É Assim Que Você Me Lembra...
Arashi Kaminari
Capítulo 1 - ...O início de tudo
– Então tudo acaba aqui? – indagou com o olhar desolado.
– Suas palavras sempre saem carregadas de negatividade... Não deveria ser assim...
– O que não deveria ser assim? O fim nunca é positivo.
– Novamente... – balançou a cabeça em reprovação – Ainda terá muitos testes até entender. O fim nem sempre é negativo. Depende dos olhos de quem vê... E de como o desfecho é feito.
– Palavras... Apenas palavras. – ergueu uma das mãos, em sinal que não aceitaria mais uma interrupção – Eu já entendi, Shaka. Não precisa dizer nada. Tudo acaba aqui.
– Não seja tolo. Não ignore a verdade que está a sua frente. Sabe que não é o fim. É apenas o início... Um novo começo.
– Começo de quê!? Quanto a isso, nunca terei outro começo. – declarou, visivelmente abatido.
– Desaponto-me ao ouvir isso de você. E mesmo que não acredite, terá outro começo. – ergueu-se e pôs-se diante de Ikki, deixando-o apreciar seus belos olhos azuis – Eu te asseguro disso. – terminou, depositando um doce beijo em sua fronte, retirando-se em seguida.
– Viu em sua meditação? – indagou, fitando o loiro, agora ao longe e de costas.
– Não preciso dela para casos como o seu. É tão claro quanto água cristalina. – proferiu por sobre o ombro, mantendo os olhos cerrados.
– – – – –
Batia o pé no chão impacientemente. Sabia que não deveria esperar situação diferente. Conhecia o irmão que tinha, assim como todas as suas ações imprevisíveis. Esperava um pouco de consideração, no mínimo. Talvez fosse muita pretensão. Sorriu com seus próprios pensamentos, enquanto o som do solado do tênis contra o chão ainda era emitido.
– Esperando alguém, meu anjo? – perguntou assim que avistou Shun no campus.
– Meu irmão. – corou por ser chamado de anjo – Ele disse que era para esperá-lo aqui.
– Ihhh! – coçou a cabeça, em sinal de inquietude.
– Ele prometeu. Ele nunca quebra uma promessa. – repreendeu-o seriamente.
– Calma! – levantou as mãos em sinal de paz – Eu não disse nada.
– Mas pensou. – disse, deixando-se envolver.
– Tudo bem. Não está mais aqui quem pensou. – desculpou-se, aconchegando-se ao corpo menor e macio.
– Não...Hyoga. Você sabe que eu... – foi interrompido pelo sinal.
– Salvo pelo gongo. – declarou, afastando-se um pouco de Shun – Mas não do meu beijo. – colou seus lábios ao do garoto de cabelos verdes e no momento seguinte sumiu por entre a multidão, antes de poder constatar a vermelhidão que tomou o rosto de Shun.
– Hyoga... – proferiu por entre dentes, desejando que um buraco se abrisse embaixo de si para sumir.
Não sabia o que se passava consigo mesmo quando estava Hyoga estava por perto, mas tinha a certeza que não gostava da sensação. Seu corpo reagia involuntariamente aos seus toques, todos os seus atos o contrariando e muitas outras coisas contra seu ser. Será que estava... Não! Nem pensar.
– É só pedir que eu depeno esse pato atrevido.
– Ikki!!! – exclamou, abraçando o irmão – Você está atrasado.
– Eu sei, Shun. Eu sei.
Mirou o rosto do irmão. Pôde ver claramente que Ikki não estava bem. Conhecia muito bem o único motivo para todos os problemas que apareciam e mexiam com o lado psicológico dele: Shaka. Esperava apenas que não houvessem discutido como da última vez, quando eles destruíram a sala de sua casa para depois rolarem pelo carpete, cheios de tesão.
– Brigou com ele novamente?
– Não quero falar sobre isso.
– Já vi que brigaram. – balançou a cabeça em negação – Ikki... Ikki!? – chamou, ao notar que havia perdido o irmão de vista.
– Até Shun. – disse Ikki, mais à frente, caminhando em direção a escada.
– Ikki!
– – – – –
– Estão todos aqui!? Então podemos começar. – declarou o professor Aioria, depois de dar uma rápida olhada pela sala.
– Ei! Não se esqueça de mim. – voltou seus olhos para a entrada da sala, notando seu Ikki entrar.
– Ah! E eu pensando que ia ter uma folga.
– Engano seu, meu caro. – disse sem o sarcasmo característico, o que preocupou Aioria.
– Se ainda pretende ser meu aluno, é bom começar a chegar no horário. Não tolero atrasos de repetentes! – disse firme, mas deixando Ikki perceber que estava relevando por saber que não estava bem.
– Eu sei, eu sei. – respondeu, acomodando-se.
– Com licença. Desculpe-me pelo atraso. Posso entrar? – indagou polidamente um jovem de cabelos ruivos.
– Claro, sr. Benetona. Sempre é bem vindo em minhas aulas. – permitiu.
– Obrigado. – agradeceu, enquanto dirigia-se a uma carteira vazia.
– – – – –
Não prestou atenção em aula alguma. Aioria, o professor, chamou-lhe a atenção inúmeras vezes. Chegou até a bater o livro fortemente contra a carteira afim de acordá-lo de seu devaneio. Mas nada o trazia para o mundo real. Permaneceu em sala durante todos os intervalos. Agradeceu por Shun não procurá-lo. Talvez tivesse percebido que realmente não estava bem.
Ainda estava totalmente perdido nos últimos acontecimentos. Tinha a consciência da situação em que se encontrava, mas algo dentro de si não o deixava admitir para seu próprio ser tal verdade.
– Sim, senhor.
Assentiu com a sugestão dada por Aioria, antes do mesmo deixar o recinto. Fitou o homem que estava no fim da sala por um breve momento e voltou sua atenção ao piano à sua frente. Aquecendo-se, deslizou seus dedos pelas teclas, antes de iniciar uma bela melodia.
– Está chorando, Amamiya? – indagou-o com os olhos cerrados, sentindo apenas a canção fluir após cada toque seu em cada uma das teclas.
– Por que você não dá o fora, Benetona? – retrucou, observando atentamente algo além dos grossos vidros da janela.
– É feio responder uma pergunta com outra, sabia?
– Estou cagando e andando pra isso.
– Quer me ajudar? Talvez você relaxe. Eu estou treinando, mas é sempre bom ter alguém acompanhando.
– Eu não acompanho ninguém e ninguém me acompanha. – abaixou o tom de voz e murmurou para consigo mesmo – Não mais. – voltou-se ao garoto e continuou com um tom sério e audível – Entendeu?
– Um lobo solitário...
– Não... Uma fênix.
– Vou deixá-lo sozinho então... Fênix.
Preferiu não discutir o assunto naquele momento. Guardou seus pertences e retirou-se silenciosamente. Deixou-o consigo mesmo. Talvez tivesse visto uma lágrima cruzar o rosto bronzeado do moreno, caso tivesse demorado mais um pouco.
Sabia que Ikki precisava desabafar com alguém, mas sabia também que não o faria com qualquer pessoa. Precisava de tempo para colocar seus pensamentos em ordem e seus sentimentos no lugar. A sua fama não era das melhores. Havia percebido desde o primeiro dia de aula que ele fazia jus a ela. Mas sabia que no fundo daquele rebelde, a chama da tristeza e do desespero queimava intensamente.
Por Arashi Kaminari, julho/agosto de 2004.
Nota: Sinceramente, não gostei desse capítulo, porque não tive inspiração o suficiente para fazê-lo decente. Mas sei que se caso eu não postasse, essa fanfiction não ia sair de jeito algum.
