Starless Night

Enquanto o horizonte longínquo se inundava de índigo profundo, Bolin só desejava poder estar em qualquer outro lugar. As pesadas e contínuas inclinações de um lado para outro que o chão fazia confirmavam sua vontade, ao mesmo tempo em que prejudicavam seu sistema digestivo. Ele tentou se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse seu reflexo doentio nas águas escuras, porém sua cabeça pesava demais e ele precisava guardar energias para o resto da viagem.

Era difícil para Bolin, que, assim como qualquer dobrador de terra, estava tão conectado à firmeza e inércia do solo, aguentar a fluidez e volubilidade dos mares. As amuradas do navio não eram suficientes para lhe tranquilizar, pois o oceano irremediável fazia tudo oscilar. As primeiras horas do crepúsculo eram as piores do dia, em que tudo lembrava a cor azul, e isso lhe dava a impressão de que a qualquer momento seria o mar sobre sua cabeça e o céu sem estrelas abaixo. As águas eram azuis, as nuvens eram azuis, o cheiro era azul; e então a náusea batia tão forte que Bolin precisava dobrar o corpo e se lembrar de não fazer nada embaraçoso.

Foi neste instante que outra silhueta se juntou a de Bolin, que não precisou olhar para saber de quem se tratava. Sentiu uma mão sobre seu ombro e a voz cheia de empatia entoando:

— Bo...

Mako tentava aproximar seu corpo para evitar que seu irmão despencasse, o que podia acontecer a qualquer momento; e Bolin apreciava este contato carinhoso e firme.

O mais velho não era afeito a este tipo de demonstração de atenção fraterna, porém certamente sabia fazê-lo quando Bolin precisava. Ele achou que em silêncio então seria melhor, como se a cena pudesse se estender ao infinito. Ali, sozinhos e alheios à bulha que se promovia no resto do navio, o mundo parecia tranquilo. Não havia chuva e não havia vento, mas Mako envolveu Bolin em seus braços como faria se houvesse uma intempérie.

Bolin, pego naquele abraço de destino duvidável, lembrou-se da época em que eram apenas dois meninos desprotegidos lançados à sua própria sorte. Ninguém parou para lhes oferecer ajuda, e Bolin só podia confiar em Mako, igual a agora.

O balanço do navio não dava trégua para o dobrador de terra. Entretanto, ele encontrou forças para levantar a cabeça sorrir abertamente, certo de que este era o Bolin que seu irmão mais gostava de ver. Mako sorriu de volta, de um jeito quase bobo de irmão mais velho querendo assegurar a Bolin que ficaria tudo bem.

Sempre ficaria tudo bem, era o que Bolin pensou quando Mako beijou o topo de sua cabeça.


N/A: Daaan, não me mate s2

Pessoa me perguntando cadê o incesto/continuação em 3, 2...