Disclaimer: A maior parte dos personagens pertence Rolling.

Capítulo 1: Fuga

James

As janelas grandes do escritório nunca me pareceram tão sufocantes.

Enquanto eu caminho em direção ao Departamento de RH e vejo o tempo bonito que está fazendo lá fora eu me sinto mais e mais um prisioneiro.

Desde quando eu me sinto assim nesse lugar?

Passo pelos corredores abarrotados de funcionários e finjo não notar os olhares curiosos que minha presença ali desencadeia. Antes, quando todos possuíam suas baias, era mais fácil disfarçar as fofocas. Esse novo conceito de "open office" é uma grande porcaria.

Todos sabem o que você está fazendo.

Paro em frente à mesa da secretária do departamento. Ela imediatamente tira os olhos do monitor e me encara com um sorriso falso.

- Boa tarde, senhor Potter. – Ela me cumprimenta, educadamente. – Como posso ajudá-lo?

- Boa tarde, senhorita Brown. – Eu respondo. – Preciso falar com a senhora Trelawney.

A secretária pede um instante para checar a agenda de Trelawney, depois da um telefonema e então me manda entrar na sala da diretora de Recursos Humanos.

Essa formalidade é uma merda.

Não vejo a hora de sair desse lugar.

As salas dos diretores possuem as paredes transparentes – tudo em nome do conceito de open office – de forma que eu noto todos os funcionários do departamento de RH dando uma espiada nada discreta na minha conversa com Sibila.

É claro, todos devem estar imaginando qual foi a merda que eu fiz dessa vez, que tipo de seminário eles terão que assistir por conta de alguma cagada minha. Afinal, minha conduta nessa empresa é "totalmente antiprofissional". Eu só continuo aqui porque sou filho do CEO.

Preciso de muita força de vontade para não mostrar o dedo do meio para essa gente enxerida.

Sibila, assim como todos os empregados do meu pai, possuí esse visual impecável: conjunto social, os saltos altos e o cabelo preso em um coque perfeito. Para trabalhar na Potter's Coorporation tem que ser assim: um modelo de eficiência e profissionalismo. Todos os funcionários aqui tem um currículo impecável.

Bom, todos menos eu.

- Boa tarde, Senhora Trelawney. – Eu a cumprimento com um aperto de mão e nos sentamos.

Ela ajeita os óculos e sorri para mim. Um sorriso totalmente falso.

Eu sei que ela me odeia.

E, sinceramente, não estou nem aí.

- Senhor Potter. Boa tarde. – Sibila tem essa pronuncia distinta das palavras, parece que ela está falando com uma criança de cinco anos, não importa com quem ela esteja conversando. Isso me irrita profundamente. - Em que posso ajuda-lo?

Abro o meu melhor sorriso a ela e coloco algumas folhas de papel em cima de sua mesa cara e muito arrumada.

- Eu vim entregar meus papéis de demissão.

O queixo dela caiu por exatos três segundos. Foi o tempo necessário para que ela disfarçasse totalmente sua surpresa com minha demissão repentina. Ela pega os papéis e os analisa calmamente, por mais de quinze minutos antes de me fazer a pergunta que deve estar ecoando na mente dela há algum tempo...

- O senhor Potter, está de acordo com isso?

- Mas é claro que sim. Não faria algo do tipo sem conversar com ele antes.

Obviamente eu NÃO conversei com ele antes. Agi à surdina, fazendo entrevistas de emprego em qualquer lugar, especialmente os lugares mais longe daqui, até encontrar alguma coisa que eu realmente gostasse. E também esperei o senhor Potter ter uma viagem de negócios de pelo menos uma semana para finalmente entregar meus papéis de demissão.

Meu pai vai pirar quando descobrir o que eu fiz.

Cerca de uma hora depois eu já esvaziei minha mesa e estou a caminho do meu carro. Hagrid, meu guarda costas, está parado na frente da porta do meu Sedan com uma expressão nada boa.

- Você tem mesmo certeza disso, menino? – Ele me pergunta com um tom de desaprovação bastante forte quase tão carregado quanto seu sotaque Russo. – E quando a Senhora Potter? E Alice?

- Minha mãe e minha irmã vão ficar bem, Hagrid. Eu é que vou ficar maluco das ideias se continuar trabalhando para o meu pai.

- Mas o senhor poderia dizer isso a ele. – Hagrid praticamente implora. – Isso não é o tipo de atitude que um Potter tomaria.

Para um gigantão com cara de assassino como ele, Hagrid é um tanto sentimental. Ele tem sido meu guarda costas desde que eu comecei a trabalhar para o meu pai. O escolhi não por causa da cara dele, que é bastante assustadora, mas sim porque no dia da entrevista eu notei que o chaveiro dele era do Bob Esponja.

Qualquer pessoa que tenha um chaveiro do Bob Esponja é imediatamente considerada altamente confiável.

- Olha Hagrid... – Não sei por onde eu começo. Despedidas são sempre tristes e chorar é coisa de boiola. Nada contra, mas não sou um. – A partir de agora, você é exclusivamente o guarda costas de Alice, já que eu não vou ter dinheiro para te pagar.

- Senhor, Potter. – Hagrid dá uma fungada gigantesca e olha para o chão tentando controlar o choro.

Eu não sei como se faz para consolar um cara como Hagrid. E também nem quero descobrir.

Dou dois tapinhas em suas costas e sorrio.

- O que é isso Hagrid! Alice não é tão ruim assim! Tudo bem que ela adora ficar andando pelo shopping, mas ela é gente boa.

Hagrid passa as mãos gigantescas dele nos olhos, limpando as lágrimas acho eu, e então me dá um abraço de urso.

- Mande um beijo para minha mãe e Alice. – Eu grito pela janela do carro quando já estou dando partida. – Diga a elas que eu ligo assim que puder.

Coloco o som no maior volume e abro bem as janelas enquanto dirijo pela estrada.

Pela primeira vez em anos eu me sinto livre.

Tento evitar pensar na reação do meu pai quando ele descobrir que eu peguei minhas coisas e me mandei sem deixar telefone, nem endereço. É claro que eu não consigo.

Não é nada fácil ser filho do milionário, empresário do século e maníaco por controle Charlus Potter. O homem é simplesmente neurótico, nada pode sair dos planos dele. Nada.

Nem mesmo seu filho mais velho, ou seja, eu.

Acredito que antes mesmo de eu aparecer no ultrassom meu pai já tinha tudo planejado para minha vida: desde minhas roupas, até meu emprego e minha esposa. Durante muito tempo eu não reclamei de nada. Apenas fiz tudo como ele queria. Não havia nada do que reclamar é claro, eu era rico, mimado e tinha tudo de mão beijada. Era muito mais fácil simplesmente seguir o plano do meu pai, não precisar pensar no que fazer.

O problema foi a faculdade.

Ah, a faculdade. Foi lá, longe da supervisão 24 horas por dia do meu pai, que eu descobri que poderia fazer outras coisas além daquelas que ele tinha planejado. Foram os quatro anos mais felizes da minha vida. Quatro anos nos quais eu bebi, fui a festas, dormi com garotas cujos nomes e rostos não me recordo, fiz amizades diferentes daquelas pré-aprovadas pelo meu pai.

Depois disso tudo, foi simplesmente uma droga ter que voltar ao caminho traçado pelo Senhor Potter.

Foi aí que nossas brigas começaram.

Eu passei a detestar o jeito controlador dele. Passei a odiar todos aqueles almofadinhas irritantes que antes eram meus amigos e todas aquelas loiras sem graça com as quais eu costumava sair.

Meu pai obviamente culpou uma das minhas muitas ex-namoradas dos tempos de faculdade pela minha mudança repentina. Uma ruiva, gata e malucona que me deixava louco: Lily Evans.

Na realidade, não éramos bem namorados. Nós saíamos muitas vezes, dormíamos juntos com frequência, chegamos a ser exclusivos por uns dois meses. Eu a levava comigo nos eventos beneficentes dos Potter e ela sempre acabava discutindo com meu pai por algum motivo aleatório. Depois nós bebíamos um monte de champanhe e transávamos no banheiro.

Era muito divertido.

Me pergunto onde Lily foi parar. Ela simplesmente sumiu do nada, antes mesmo da colação de grau.

A reencontrei um dia, há mais ou menos um ano e meio, em uma farmácia em Nova York. Ela estava diferente. Parecia uma mulher adulta. Quase não a reconheci.

Ela ficou surpresa em me ver, acabamos indo tomar umas vodcas. Ela parecia querer me dizer alguma coisa, mas nos distraímos um com o outro. No final das contas eu acordei no quarto do meu hotel com várias marcas de chupões, lembranças picantes que nunca esquecerei e nenhum recado. Nem um bilhete. Nada. A mulher simplesmente evaporou.

Eu ainda acho que aquilo foi um sonho.

Ainda tenho umas fotos dela. Aliás, eu uso uma foto dela como papel de parede no meu computador. Ela está de costas debruçada na varanda da casa de praia que papai tem na Califórnia. Eu gosto daquela foto por causa do efeito da luz do sol nos cabelos dela.

Lily, por onde será que você anda?

Lily

As panelas apitam na minha cozinha enquanto eu corto legumes ao mesmo tempo em que analiso as planilhas com a previsão de vendas para o mês. Estes números estão todos errados. Vou ter que arrumar tudo essa noite.

Em um ataque de incredulidade com os números eu quase derrubo o computador da empresa no lixo.

Sei que não deveria deixá-lo em cima da pia, mas a mesinha da cozinha está ocupada por Harry, seus soldados espaciais e, claro, a cadeirinha de Melanie que está tirando seu cochilo das 18h00.

Por um milagre dos céus Melanie está quietinha. Ainda bem que ela dormiu, caso contrário agora eu estaria tentando faze-la parar de puxar o cabelo de Harry, ou de jogar coisas nele, ou babar nos brinquedos favoritos do irmão mais velho.

Tenho tido um certo trabalho com Mel, ela morre de ciúmes do irmão mais velho. Quando fiquei grávida pela segunda vez, minhas energias foram canalizadas em Harry não ficar com ciúmes da irmãzinha, jamais pensei que o contrário pudesse acontecer.

Harry quase não me dá trabalho.

Exceto quando ele resolve me assustar surgindo silenciosamente do meu lado quando eu menos espero. Como agora, por exemplo.

- Ai Harry! – Eu me esforço para não gritar e acordar a bebê. - Que susto você me deu, querido!

Harry cai na gargalhada. Ele fez de propósito, esse monstrinho.

- Mamãe, to com fominha. – Harry faz bico e passa a mão na barriga.

Ai que coisa fofa da mamãe.

- Já está quase pronto! Só mais cinco minutos.

- Quanto que é cinco minutos?

- É um tantinho assim de tempo! – Faço um sinal com a mão indicando um espaço curto. Harry estreita os olhos. -Vá brincar com o lorde espacial enquanto isso.

- O lorde espacial também tem fominha.

- Diga a ele para esperar mais um pouco.

O jantar fica pronto em exatos 10 minutos. Depois de comermos Harry e eu fomos ler o livro divertido da noite. Melanie, graças aos deuses, continuou em seu cochilo que, eu espero, vai durar até amanhã de manhã.

Dou a Harry meia hora de brincadeiras antes de dormir. Eu o assisto brincar enquanto arrumo os números do relatório que me enviaram, só paro para atender ao telefone.

E é claro que é minha mãe.

- Oi Lily, como estão as crianças?

Mamãe fica no blá blá blá de sempre. Ela me conta como estão as coisas com ela, das últimas que meu pai aprontou, pergunta se estamos nos alimentando bem, quem foi buscar as crianças na escolinha, esse tipo de assunto.

Meus pais não me disseram absolutamente nada quando descobriram que eu estava grávida. Muito menos quando eu decidi que ia criar Harry sozinha. Isso é porque eles me conhecem bem. Eu sempre fui muito independente. Eles sabiam que se dissessem qualquer coisa eu simplesmente sumiria com o bebê e eles não o veriam nunca. O problema é que eles me ligam todo santo dia para saber como estão as coisas e eu sou praticamente obrigada a visita-los pelo menos duas vezes ao mês ou eles aparecem em casa e brigam comigo.

Isso chocou Petúnia de tal forma, que minha irmã mais velha parou de falar comigo. Temos sérios problemas durante as festas de fim de ano, quando a família se reúne e ela aparece com o marido gordo e feio dela e o filho horroroso e mimado. Duda gosta de irritar Harry. Já o peguei jogando os brinquedos do meu filho no vaso sanitário e o fazendo pegá-los a força. Eu fiquei revoltadíssima com isso e então ensinei Harry a dar bons ganchos de esquerda. Petúnia acha isso um absurdo. Absurdo é aquele filho dela nojento que gosta de judiar dos outros. Ele pode fazer isso com quem quiser, mas com meu filho não.

Meu filho dá ótimos ganchos de esquerda (para um garotinho de três anos e meio).

E eu o ensinei que grandes poderes vêm com grandes responsabilidades. Harry só usa suas técnicas avançadas de luta para se defender ou proteger seus coleguinhas na escola.

Meu orgulho!

Eu não estou nem aí para o que Petúnia pensa ou diz. Nem ao menos liguei quando ela fez um escândalo e passou a se recusar a frequentar o mesmo ambiente que eu. Ela fez isso quando eu dei a noticia de que estava grávida de novo, do mesmo homem por sinal, e que ele não teria participação nenhuma na vida do outro bebê, assim como não tem na de Harry.

Eu vi os olhos da minha mãe tremendo e a veia na testa de papai pulsando de indignação, mas nenhuma palavra saiu da boca deles.

O que eles poderiam dizer?

Tenho me virado muito bem sozinha, nunca precisei pedir nem UMA fralda para eles. Ao contrário de Petúnia que sempre está pedindo, opa pedindo não, EXIGINDO presentes caros para o filho querido dela. Ou largando o garoto na casa dos meus pais enquanto ela viaja para lugares chiques com o marido fedido dela. Certa vez ela deixou Duda por um mês inteiro na casa dos meus pais sem nem ligar para saber como o moleque estava.

Eu fico com pena do garoto, mas não posso fazer nada por ele. Petúnia não deixa.

E não é como se eu não tivesse pensado na possibilidade de conversar com o pai das crianças. O problema é que a situação é um pouco mais complicada do que parece.

O pai dos meus bebês é o filho do multimilionário Charlus Potter. Ele só é o empresário do século. Deu para imaginar como seria a minha vida? Tenho aí algumas opções:

Charlus Potter me acusaria de golpista (por usar o famoso golpe da barriga) e me obrigaria a abortar meu pequeno bebê.

Charlus Potter me obrigaria a me casar com o filho dele e se intrometeria em tudo o que eu fizesse, provavelmente ia querer controlar cada respiração que eu e meus filhos déssemos assim como ele faz com James.

James Potter, o playboyzinho mimado (muito divertido, inteligente e lindo, mas MUITO mimado, irresponsável e mulherengo) seria o pior pai do universo e meus filhos se tornariam adultos traumatizados e cheios de problemas como meu melhor amigo Sirius.

Não me leve a mal, Sirius é meu melhor amigo de todo o universo. Eu amo ele. Mas a família dele o estragou a tal ponto que o cara não consegue se envolver com ninguém, ele pula de cama em cama sem nunca conseguir criar laços afetivos com ninguém que não seja eu.

Isso só porque eu sou praticamente a mãe dele. Já que a mãe verdadeira nunca lhe deu nenhuma atenção e nunca o ensinou nada. Eu venho desempenhando esse papel desde que o conheci no jardim de infância.

Tive sérios problemas com ele quando comecei a ficar amiga de Marlene na faculdade. Sirius não fez faculdade, ele decidiu dar a volta ao mundo ao invés disso (usando parte da fortuna que um tio rico dele deixou de herança), quando ele voltou e viu que eu tinha uma amiga nova, ficou maluco. Ele morre de ciúmes de Marlene. É muito mais fácil eu lidar com o pequeno Harry beliscando a irmãzinha do que com Sirius Black tendo crises terríveis de ciúmes por causa de Marlene.

E o melhor de tudo é que os dois são padrinhos dos meus filhos e brigam o tempo inteiro. Agora a briga deles é pelo tema da festa de aniversário de um ano de Melanie, que é só daqui a cinco meses. Eu não estou vendo nada disso agora, mas os dois estão em uma disputa pelo tema. Harry acha super engraçado ver os tios dele surgindo em casa com roupas de palhaço ou princesa e vendo qual deles minha bebê de sete meses prefere. O que ela prefere mesmo é babar em cima dos brinquedos de Harry. Ou tomar leite com chocolate. Sirius a deixou viciada nisso, aquele maldito. Ela agora fica relutante em tomar leite materno... Ela só quer saber da porcaria do leite com chocolate.

Marlene ficou doida quando eu contei isso a ela. Pelo que eu entendi, ela foi até a casa de Sirius e o espancou com uma toalha molhada por causa disso. Sirius me ligou reclamando que estava cheio de vergões nas costas por causa da "maluca da sua amiga".

Ah esses dois!

- Mas você sabe como é a Senhora Clearwater, não sabe? Mimi me contou que ela anda espionando os Graceland, você acredita? Não quero nem ver como vai ser no almoço de Sábado! Ela sempre fica de olho quando você vem aqui...

Mamãe continua com seu monologo sem fim sobre os vizinhos. Preciso cortá-la ou vamos ficar nisso por mais uma hora inteira...

- Certo, mamãe, nos vemos Sábado no almoço então. Preciso colocar Harry para dormir. Beijos.

Desligo antes que ela tenha a chance de dizer qualquer outra coisa.

Minha noite teria sido super tranquila se Melanie não tivesse acordado às 3 da manhã, chorando de forma escandalosa. Demorei uma hora para conseguir acalmá-la e fazê-la dormir novamente. Depois mais meia hora para colocar Harry para dormir, ele acordou mau humorado com a barulheira que a irmãzinha dele estava fazendo.

- Porque você não devolve ela na loja, mamãe? Ela está com defeito!

- Harry, não comprei sua irmã em uma loja. Você não se lembra do meu barrigão?

- Mas como que ela foi parar na sua barriga? E porque ela entrou aí para depois sair? Ela é burra?

- Harry! Sua irmã não é burra! Vamos dormir, querido. Depois eu te conto como ela foi parar na minha barriga.

- Amanhã, mamãe?

- Isso, amor.

De manhã Harry nem se lembra mais das perguntas que ele fez ontem. Ainda bem. Não estou preparada psicologicamente para explicar sexo para meu filho de 3 anos e meio.

Quantos anos eu tinha quando minha mãe me contou de onde vem os bebes? Não me lembro mais.

Pensando bem, acho que ela nunca teve essa conversa comigo.

E veja só onde eu fui parar! Mãe solteira, dois filhos do mesmo homem. E ele não faz ideia que é pai.

Talvez seja melhor eu contar a história da abelha para Harry.

Enquanto dirijo para o trabalho, depois de deixar as crianças na escolinha, meus pensamentos acabam voando para o passado. Eles acabam indo parar na última vez que me encontrei com James...

Eu estava em uma convenção da empresa em Nova York, com um resfriado daqueles. Era inverno, meu nariz estava vermelho e eu precisava estar bem, pois ia apresentar os números do mercado no outro dia às 11 da manhã para praticamente todos os gerentes e diretores. Resolvi passar em algum lugar e comprar todos os remédios para gripe que visse em minha frente.

Eram 7 da noite quando eu entrei na farmácia mais próxima do centro de convenções. Ela estava cheia de pessoas com os narizes tão vermelhos quanto o meu. Fiquei um tempão na fila esperando ser atendida. Nesse meio tempo, um homenzinho asqueroso começou a puxar conversa comigo e pediu meu telefone.

Eu estava em uma época um tanto quanto difícil, uma fase carente. Fazia uns dois anos e pouco que eu não dava nem um beijo na boca. Estava quase considerando ofertar um sexo casual com o homenzinho (ele era menor do que eu, careca e parecia ser peludão – só para se ter uma ideia do meu estado), quando um milagre aconteceu.

- Lily Evans! – Uma voz rouca e zombeteira interrompeu meu flerte com o homenzinho no exato momento em que eu iria oferecer meu número de telefone a ele.

Virei-me a procura do dono da voz, já sabendo muito bem quem era, e vi, a duas prateleiras de onde eu estava, James Potter. Ele estava lindo de sobretudo preto, os cabelos negros arrepiados, os óculos de armação fina caindo sob ser nariz perfeito, o queixo másculo dele sem barba. O despi 500 vezes em minha mente perturbada por anos na seca.

- James Potter. – Tentei soar sensual, mas minha voz estava rouca e estranha por causa da gripe.

James veio até mim e me deu um abraço daqueles. Não estava conseguindo sentir cheiros, meu nariz estava totalmente constipado, mas imagino que ele deveria estar usando aquele perfume dele.

Ah, aquele perfume.

- Sua sumida! – Ele disse enquanto colocava uma mecha rebelde dos meus cabelos atrás da minha orelha, o que me deixou quase maluca. – Então é para cá que você fugiu?

Eu ri. Não uma risada escandalosa, mas uma risadinha tímida.

Isso costuma deixar os homens malucos. Pelo menos costumava há uns quatro anos atrás, quando eu saia para dançar e flertar com completos estranhos nas festas da faculdade.

- Não. Estou aqui para uma convenção da empresa onde trabalho. Vou embora amanhã à tarde.

- Você está doente? - Ele então tocou a ponta do meu nariz e franziu o cenho, suas sobrancelhas grossas quase tocando uma na outra.

- É só uma gripezinha de nada. – Eu utilizei o velho estratagema "estou me fazendo de forte, mas na realidade estou morrendo, por favor me proteja e cuide de mim", colocando um espirro delicado no final para deixar tudo mais verdadeiro.

- Você sabe o que cura qualquer gripe, não sabe? – James me perguntou com um sorriso maroto nos lábios carnudos e totalmente mordíveis dele.

"Ah James" – pensei. – "você não mudou nada nesses quase três anos"

Sabia claramente o que ele iria sugerir, mas me fingi de idiota.

- Uma boa garrafa de Vodca. Tem um bar aqui do lado. É muito bom. Vamos. Eu pago umas doses para você.

A essa altura já tinha pedido meus remédios e estava na fila do caixa. James pagou minha conta. Nem me perguntei o que ele estava fazendo naquela farmácia àquela hora. Tenho quase certeza de que ele estava se abastecendo de camisinhas para a noite (coisa que por sinal ele deveria ter usado comigo).

Aceitei o convite dele com a desculpa mental de que iria contar tudo sobre Harry. O que, obviamente, não fiz. Depois da segunda dose de Vodka eu bem que tentei, mas a bebida misturada com os remédios de gripe me deixou muito mais tarada do que eu já estava.

- James. – Eu já nem prestava atenção no que ele estava falando. Alguma coisa sobre a empresa do pai dele. Sei lá. Passei meus dedos pela gravata dele delicadamente, quando chegou na ponta eu a puxei de leve fazendo com que ele se aproximasse de mim.– Não estou muito bem, preciso me deitar.

Mordi meu lábio e olhei bem nos olhos dele. Então cheguei mais perto, meus lábios tocando sua orelha, e disse:

- Na sua cama.

Nove meses depois eu estava dando a luz a uma menina de 50 cm e 3,5 quilos.

Suspiro enquanto me sento em minha mesa, já no escritório.

Se James aparecesse na minha frente hoje, é possível que em alguns meses eu estivesse no mesmo hospital em que estive seis meses atrás, segurando meu terceiro filho nos braços.

Sorte a minha que ele está bem longe daqui.

Nota da Autora:

Eu sei, eu sei...

Tenho outras duas fics não terminadas.

Juro que não as abandonei (pelo menos não a Fruits Basket). Vou postar novos capítulos assim que eu achar que eles estão bons o suficiente.

Obs: Essa fic vai ter cenas picantes.

Aceito Reviews.

Bjos.