Nunca tive muita sorte na vida, e não falo sobre bens materiais ou qualquer outra coisa relacionada a dinheiro, eu nunca me importei com esse tipo de coisa. Mas sabe quando você tem de tudo, de tudo mesmo, mas no fundo sente-se vazio? Era exatamente esse o meu problema. Eu tinha tudo o que eu queria, família perfeita, profissão perfeita, amigos perfeitos... Nada era o suficiente para mim. Mas sempre tem aquele momento de nossas vidas onde tudo melhora, e eu espero até hoje por esse tal momento. De novo.
Depois que terminei a faculdade de medicina, fui contratada pelo hospital principal de Konoha, uma cidade não muito grande de 200.000 habitantes, e a maioria deles eram da zona rural, que dominava a maior parte da cidade, com todos aqueles campos, cheios de trigo e soja que eram os produtos que mais davam lucro a cidade, por isso era um pouco conhecida, por exportar esses produtos pra fora.
E foi lá naquela pequena cidade que fui parar, não que eu reclamasse, pois a proposta naquela época era ótima, e além disso, eu era a principal médica daquele hospital, havia pessoas que precisavam muito de mim, e então resolvi ficar por ali mesmo, talvez lá estivesse o que eu tanto buscava para preencher o vazio que existia dentro de mim.
Estávamos em dezembro, época em que a chuva não dava trégua, o que me incomodava profundamente, nunca gostei de tempo frio, o calor combinava mais comigo. Ergui meus olhos, fixando-os no céu completamente coberto por nuvens cinza, suspirei, aquilo era extremamente desanimador, me deixava com preguiça e uma vontade enorme de ficar na cama.
Apertei minhas mãos na xícara de porcelana onde continha café, minha bebida favorita, um vício assim posso dizer, eu era dependente da cafeína, ela afastava o sono que vivia pairando sobre mim. Assoprei antes de beber um gole do líquido extremamente quente, que desceu queimando minha garganta, e voltei os meus olhos para o céu novamente, observando a garoa fininha cair.
Ouvi a porta da minha sala abrir atrás de mim, virei meu corpo um pouco, para ver quem chegava, logo vi a cabeleira loira de Ino, que fez uma careta, fixando os grandes olhos azuis em meu rosto.
-Há quanto tempo não dorme? – Perguntou ela, puxando a cadeira da minha mesa em seguida sentando-se.
Dei um meio sorriso.
-Bom dia para você também – Eu disse, enquanto assoprava o café.
Ino sorriu, revirando os olhos.
-Bom dia olheiras. – Disse ela enquanto tocava a parte inferior de seu olho direito com o indicador.
-Dois dias – Respondi bebendo mais um gole de café.
A loira balançou a cabeça negativamente.
-Tem que descansar Sakura – Levantou da cadeira, e cruzou os braços abaixo dos seios – Está com uma péssima aparência, pior do que na faculdade. – Balançou a cabeça positivamente, como se concordasse consigo mesma.
Fiquei emburrada, mas logo ri baixo. Eu realmente estava exausta, mas o trabalho no hospital havia redobrado em alguns meses. Mais pacientes, mais problemas, mais trabalho e menos descanso.
-Agora me diga que milagre é esse de vim aqui na minha sala me visitar? – Perguntei deixando a xícara sobre a mesa.
Ino sorriu, e eu pude ver que naquele sorriso tinha algo por trás, eu conhecia a minha amiga o suficiente para notar que algo ela estava aprontando.
-Ino... – Comecei, mas fui imediatamente interrompida.
-Moreno, alto, forte, 25 anos, empresário, simpático... – Começou ela para o meu desespero.
Estiquei a mão, querendo interrompê-la.
Ino além de minha melhor amiga, era mais ou menos meu cupido, vivia tentando arrumar um namorado para mim, claro que eu era totalmente contra isso, mas ela era tão insistente que eu acabava cedendo pelo cansaço. E era sempre a mesma coisa, ela arrumava algum rapaz não sei da onde, saíamos eu, o meu pretendente, Ino e o Sai, namorado da loira. E sempre tinha algo no rapaz que eu desaprovava. Um tal de Gaara, por exemplo,ele era extremamente esquisito, além de não ter sobrancelhas, o cara tinha uma tatuagem. Na testa. E isso não parecia esquisitice o suficiente, ele precisava contornar os olhos com delineador e ter um guaxinim de estimação. E mesmo assim o cara até que era bonitão, nos tornamos amigos no final de tudo, algo que Ino desaprovou completamente.
-Por favooor – Pediu minha querida amiguinha, juntando as mãos, como se implorasse para que eu aceitasse o tal encontro.
Suspirei pesadamente, levando minha mão direita aos meus cabelos, dando uma leve bagunçada.
-Ino, o cara sabe que vai a um encontro? – Perguntei desconfiada.
Ela sorriu e eu já sabia a resposta.
-Ele vai gostar de você, tenho certeza! – Disse animada, andando apressadamente até a porta – Agora preciso ir, tem um monte de pacientes me esperando! – Olhou por cima do ombro – Hoje à noite, às dez. –Disse antes de fechar a porta.
Permaneci um tempo fitando a porta, com a boca entreaberta.
-Mas ela não disse que eu tinha que descansar? – Perguntei a mim mesma.
Após completar meu expediente no hospital, fui para minha casa, eu precisava realmente descansar, estava exausta, era o meu limite. Abri a porta do apartamento, nem sequer tirei os sapatos, cai de bruços na cama, fechei os olhos e não demorou muito, logo adormeci.
Um barulho irritante começou a soar em meu ouvido, abri meus olhos lentamente, o barulho vinha da minha bolsa, era o meu celular. Por um momento pensei em não atender, com certeza era Ino perguntando onde eu estava, mas eu sabia que ela não desistiria. Estiquei meu braço o máximo possível, tentando alcançar minha bolsa que estava em cima da cama, ao pegá-la, deslizei o zíper, abrindo lentamente, pegando meu celular jogado lá dentro. Ele havia parado de tocar, sorri satisfeita, e fechei meus olhos novamente, sendo dominada pelo sono, e quando estava prestes a dormir, o celular voltou a tocar.
-Alô – Atendi com uma rouquidão na voz.
-Abre a porta – Disse Ino do outro lado da linha.
Desliguei o celular e joguei na cama. Respirei fundo levemente irritada, levantei e nem me preocupei em arrumar meu cabelo ou jogar uma água no rosto para tentar melhorar um pouco, eu não estava nem ai para pretendente, eu não queria namorado mesmo, eu não precisava disso.
Caminhei lentamente até a porta principal e abri dando de cara com Ino, Sai e outro rapaz atrás deles que estava escorado na parede do corredor. Ino ficou me olhando por um momento e fez uma careta, não me incomodei. Olhei para Sai que mantinha aquele maldito sorriso irritante no rosto e em seguida para o rapaz um pouco atrás dele a quem eu desconhecia, e era impossível ser meu pretendente, mas quem mais seria? O analisei por alguns segundos, tudo muito rápido para ninguém notar. Pele alva, alto, estava com uma jaqueta preta de couro por cima de uma camiseta branca, o cabelo tinha um corte esquisito, bem espetado, mas muito bonito. Senti minhas bochechas esquentarem ao vê-lo me encarar, eu devia estar realmente péssima, pois a cara que ele fez não foi nada legal, muito pelo contrário, ele me olhou de cima a baixo e riu, puro deboche, em seguida desviando o olhar. Perfeito, em vez de eu ridicularizar o pretendente, eu que estava sendo ridicularizada.
-Entrem – Pedi baixo, abrindo um pouco mais a porta, dando passagem a eles.
Ino puxou Sai e após os dois entrarem, fiquei esperando o cara entrar, mas ele nem sequer se mexeu.
-Não vai entrar? – Perguntei meio receosa, ele não parecia ser nada simpático.
Sem ao menos me olhar, entrou em minha casa.
Sentei numa das poltronas do lado direito da minha sala de estar, Ino e Sai sentaram no sofá que ficava de frente para a TV, e o "meu pretendente" sentou-se na poltrona do lado esquerdo, logo pegou o celular e começou a mexer, ignorando completamente a existência de todos ali presentes. Impressionante a educação dele, estava de parabéns.
-Querem algo para beber? – Perguntei educadamente.
Ino arqueou uma sobrancelha.
-Vá se arrumar logo. – Disse ela olhando no relógio em seu pulso esquerdo – Você tem exatamente dez minutos. – Voltou a olhar para mim.
Levantei da poltrona, parei na frente do casal, peguei na mão de Ino e a puxei do sofá.
-Se importa se eu roubar sua namorada por um instantinho Sai? – Perguntei ao branquelo, com um sorriso humorado.
-Sem problemas – Respondeu ele sorrindo como sempre.
Voltei o meu olhar para o rapaz, que ainda estava a mexer no celular, apertei a mão de Ino, que olhou para mim com uma expressão interrogativa. Gesticulei disfarçadamente o cara, ela logo entendeu.
-Ah sim – Disse ela assentindo – Sasuke, essa é Sakura Haruno – Apresentou-me ela, fazendo-o olhar para mim, com os mesmos olhos de desdém, o que me irritou lá no fundo de minha alma – Sakura, esse lindo rapaz... – Interrompeu-se e olhou para Sai, sorrindo sem graça – Quero dizer, ele é Sasuke Uchiha.
-Uchiha? – Perguntei baixo para mim mesma, tentando me lembrar onde eu havia ouvido esse nome anteriormente.
-Família Uchiha, donos de fazendas e mais fazendas de soja, lojas de roupas de grife... Falando nisso Sasuke, que coleção primavera verão perfeita! Diga a senhora Uchiha que ela está de parabéns. – Disse Ino com um sorriso simpático.
-Tá. – Disse Sasuke totalmente desinteressado nos elogios da loira.
Olhei para Ino que olhou para mim, em seguida a puxei, caminhando em direção ao meu quarto, chegando fechei a porta encostando-me contra ela.
- Moreno, alto, forte, 25 anos, empresário, simpático... – Repeti as palavras que antes ela havia dito sobre Sasuke – Simpático? Onde? Aliás, de onde você tirou a idéia de que pode surgir algo entre eu e ele? – Perguntei franzindo o cenho.
Ino deu de ombros e sentou na cama.
-Sei lá, eu o achei interessante – Respondeu ela.
-Mas não é porque você o acha interessante que eu também vou achar – Resmunguei.
A loira levantou, indo até meu guarda a roupa, abrindo a porta, pegando algumas peças de roupa, jogando sobre a cama.
-Eu prometo que se dessa vez não der certo... – Interrompeu-se pegando outra peça de roupa – Olha essa blusinha! Me empresta?! – Perguntou enquanto colocava a blusa na frente de seu corpo.
-Tá Ino, pode pegar – Eu disse sentando na cama.
Ela sorriu satisfeita.
-Se dessa vez não der certo, eu juro que desisto! – Disse ela firmemente.
- Você disse a mesma coisa quando me levou para conhecer aquele cara sem sobrancelhas. – Murmurei.
-Mas dessa vez é sério, Sasuke é minha última tentativa. Eu prometo! – Cruzou os dedos indicadores na frente da boca, dando um beijo, selando a promessa – Mas prometa que vai se esforçar. – Pediu enquanto retirava a blusa tomara que caia bege que vestia, em seguida colocando a blusa preta de alcinhas que havia pegado no meu guarda roupa.
Revirei os olhos, soltando um breve suspiro.
-Tudo bem... Eu prometo. – Prometi, cruzando meus dedos, atrás do meu corpo. Eu não ia me esforçar nem um pouco.
Ino sorriu satisfeita.
-Agora, vamos arrumar essa mostrinha e transformar-la em uma mostrinha menos feia! – Disse a loira animadamente, entregando-me algumas peças de roupa.
E lá ia eu mais uma vez.
Ótimo.
