ATENÇÃO: SPOILER!!!!!! NÃO LEIA SE NÃO QUISER SABER SOBRE O QUARTO LIVRO.

Bom, a fic é como uma continuação da série Crepúsculo, mas, obviamente, algumas coisas foram um pouco mudadas para que eu pudesse adaptar melhor os fatos. A historia é sobre o triângulo amoroso envolvendo Renesmee após sua volta para Forks. Assim como os livros de Stephanie Meyer, a fic será narrada em primeira pessoa, mas contada por diferentes pontos de vista. Em especial, veremos os fatos pela ótica de Renesmee e Jacob.

Boa leitura!

PARTE 1 - RENESMEE

Eu tinha, pelo menos aparentemente, dez anos quando minha família decidiu que íamos sair de Forks. Ninguém podia desconfiar sobre nossa identidade com risco dos Volturi voltarem a nos perseguir, por isso, parecia completamente normal e lógico que fossemos embora. Estranhamente, ninguém estava feliz com isso. Forks havia se tornado um lar e a impressão era que faríamos uma longa viagem e não uma mudança. A verdade era que nós só nos sentiríamos em casa quando estivéssemos novamente entre o cheiro da mata e a vida alienada daquela pequena cidade.

Enquanto eu fazia as malas, ouvi uma voz conhecida vindo do andar de baixo. Desci os dois primeiros degraus feliz, mas parei ao ver o clima sério que se instalara na sala. Mesmo sabendo que eu estava ali, nenhum dos dois virou para me encarar. Bella segurava a imensa mão de Jake entre as dela. O silêncio agora só era quebrado por algum barulho de móvel sendo arrastado.

- Ei! A gente vai voltar, você sabe, não sabe? – disse ela repentinamente

Jake olhou tristemente para o chão e depois de volta para minha mãe.

- Bella, será que eu terei que viver a eternidade esperando por vocês?

Ela riu, embora não houvesse um evidente sorriso ali.

- Só o tempo que você quiser, Jake.

Eles então pareceram respirar profundamente antes de dar um abraço forte. Eu tinha certeza que os dois tinham prendido a respiração. Logo depois, Alice entrou flutuando pela sala e estendeu a mão para Jake:

- Tchau Jacob Black. Eu até vou sentir saudade de você.

Ele apertou a mão dela cauteloso. Talvez ainda tivesse a impressão que podia esmagá-la a qualquer momento.

- De mim ou do fato de eu ser seu comprimido preferido para dor de cabeça?

Ela sorriu.

- Dos dois, mas ok ok a segunda opção é mais forte.

- Tudo bem, não estou chateado não. Tchau fadinha. Eu até vou sentir saudade de você me perseguindo quando está sentindo dor.

Ela riu e virando nos calcanhares sumiu atrás de uma porta.

Depois dela, todos apareceram um a um para dar adeus. Minhas pernas tremiam de aflição. Por que ele não podia ir com a gente?Por que eu já estava sofrendo tanto? Enquanto eu mordia os lábios de nervoso, Carlisle agradecia a Jake por tudo (pela milésima vez). Porém, o "obrigado mais uma vez" foi acompanhado logo depois por um "adeus", o que só me deixou mais nervosa. De repente só Edward e Bella ainda estavam lá e quando meu pai balançou a cabeça eu soube que ele estivera lendo os pensamentos de Jake. Bella me pegou de surpresa quando me chamou acenando levemente a mão:

- Dê tchau ao Jake, Renesme...

Eu desci as escadas e ela me deu um leve empurrãozinho desaparecendo logo depois. Edward olhou mais uma vez para trás. Eu podia ter certeza que havia pena nos seus olhos. Fitei a bainha do meu vestido desanimada, enquanto sentia um imenso vazio no peito. Não queria dizer adeus porque só a idéia tornava tudo aquilo muito real.

- Hey Nessie....Você vai ficar bem, você vai ver.

Eu fechei a cara no mesmo instante.

- E você, vai?

- Não.

A resposta foi rápida demais pra mim. Meus olhos encheram-se de água salgada.

- Ah, desculpa, acho que eu sempre acabo falando ou fazendo coisas que não devo. Eu vou ficar bem, mas eu vou sentir muita muita saudade das trancinhas que você faz no meu cabelo.

Eu ri enquanto enxugava algumas lágrimas. Eu sabia que não havia nada que ele odiasse mais do que as trancinhas que eu fazia nele, mesmo assim, ele nunca cortava o cabelo. Na época eu não tinha muita noção do quanto ele se esforçava para me agradar.

- Comporte-se, viu? E fique longe de perigo.

- Pode deixar.

Ele apoiou as mãos nos joelhos arqueando a coluna e seus olhos ficaram quase na altura dos meus.

- Eu sempre vou estar aqui. Sempre que precisar.

- Não vai me esquecer?

-Claro que não.

-Promessa de melhor amigo?

- Promessa de melhor amigo.

Ele levantou o dedo mindinho e eu juntei o meu ao dele em um acordo que deveria ser mantido. Depois eu dei um beijo rápido em seu rosto e corri até a escada. Logo depois eu me virei para encará-lo querendo guardar na memória cada detalhe dele. Suas mãos estavam fechadas e eu o conhecia suficientemente para saber que seu punho estava fechado não por raiva, mas porque sua mão tremia de leve e ele não queria que eu reparasse. Depois ele acenou para mim e virou para ir embora.

- Jake... – eu chamei e ele se virou para me encarar

Meus olhos encheram-se novamente de lágrimas e ele apenas sorriu sabendo que aquilo era nosso adeus. Quando ele foi embora eu terminei de arrumar minhas coisas mais triste do que podia esperar. Era a primeira vez que eu me sentia assim. Era como se de repente toda a luz e claridade tivesse ido embora com ele. Meu coração estava sob a sombra de um lobo castanho-avermelhado.

Naquela noite enquanto íamos embora, os lobos uivavam ao longe enquanto um grande vulto nos acompanhava até o fim da floresta.

O tempo foi passando e eu me acostumei com a vida de ciganos. Sempre indo para lugares diferentes e conhecendo outras pessoas. Para mim era mais difícil sair de onde estávamos porque eu sempre fazia muitos amigos. Minha mãe sempre falava que eu era muito diferente dos outros também porque eu sempre levava amigos lá pra casa. A família Cullen passou a ser uma família mais normal depois da minha chegada. Pelo menos era isso que Alice dizia. Ela adorava fazer lanchinhos pros meus amigos e ficar até tarde vendo filmes alugados. Eu não conseguia entender como algum dia fora possível que alguém em Forks pudesse achá-los misteriosos, eles sabiam representar tão bem! Agora eles se misturavam na realidade dos humanos, com o tempo foi mais fácil que começássemos a nos integrar a rotina das cidades. Tanto que a maioria das pessoas gostava de ficar perto de nós. Jasper sofria no início com isso, mamãe às vezes também, mas eles nunca se descontrolaram, talvez porque gostassem de parecerem normais. Uma vez um homem deu em cima de Rosalie e Emmet quase começou uma briga com ele. Obviamente todos o acalmaram. Imagina um soco de um urso na cara de um reles mortal? Não seria muito legal pra ninguém, muito menos para o nosso disfarce. Eu também nunca tive problemas porque ao ser um pouco humana também era mais fácil pra eu resistir. A única vez que meu vegetarianismo correu risco foi quando eu tinha (pensando na aparente idade humana) treze anos. Um menino da minha sala vivia me mandando recadinhos e eu achava legal, mas não tinha interesse nele. Um dia, durante uma festinha organizada por Alice para comemorar o fim de nosso ano letivo, ele abraçou minha cintura e me deu um beijo. Meu corpo tremeu e os calafrios percorreram minha espinha. Minha garganta secou e seu cheiro inundou minhas narinas. Enquanto ele tinha pensamentos amorosos, meu estômago roncava. Se não fosse por Edward eu poderia ter estragado tudo. Edward era sempre um grande protetor e amigo também. Mesmo não querendo partilhar tudo com ele, ficava difícil já que ele sabia tudo o que eu pensava. Com o tempo, mesmo amando-o muito, isso passou a me irritar. Não é muito legal saber que seu pai, além de todo o tempo que passa com você, pode ler seus pensamentos também. Alou! Cadê a privacidade?

Eu cresci tendo que me acostumar com tudo isso, mas o que mais me incomodava era ter que saber que eu não era nem uma pessoa normal, nem uma vampira. Não ter uma identidade real às vezes me incomodava, mas eu não pensava muito nisso e quando pensava, Edward sempre aparecia com um papo de pai dizendo que temos que aceitar o que somos etc. Eu cresci tendo uma família maravilhosa e uma vida meio nômade e em pouco tempo já tinha a aparência de vinte anos. Depois disso, não mudei mais e Carlisle disse que era normal eu tentar iguala a idade dos vampiros que estavam a minha volta. O engraçado é que eu parecia um pouco mais velha do que meus pais. Por causa disso, ao longo dos anos me acostumei a chamar todos pelo nome. Não podia ficar falando por aí que Bella era minha mãe. Olhando para nós e imaginando nossa idade, seria mesmo meio estranho. Por isso, passei a chamá-los sem dar nenhum título específico. Durante um tempo eu dizia que Rosalie era minha mãe (o que de fato parecia pela forma como ela era super protetora), mas depois eu cresci mais. Para meu alívio, ao chegar aos vinte anos não envelheci mais e passei, então, a ser perante os outros, mais um dos filhos de Esme e Carlisle.

Charlie nos visitava onde estivéssemos. Dinheiro não era problema para nossa família. Eu gostava principalmente de saber notícias de Forks, na verdade, mais de La Push. Pelo que parecia a cada ano surgiam mais vampiros por lá, o que acabava dando muito trabalho a Jake. Charlie, apesar de ter plena consciência de tudo, não gostava muito de pensar no que éramos, mas às vezes é meio difícil quando só você entre tantos numa mesa come comida. Às vezes eu comia algo com ele para fazê-lo sentir-se menos mal, mas não era a mesma coisa que sangue fresquinho. René eu vi menos vezes, mas ela era uma pessoa maravilhosa. Ela nunca soube a verdade sobre nós. Depois de um tempo ela e o marido adotaram uma menina e Bella passou a se sentir menos culpada em ficar sempre tão distante.

Tanto Charlie quanto René morreram bem velhinhos. Bella sofreu muito nessa época, mas sabia que fora de nossa realidade paralela tudo era um ciclo que deveria ter um começo e também um fim. Quando decidimos voltar a Forks todos os amigos de Bella já haviam morrido. Já fazia oitenta anos desde que havíamos saído de lá. O fato de não conhecer mais ninguém desanimava um pouco a minha mãe, mas ela sabia que não poderia voltar se alguém pudesse reconhecer que a Bella Swam não envelhecera. Eu, ao contrário dela, estava animada. Não tinha notícias de Seth e Jake há muito tempo e, pelo menos eles, eu tinha esperança de ver. Pelo que eu sabia eles podiam se manter vivos e jovens enquanto não abdicassem da forma de lobo e eu tinha muitas esperanças de que eles continuassem os mesmos da minha memória.

Quando chegamos tudo estava mais moderno. Nas minhas lembranças a cidade era mais pacata do que aquela. Uma parte dela, pelo menos, havia permanecido do mesmo jeito. A nossa casa ainda estava lá. Muito suja e cheia de plantas, mas nada que não pudéssemos dar um jeito. Enquanto a minha família checava as condições da casa eu resolvi passear. Meus pés, mesmo inconscientemente, seguiram para La Push. Um minuto depois eu estava correndo.

De repente eu parei sentindo um cheiro diferente. Dentre as árvores um lobo preto parou na minha frente. Os dentes estavam para fora em uma expressão hostil, mas eu podia ver a dúvida passar por sua face.

- Amiga.... – falei sussurando, mas a palavra soou muito mal aos meus ouvidos, afinal, não queria que parecesse que estava chamando-o de cachorro.

O lobo rosnou dando um passo para frente e eu resolvi mostrar que eu não faria mal algum.

- Olha, desculpe a invasão. Eu estava apenas procurando meus amigos. Um tempo atrás eu morava aqui e eu conhecia o lobo Alpha. Se você puder me levar até ele...

O lobo abaixou a cabeça e depois deu um rosnado breve e desapareceu entre as árvores. Fiquei parada sem saber o que fazer e, então, virei para ir embora. Eu teria que pensar melhor no que fazer para poder saber notícias. De repente uma voz feminina soou através das árvores. Ela andou até mim enquanto ajeitava a manga do vestido branco:

- Ele morreu.

Seus cabelos eram pretos e lisos e seus olhos eram profundos e tristes. Sua pele avermelhada me lembrava o Jake.

- Morreu? – eu gaguejei – mas...como assim? Eles não podem ser imortais enquanto estiverem como lobos?

- Sim, mas não quando eles abdicam da forma animal deles.

- Meu Deus....- minha voz saiu rouca

- Olha, não sei como você sabe sobre nós. Meu pai devia estar louco quando contou para alguém de fora da reserva o que somos, mas eu acho....

- Pai??? - interrompi

Ela revirou os olhos impacientemente.

-É, meu pai...o lobo Alpha, lembra?

Eu engoli a seco sentindo as pernas tremerem.

- Agora, saia daqui porque você tem um cheiro que quase me fez pensar que...bom, deixa pra lá, apenas, volte pra sua casa e não pense mais sobre essa historia de lobos, lobo alpha, eu....

Ela olhou mais uma vez pra mim com um rosto em uma expressão investigativa e foi embora enquanto eu caia de joelhos na terra. O meu rosto já estava vermelho e mais quente pela quantidade de lágrimas que eu despejava e meu coração acelerava progressivamente. Nunca havia ouvido meu coração bater antes daquele dia e ele batia violentamente. Parecia que ele ia sair pela minha boca.

-Filha?Morreu? – gaguejei enquanto na minha cabeça eu podia ver Jake se casando com uma das meninas da tribo, tendo uma filha e depois envelhecendo e morrendo.

Eu acreditava naquilo, mas ao mesmo tempo lutava contra isso. Meus olhos não paravam de liberar lágrimas e eu já estava soluçando quando ouvi meu apelido ser chamado por uma voz familiar.

- Nessie...

Eu levantei o rosto, mas as lágrimas embaçavam completamente minha visão. Tudo que eu podia ver da onde eu estava no chão era um vulto enorme bloqueando a luminosidade que escapava dos galhos das árvores. Eu esfreguei violentamente o rosto e quando pude ver alguma coisa, ele já estava ajoelhado na minha frente segurando meu rosto entre as mãos quentes. Minha boca abriu, mas nenhum som saiu dela. Ele apenas sorria enquanto me puxava para um abraço apertado que prendia completamente meus movimentos. Eu solucei:

- Jake....

Quando voltamos a nos fitar eu já estava sorrindo. Sua presença conseguia me trazer tanta paz e felicidade que no segundo em que eu vi seus olhos, esqueci momentaneamente porque eu estava chorando. Eu nem me importava que eu estivesse no chão úmido e coberta de folhas, ele ali compensava qualquer coisa.

- Minha menina...você voltou – seu sorriso era o mais bonito de toda a face da terra. Seu cabelo estava mais curto do que eu me lembrava, mas fora isso ele era o mesmo lobo adorável.

Eu corei por algum motivo, talvez porque não fosse menina há muito tempo.

- Meu lobo...você não morreu. – ri bobamente (agora sim eu podia rir)

Ele me olhou curioso e eu expliquei tudo para ele. Ele não me interrompeu em nenhum momento, apenas balançava a cabeça afirmativamente ou negando em forma de crítica. Até que em determinado momento ele resolveu esclarecer as coisas:

- Quando eu ouvi os pensamentos de Alana eu tive certeza que era você. Um cheiro adocicado que lembra o de vampiros sem ser o mesmo só podia ser o seu. Corri muito, tive medo de vocês se machucarem. Bom, como eu falei, aquela é a Alana...é neta do Sam. Ela ainda não se conforma com a morte dele e com o fato de existir um Alpha que não seja da linhagem do Sam, no caso, eu. Acho que enquanto você pensava em mim, ela pensava nele quando falou. A Emily morreu no parto da mãe dela e ele quase morreu junto, mas, então, La Push estava sendo freqüentemente invadida por vampiros e ele se manteve como lobo. Depois que as coisas se acalmaram um pouco ele abdicou da forma de lobo e envelheceu. O Sam morreu no mês passado. O coração parou de bater enquanto ele dormia.

- Nossa, Jake. Coitado. Ele devia amar muito a Emily. E como você ta com tudo isso?

- Tô bem. Eu sabia que ao me manter assim eu veria meus amigos morrerem. É claro que é doloroso, mas eu consigo suportar isso.

- E...você se manteve assim porque....

Ele passou a mão na cabeça espetada. Parecia um pouco hesitante. Apesar de ele permanecer ajoelhado, ele estava consideravelmente mais alto do que eu e para tentar ver seus olhos eu estiquei o corpo sem levantar do chão.

- Você não tem idéia do quanto eu estou feliz em te ver – seus olhos voltaram a me encarar e eles brilhavam. Seu sorriso me deixava levemente atordoada e eu nem percebi que ele estava me enrolando para não falar nada.

- Eu também estou muito muito feliz.

Ele sorriu novamente e eu segurei na mão dele.

- Só estou estranhando você não dizer o quanto eu estou grande ou bonita ou diferente e essas besteiras que se fala quando você não vê uma pessoa há muito tempo.

- Eu não preciso falar nada porque eu acompanhei você crescer.

Meus olhos se arregalavam enquanto ele me ajudava a levantar do chão e tirava as folhas que estavam presas no meu vestido.

- Nessie, eu nunca deixei de ir te ver. Acho que no máximo a cada seis meses eu procurava vocês tentando encontrar a cidade onde vocês estavam. Treinei muito meu faro, mas em geral, era fácil conseguir saber onde vocês estavam.

-Por que nunca falou comigo?

- Acho que eu sofreria mais assim – ele desviou os olhos dos meus enquanto apertava de leve a minha mão e continuava andando pela floresta.

- Sabe...- ele continuou enquanto andava olhando fixamente para frente– eu tinha que me manter aqui, La Push parecia mais uma epidemia de vampiros, não podia deixar isso aqui muito tempo, mas eu precisava te ver. Eu levava semanas para encontrar a nova cidade onde vocês estavam e não podia ficar muito tempo, por isso, era melhor que você não tivesse esperanças, principalmente, porque eu não sabia se sobreviveria aos ataques cada vez mais freqüentes de vampiros. Eu queria te poupar. Na verdade, me poupar também de ter que sempre dizer adeus.

Agora eram meus dedos que apertavam de leve os dele. Aquilo me comovia, mas eu não entendia como ele podia gostar tanto de uma piralha como eu. Eu havia crescido, claro, mas ainda sim eu deveria parecer infantil pra ele.

- E...como vai seu...namorado? – ele perguntou enquanto eu estava distraída com meus pensamentos.

- Como? – eu balancei a cabeça meio confusa

-Seu namorado... Aquele garoto com quem você sempre ia para as montanhas Chugach daquela cidade grande, Anchorage. Vocês dois namoravam, não?

Minha cabeça deu um giro e então eu me lembrei, claro, meu namorado. Nahuel era mesmo meu namorado e eu o amava, como podia ter esquecido completamente sobre ele simplesmente por olhar para Jake?

Eu sorri.

- Ele vai bem...eu acho...ele viajou para Las Vegas antes de eu sair de Anchorage e aí eu vim pra cá. Falei com ele faz uma semana mais ou menos, nem sei direito como estamos. Talvez ele não seja mais meu namorado....não conversamos sobre isso. Esse negócio de namoro a distância parece complicado.

- É...deve ser sim. Bom, eu só acho ele muito irresponsável. Aquelas montanhas Chugach são lindas, mas são muito perigosas. Imagina se um monte de gelo cai em você enquanto vocês escalavam? Você é um pouco humana, não faz bem você ficar debaixo de toneladas de neve.

- Nossa Jake, você me espionou! Ficou vendo a gente escalar, é?

-Não!Claro que não.... – as palavras tropeçavam da boca dele – acho que só queria te ver, mas acabei encontrando você e o Nahuel uma vez e aí fiquei preocupado. Fiquei um tempo por perto para garantir que você estava bem.

- Como você sabe o nome dele?

- Eu o conheci. Você lembra ou alguém te falou de quando quase mataram você? Ele foi a solução porque era igual a você, meio vampiro e meio humano.

- É, eu sei disso. Eu sou a única igual a ele fora as irmãs.

- é... – ele rosnou baxinho

- Mas você me espionou...

- Não chamaria de espionagem.

- Sei... – meus olhos estavam estreitos e desconfiados.

- Não quero estragar as coisas. Vamos mudar de assunto. – seus olhos eram suplicantes

Eu apertei as bochechas dele.

- Você não estragaria nada, você só torna a minha vida muito melhor, Jake. Eu senti sua falta.

Ele me abraçou forte e eu percebi o quanto as coisas estavam mudadas. Seu cheiro me envolveu. Um cheiro familiar que lembrava a minha infância, mas ao invés de me sentir protegida como era de costume, senti algo estranho que fez minha nuca ficar arrepiada. Eu afundei o nariz no peito dele sentindo o cheiro que eu conhecia tão bem se tornar muito mais selvagem e masculino. De um jeito que eu nunca havia percebido antes, Jake era um homem atraente e tudo nele era quente e excitante. Eu me desvencilhei dos braços dele confusa, sem saber como lidar com a nova sensação que eu tinha em relação a ele.

- Jake...acho que todos querem te ver. Vá comigo até a minha casa.

- Claro. Tudo bem.

PARTE 2 - EDWARD

Quando Renesmee entrou pela porta puxando Jacob pela mão, meu coração, mesmo frio e parado, deu um pulo no meu peito. Jacob Black era o tipo de criatura que eu evitaria sem dúvida alguma, mas, de um jeito ou de outro, ele sempre voltava para a minha vida. O vício de Bella por ele quando era humana me deixava louco de ciúmes e por mais que eu não quisesse admitir, eu sabia que ele teria sido a melhor opção para ela. Depois que ela se tornou vampira, as coisas se acalmaram. O vício tornou-se um carinho aceitável para mim e eu achei que ele não ficaria tão intensamente inserido na minha vida. A impressão que ele tivera com Renesmee me abalou muito, mas eu ainda tinha esperança de que ela não correspondesse da mesma forma. Para minha decepção, já nos primeiros dias de vida ela mostrou-se muito feliz junto a ele. Ela cresceu passeando nas costas de lobo dele, brincando dia e noite com um amiguinho que era muito mais velho do que ela. Apesar de relutar, eu passei a compreendê-lo e aceitar sua presença junto a minha pequena princesa. A devoção de Jacob me deixava comovido. Ele era tudo o que ela precisava a cada momento do dia e seus pensamentos eram puros e às vezes tão infantis quanto os dela. A cada dia, passei a aceitá-lo por poder ver o quanto ambos se faziam bem. No dia que partimos senti uma profunda tristeza por ser eu, mais uma vez, que o fazia sofrer. Primeiro Bella e agora eu levava minha filha para longe sabendo que ele não poderia sair de La Push. Minha intenção não era afastá-los, eu sabia que ela também estava sofrendo, só que não tanto quanto ele. Apesar de tudo, nós precisávamos partir. Sofri ao ver Bella e Renesmee sofrendo ao deixar Forks. Jacob nos seguiu por dentro da floresta até virarmos entrando em outra cidade. Eu olhei pelo retrovisor enquanto dirigia e pude ver atrás do carro de Rosalie sua forma grotesca e abalada observar nossa partida. Depois daquele dia eu senti seu cheiro muitas vezes perto de nossas diferentes casas. Ele não se aproximou de Renesmee e eu respeitei sua decisão não contando nada sobre isso para ela. Ninguém nunca falou para ela sobre a impressão de Jacob. Provavelmente, com exceção de quando ela era muito pequena, nunca ouvira essa expressão. Evitávamos falar sobre ele, mas nos primeiros sessenta anos ela sofreu muito por não ter ele por perto. Depois disso, ela não o esqueceu, mas se acostumou com a ausência. Às vezes, enquanto ela dormia (ela sempre dormia umas cinco horas por dia) eu o via em seus sonhos e quando ela tinha pesadelos era ele que sempre a salvava. Ele era sempre o seu herói, mas ao invés de armaduras e cavalos brancos, só havia Jacob Black sem blusa e se transformando em lobo.

Quando eu percebia que ele estava por perto, eu ficava atento, mas Renesmee não tinha um faro tão bom e treinado quanto o meu e acho que nunca percebeu sua presença. Algumas vezes ouvi seus pensamentos de lobo, eles eram sempre melancólicos e zelosos em relação a ela. No dia em que Renesmee reencontrou Nahuel, eu soube que ela sentiria uma ligação forte com ele e, mais uma vez, tive pena de Jacob. Ao longo de dois anos Nahuel e ela acamparam e viajaram juntos sempre muito apaixonados e felizes. Por muito tempo não pensei em Jacob Black e minha vida se resumia a Bella e a felicidade de Renesmee. Porém, uma noite, Jacob se aproximou mais da nossa casa e do meu quarto eu olhei pela janela e vi seu vulto entre as árvores observando Renesmee e Nahuel rindo na varanda. Quando ele uivou o rosto abatido de Bella destroçou meu coração e eu percebi que mesmo sem o vício, o amor que ela sentia por ele nunca a deixaria feliz plenamente enquanto ele estivesse triste. Naquela noite, pela primeira vez, pelo menos de forma plena e sincera, eu desejei que Renesmee se lembrasse do quanto o amava.

Agora ele estava novamente na minha casa. A mansão ainda estava bagunçada e sem móveis e ele parecia um gigante lá dentro. Naquele instante não pude conter minha aflição ao ver minha pequena junto a ele novamente e lutei para pensar que aquilo talvez fosse o melhor para todos. Os olhos e o sorriso de Renesmee ao lado dele eram parecidos com o de Bella quando era humana e o via. Meu ciúmes borbulhou, mas os pensamentos alegres dos dois me deixou mais calmo. Bella o abraçou com vontade sem reclamar do cheiro de cachorro do mato. Eu apertei a mão dele sem deixar de vasculhar sua cabeça.

- Hey, Edward. Frente a frente novamente hein? – ele pensou dando um sorriso retardado.

- É... – respondi em voz alta e Bella me deu um cutucão irritada.

- Nós odiamos quando vocês fazem isso – reclamou Renesmee

- Então peça para ele parar de ouvir minha cabeça – retrucou Jacob

- Você estava falando em pensamentos comigo Jacob Black.

- Porque eu sabia que você não ia se conter e ia acabar os lendo – continuou ele.

- Ei, vocês não tem jeito não? – disse Bella botando as mãos na cintura e batendo o pé no chão. Ela estava linda em um vestido vinho que realçava seus olhos. Quando ela ficava irritada eu me sentia ainda mais apaixonado por ela, se é que isso era possível. Eu olhei para Jacob e entrei mais uma vez em seus pensamentos, mas tudo que eu podia ver dentro da cabeça dele ela Renesmee. O sorriso, os olhos, as mãos delicadas. Era incrível como Bella também se tornara apenas uma amiga querida aos seus olhos.

Durante uma semana, enquanto arrumávamos tudo, Renesmee não saiu de La Push. Seth era o único que ainda permanecia o mesmo depois de tanto tempo, todos os outros já haviam morrido. Com exceção de Leah, mas ela nunca fora de ficar muito por perto. Enquanto Jacob corria pra cima e pra baixo com Renesmee, Seth nos ajudava com a mudança. Ele estava um pouco mais velho, mas ainda jovem. Eu realmente gostava dele e me sentia feliz ao ver o quanto ele gostava da nossa família. Até mesmo Rosalie não reclamava do seu cheiro infestando a sala. Ela só reclamava de Jacob, mas acho que era porque ele gostava de implicar com ela e porque ela sabia, bem lá no fundo, que não podia competir a atenção de Renesmee com ele. Assim como Bella fora certa vez, Renesmee, cada dia mais, tornava-se viciada em Jacob. E mais uma vez, essa droga química de lobo voltava para nossas vidas. Eu já tinha certeza que em breve teria que aceitar um namoro quando atendi ao telefone e ouvi a voz animada de Nahuel. A mesma coisa que me passara pela cabeça anos atrás, voltara agora a preencher meus pensamentos em relação a minha filha: Jacob teria concorrência.