Fanfic escrita para um concurso de subversão de clichês . O escolhido foi, claro, histórias de vampiros! A So Finster die Nacht (que significa mais ou menos Tão Escuro Quanto a Noite e é o nome do filme de vampiros Deixa Ela Entrar na Alemanha) possui algumas cenas de violência e um eventual lemon… Ohoho. Ela ganhou segundo lugar no concurso.
Obrigada à Blanxe por betar a história!
Everybody's looking for something
Some of them want to use you
Some of them want to get used by you
Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused
Sweet Dreams – Eurythmics
Prólogo
– Mas que menina idiota.
Ken sacudiu o copo de refrigerante vazio antes de jogá-lo fora na saída do cinema.
– Deixar o vampiro morder ela assim, do nada, com a estaca bem do lado dela.
Era 1999 e aquela história toda de mortos vivos tinha atingido o auge em noventa e quatro, com Entrevista com o Vampiro nos cinemas americanos. Segundo Yohji, nem mesmo as japonesas tinham esquecido dos atores loiros e de olhos azuis ou da trama romântica. Desde Drácula, histórias de vampiro não eram histórias de terror, o que ainda assim não explicava para Ken como virar um vampiro podia ser algo positivo.
– Se fosse eu, tinha matado ele.
– É por isso que você não é popular com as garotas – Yohji suspirou pesarosamente, desviando o olhar de Ken e acenando para uma jovem moça. Ela correspondeu com um sorriso enfático, e Ken se afastou um pouco.
– Você me disse que a gente ia ver um filme de terror – Ken fez uma careta. – Não ir atrás de garotas.
– Garotas gostam desse tipo de coisa hoje em dia – ele afirmou, despreocupado. – É tudo muito romântico, essa história de ficar juntos pra eternidade.
– Você quer dizer que é tudo muito embaraçoso. Isso é se aproveitar de um momento de fragilidade emocional dela.
O cinema estava lotado de mulheres jovens. Ken tinha quase vergonha de estar ali.
– Ah, Ken. Só estou me preocupando em oferecer a esta dama – Yohji deu uma piscadela ao vê-la se aproximando, – um momento para se recordar.
O moreno coçou a orelha e virou o rosto pro outro lado. A garota já estava perigosamente próxima, e ele concluiu que ia voltar sozinho pra casa. Novidade. Ele já devia ter aprendido há muito tempo que Yohji sempre tinha planos e nenhum nunca o incluía.
– Pelo menos me dá a chave do Seven. – engoliu em seco. A moça, uma morena alta e vistosa, mordeu o lábio e suspirou "E quanto ao seu amigo?", com o que Yohji respondeu que ele podia perfeitamente bem pagar um drinque para ela sozinho, e que ele não ia atrapalhar.
– E nada de levar o carro. – Yohji grunhiu entre dentes. – Você quem quis vir de carona.
– É, mas eu não sabia que… Ah, esquece! – Relaxou os ombros. Não tinha argumento mesmo. Não era como se estivesse muito longe de casa, e não era como se as ruas de Tokyo à noite fossem perigosas. Bem, não para ele.
– Você tá me devendo um filme. Um de ação, americano. Daqueles com explosões.
Yohji não estava mais ouvindo mesmo. Ken não duvidava nada que ele tivesse audição seletiva.
– Só não se esquece de voltar amanhã pra floricultura. Você pega o turno cedo.
– Tá, mãe. – ele se despediu de Ken o mais breve que podia.
Resignado, Ken apertou o botão do relógio digital, vendo o mostrador luminoso piscar até que Ken se desse por satisfeito. Meia noite… Ele não tinha idéia que ia acabar tão tarde assim. Tinha ficado desapontado, mas era até bom Yohji ter encontrado alguém com quem passar a madrugada. Ken não negava que gostava da companhia de um amigo pra variar – não era como se ele tivesse muitos – mas havia outras coisas pra fazer também: as crianças, o treino de futebol na manhã seguinte.
Olhando pra lua no céu, assim, enquanto ele estava rodeado de gente, até parecia que vivia uma vida normal. Dali Ken conseguia ver as luzes da cidade, e a madrugada cheirava diferente, a pipoca e a chiclete barato.
Apoiou o pé num pitoco de concreto e amarrou bem os sapatos antes de correr de volta para casa.
Pena que precisava voltar. O que ele tinha não era um lar de verdade. Fazia falta às vezes, mas tudo bem, ainda levava uma vida que não era de todo mal assim. Até poder correr pelas ruas cheias não era ruim – não existia noite onde Yohji gostava de ir, estava tudo sempre muito iluminado e cheio de gente. A diferença era notável quanto mais ia se aproximando da Koneko: o ruído ia diminuindo e tudo ia ficando escuro. Ainda assim, Ken gostava. Ele não precisava se preocupar com nada além do vento resfriando a sua pele e o silêncio. Não aquele tipo de silêncio nervoso, que esconde uma respiração descompassada e um coração trêmulo, mas um silêncio noturno que ele podia aproveitar aquele de burburinho de insetos e vozes lá longe, bem ao fundo, e um grito…
Um grito?
Ah, não.
Hoje não.
Ken diminuiu sua velocidade até parar por completo, os sapatos escorregando pelo chão numa pausa esforçada. Ele não tinha dia de folga. Controlando a respiração, ergueu a cabeça, procurando Identificar de onde havia vindo a voz desesperada. Olhou pra trás. Um resquício de luz vinha de lá, e se parasse para ouvir bem, todas as vozes estavam contentes.
Não, ele sabia melhor. Ken olhou em volta e foi pra onde iria caso quisesse matar alguém sem ser visto.
Apertando o passo novamente, ele entrou num beco de pedras irregulares, cuja entrada larga se achatava até terminar em uma grade. Calculava que tinha levado um ou dois minutos desde que ouvira o grito, e também presumia que era tarde demais, mas ele foi, mesmo assim. Não existia mais ninguém ali. Ninguém vivo, pelo menos. Os prédios se amontoavam todos, cobrindo a entrada com sombras, mas, quando Ken se aproximou, pode ver claramente uma figura recostada na grade.
Era uma mulher.
Ken se ajoelhou ao lado dela. Não precisou nem sentir seu pulso. A gola da sua camisa não encobria uma linha de sangue escorrendo do pescoço, e quem quer que houvesse feito aquilo fora preciso e fatal. Ele tomou o tecido entre os dedos, puxando-o para o lado para observar melhor o ferimento, mas era estranho… Não era um ferimento de faca. Parecia que a carne havia sido -
Ken pulou para o lado no mesmo instante em que algo atingiu o lugar em que se encontrava. Suas costas foram de encontro à grade, e ele escorregou no sangue, caindo no chão com um baque. Havia algo se atirando contra a sua direção novamente e Ken rolou, se desviando, mas havia sido pego de surpresa e aquilo era rápido. Abriu um corte na bochecha e se atirou para frente. Ele lançou um golpe em direção a coisa, sentindo seu punho fechado atingi-la e o sangue espirrar em seu rosto, mas não estava preparado o suficiente para escapar de um segundo golpe.
Ken estava prostrado no chão quando atingiram sua cabeça.
Continua…
