O feitiço proferido pelo Dark Lord desenhava a Marca Negra em minha pele, bem devagar, tal como um verme subcutâneo, rastejando e infectando tudo o que encontrava ali, deixando claro que eu estaria preso àquela escolha durante o resto de minha vida.
A imagem de Tobias maltratando a mim e a Eileen bailava em minha mente. O ódio por ele e a decepção por ela não tomar nenhuma atitude, sofrer em silêncio, se assemelhavam ao que eu sentia naquele momento. Eu igualmente fazia a minha escolha e sofreria por isso até o fim de meus dias, infectado, como Tobias infectara Eileen.
A dor era quase insuportável, como se o preço a ser pago para tomar parte da loucura na qual Voldemort estava empenhando todos os seus esforços fosse alto demais para ser quitado em qualquer moeda que não aquela.
Quando encontrei Lily e Potter juntos pela primeira vez, foi como se um punhal se cravasse em meu peito. Mesmo que não fôssemos um casal, esperava que ela compreendesse meu modo de ser, minha ambição. Um pequeno deslize de minha parte a fez afastar-se para logo em seguida juntar-se a ele? A palavra vadia ressoava em meu cérebro.
Quando a pele parecia fechar-se em torno do ferimento, ela reabria e expunha um líquido malcheiroso e purulento, era a marca da morte que estava prometida aos que a ela se submetiam, escolhendo aquele modo de vida.
Achei que talvez ela se arrependesse e voltasse para me encontrar, quando então eu juntaria seus pedaços e a ensinaria a me amar. Faria com que enxergasse que nunca devia ter havido outro além de mim. Mas então ela engravidara, esperava um filho dele. Eu só conseguia pensar em como já odiava aquela criança.
Todo o processo era acompanhado pelos demais Death Eaters que riam e comemoravam a adesão de mais um adepto. Logo após tomar a Marca, reuniam-se em grupos que partiam para aterrorizar aqueles contrários à filosofia pure-blood, ou os que simplesmente não se moldavam a ela. Meus talentos com Poções e tudo o mais não eram necessários nas chacinas e torturas, mas eu me sentia obrigado a participar de tudo, como forma de conquistar a confiança do Lord.
Algum tempo depois, espionando Dumbledore sob as ordens de Voldemort, ouvi a profecia de Trelawney. Não pude conter a euforia de transmitir o que havia descoberto ao meu mestre e aguardar apenas que ele destruísse Potter e sua cria. Depois disso, ela viria a mim. O arrependimento veio apenas quando a vida de minha amada foi ceifada por tentar proteger o fruto de seu amor pelo outro, fruto este que guardei com minha própria vida, até o último momento, talvez como forma de me autoflagelar por tê-la entregue, por ter revelado a profecia.
Cheguei ao ponto de ter o respeito ou o medo de todos os que me rodeavam, assim como o ódio por parte dos que sonhavam com um posto de comando ao lado de Voldemort. Era o poder que eu tanto almejara. Consegui ficar ao lado dele, como seu homem de confiança, até o último momento, quando ele me descartou tal qual um objeto que não tem mais serventia, em virtude do seu desejo de dominar a Varinha Anciã.
Desde o momento em que dispus de minha vida para o lado negro da magia, a única coisa que me vinha à mente eram seus olhos esmeralda, que me enlouqueceram a ponto de me fazer vender minha alma. Aliás, mesmo que em momentos diferentes, vendi nossas almas por um amor não correspondido.
Não há como voltar atrás, nada pode ser desfeito. A Marca me acompanhou até o fim e eu paguei por minhas escolhas, da forma mais cruel. Meu coração foi extirpado quando Lily se foi e minha vida só valeu a pena porque eu a conheci.
N/A: Clarita, obrigada por ter betado, linda.
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