Corações apaixonados

Gw - Romance - Mpreg

Joana Malfoy e Hina

As manhãs no reino de Anthara sempre eram movimentadas, uma vez que aquele pequeno lugar ficava no limiar da floresta Nefasta e as colinas, se tornando um importante ponto de passagem para os comerciantes. Naturalmente abençoado Anthara era um forte produtor de minérios e energia para os demais reinos e paises vizinhos. Preferia conservar as tradições antigas, assim fazia questão seu rei, um jovem e corajoso governante que contava com o apoio de seu fiel esposo para levar a pulso firme aquele reino.

Naquela manhã em especial o movimento era maior. As ruas estavam apinhadas de gente, que excitadas cochichavam e sorriam.

A buzina forte em tom de valsa soava da carruagem negra com o brasão real de Anthara, que precedido por um cortejo vinha abrindo espaço pelas ruas. Era um modo antiquado de viajar, contudo elegante e confortável, os reis preferiam manter a tradição mandando fazer para os passeios reais várias carruagens imponentes, movidas a cavalos de potência de um motor vigoroso e não muito barulhento.

-São os reis! – algumas pessoas apontaram o cortejo bonito que desfilava pelas ruas.

-Quando será que teremos um herdeiro? – uma mulher perguntou queixosa iniciando a divagação. Há quase dez anos o rei havia se casado, porém não tinha um herdeiro, e para o povo de Anthara era uma questão de virilidade ter filhos. Quanto mais filhos um homem pudesse ter e sustentar, mais viril esse seria e, no entanto, seu próprio rei não tinha ao menos um único herdeiro.

-Dizem que o rei é estéril... Ao menos ouvi isso na taverna semana passada. – um homem comentou com ares de importância arrancando algumas pesarosas exclamações dos ouvintes.

-Ora! Deixem a vida de vossa majestade! Em tempo um herdeiro varão virá. – um homem carrancudo gritou dispersando tanto quanto suas mãos gordas conseguiram brandir. –Deviam era pensar nos nossos problemas depois de amanhã. – ele falou.

-O que há amanhã? – uma mulher baixinha quis saber arregalando os olhos.

-Mulher tola. Amanhã o reino vizinho será julgado na assembléia do Conselho de Ética, dizem que eles serão banidos por total imoralidade de seus governantes. – o homem explicou. –E isso é ruim para nosso reino. Anthara tem muitos negócios com esse nosso vizinho... Vai ser um caos.

Por isso as ruas estavam excitadas. No dia seguinte se daria uma importante reunião do Conselho de Ética da Sociedade, que consistia numa sociedade de reinos seletos que mutuamente se ajudavam, e parar de fazer parte da Sociedade significava uma rápida decadência.


Longe da agitação das ruas a carruagem real passou circulando calmamente uma chácara populosa de flores de tantas e variadas cores e estacionou frente a um palacete discretamente elegante.

Um homem alto e elegante se apressou abrindo a porta da carruagem, tomando com estremo zelo à mão do rei.

-Vossa majestade fez boa viagem? – polidamente o homem se curvou reverenciando o rei.

-Foi tranqüila... – pondo os pés no chão a túnica lilás clara arrastou sobre a terra de pedrinhas brilhantes. –Está tudo sob controle?

-De certo que sim. – o homem falou embevecido.

-O povo anda muito agitado com a assembléia da Sociedade? – o rei quis saber.

-Um tanto quanto apreensivo. – respondeu.

-Wufei não parou de falar nisso durante toda a viagem. – saindo calmamente da carruagem o outro rei encarou seu palácio. –Treize, cuide das bagagens. – ordenou caminhando pela neve lentamente.

-Mas, é importante demais. Sabe que temos negócios com nosso vizinho que... – Chang Wufei, o jovem companheiro do rei de Anthara iniciou sua justificativa, mas esse não lhe deu atenção.

-Que seja. – falou ele. –Venha se aquecer. – pediu delicadamente estendendo a mão para Wufei e nisso foi prontamente atendido.

–Se me permite. O senhor parece pálido demais. Algum problema? – falou Treize, o fiel escudeiro de Wufei, um homem devotado que faria qualquer coisa para agradar sua majestade.

-Estou ótimo, apenas uma gripe. – explicou Chang passando a mão pelos cabelos negros, evitando que qualquer um ali notasse que não se sentia bem. –Heero está mais cansado que eu... Ele teve um dia cheio de apresentações e palestras. – completou enquanto se aninhava ao peito do marido.

-De fato... Quero logo ir para meus aposentos. – o rei chamado de Heero era um homem de expressão séria, traços firmes. O corpo detalhado de um rei guerreiro acostumado às lutas, e a pele bronzeada pelo Sol de tantos treinamentos. Seus olhos encararam por um tempo seu marido com certa preocupação, estavam juntos há quase dez anos e nunca havia ele se queixado de doenças, sua raça era muito resistente. –Vamos, você precisa se aquecer. Enquanto a você, Treize, cuide das malas. – ele falou imperativo conduzindo Wufei carinhosamente.

No dia seguinte

-Ordem! Ordem, por favor. Senhores. – uma voz grave silenciou o vozeio que surgia. Estavam todos sentados em uma mesa circular. –Senhores! Sejamos razoáveis! – o homem mais velho sentando de forma imponente numa espécie de tribuna de honra no centro da mesa tomou a palavra. –Eu presido esse conselho há tantos anos e nunca vi tamanha manifestação para expurgar um reino. Por isso quero saber quais são as acusações que tornam esse reino impróprio para sentar-se junto a nós. – falou em tom altivo o presidente do Conselho de Ética da Sociedade, o senhor Odin Lower Yui.

-Bem, o não pagamento dos impostos seria um fato bem plausível. Mas ainda há coisas mais graves, que imagino chocar diretamente a moral e os bons costumes de nossa sociedade. – o homem que tomara a palavra era jovem e bem bonito. Os olhos claros eram ferozes na defesa de seus fatos, os cabelos lisos num louro pálido sacudiam com o vigor de sua fala. –Um reino aonde o rei não consegue manter casto seu casamento. Separado da esposa ele mantém relacionamentos pecaminosos. – o homem falou por tempo, quase horas e tudo que dizia pesava em uma acusação tórrida a um dos membros daquela sala.

-Zechs. Não sabia que estava a situação nesse ponto. O reino de Araloshi, se todos os membros desse conselho, assim votarem, não mais fará parte da Sociedade. Aqueles que estiverem de acordo, por favor, ergam o braço. – o homem que presidia falou e com os olhos contabilizou o numero. Seu rosto enrugado pareceu se acentuar mais ainda quando teve que dá o veredicto. –Por dez votos contra apenas dois, eu declaro que o reino de Araloshi, de hoje em diante, expulso da Sociedade.

Aquela audiência estava encerrada. Homens bem distintos deixaram falantes a sala caminhando pelos corredores elegantes apinhados de estatuetas de mármore negro. As pastas de couro, os ternos de corte fino e os sapatos e botas da mais rica linhagem de fabricação desfilaram pelos corredores.

-Foi uma bela apresentação... – alguém deu um tapinha elegante nas costas do mesmo loiro que acusara tão embavecidamente o representante do reino retirado da seleta associação.

-Obrigado, eu sei que sou bom nisso. Não é à toa que eu sou assessor direito de Odin Lower. E sabe, quando ele morrer, já está adiantado na idade, eu vou ser o presidente da associação. – se gabou. –Ahhh... Heero Yui? Espero que tenha apreciado minha performance, pois em breve vou está usando as mesmas palavras contra seu reino para tirá-lo de uma vez por todas da Sociedade. – o loiro se antecipou para um homem que seguia bem a sua frente.

-É mesmo, Zechs? – seu tom de voz era baixo, controladíssimo de emoções. Seus olhos varreram o corredor parando sobre o loiro em verdadeiro enfado. –Não me diga? – gemeu dando mostras que não tencionara parar para uma conversa no meio do corredor e muito menos com aquele homem. –Pode ter certeza que vou ficar esperando. – ele falou frio, daquela forma nada sentimental. Seus olhos azuis fortes de tom turquesa pregado em Zechs. O rosto contraído de asco.

-Heero... Aqui não. – alguém o tocou delicadamente no ombro.

-Heero Yui e seu fiel escudeiro Wufei Chang Yui, sabia que você é o único rei que trás a esposa para uma assembléia da Sociedade? Mas é claro... Sendo controlado por ele só podia dá nisso mesmo. – Zechs sorriu malicioso. –Como vai, Chang? Quando a cegonha vai passar por seu reino? Estamos todos achando que o problema é do Heero...

-Repita isso! – Heero se soltou de Wufei avançando sobre o outro.

-Repetir? O que? Que você não é viril? – um soco silenciou Zechs o fazendo cair contra uma estatueta pesada.

Era importante demais para um reino fazer parte da Sociedade, que exigia um conjunto de qualidades morais e uma série de dogmas tradicionais, mas em troca o reino tinha a proteção militar e financeira da Sociedade.

-Heero Yui! O que significa isso!? Isso não é comportamento de um rei. – a voz sossegada de Odin Lower se fez ouvir.

-Pai. Ele insinuou que eu não sou viril! – Heero bufou. Observando Zechs se levantar e sair dali rapidamente.

O homem idoso suspirou exasperado. Aquilo era uma grande ofensa na cultura deles, passivo de morte, mas o que fazer? Heero era seu único filho e herdara um reino próspero por parte de sua mãe, o reino de Anthara, mas o rapaz entrava para seus trinta anos sem ao menos um herdeiro. Estava casado com Wufei há quase dez e não vinham os filhos. O pai já insistira para que o filho pegasse outro conjugue, mas Heero era bem radical em não querer outra pessoa.

-Filho, em poucos meses você e Wufei completam dez anos de casados e as pessoas falam. Somos muito apegados às tradições e um filho lhe seria algo perto de confiança junto a nossas crenças.

-Senhor Odin? – Chang sentiu-se trêmulo. Era ainda jovem e belo, como todos de sua raça. Os cabelos negros rivalizando com uma pele branca amarelada. Os lábios finos e olhos negros também lhe dando a aparência serena.

-Wufei, você é sábio... Belo e forte como uma rocha. Um guerreiro ao lado de meu filho, mas é hora de chamar seu marido a sensatez e arranjar um segundo conjugue. – o velho falou tocando o rosto abatido do rapaz sabia que aquele assunto tinha o poder de feri-lo.

-Conversarei com meu esposo, e juntos, acharemos melhor solução. – Chang falou ligeiramente abatido tomando Heero e o levando embora o mais rápido que pode.


Heero suspirou fechando os olhos enquanto sentia a cerne sacolejar. O clima pesado e silencioso tomou a pequena diligencia, Wufei a seu lado parecia mais branco que nunca, quase num ar fantasmagórico. Tantos anos de cumplicidade, ele sabia quanto o rapaz havia se empenhado em ter um filho e nunca conseguira. Mas ele era sensato e polido, sempre lhe aconselhava nos momentos de dificuldade e juntos haviam tornado seu reino próspero. Seria um esposo perfeito, se pudesse ter lhe dado um filho, mas ainda assim Heero achava no mínimo injusto pegar um segundo esposo.

-Há umas raças que habitam a colina, Heero, - Wufei começou a falar lentamente. –Que pelo fato se não terem fêmeas, foram se multando com o tempo... – ele falou.

-Que está dizendo? – Heero o olhou. Seus olhos azuis brilhando de surpresa.

-Achei que você não ia querer uma mulher. Então achei que um habitante das Colinas poderia ser mais resistente e... – Wufei falava baixinho.

-Cale-se! – mas Heero quase gritou. Não era seu costume alterar a voz, mas aquilo era um estremo absurdo. Porque as tradições tinham que atrapalhar tanto sua vida? Ele e Wufei estavam tão bem sem crianças. –Eu não quero outro, Wufei. Já disse isso. Nunca nem quis filhos. – mentira. Queria sim. E houve uma época que sonhara e ao lado de Wufei seu pequeno time de crianças.

-Tudo bem, Heero. Eu não vou discutir. Estou me sentindo mal para isso. Cansado demais. – Wufei comentou fechando os olhos se pondo distante das preocupações.

-Eu...

-Esquece, vai? Não estou me sentindo bem. Essa confusão toda. A viagem... – comentou Chang encerrando o assunto.

Wufei se culpava. Anos de culpa e amargura por nunca ter conseguido dá um herdeiro a seu marido e calar a boca da preconceituosa Sociedade. Sentia-se culpado por ter que ver aquele brilho de esperança morrer nos olhos de Heero a cada alarme falso até ouvir uma frase como essa de que nunca quis filhos... Era de partir o coração.

Ele engoliu em seco sentindo aquela coisa ruim de quem segura o choro. Choro de culpa e fracasso.

Heero olhou para o lado oposto observando a relva baixa da floresta, não queria olhar para Wufei, não quando esse estava chorando.


Abraços! Espero que tenham gostado.

Joana Malfoy e Hina .

Até a próxima!!!