Título: Me Encontrei em Você

Autoras: Mary Spn / Marina Morena

Sinopse: Um jovem Judeu, que acreditava estar seguindo seu melhor caminho, se depara com possibilidades que irão abalar suas estruturas. No turbilhão de seus conflitos internos, crenças e valores, terá que optar por caminhos que poderão mudar a sua vida para sempre. - Padackles / AU.

Nota das autoras: Depois de muitas conversas divertidas, eu e Marina decidimos juntar nossas ideias e criarmos um plot para uma fanfic. Ela teve a brilhante ideia de que um deles fosse judeu e eu topei de imediato, pois é algo totalmente novo pra mim. Juntamos o conhecimento dela sobre o tema, a minha habilidade em escrever, mais as nossas loucuras e surtos com J2, e decidimos encarar este desafio. Enjoy!


Me Encontrei em Você

Capítulo 1

Nova York, além de maravilhosa, era uma cidade cheia de promessas. Jared desembarcava na Grand Central Station e mal podia conter sua excitação; finalmente chegara àquela selva de pedras, que até então só conhecia através de fotos e filmes. A capital do mundo sempre o inspirara e desafiara ao mesmo tempo; sentia que, assim como Sinatra, se ele fizesse ali, faria em qualquer outro lugar¹. Nesta cidade qualquer um poderia ser quem quisesse, livre de todas as regras e costumes, pois nada ali soava estranho, exagerado, ou esquisito.

Tinha recém se instalado no apartamento que dividiria com seu velho amigo, Zachary Levi, e ainda estava deslumbrado, custando a acreditar que estava mesmo ali, que tudo não passava de um sonho.

Deixar o Texas para trás era algo doloroso, mas necessário. Sentia um aperto no peito ao pensar em sua família e nos amigos que lá havia deixado. Com seus vinte e dois anos, pela primeira vez estava sendo movido pela ambição de uma carreira promissora e pela vontade de encarar algo totalmente novo.

Estava cursando o último ano da faculdade de Engenharia Têxtil no Texas quando seu professor preferido, Mark Pellegrino, lhe ofereceu uma oportunidade de estagiar em uma grande tecelagem em Nova York. Jared viu aquilo como uma ótima oportunidade de algum dia alavancar sua carreira, mas ficou com um pouco de receio quando soube que a empresa pertencia a uma família de Judeus tradicionalistas.

Seu professor o incentivou e tentou tranquiliza-lo, mas de qualquer maneira Jared teria aceitado. Não era o tipo de homem que fugia de qualquer desafio. Preferia sempre tentar e acabar quebrando a cara, do que se arrepender por não ter tentado.

Zachary também era do Texas, mas já morava em Nova York há mais de um ano. Zac já tinha concluído a faculdade de Engenharia Ambiental e no momento estava fazendo uma pós-graduação. Era do tipo que amava a natureza, levava uma vida saudável, e adorava praticar esportes ao ar livre.

- Cara, você vai mesmo passar o dia inteiro enfiado neste quarto, na frente desse notebook? – Zac o fitava, incrédulo, encostado na soleira da porta. – Suas aulas não começam somente na semana que vem?

- Não é isso, é que... Você sabe, o meu estágio começa amanhã, e eu estou pesquisando um pouco sobre a cultura judaica, pra não chegar lá falando merda e dando alguma bola fora logo no primeiro dia, entendeu? – Jared falava e gesticulava, com aquele seu jeito peculiar, que fazia o seu amigo o achar engraçado.

- Certo. Eu já tinha me esquecido do quanto você pode ser nerd quando quer – Zachary deu risadas. – Nem parece o mesmo cara que eu conheci naquele acampamento, anos atrás.

- Você nunca vai se esquecer daquilo? – Jared deu risadas com a lembrança. – Foi humilhante demais! – Fechou o notebook e girou a cadeira, para poder olhar para o amigo.

- Cara, foi mesmo. Você vomitou no carro do meu amigo quando estávamos te levando de volta pra casa, e ele quis me matar por isso! E você não conseguia nem se lembrar onde morava, nós te deixamos na calçada da sua rua, lembra?

- Belo amigo você era, hein! Eu podia ter morrido e você não estava nem aí – Jared fez bico, mas começou a rir.

- Seu babaca! Eu mal te conhecia, estava te fazendo um favor! – Zac deu um tapa de leve na cabeça de Jared e ambos caíram na gargalhada.

- Foi divertido. O mais engraçado foi que você nem me conhecia, eu estava simplesmente passando em frente à barraca dos seus amigos e você me desafiou pra ver quem aguentava tomar mais shots de tequila – O moreno fez uma cara feia, com a lembrança.

- Meus amigos caíram na terceira dose – Zac balançou a cabeça, rindo. – São uns fracos. Mas o pior de tudo foi na manhã depois do acampamento, quando eu acordei em um motel, ao lado de uma menina tão feia que eu não tive coragem de olhar pra cara dela uma segunda vez.

- E eu acordei na calçada do meu vizinho. Ouvi mais sermões dos meus pais naquele dia, do que eu tinha ouvido a minha vida toda - Jared riu.

- E quem diria que um ano depois a gente fosse se encontrar novamente no casamento da minha prima? Nós nem fazíamos ideia que nossas famílias se conheciam.

- É verdade, foi uma surpresa pra mim. Desde então, você não largou mais do meu pé – O moreno brincou.

- Só me responde uma coisa... Como é que um cara como você, do Texas, foi acabar estudando engenharia têxtil? Quero dizer, nada contra, mas acho que é uma das últimas coisas que eu imaginaria você fazendo – Zac sempre imaginou que o amigo fosse ser um atleta ou trabalhar em algo relacionado a esportes, mas nunca o imaginou trabalhando em uma indústria.

- É uma longa história. Mas resumindo, o meu avô era dono de uma grande tecelagem, lá no Texas. Era o sonho dele que alguém desse continuidade à empresa, e ele queria muito que fosse eu. Então, mesmo não sendo o que eu sonhava, resolvi fazer esta faculdade e acabei gostando. Só que meu avô morreu há um ano, teve um ataque cardíaco, foi muito de repente. Os meus tios brigaram muito pela herança e só o meu pai queria manter a empresa. Como meus tios eram a maioria, acabaram vendendo tudo. Foi uma pena. Meus pais hoje estão aposentados, eles têm uma vida confortável no Texas, mas podia ter sido muito melhor se tivessem dado continuidade aos negócios do meu avô. Era algo que deixaria o meu pai feliz.

- Família é um saco, né? Geralmente tudo funciona até entrar dinheiro na jogada.

- É isso mesmo, infelizmente. Mas agora eu estou aqui, não é? – Jared sorriu e abriu os braços, então voltou a ficar sério. – Zac, você acredita em destino?

- Sei lá. Eu prefiro pensar que sou eu mesmo quem escolhe o meu próprio destino – Zac deu de ombros, refletindo sobre aquilo.

- Eu não sei, também prefiro acreditar nisso, mas às vezes eu sinto como se algo estivesse me empurrando nesta direção, sabe? É estranho...

- Estranho é você – Zac deu risadas. – Agora deixe esse notebook de lado e vamos dar uma volta por aí... O dia está lindo lá fora.

- x -

Jensen olhou mais uma vez no relógio, constatando que a reunião já se estendia por mais de uma hora. Sua cabeça latejava e o Senhor McNiven, seu patrão e futuro sogro, parecia não estar disposto a parar com seu discurso tão cedo. As vendas de tecidos tinham sofrido um queda considerável no último trimestre e por um momento, Jensen sentiu pena de Mark Sheppard, o gerente de vendas, que estava sentado ao seu lado esquerdo, e não se atrevia a olhar para qualquer lugar que não fosse suas próprias mãos.

O pai de sua namorada, Julie, costumava ser um homem calmo, polido, alguém que Jensen admirava por conseguir administrar aquela empresa com punhos de aço. O único defeito era que, como todo bom judeu, ele era extremamente pão duro, então os salários que pagava não eram os melhores da cidade.

Mas o loiro não ousaria reclamar, tinha um cargo de confiança na empresa como gerente de compras e, ao contrário do que muitos pensavam, não tinha conseguido a promoção por ser namorado da filha do patrão. Era muito competente no que fazia e tinha provado ser alguém de confiança, mostrando esforço e dedicação em seu trabalho, desde que começara a trabalhar na empresa, como um simples auxiliar.

Por demorar a descobrir o que realmente queria, tinha começado tardiamente a faculdade de engenharia têxtil, mas agora tinha plena certeza de ter feito a escolha certa. Gostava realmente do que fazia e sentia-se realizado na sua vida profissional.

Quando a reunião finalmente terminou, Jensen voltou para a sua sala e verificou alguns relatórios que sua secretária havia deixado em sua mesa.

- Oi amor – Julie entrou na sala e lhe deu um selinho nos lábios, parando de pé na sua frente. Ela tinha os cabelos ruivos presos em um coque formal, como costumava usar no trabalho. – Que carinha de cansado é essa?

- Hey – Jensen sorriu e a segurou pela cintura. – Seu pai estendeu a reunião mais do que o necessário hoje. Minha cabeça está a ponto de explodir.

- Oh, eu devia ter imaginado. Ainda bem que você já se acostumou com as explosões dele – Julie acariciou os cabelos loiros do namorado. – Vou pegar uma aspirina pra você.

- Não precisa. Eu ficarei bem. Daqui a pouco eu irei pra casa e vou aproveitar para descansar um pouco.

- Eu farei o mesmo, já que amanhã terei um dia cheio.

- O que tem de especial amanhã?

- Tem um novo estagiário começando e eu fiquei responsável por lhe dar treinamento - Julie respondeu.

- Um novo estagiário? – Jensen ergueu as sobrancelhas. – Ele é bonito, por acaso? Eu devo me preocupar?

- Seu bobinho! – Julie beijou o rosto do namorado, com carinho, roçando os dedos pela barba rala que tanto amava. – Ele nem é judeu!

- Não é? – Jensen franziu o cenho, estranhando. – O que deu no seu pai? Quando eu entrei na empresa esse era praticamente o primeiro requisito para trabalhar aqui, e agora...

- Está cada vez mais difícil encontrar pessoas qualificadas. E depois, por mais tradicionalista que o meu pai seja, ele mesmo está percebendo que não pode simplesmente fechar a fábrica nas sextas à tarde. É um prejuízo muito grande. Assim, pelo menos boa parte dos empregados permanece trabalhando.

- É, pensando por este lado... Ainda assim, não quero você muito perto dele – Jensen brincou. – É bom você deixar bem claro que o seu futuro noivo trabalha no próximo andar do prédio.

- Você é uma graça, Jensen – Julie sorriu ainda mais. – Já falei o quanto você fica lindo quando sente ciúmes? Agora deixe-me voltar para a minha sala, antes que o meu pai sinta a minha falta. Vejo você depois, amor.

Assim que Julie saiu pela porta, o sorriso de Jensen desapareceu. Ficou pensando no quão sensacional era aquela garota... bonita, inteligente, batalhadora, gentil. Era um homem de sorte por tê-la como namorada. Mas por que não conseguia amá-la como deveria ou como ela merecia?

Jensen se lembrava de ter conversado com o rabino à respeito, meses atrás, e podia se lembrar claramente das palavras dele, enquanto o aconselhava: "O mais importante nesse momento da vida é que vocês tenham os mesmos interesses, o amor vem com o tempo."

Jensen esperava realmente que isso algum dia acontecesse, porque por mais que gostasse de estar com Julie, e por mais que soubesse que ela seria uma excelente esposa e mãe dos seus filhos, sempre havia aquele vazio, como se algo estivesse faltando.

Ser judeu era algo que estava no seu sangue, era a sua vida, era no que acreditava; mas muitas vezes Jensen se sentia um tanto sufocado por ter que conviver com tantas imposições e restrições.

Secretamente, às vezes se imaginava levando uma vida sem regras, como os seus colegas da faculdade. Seu corpo tinha vontades e algumas vezes, durante a noite, tinha sonhos dos quais se envergonhava, mas não podia controlar. E talvez por seu inconsciente saber o quanto aquilo era errado e proibido, tornava tudo ainda mais prazeroso.

O loiro olhou no relógio e percebeu que seu expediente já havia terminado. Pegou seu casaco e foi se despedir de Julie, para então voltar para casa. Uma caminhada lhe faria bem, e talvez ajudasse a tirar todos aqueles pensamentos que de vez em quando atormentavam sua mente.

Pensou que talvez devesse ira até a Sinagoga aquela noite e rezar, pedir a Deus que o iluminasse e que não permitisse que nada o desviasse de seu caminho...

Continua...


1 - Referência à música New York, New York, de Frank Sinatra.

Notas:

1) Para deixar claro, dificilmente Ackles seria um sobrenome judeu. Padalecki até poderia ser, devido à sua origem Polonesa, mas a escolha do Jensen foi opção das autoras em comum acordo, por acharmos que o biótipo dele combina mais com o de um Judeu.

2) A menção ao fato dos judeus tradicionalistas não trabalharem nas tardes de sextas-feiras, deve-se a prática do Shabat, ou dia dos descanso, como é conhecido no Brasil.

O Shabat (sábado em hebraico) começa no por do sol de sexta-feira e termina ao por do sol do sábado, isto por que o dia, de acordo com o calendário judaico, começa ao por do sol. A Tora (Como uma Bíblia para os Judeus) afirma que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo, ordenando assim que descansássemos também.

Nesse período algumas atividades são proibidas, excepcionalmente, contudo, em caso de risco de morte, quaisquer das proibições podem ser deixadas de lado, exemplos: Colher, assar, lavar a lã, tecer, dar nó, separar duas linhas, rasgar, coser, caçar, cortar, escrever, apagar, construir, acender, apagar ou diminuir o fogo, transportar algo desde um ambiente particular a um público etc...