Capitulo 1
Eu venho de uma família bem comum. Uma família tradicional, em que todos são criados de maneira igual. Bom, tão comum e tradicional como uma família bruxa pode ser.
Sou completamente puro sangue, não que isso de fato importe, e minha tradicional família, orgulhosa, respeitada e importante no mundo bruxo, tem sido por gerações e gerações da mesma Casa na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Claro que eu não tinha a menor ideia, quando embarquei no Expresso de Hogwarts naquele 1º de setembro, que euzinha estava prestes a mudar tudo o que a minha família sempre acreditou.
Eu estava confiante, admito.
Com o histórico da minha família em Hogwarts, sendo todos da Casa dos Leões, Grifinória, eu estava mais do que certa que meu destino estava no mesmo lugar.
Devo dizer que nunca fui muito fã da segregação que a escola fazia ao dividir os alunos em casas de acordo com suas qualidades mais salientes, mas ter a certeza de que de maneira alguma eu cairia na Casa Sonserina, era um alivio para qualquer novato na escola.
A Casa das Cobras, Sonserina, ganhou uma fama pior do que já tinha quando o grande bruxo das trevas conhecido Lord Voldemort foi derrotado, por que foi quando ficou evidente de que praticamente todos os alunos daquela Casa tinham se unido a ele em seu plano maluco de dominação do mundo e subjugação dos trouxas. Ficou evidente que a Sonserina era uma Casa produtora de bruxos das trevas.
Era por isso que qualquer jovem bruxo de onze anos que crescera ouvindo histórias sobre a Segunda Grande Guerra do Mundo Bruxo temia cair na Sonserina. Seria a desgraça da sua família, principalmente se essa família fosse como a minha, inteiramente Grifinória.
Eu estava sentada entre meus primos, Phillip e Andrea, ambos já alunos do 5º e 3º anos, respectivamente, da Casa dos Leões, em uma cabine lotada do Expresso de Hogwarts. Todos os ocupantes da cabine faziam baderna, falavam e riam alto. Claro que o assunto principal das piadas eram os alunos da Sonserina.
Eu, depois de um tempo rindo falsamente das brincadeiras de mau gosto, resolvi que minha cota de preconceito do dia já tinha acabado. Sendo assim, saí discretamente da cabine para o corredor silencioso.
Suspirei. Como já comentei antes, apesar de esperar fielmente ir para a Grifinória, não gostava da ideia segregacionista da escola. Por isso as piadas dos grifinórios amigos dos meus primos me incomodavam um pouco. Por isso eu resolvi achar outra cabine.
Andei um pouco pelos vagões até achar uma cabine mais vazia no final do trem. Na verdade, tinha dois ocupantes, que eu presumi terem a minha idade, e ergueram a cabeça ao me verem à porta.
Ficamos nos encarando por um tempo. Eram dois garotos, um pálido com os cabelos extremamente loiros jogados sobre os olhos muito azuis e outro com pele negra e cabelos muito escuros jogados para trás e olhos castanhos penetrantes.
- Posso me sentar com vocês? – perguntei tímida.
Eles me analisaram por um instante.
- Claro. – respondeu o moreno, com uma voz um tanto suave.
Eu sorri para os dois e fechei a porta da cabine as minhas costas, sentando-me em um dos bancos, ao lado do moreno.
- Sou Julie Lottus. – me apresentei.
Os garotos se entreolharam e pude perceber um olhar de entendimento entre eles, mas não o compreendi.
- Blake Zabini. – disse o moreno – E este é Carter Malfoy. – ele indicou o loiro, que apenas fez um aceno com a cabeça em minha direção.
Eu não esbocei reação, mas finalmente compreendi. Já ouvira falar da família Malfoy. Eram ma família tão antiga e tradicional que a minha, mas era tradicional da Sonserina. Os Malfoy foram seguidores de Lord Voldemort em ambas as Guerras, e não eram muito bem vistos pela sociedade bruxa. Mas eu não era fã de preconceitos.
- Muito prazer. – disse, e até dei um sorrisinho.
Eles se entreolharam novamente, com um misto de duvida e surpresa.
- Você é uma Lottus. – disse o garoto Malfoy, em tom de comentário, com uma voz incrivelmente rouca.
Eu apenas confirmei com a cabeça, como se não desse importância ao fato.
O garoto chamado Blake deu de ombros olhando para Carter, que fez o mesmo gesto e se encostou no banco, parecendo descontraído.
Um silêncio pairou sobre nós, que não sabíamos o que dizer. Percebi que tinha interrompido o que quer que os garotos conversavam antes de eu entrar, e agora não fazia mais sentido para eles continuarem uma conversa que poderia ser particular na frente de uma estranha.
Levantei-me para sair, mas fui interrompida.
- Não precisa ir. – disse a voz rouca que pertencia a Carter Malfoy – Se você não quiser.
Eu sorri levemente e voltei a me sentar.
- Então, Srta. Lottus, pronta para cair nas graças da Grifinória? – comentou Blake em um tom risonho, e ele e Carter soltaram risinhos debochados.
Eu não me ofendi. Do mesmo jeito que grifinórios tinham preconceito com sonserinos, sonserinos tinham preconceito com grifinórios.
- Na verdade não. – respondi indiferentemente – Quer dizer, não é certeza que vou para essa Casa, não é?
Os meninos riram.
- Aham, assim como não é certeza que eu e o Cartie aqui vamos para a Sonserina. – brincou Blake, ainda risonho.
Eu balancei a cabeça. Não conseguia entender por que as pessoas prezavam tanto esse negocio de casas e famílias.
- Não é por que vocês vêm de famílias sonserinas e eu venho de uma família grifinória que vamos ficar respectivamente nessas casas. – argumentei.
Eles continuaram rindo.
- Você diz isso por que vai para a casa consagrada, a grande casa dos leões, a casa do grande Harry Potter. – disse Carter, passando a mão pelos cabelos platinados – Nós aqui vamos para a casa das cobras, não que não tenhamos orgulho disso, mas que tem nome sujo no mundo bruxo, e isso sim não é de se orgulhar.
Ponderei um pouco. Eu não tinha nenhum orgulho de cair em uma casa só por que toda a minha família pertenceu a ela, por mais gloriosa que essa casa fosse, mas eles, destinados a uma casa desgraçada e de nome sujo, pareciam orgulhar-se disso.
Não consegui entender essa linha de pensamento.
- Mas você não parece se importar de dividir a cabine com dois futuros sonserinos... – comentou Carter, olhando-me de cima a baixo.
- Não, não me importo mesmo. – falei de maneira até um pouco arrogante – Não ligo para qual casa vocês pertencerão, não faço diferença entre as pessoas.
Os dois riram, mas pareceram aprovar.
Não demorou muito e mudamos o assunto para Quadribol, assunto esse que agradava a todos nós. Eu, sendo torcedora fiel do Hollyhead Harpies, e eles, sendo fanáticos pelo Montrose Magpies, entramos em uma fervorosa discussão sobre quem tinha os melhores jogadores na Liga Britânica e Irlandesa de Quadribol.
Mal percebemos, o trem já estava parando na estação de Hogsmead, o vilarejo nos arredores da escola, e uma potente voz gritava pelos alunos do primeiro ano do lado de fora.
Saímos do trem, já vestidos com nossos uniformes escolares, deixando nossos pertences para trás, já que tínhamos sido orientados pelo monitores que nossos malões seriam levados até nossos dormitórios após a Seleção.
Na estação, estavam outros alunos do primeiro ano aglomerados ao redor do maior homem que eu já vira na minha vida. O homem se apresentou como Rúbeo Hagrid, guarda-caça e professor de Trato de Criaturas Mágicas, e disse que nos levaria até o castelo pelo lago. Ele nos indicou alguns barquinhos de aparência frágil na beira do grande lago de águas negras e nos instruiu a nos dividirmos em grupos de quatros.
Carter, Blake e eu entramos em um barquinho e ficamos a espera do quarto integrante, que não demorou a aparecer.
Um garoto de cabelos escuros arrepiados e olhos cor de chocolate por trás dos óculos de aro redondo foi quem veio a nós, com um andar confiante e um sorriso metido. Ele sentou-se ao meu lado no banquinho de trás e olhou sorridente para nós.
- Olá. – cumprimentou animado, ao que eu e os meninos apenas respondemos com um aceno de cabeça – Sou James Potter. – disse ele, e seu sorriso cresceu mais ainda.
Blake e Carter trocaram olhares contrariados. Eu tive que segurar o riso. O novo garoto parecia pomposamente contente consigo mesmo, e pareceu não perceber nossa contrariedade, por que continuou falando.
- Sou filho de Harry Potter, sabem. Um grande homem, meu pai, herói de guerra e tudo mais. E devo dizer que herdei todas as grandes qualidades dele, principalmente no Quadribol. Sou um grande apanhador, e sei que serei eu a trazer a gloria para o time da Grifinória. - ia falando James, todo alegre, como se nós estivéssemos muito interessados em suas qualidades ou a falta delas.
Ele continuou a dizer como era infinitamente bom em tudo o que fazia, e como seu pai era famoso e bla bla bla. Eu já perdera o interesse no que ele dizia logo depois que ele se apresentou. E eu não era a única.
Carter e Blake estavam cochichando no banquinho da frente, e lançando olhares malignos para James, que continuava a discursar.
Eu me inclinei para frente, ignorando descaradamente o garoto Potter, e cutuquei o ombro de Blake.
- Do que estão falando? – perguntei, fazendo de tudo para não ser esmagada pelo ego gigante do meu companheiro de banco.
Os meninos se entreolharam (essa, eu percebi, era uma pratica muito comum que eles tinham) e depois olharam para mim.
- Estamos discutindo a melhor maneira de jogar o Potter aí para fora do barco. – murmurou Carter, dando um sorriso em que se misturava malícia e diversão. Um sorriso que eu tenho que admitir que gostei muito.
Eu ri e abri a boca para comentar que gostara da ideia, mas fui rudemente interrompida.
- E vocês são quem? – James se inclinara para frente e nos olhava com um misto de curiosidade e disparato por ter sido ignorado por todos nós.
Os meninos se entreolharam e olharam para mim, sorrindo. Eu apenas sorri de volta.
- Meu nome é Blake Zabini. – ele se virou no banco, ficando de frente para James, com um sorriso enorme e branco.
- Me chamo Carter Malfoy. – ele também se virou, e deu aquele sorriso malicioso.
- E eu sou Julie Lottus. – eu disse suavemente, dando um sorriso de lado e erguendo as sobrancelhas, e coloquei a mão no ombro de James e dei um leve porem firme empurrão.
O garoto não descobriu o que o atingiu, mas quando emergiu das águas escuras do lago, tossindo e ofegando, Carter, Blake e eu não conseguíamos respirar de tanto que riamos.
- Por que vocês fizeram isso?! – exclamou James, tentando subir de volta ao barco, mas suas roupas estavam tão pesadas que tornava a tarefa um tanto difícil.
Não conseguimos par de rir parar responder. Só quando o barquinho que Hagrid ocupava sozinho se aproximou do nosso, conseguimos nos controlar.
- O que aconteceu com você, James? – perguntou o meio gigante, puxando o garoto pelas vestes para dentro do barco.
- Ele se inclinou para ver a Lula Gigante e caiu do barco. – respondi mais rápido do que James, para que ele não nos metesse em encrencas antes mesmo do ano letivo efetivamente começar. Naqueles poucos minutos que convivi com aquele garoto, já pude perceber que era do tipo que dedurava todos e qualquer um, apenas para continuar com sua gloria.
Antes que ele pudesse protestar, Carter entrou no jogo.
- É, a gente tentou segurá-lo, mas ele é muito pesado. – ele fez uma carinha inocente, fazendo seus olhos azuis brilharem de uma maneira que poderia enganar até o mais experiente investigador do Ministério da Magia.
Eu e Blake concordamos com a cabeça, sem dar chance a James de se defender e contar a verdade.
- Bom, mais cuidado daqui em diante, James. – disse Hagrid, virando seu barco e voltando para frente dos barquinhos.
James olhou para nós com uma expressão raivosa e ao mesmo tempo confusa, mas não disse nada, já que eu e os meninos começamos a rir histericamente de novo.
Ele cruzou os braços com força no peito e fez um bico, a água pingando de seus cabelos e vestes, quando a visão incrível do castelo calou a todos nós.
Era a coisa mais majestosa que eu já vira. Um enorme castelo iluminado, erguendo-se da escuridão.
Logo todos os alunos, ainda deslumbrados, estavam saindo de seus barquinhos e entrando no castelo, que era tão deslumbrante por dentro quanto era por fora.
Respirei fundo. Eu finalmente estava em Hogwarts. Depois de tantas historias incríveis que meus pais e parentes sempre me contaram, aqui estava eu, pronta para viver minhas próprias historias incríveis para contar por aí.
Ao lado de Carter, Blake e um extremamente molhado James Potter, eu subi as escadas de mármore em direção ao meu destino.
Paramos em frente às portas douradas que eu sabia que guardavam o Grande Salão Principal e um homem alto com vestes verde-folha se dirigiu a nós. Apresentou-se como professor Longbottom, de Herblogia, e explicou que seriamos selecionados para as quatro casas da escola: Grifinória, morada dos destemidos, Lufa-Lufa, onde residem os leais, Corvinal, onde os sábios permanecem, e Sonserina, lar dos audaciosos. Ele explicou as regras da escola, que perderíamos pontos se as desrespeitássemos e ganharíamos se tivéssemos êxito em nossas atividades. Disse que, no final do ano, a Casa que tivesse mais pontos ganharia a Taça das Casas.
Então as portas se abriram, revelando um enorme salão, com o teto alto estrelado como o céu escuro lá fora, quatro mesas compridas cheias de estudantes, uma mesa transversal no fundo, onde os professores estavam sentados, e em frente a ela, em um banquinho de três pernas, uma velho e roto chapéu permanecia.
Eu já ouvira falar daquele chapéu, o Chapéu Seletor, aquele que guardava o destino de todos os novatos que estavam agora olhando nervosamente par os lados, tentando não parecer tão assustados quanto na verdade estavam.
Eu olhei para a mesa da Grifinória, onde meus primos Phil e Andy acenavam e sorriam animados para mim. Eles esperavam tanto que eu seguisse a tradição da família e entrasse na mesma casa que eles. Mas eu estava nervosa, por que, pela primeira vez, não tinha certeza do que eu queria. Se eu realmente fosse para a Casa dos Leões, eu seria só mais uma Lottus, como todos os meus antepassados, mas se eu quebrasse a tradição, se eu fosse para uma casa diferente, afinal, eu seria o que eu sempre quis ser: diferente, faria meu próprio destino e minha própria glória, não dependeria de famas alheias para me erguer, seria apenas eu e meus sonhos, minhas ambições. Eu sempre fui contra esse preconceito imbecil que existia entre as casa e famílias, se eu entrasse para uma casa diferente da tradicional da minha família, talvez pudesse fazer esse preconceito acabar. Talvez ir para a Grifinória não significasse apenas segurança e de estar na Casa consagrada, na Casa dos mocinhos. Talvez ir para a Grifinória fosse um erro, afinal.
Olhei para meus novos amigos, Carter Malfoy e Blake Zabini, enquanto o Chapéu Seletor começava a cantar. Eu sabia que se fosse para a Grifinória, eu nunca mais poderia falar com eles, e eles eram tão legais. Bem mais legais do que o senhor James sou-o-máximo Potter, que seria meu colega de casa caso eu me tornasse uma grifinória.
Eu não estava mais nem um pouco confiante quando o professor Longbottom começou a chamar os alunos pra serem selecionados.
Blake foi um dos primeiros, e foi imediatamente selecionado para a Sonserina, como ele mesmo já sabia que seria, sob uma chuva de aplausos do pessoal da mesa do canto direto.
O nervosismo começou a me invadir quando Carter também foi para a casa das Cobras, sob uma ovação quase tão grande quanto a de Blake.
Olhei para Phil e Andy, aplaudindo animados uma garota chamada Emily Snud, que acabara de correr até a mesa rubro ouro no canto esquerdo do salão. Eles me olharam sorridentes e esperançosos, enquanto saudavam a nova colega.
James Potter foi chamado, e no salão fez-se silêncio. Todos estavam ansiosos para ver o caminho que o filho do grande herói seguiria, e ele não decepcionou ao andar imponente e sorridente, mesmo ainda estando molhado até os ossos, até o banquinho e ser selecionada para a Grifinória. O salão explodiu em aplausos, a mesa dos Leões fazendo festa. James caminhou tranqüilo e confiante até sua nova mesa a aceitou os cumprimentos de todos os novos colegas.
Quando os aplausos cessaram, eu sabia que seria minha hora. Meu destino me aguardava.
- Julie Lottus. – chamou o professor Longbottom, e eu prendi a respiração.
Caminhei tensa até o banquinho, e antes do colocar o chapéu em minha cabeça, olhei novamente para meus primos, que estavam de pé me olhavam cheios de expectativa, e depois olhei para Carter e Blake, que me olhavam com deboche, como se já soubessem que estavam certos quando disseram que eu nada podia fazer quanto ao meu sangue e minha tradição.
Coloquei o velho Chapéu na cabeça, e ele quase cobriu meus olhos, me impossibilitando de ter uma boa visão do salão e seus ocupantes.
"Hum..." a voz grossa do Chapéu começou a dizer em minha cabeça "Você está confusa, não está? É uma jovem muito talentosa, sem duvida, e muito corajosa também. É muito leal e decidida, mas está confusa agora... por que?"
"Eu não quero ser só mais uma. Quero ser diferente, mas tenho medo do que isso possa significar." Respondi em meus pensamentos "Não quero decepcionar ninguém, e isso inclui a mim mesma. Vale a pena fazer uma coisa só para deixar os outros felizes, só por que todo mundo espera por isso? Eu não sei..."
Eu definitivamente estava confusa. De repente pareceu para mim que eu só estava destinada a ir para a Grifinória por que a minha família esperava isso, não por que de fato eu queria. Nunca tinha tido muita escolha, e agora, quando achei que não precisava pensar em nada, o Chapéu estava me dando uma chance de escolher para onde eu queria ir.
"Quero ir para onde eu vou me sair melhor, onde eu vou me sentir melhor." Foi minha resposta final, e devo dizer que mesmo assim fiquei um pouco surpresa quando ele anunciou em voz alta, para todo o salão ouvir:
- Sonserina!
A ovação convencional que viria após o aluno ser selecionado não veio. Quando eu tirei o chapéu e pude ver o salão, vi que todos me encaravam incrédulos, em choque, sem saber como reagir.
Eu mesma estava sem reação. Quer dizer, eu era uma Lottus, uma família grifinória das mais tradicionais, e de repente, eu estava na Sonserina.
Olhei para a mesa da Grifinória, onde meus primos estavam estáticos, de olhos arregalados, olhando para mim com um misto de incredulidade e decepção.
O professor Longbottom, após se recuperar do choque, começou lentamente a bater palmas, e foi gradualmente acompanhado pelos outros professores e por alguns alunos.
Eu respirei fundo e soltei o ar lentamente, deixando o chapéu no banquinho e seguindo para a mesa da Sonserina, sentindo todos os olhares em mim.
Quando eu me sentei ao lado de Carter, ninguém na mesa me cumprimentou ou aplaudiu. Todos me encaravam com desconfiança, com ódio, e eu senti que poderia chorar a qualquer instante.
Logo o prof. Longbottom continuou a seleção, o que desviou um pouco da atenção de mim, mas meus novos colegas ainda me olhavam como se eu fosse uma aberração.
Olhei para o outro lado do salão, para Phil e Andy. Eles estavam sentados, conversando baixo, com expressões sérias, e eu tinha certeza de que falavam de mim.
Logo a seleção terminou e a diretora Mcgonagall se levantou.
Ela fez um discurso de boas vindas, explicou mais algumas regras da escola, nos desejou um bom começo de ano letivo e finalmente o banquete tão famoso de Hogwarts simplesmente apareceu, como que por mágica, nas mesas.
O salão se encheu com as vozes e risadas dos amigos se reencontrando, contando novidades das férias, comentando sobre o ano letivo que estava por começar, os talheres batendo nos pratos e as taças batendo nas mesas.
Eu timidamente peguei um pastelão de carne da bandeja mais próxima, sentindo que ainda havia muitos olhares me seguindo.
Suspirei e olhei em volta. Todos estavam felizes, rindo e conversando, contando piadas ou apenas aproveitando o banquete delicioso. E eu estava lá, em uma mesa cheia de pessoas que provavelmente me odiavam, longe das pessoas que antes me amavam, mas naquele momento provavelmente também me odiavam, no meio de um salão lotado de pessoas que possivelmente falavam de mim. Mesmo eu tendo meu secreto desejo de ser diferente atendido, não conseguia entender por que, ao me ouvir pedir pra ir para onde eu me sentiria melhor, o Chapéu me colocara no único lugar onde todas as pessoas me odiavam simplesmente pelo meu nome. Eu só queria lutar contra o preconceito e mostrar que é possível não ir conforme os costumes, e olha só onde eu vim parar. E eu que pensava que esse seria o melhor dia da minha vida...
- Sabe, você tinha razão. – uma voz suave e brincalhona disse a minha frente, me fazendo desviar a atenção do meu pastelão intocado e levantar a cabeça – Não é por que você vem de uma família grifinória que você vai para a Grifinória. Tanto é que você não está lá. – Blake me olhava sorridente, com uma coxa de frango na mão.
Eu dei um sorrisinho sem graça para ele, e voltei ao mexer no meu pastelão com o garfo, sem comê-lo.
Senti um cutucão no meu braço e olhei para o lado. Carter me olhava com um sorriso de lado e Blake estava com um sorriso fofo e as sobrancelhas erguidas, e por alguma estranha razão eu me senti incluída, como se, apesar de todas as controvérsias e todos os sentimentos ruins ao meu redor, eu finalmente estivesse no lugar onde eu deveria estar.
