Parte 1
Assim que pôs os pés em terra, teve a certeza que não estava preparado. Não, ainda não é a altura, corria-lhe dentro da mente, como uma manada de cavalos desenfreados. A única coisa à qual Carlos podia por rédeas agora era a sua própria mala, que pacientemente aguardava que a fossem buscar. Uma fila de pessoas gerou-se em torno do pequeno carrinho com as bagagens ao mesmo tempo que as portas se abriam e revelavam o interior do aeroporto. Toda aquela azáfama já não era estranha a Carlos e o ambiente torbulento das saídas de pessoas não lhe causaram a menor impressão. Passeou-se calmamente pelos caminhos traçados no chão e aproximou-se do local combinado com a sua família.
- Wilkömen! - Saudou-o o padrinho.
- Danke schön. - Agradeceu-lhe Carlos soltando a mala por instantes para o abraçar brevemente. - É bom estar de volta.
- Bitte. - Pronunciou-se outra voz, de uma jovem mulher por detrás dele. Tinha-lhe apanhado a mala e inclinava-se agora para cumprimentar o recém-chegado. Carlos mal a reconhecia. Os cabelos mais compridos e semi-ondulados castanhos caíam-lhe nos ombros e a face amadurecida revelava-se bem desenhada.
- ... Anne?
Ela assentiu, mirando-o com olhos de um castanho refulgente. Aryane parecia divertida com a reacção dele. Tinham sido quatro, os anos que os haviam separado. Neste tempo, ela cresceu e tornou-se uma mulher. E uma bela mulher, pensava Carlos. Enquanto permanecia naquele transe, relembrava-se de todos os momentos que vivera ao lado dela, recordou-se de todos os sarilhos em que se haviam metido juntos, de como todos os acusavam de serem inseparáveis. Contudo, Carlos apenas sentira um sentimento de protecção sobre ela, receando ir mais além. Já dentro do carro, Aryana pressentia uma temporada em que iria voltar a reviver tempos passados. Seth, ao volante, não ligou, parecendo julgar aquilo como mais umas saudades por matar.
Com uma longa viagem de carro pela frente, o padrinho a guiá-lo, sendo ele uma das pessoas que ele mais admirara, e a melhor amiga desde sempre ao lado, Carlos sentiu-se bem. Como se deixasse todo o passado para o passado e visse apenas o futuro a sua frente. Mas agora era diferente...
Ele já não estava sozinho.
