Já nem sentia mais. A dor não era novidade.
Não depois daquilo.
Ah, Lily, tão tola. Por que amá-lo? Logo ele! Você deveria saber. Ele nunca ligou pra você, Lily ingênua. Deveria ter suspeitado.
- Eu não te amo.
- Para de dizer isso!
- Você está se iludindo.
- Só fique comigo, por favor. Eu faço o que você quiser. Eu mudo. Só não me abandone!
- Não.
- Por quê?
- Lily, não é...
- Eu amo você.
- Lily, – dessa vez ele pegou com força seus ombros - eu não te amo. Eu não me importo se você me ama. Só me deixe em paz.
Depois desse dia tudo ficou cinza.
Piorou. Quando ela pensou que não haveria como, piorou.
Ah, Lily, tão fadada à dor. Por que tinha que acontecer? Logo ele. Você deveria superar. Lily fraca. Ele nunca ligaria se tivesse acontecido o mesmo a você.
Era dia dos namorados. É claro que ela não tinha um namorado. O céu estava azul, as pessoas felizes. Um bom dia.
Para aqueles que fossem aproveitá-lo.
Ela ficou sabendo pouco tempo depois. Até hoje não sabia como aconteceu direito. Ouviu apenas palavras soltas. Mistério. Assassinato. Uma fatalidade. Aparentemente envenenamento.
"Ele se foi." E não amou-a nem um pouco sequer.
- Lil, eu não acredito.
- Eu não agüento mais, não agüento, não quero, não suporto... Só quero que acabe!
- Você não pode continuar assim. Pense em mim. Eu perdi um amigo, não quero perder minha irmã.
Ela tem crises como essa todos os dias. Cada vez piores. Cada vez os cortes ficam mais fundos, a pele mais pálida, os gestos mais imprecisos. Ela está fraca.
- Você já me perdeu, Al... Perdeu sua irmã no dia que aquele... Aquele...
- Psiu, Lily. Vai passar.
Não passou. Não ia passar. Era dor psicológica, mas também era física.
Até que um dia seu corpo não agüentou mais.
