao ar que ela respirava.
