Distante

Ele amava o mar, especialmente à noite. O silêncio dos outros marinheiros, a batida suave do mar, a escuridão solitária. Olhar para as estrelas e navegar, sabendo exatamente onde ia. As constelações lá em cima era um mapa, e Draco conhecia-as desde que aprendeu a falar.

Em outro navio assim, na verdade. Seu pai nunca o deixara muito tempo em terra, mas parecia feliz por chegar em casa e encher a esposa com os frutos de seus saques. Era um homem rico, mas a pirataria sempre foi um negócio próspero.

Draco tinha herdado muito dinheiro. E o gosto pelo mar. Mas não tinha herdado o gosto por mulheres dóceis e que ficavam felizes em receber presentes.

Então continuava no mar, porque lá sentia saudades de Ginevra. Seus cabelos vermelhos pareciam mais brilhantes, e os momentos juntos, pareciam mais felizes quando era só lembrança.

Na realidade, brigavam o tempo todo quando ele ficava mais que dois ou três dias na costa. Odiavam-se, e ela se ressentia de suas aventuras. Ele se ressentia dela querer prendê-lo ao lar. Era um homem do mar e ela sabia!

Talvez fosse o momento de ter filhos, algo para que ela não ficasse tão sozinha. Era orgulhosa demais para confessar seus tormentos as serviçais, ou mesmo para sua mãe que a alertara, tantas vezes, que era uma má idéia se casar com Draco Malfoy. Que Malfoys não eram confiáveis. Que eram má gente.

E tudo isso, claro, era verdade.

Mas tinham se amado, e tinha sido tudo tão forte e tão intenso, e acreditaram realmente que nunca acabaria. Ela tinha estado lindíssima em seu vestido azul, e o padre tinha sido rápido, e mesmo a batalha e o roubo de outros navios não era um êxtase como o que tinha sido fazer dela sua mulher naquela noite.

Diferente de tantas outras.

Diferente da última. Os gritos e as acusações. A dor nos olhos dela.

Melhor o silêncio do mar e a luz das estrelas.

A fúria do mar era mais tranqüila que a de sua mulher.

Sua mulher.

Pensando nisso, sorriu outra vez. Não conseguia ficar amargo muito tempo.

O melhor da distância sempre seria a saudade.