STORM
Ela sorriu. Sorriu de forma que não combinava com o semblante nostálgico que olhava fixamente para as folhas secas e amareladas que ora voavam e ora ficavam paradas a lá velho oeste no chão lamacento e irregular. Os cabelos negros e brilhantes voavam para frente, grudando os fios mais finos ao gloss rosa antigo que usava independente da situação. Apertou o casaco negro contra o corpo, tremendo. Frustração, raiva e angústia. Era aquilo que sentia, talvez um pouco mais de um do que outro, quando ia às tardes escuras de inverno ao túmulo improvisado e sem corpo ou cova que fizera a ele.
Ele.
Agora já estava sentando no chão, pouco se importando com a calça branca Tommy Hilfiger que usava. Ou com as lágrimas que podiam borrar a perfeita maquiagem da Mac. Dane-se! Tudo o que importava era o que ela desejava ver naquele momento. Tudo o que deseja sentir. Tudo o que desejava ouvir.
Seu rosto, seus braços abraçando-a, sua voz suave.
Demoradamente, num gesto quase infantil, secou as lágrimas gélidas com a palma da mão pálida e de unhas milimetricamente iguais com esmalte vermelho paixão. Paixão... Suspirou ao pegar o pedaço de papel manchado e terrivelmente amassado de dentro do bolso do casaco.
"[...] o melhor a se fazer, talvez, seja repetir as palavras já ditas anteriormente. Eu me acostumei que as melhores pessoas nos decepcionam um dia, de qualquer forma. E com você não foi diferente.
Você tinha o dom de me animar, Silena. Mas esse dom foi perdido, pois você se apaixonou. Acontece que eu já estava apaixonado por você... Todos acabam se apaixonando. Você mesma dizia isso. Irônico, não?
Agora eu desejo o melhor para você, só que isso não é muito mais possível. Você escolheu seu lado, Filha de Afrodite. E cada lado- [...]
Silena chegou à parte em que o fogo consumira. Passando a mão pelo pedaço do papel marrom enrugado, pensou como ali tinha sabor de derrota. Uma derrota amarga que ainda deixava vestígios. Fechou os olhos, deixando a mente vagar... Mais lágrimas escorreram pelo belo rosto sereno de traços angelicais.
Inconscientemente suas mãos tiraram a espada comprida e levemente prateada que outrora fora dele do local que marcava o túmulo. Mordecostas. Colocou-a ao seu lado, deixando que a tristeza derrubasse-a ainda mais.
"Silena?" a garota assustou-se com a voz grossa que vinha por trás, e, por um mísero instante, pensou que fosse ele. Encostou a carta rente ao coração, e respirando fundo, se virou.
"Ah... Charles. Eu só estava pensando um pouco e"- ela foi interrompida, assim como a luz que vinha pelo seu lado esquerdo.
"Estão te procurando. Quer que eu diga que você está a fim de ficar sozinha?" Silena negou com a cabeça, instalando um silêncio reconfortante no local gélido. Minutos depois, quando o garoto fez menção de se levantar, ela o seguiu.
"Você é um garoto legal, Charlie..." sussurrou. Eles foram em direção ao Acampamento, mas, antes disso, ela olhou para trás, prometendo a si mesma não voltar ali. De relance, par de olhos azuis a observavam.
Pequenos flocos de neve começaram a cair.
N/A: One-shot bem pequena mesmo! Escrita para o I Challenge Mortes da PJFF, no Orkut. Ah sim, se leu, comente (: É só clicar nesse botão verde sexy (ou azul agora né?) aqui em baixo.
Beijos,
Alice.
