N/A.: Não levem essa fic muito a sério. Ela é sem noção, bobinha, mas eu me diverti escrevendo. É uma comédia romântica, daquela bem açucaradas estilo filme que a gente assiste de tarde comendo pipoca e tomando coca-cola. Mesmo assim, QUERO REVIEWS! Escrever comentário não dói e faz uma criança (eu XD claro) muito feliz. Escrita para o projeto Like Always da sessão Draco/Ginny do Fórum 6V. Obrigada a todas as pessoas da sessão que me aguentaram na correria para terminar essa fanfiction a tempo de cumprir a meta da III Maratona Fire&Ice.


APENAS MAIS UM CLICHÊ DE UM CONTO SEM FADAS


Ginny Weasley acordou antes mesmo de o sol nascer, pulando da cama ao ouvir o seu despertador histérico berrar que o horário já havia chegado. Ela não poderia perder tempo, pois finalmente – depois dos dias e horas se arrastarem como lesmas e tartarugas – o momento havia chegado.

Calçou as pantufas de coelho e desligou o ar condicionado de seu quarto, abriu as cortinas e viu que ainda estava escuro, mas não importava porque esperara demais por aquele dia e não conseguiria continuar a dormir mesmo que desejasse. Na noite anterior mal conseguiu agüentar de tanta ansiedade e demorou a cair no mundo de Sandman, sem contar com o fato de que as malas já estavam arrumadas há mais de uma semana, encostadas em um canto do quarto perto de um calendário que era marcado todos os dias.

Através da janela podia ver os carros passarem pequenininhos em uma movimentada avenida. Suspirou e se espreguiçou. Pegou o seu celular, que mantivera ligado durante a noite toda, e o levou para a sua suíte, colocando-o em cima de um pequeno armário branco, perto do chuveiro, assim poderia atender caso ele ligasse. Abriu a torneira e testou a água que saía do chuveiro até ficar em uma temperatura agradável e se jogou embaixo deixando que molhasse suas costas.

Queria relaxar, mas estava ficando cada vez mais nervosa, chegando a ponto de ficar mais ansiosa pela ligação que estava esperando do que pela viagem que a tanto sonhara.

No segundo posterior, como se seus pensamentos fossem transmitidos a quem tanto desejava, o celular vibrou quase silenciosamente.

"Bom dia", falou baixinho, deixando um sorriso escapar pelo canto da boca. Mesmo estando em seu quarto, e em seu banheiro, tinha medo que seus pais ou um de seus irmãos acabassem escutando atrás da porta. Ron tinha mania de querer se meter na sua vida.

"Oi", a voz do outro lado da linha também respondeu baixo. "Consegui convencê-los de que não será preciso enviar nenhum segurança, afinal é uma viagem pela escola. Nada mais seguro", comunicou.

"Espero que Ron não grude em mim o tempo todo".

"Não se preocupe. Ele estará ocupado com aquela estrangeira, sangue-ruim".

"Não fale assim da Hermione", reclamou.

"Mas ela tem sangue ruim mesmo", insistiu sem levantar o tom de voz.

"Esquece isso, Malfoy".

"E o Potter? O que vamos fazer com ele?"

"Está aí um problema", Ginny falou em um suspiro triste. "Tenho quase certeza de que ele vai passar a maior parte do tempo comigo. Principalmente agora, depois do anúncio oficial que meus pais fizeram para toda a imprensa. Você viu que absurdo? Quase me jogo pela janela quando soube. Não pelo Harry, mas estou indignada como eles conseguem tomar decisões por mim, e sem me consultar. Como podem sempre excluir a pessoa que mais tem a ver com a história?"

"Você não precisa se preocupar. Potter é tapado, mas acho que mesmo com aquele cérebro subdesenvolvido já percebeu que você não sente mais nada por ele. Ser a noiva oficial de Harry Potter não significa absolutamente nada, na pratica".

"Não precisa falar assim do Harry, Malfoy".

"Por que Griffyndors tem essa mania irritante de defender uns aos outros?" pensou alto.

"O problema não é ele, é minha família", ela argumentou. "O Harry é praticamente um membro e confirmar a união de um Potter com um Weasley trará benefícios às duas partes, esqueceu? Trará força para o clã, o que você queria? E além de tudo eles desconfiam de nós e-"

"Eles não desconfiam de nada, garota, e pára de jogar praga", interrompeu sem se importar se soou grosso. "Eles não podem desconfiar. Nem os seus pais, muito menos os meus. Se descobrirem vai ter guerra entre clãs e da última vez-"

"Vira essa boca para lá! Não quero nem pensar nisso-"

"Vou ter que desligar", anunciou.

"Mas..."

"Mãe entrando no quarto", Draco sussurrou muito rápido e desligou.

Ginny bufou.

Por que tivera que se apaixonar justamente pelo herdeiro de uma família de outro clã? E o mais grave era o fato da família Malfoy pertencer ao clã Slytherin, que era rival direto do clã Griffyndor desde a unificação do país de Hogwarts. Ainda existiam mais três clãs, que procuravam ao máximo não se meter na briga entre griffyndors e slytherins, pois mesmo não sendo os maiores eram os que tinham os melhores exércitos.

O terceiro clã mais influente era o Ravenclaw, o mais fechado de todos. Antes da unificação não permitia que seus membros sequer saíssem do território cercado por montanhas, cuidando para que o conhecimento adquirido em pesquisas dos institutos não fosse disseminado para terceiros, assim como não permitia que tecnologia oriunda dos demais clãs entrasse. Esse tipo de atitude das famílias líderes do clã impediram a Ravenclaw de se tornar potência dentro de Hogwarts, preferindo manter seu bem estar dentro de seu próprio território a articular com outros grupos. Ainda assim tinham grande força política e o maior número de representantes no parlamento, já que a população desse clã também era a maior. Havia uma trégua silenciosa com relação aos ravenclaw e essa trégua que dizia claramente nas entrelinhas que, se eles desejassem tomar o poder, já teriam feito há muito tempo, pois tinham força para isso. Porém, preferiam manter a posição do clã confortável e articular usando apenas palavras em vez de armas. Era o único clã que ainda possuía união territorial, pois os demais já haviam se espalhado por Hogwarts.

O outro clã era o Hufflepuff: pacífico e diplomático, embora sem grande força política. Não tinham um exército próprio formado, mas possuíam membros influentes dentro da Ordem da Fênix – o grupo de operações especiais e inteligência de Hogwarts.

O quinto clã era composto por estrangeiros e pessoas que descendiam de qualquer outra raça, que não fosse de nenhuma das famílias que faziam os demais clãs, mais conhecidos como Muggles, ou simplesmente Estrangeiros e não possuíam nenhuma influencia política em Hogwarts, que apesar de ser um pequeno país europeu, era muito próspero e liderado pelo rei Albus Dumbledore e a primeira Ministra Minerva McGonagall.

Os Weasley e os Malfoy eram as duas famílias das mais poderosas da cidade de Hogsmeade, a capital de Hogwarts. Mesmo assim, era de conhecimento geral que a família de griffyndors estava falida e vivia de aparências a mais de uma década, diferentemente dos slytherins, que a cada ano que passava acumulavam mais riquezas e poder. O que não mudava era a rivalidade entre as duas famílias que eram donas de empresas que sempre foram concorrentes.

Ginny não pudera evitar: apaixonara-se por Draco Malfoy em seu quarto ano, em um baile de inverno. Por um mês ficaram juntos escondidos e sem muito compromisso, principalmente da parte dela, pois ainda tinha dúvidas quanto seus sentimentos por Harry. Por esse justo motivo ela resolveu que deveria se afastar do slytherin por um tempo. Queria pensar e refletir sobre o que poderia ser melhor e se valeria à pena investir e esperar por Harry, pois sabia que com ele tudo seria mais fácil. Os Weasley adoravam o garoto...

Impossível era raciocinar tão friamente, principalmente quando quem estava passeando por seus pensamentos era o herdeiro da família inimiga.

Quase um ano depois, quando estava no quinto ano, eles voltaram a ficar juntos e dessa vez havia seriedade por ambas as partes, mas como nada no mundo é perfeito, logo descobriu que Harry tinha sérias intenções de unir os Potter e os Weasley, casando-se com ela. E como as coisas que começam de forma errada tendem a ficar pior, agora estavam noivos, sem que ela tivesse aceitado o pedido.

Ginny se via em seu sexto ano, noiva de Harry Potter, o adolescente mais famoso da Europa, mas namorava o Draco Malfoy, o herdeiro da família mais rica do continente, mas não podiam ao menos andar de mãos dadas em público, mal se viam dentro do colégio e só tinham tempo juntos quando voltavam para suas casas e conseguiam escapar dos seguranças.

Era difícil, mas não impossível... E namorar escondido era sempre muito empolgante, pois existia o risco de serem pegos a qualquer momento e se fossem flagrados... Não havia dúvidas de que se isso acontecesse, seria o início de uma guerra. Lembrava-se muito bem de como havia terminado a história de amor entre uma garota do clã Slytherin e um rapaz do clã Griffyndor em Verona, a segunda maior cidade de Hogwarts. Foi um caso comum de rivalidade entre clãs, mas que teve um final trágico que repercutiu no mundo todo, e Ginny não queria ter o mesmo final.

Quando terminou o banho se vestiu com uma saia em jeans e uma camiseta preta, com o brasão da seleção de futebol de Hogwarts em uma das mangas, colocou as últimas coisas dentro da mochila. Teria o prazer de passar duas semanas inteiras em um arquipélago de ilhas paradisíacas em um país sul-africano. Iriam passar aqueles quinze dias em um lugar perfeito e já havia pesquisado tudo o que podia na internet, mas seu maior interesse é que poderia ficar mais próxima de Draco em um lugar praticamente desconhecido, sem os seguranças dele e os dela seguindo-os por todos os lugares. E o melhor: sem a perseguição dos repórteres, que viveriam grudados na janela do seu quarto, se pudessem.

Era a viagem perfeita.

Abriu a porta do quarto e deu de cara com Ron, seu irmão mais velho, que se preparava para bater na porta. Ele sorriu. Também tinha uma mochila nas costas.

"Que bom que já acordou", falou pegando a alça da mala de carrinho que Ginny arrastava.

"Vejo que todos nós caímos da cama hoje, meu querido irmão".

"Nada como um motivo soberbo como o que nos espera em tão belo dia", falou pomposo.

"Você está bem, Ron?", perguntou preocupada. "Geralmente você não é tão poético. Trocou de lugar com o Percy?"

"Claro que não! Na verdade dormi estudando história. Hermione acredita que o professor Binns irá fazer alguma chamada oral durante a viagem e o assunto foi inspirador".

"Posso saber qual foi?", perguntou enquanto desciam as escadas.

"As guerras do passado entre famílias slytherins e griffyndors. Mas a melhor de todas é a que envolve Romeu e Julieta porque...

"Faça-me o favor, Ronald", reclamou revirando os olhos. "Essa história nem precisa ser estudada. Com um ano de idade já nos contam como história para dormir apenas para nos manter longe dos slytherins. E você estava estudando? O que a Hermione fez com você? Lavagem cerebral?"

"Mas que é uma bela história eu não posso negar", falou ignorando as duas últimas frases da irmã, enquanto colocava a mala no canto do hall de entrada daquela grande cobertura, que ficava no centro de Hogsmeade.

"Onde estão Harry e Hermione?", ela perguntou, enquanto ia para a cozinha.

"Ele está na casa dos tios e a Mione vai sair de casa mesmo, ela disse que tentaria convencer os pais dela a ficar aqui com a gente antes da viagem, mas não deu. Vamos encontrar os dois no aeroporto".

"Certo... O que tem para o café da manhã?", perguntou.

"Não sei", ele respondeu. "Se bem que eu não estou com a mínima fome, de tão nervoso que..."

"Relaxa, Ron Weasley. Nós teremos duas semanas perfeitas. Você verá".

"Sim, sim. É tudo o que eu mais quero".

O relógio parecia não querer andar, mas com muita paciência os dois esperaram e inevitavelmente o horário da partida foi se aproximando vagarosamente. Eles não perderam tempo ao pegarem as malas, enfiarem no carro e pedirem para o motorista levarem-nos ao aeroporto, onde provavelmente Harry Potter, o rapaz mais famoso do país, estaria a esperá-los.

Não foi diferente do que imaginaram.

Pouco havia passado das nove horas da manhã e o garoto realmente já aguardava. Estava no saguão e lia o Profeta Diário onde, mais uma vez, noticiavam algo sobre ele.

A matéria na verdade era sobre Voldemort, o homem mais procurado do mundo. Terrorista que ameaçava constantemente Hogwarts com ataques suicidas de seus comandados. A rede formada por Voldemort era muito organizada e ele possuía células em todo mundo, incluindo no Afeganistão, onde seu subordinado mais famoso tratava de ataques aos Estados Unidos. Ele era o seu braço direito, o Comensal da Morte mais procurado do mundo.

Harry perdera os pais quando tinha apenas um ano de idade em um atentado terrorista organizado por Voldemort. O garotinho sobrevivera misteriosamente, com apenas uma cicatriz e o terrorista sofreu um grave acidente, ficando afastado de suas ambições por longos treze anos. Durante esse tempo os comensais deram uma trégua e a paz reinou em Hogwarts e em boa parte do mundo, excerto por conta de Bin Laden, que queria tomar o lugar de Voldemort e acabou atacando vários países ao mesmo tempo e até jogou aviões em prédios.

Naquele momento Harry lia a notícia de que Bin Laden fora morto por um Comensal, a mando do próprio Voldemort. Viu seu nome ser citado, assim como o dos seus pais... Logo avistou outra notícia levando seu nome, mas falava de coisas boas: sua festa de noivado com Ginny Weasley, que aconteceria dentro de três semanas e oficializaria o pedido em público, embora ele já usasse uma aliança na mão direita. Harry e os pais dela entraram em um acordo, pois ele forneceria capital para reerguer o império das empresas Weasley e em contrapartida ficaria com a garota de seus sonhos, unindo as duas famílias mais influentes do Clã Griffyndor e fortalecendo a aliança entre as famílias tradicionais dentro do parlamento.

"Harry!", ele ouviu alguém chamar. Reconhecia aquela voz.

Era a sua amiga Hermione.

"Olá, Mione. Como passou o fim de semana?", perguntou feliz.

"Muito bem e você?"

"Não foi muito bom, você sabe. Conviver com dos Dursley é um exercício de paciência".

"Imagino".

"Onde estão seus pais?", perguntou ao notar a ausência do Senhor e da Senhora Granger.

"Foram para o consultório. Hoje é segunda feira e eles precisam trabalhar não é mesmo?", ela perguntou sorrindo.

Harry concordou.

"Olá", Ginny cumprimentou, aproximando-se com o irmão.

"Oi, Ginny. Oi, Ron", Harry beijou o rosto da noiva e deu uma tapinha nas costas do amigo.

Hermione se aproximou e beijou o namorado. Harry e Ginny desviaram o olhar, ligeiramente constrangidos e ele acabou olhando para os pés do amigo. Ron usava uma calça preta, que ficava na metade da batata da perna, cheia de bolsos. Ele beijou a namorada sem muito jeito e Ginny riu.

"A cada dia você está mais desengonçado, Ron", ela comentou distraidamente.

"Ah, Ginny, cala a boca!", resmungou se sentando e pegando o jornal para ler as mesmas notícias que Harry já havia lido. "Não cansam de falar de vocês mesmo, né?", perguntou apontando para uma enorme foto colorida de Harry e Ginny, no aniversário dele.

"Eu me pergunto todos os dias quando vão nos deixar em paz".

O grupo esperou mais um pouco e já começaram a notar que, próximos ao portão de embarque, já estavam muitos dos alunos que iriam viajar. O diretor autorizou apenas a viagem de alunos acima do quinto ano. Poucos estavam ali, pois a maioria não conseguiu autorização dos pais para a viagem e, no final das contas, apenas dezessete alunos iriam embarcar.

Não seria um vôo rápido, disso ele tinha certeza, e provavelmente também não seria muito divertido, mas o mais importante era o que aconteceria quando chegassem ao destino final... Lá ele teria chance com Ginny e não deixaria escapar.

Harry olhou para o lado e viu Ron e Hermione conversando, então decidiu não esperar para tentar se aproximar da noiva, mas ao se virar para iniciar uma conversa notou que ela já não estava ali. Na verdade ela não estava em lugar nenhum e se perguntou como ela teria desaparecido daquela forma, mas não conseguiu encontrar nenhuma resposta plausível. O garoto bufou, levantou-se e foi tomar um café em um dos estandes que ficavam ao longo do salão do aeroporto, sentou-se em uma das cadeiras e cruzou os braços. Esperando seu expresso e principalmente por Ginny. Ele não era nem um pouco paciente, mas em algumas horas teria a sua chance. Ginny não poderia fugir daquele avião e depois ele ainda teria duas semanas inteirinhas.

-x-

"Não tinha um lugar menos estranho para marcar um encontro?", ela perguntou, enquanto se apertava dentro de um box, junto com Draco, em um banheiro masculino.

"Sinto muito, mas qualquer outro lugar estaria cheio de gente que nos conhece, ou pior... Que conhece a gente e as nossas famílias. Não lembra que pelo menos uma vez por semana temos nossos lindos rostos estampados em fotos coloridas no Profeta?"

"Não... Não esqueci. Hoje mesmo li uma matéria anunciando a data da festa do meu noivado, que eu nem ao menos havia aceitado. Ainda por cima tenho que usar isso", ela mostrou a mão direita, onde um anel de brilhantes cintilava.

"Não vamos ter que discutir-"

"Certo!", ela o interrompeu. "Mas como vamos fazer para que o Harry não fique no meu pé durante essas duas semanas? Teoricamente ele tem o direito de ficar grudado em mim, não é?" ela perguntou.

Draco sorriu malicioso.

"Ele não vai embarcar".

"Quê?!", assustou-se.

Draco era uma pessoa que não se importava muito em passar por cima dos outros para conseguir o que queria.

"Já falei, ele não embarcará naquele avião, ou eu não me chamo Draco Malfoy".

"Draco, o que você está pensando em fazer?" ela segurou o rosto do rapaz entre suas mãos.

"Relaxa, Weasley! Não vou matar o Potter, só vou deixá-lo incapacitado".

"Incapacitado?!" ela quase gritou. "Mas..."

"Vai me ajudar ou não?" intimou.

"Eu..."

"Ele não vai se machucar. Eu só preciso que você me ajude a mantê-lo aqui".

"E como você vai mantê-lo aqui?"

"Algo pode acontecer com a família dele", insinuou sorrindo.

"Sem machucar ninguém, Malfoy!" sentenciou.

"Ele apenas vai pensar que aconteceu algo, Ginny. Não vamos explodir a casa dele".

"Certo... Se não vai causar dano a ninguém eu topo".

"É por isso que eu amo você, garota!", falou beijando-a rapidamente.

"Certo... Qual é o plano?", perguntou sorrindo.

"Eu planejei tudo com antecedência. Eu vou te explicar, mas as coisas já começaram a acontecer...", informou olhando para o relógio.

Não foi preciso gastar muito tempo com a explicação e logo Ginny já estava nervosa porque não sabia se seria capaz de ser uma boa atriz a ponto de fingir que algo muito grave havia acontecido, principalmente estando tão perto do horário de embarcar. Ela teria que agir cinco minutos antes do embarque começar, assim Harry não teria tempo de voltar antes que finalizarem o embarque, só então ele perceberia que tudo não passava de uma armação.

E ela esperou.

Aguardou nervosa, sentada na mesma mesa em que o noivo estava. Ele não tentara puxar assunto com ela e tomava tranqüilo seu café expresso. O irmão e Hermione, que conversavam próximos ao portão de embarque, vieram logo após e também pediram algo para beber. Conversavam sobre diversos assuntos, mas ela não conseguia prestar atenção a nada, a não ser em Draco, que estava sentado junto com um grupo de alunos em que todas as famílias pertenciam ao Clã Slytherin e parecia estar muito tranqüilo, até mesmo no momento em que olhou para Ginny e fez sinal com a cabeça, afirmando que já chegara o momento. Ela engoliu em seco.

"Harry?", ela se virou para o garoto.

"Sim?", ficou na expectativa, ao ouvi-la chamar seu nome.

"Empresta o celular?", perguntou sorrindo. A alegria no rosto de Harry se desfez.

"OK...", falou tirando-o do bolso e entregando à garota.

Ela se levantou e caminhou pelo saguão. Quase no instante seguinte um telão, onde passava um programa de esportes, deu lugar a uma mulher que todos conheciam por sua péssima reputação de repórter sensacionalista. Ginny sorriu... Tudo estava acontecendo como Draco disse que aconteceria.

"O terrorista conhecido como Você-Sabe-Quem anunciou agora a pouco que tem em seu poder os últimos familiares vivos do famoso Menino que Sobreviveu ao Atentado".

"Ah, não...", Harry murmurou. Ron e Hermione olharam para ele, assustados.

A repórter continuou a falar.

"Os Dursley são os Estrangeiros que criaram Harry Potter desde que ele tinha um ano de idade e..."

"É melhor você sair daqui, Harry", Ginny apareceu, com uma expressão estranha.

"Mas..."

"Logo isso aqui enche de repórteres. Você já chama atenção sem essa Rita Skeeter falando de você e..."

"Vamos, cara. Daqui a pouco é o embarque e ninguém vai te importunar lá dentro do avião. Enquanto não dá a hora ficamos em um lugar mais reservado e..."

"Olha ele ali!", os quatro ouviram alguém gritar.

Até Ginny se assustou. Tinha pelo menos dez homens e mulheres empunhando câmeras, microfones e máquinas fotográficas. Harry, Ron e Hermione correram e os jornalistas foram atrás deles, iniciando uma perseguição alucinada ao melhor partido da Europa, passando direto por ela, que não se conteve e começou a rir. Draco havia pensado em tudo antes mesmo de chegar àquele aeroporto e, ela querendo ajudar ou não, colocaria o plano em prática.

O telefone de Harry vibrou em sua mão e ela não reconheceu o número, mas atendeu.

"..."

"Harry, menino idiota!" Ginny nem teve tempo de dizer "alô". "O que nós estamos fazendo no telejornal!", o senhor Dursley ao telefone.

"Er... Não é o Harry. Ele está um pouco ocupado no momento e-"

"Quem foi que inventou que nós fomos seqüestrados?", ele continuou a berrar.

"Eu não faço idéia, senhor... Quero dizer... O senhor não foi seqüestrado?", Ginny perguntou, fingindo inocência.

"Claro que não! Estou falando com você não é mesmo, garota?", Ginny teve que afastar o celular do ouvido, por conta da altura que o homem falava.

"Não se preocupe... Vou avisar a ele que está tudo bem com o senhor, certo?"

"Não me interessa o que ele pensa! O que os vizinhos vão pensar? Vão achar que somos perseguidos por terroristas e...", Ginny revirou os olhos e desligou o telefone. "Que cara chato", resmungou enquanto pegava a sua mala e dirigia-se para o portão de embarque, quando foi dado o primeiro anúncio de que o avião estava para partir.

"Que coisa feia, Ginny", Hermione estava às costas dela, com as mãos na cintura, olhando-a cheia de censura. Mas nada se comparava ao olhar que Draco, parado em um ponto mais à frente, logo atrás de Hermione, lançou a ela, antes de levar a mão ao rosto, decepcionado.

"Ops", foi tudo o que conseguiu dizer, ao perceber que tinha estragado tudo.

Harry e Ron continuavam a correr, pois Hermione ficara para trás ao notar que Ginny não estava com o grupo. Eles pegaram uma escada rolante, mas quando olharam para trás notaram que apenas dois dos vários repórteres subiam atrás deles... Os demais estavam na frente, apenas esperando que eles chegassem ao primeiro andar. Harry suspirou. Estavam encurralados.

"Potter! O que você tem a declarar sobre..."

"Nada! Não tenho nada a declarar!"

"Deixem o Harry em paz!" pediu o ruivo. "Será que vocês não têm senso de ridículo e-"

"Não se mete, moleque!" um dos repórteres empurrou Ron, que revidou o empurrão.

Daí para a confusão começar foi apenas um pulo. Câmeras, fotógrafos e repórteres histéricas se acotovelavam para ter uma melhor imagem da cara assustada de Harry. Ron tentava passar pela multidão, que agora era composta também por curiosos e ele acabou empurrando mais um dos câmeras, só que dessa vez ele levou a pior e, no meio da confusão, perdeu o equilíbrio e caiu escada rolante abaixo.

Parecia que estava acontecendo em câmera lenta... Hermione chegando ao encontro deles, com Ginny ao seu lado, emburrada. As duas gritaram ao ver o garoto caindo. Todos ficaram em silêncio observando o ruivo rolar pela escada que estava vazia... A escada subia, mas ele rolou tão rápido que logo estava no andar inferior. Harry, chocado, empurrou dois fotógrafos e saiu correndo para a outra escada. Hermione foi atrás do namorado, desesperada. Harry e os repórteres chegaram primeiro a Ron, que estava desacordado. Hermione empurrou os repórteres, mas eles se recusavam a sair do caminho, pois tiravam fotos. Ela percebeu que precisava ser mais sutil, se quisesse chegar perto do namorado.

Esgueirou-se entre os dois primeiros homens, empinando o nariz e se fazendo de importante. Se aquele plano não desse certo iria precisar tomar atitudes drásticas como sair batendo em quem aparecesse na frente, com a sua bolsa incrivelmente pesada. Por sorte não precisou disso e, sem ao menos precisar gritar uma vez ou pisar nos pés daquele grupo de repórteres, conseguiu abrir caminho até Ron, que estava estatelado no chão. Ajoelhou-se ao lado do ruivo e notou que o braço dele estava em um ângulo muito estranho.

"Eu acho que ele quebrou o braço", falou um fotógrafo, como se isso não fosse obvio. Hermione, finalmente perdendo a paciência, levantou-se e meteu a bolsa da cara do homem.

"Saia daqui", gritou. "Não tem nada para vocês! Os Dursley não foram seqüestrados, foi só um alarme falso!", informou descontrolada.

Ginny continuava muito quieta.

Os repórteres começaram a ir embora, resmungando que haviam perdido tempo e que não deveriam ter acreditado na história que haviam contado mais cedo... Que estava na cara que era um trote, mas não deixaram o aeroporto, pois sempre gostavam de ter o Potter na mira das câmeras. Pelo menos as fotos daquela manhã poderiam servir para alguma matéria.

Indiferente aos resmungos frustrados dos jornalistas, Harry abaixou-se e examinou cuidadosamente o amigo, para ver se não havia mais nada de grave e realmente parecia que apenas tinha um braço quebrado.

"Ele está desmaiado!", exclamou Hermione.

"Eu sei", respondeu Harry.

"E se ele não acordar?", ela andava de um lado para o outro.

"Mione, o Ron não vai morrer porque caiu da escada", tentou acalmá-la.

Hermione se calou, embora continuasse com os olhos preocupados focados em Ron. Harry penas tentou não se deixar abalar pelo nervosismo da amiga e continuou a observar o amigo.

"Já foi dada a segunda chamada para o vôo... Vamos perder o avião e o Ron está machucado"

"O que houve?", perguntou o ruivo, meio rouco.

"Ron", Hermione gritou. "Ai, meu Deus! Você está bem?", perguntou se aproximando, segurando o rosto dele entre as mãos.

"Claro, Mione, mas... Meu braço..."

"A gente o conserta quando chegarmos!", decidiu Harry, puxando Ginny pelo braço.

"Mas...", Hermione tentou protestar, mas foi inútil não conseguiu. Harry já estava longe.

"Vamos, Mione. Também não quero perder essa viagem por nada nesse mundo", Ron levantou-se, tentando manter o braço imóvel. Hermione passou o braço pelas costas do rapaz.

"Quando entrarmos no avião nós daremos um jeito nisso. Pelo menos para não ficar doendo tanto, certo?", o rapaz apenas balançou a cabeça concordando.

Harry e Ginny estavam bem mais à frente. Com uma mão ele arrastava a sua mala e com a outra arrastava a garota, que também puxava a sua mala. Ela ainda não conseguia acreditar em como tinha colocado tudo a perder. Deveria ter sido mais cuidadosa. Hermione devia ter notado que era um plano, pois era muito inteligente. Com certeza ligara os pontos: o sumiço dela, o fato de pedir o telefone ao Harry para deixá-lo sem comunicação, por ter ficado para trás enquanto corriam, e o mais agravante: ela ter escutado a conversa com o Dursley. Ginny também levava em consideração que Hermione era a única pessoa que sabia do envolvimento do seu com Malfoy.

Draco devia estar furioso. Ele fizera praticamente tudo naquele plano. Tudo que ela tinha que fazer era pegar o celular de Harry para que ele ficasse incomunicável com os tios, que nunca haviam sido seqüestrados e dar a idéia de que eles tinham que se esconder por alguns minutos até o horário do avião sair...

Falhara miseravelmente e agora era arrastada pra dentro do avião por seu futuro marido. Tudo o que ela esperava naquele momento era que ao chegar às ilhas paradisíacas e de águas mornas as coisas melhorassem para o lado dela, mas já estava perdendo as esperanças.

-x-

Ginny abriu os olhos, em seguida se sentou na cama e tateou o criado mudo, procurando alguma coisa. Finalmente encontrou a sua varinha e com um aceno acendeu as velas do quarto. Acabara de ouvir uma criança chorando no quarto ao lado. Bufou com raiva, perguntando-se porque ele não se levantava. Deitou-se mais uma vez e virou para o lado esperando mais um pouco... E nada. Sentou-se na cama irritada e cutucou a pessoa que estava ao seu lado. Ele resmungou e se virou, mas ela não desistiu.

"Harry Potter, se você não levantar agora eu juro que vou enfiar essa varinha no seu..."

"É a sua vez e ir, Ginny", respondeu, sentando-se na cama, mal humorado.

"Minha vez? Claro que não. Quem foi que levantou há duas horas?", perguntou irritada.

"Eu sei", ele se rendeu.

"Então por que não levanta?"

"Porque eu estou dormindo", murmurou enfiando o rosto no travesseiro.

"Harry..."

"Só mais essa vez, eu prometo".

"Levanta!", ordenou.

"Vem comigo... Eu não levo jeito, você sabe", implorou cansado.

Ela revirou os olhos, mas se levantou. Ele também saiu da cama, mas estava tonto de tanto sono. Saíram do quarto e andaram pelo corredor até o quarto ao lado, que era decorado em tons claros de rosa e azul. Nele havia sete berços e Ginny levou um susto.

"Eu pensei que a gente tinha doze filhos e não sete!", ela gritou para Harry. As crianças berraram mais.

"Eu sei... Mas eu emprestei cinco deles para o Voldemort treiná-los para fazer parte do exercito contra o Ministro da Magia e..."

Ginny desmaiou.

"Gina?", Harry cutucou a garota.

"Hum?"

"Acorda..."

"Quero meus filhos de volta...", murmurou.

"Filhos?", ele achou que não tinha compreendido.

"Onde você deixou nossos filhos?", gritou, abrindo os olhos.

"Er... Eu não sabia que você gostaria de ter filhos comigo, Ginny, mas fico muito feliz", ele falou segurando as mãos dela nas suas. Só então ela notou que não estavam em um quarto cheio de berços e que ela não estava casada com Harry.

"Eu tive um pesadelo...", falou sem pensar.

"Oh... Ter filhos comigo é um pesadelo?", Harry perguntou sem graça, sentindo-se ofendido.

"Não foi isso que eu quis dizer", tentou se desculpar. "Mas ter doze definitivamente é um pesadelo e... Por que me acordou?"

"Chegamos".

"Onde?", perguntou desorientada.

"Onde mais, Ginny? No Alasca! Para a nossa lua de mel", ele falou mostrando um pedaço de queijo coalho em forma de uma meia lua enorme, coberto de caramelo.

A garota não se conteve e gritou. Gritou muito. Gritou e saiu correndo pelo avião e acabou escorregando no meio do corredor, atropelando Parvati, Neville e Luna que, sem explicação nenhuma, vestiam fantasias pintinhos amarelos.

"Strike!", gritou a aeromoça, girando uma roseta rosa choque.

Depois disso Ginny não viu mais nada, pois desmaiara ao bater a cabeça no chão.

"Ginny?"

"O que é!?", gritou a plenos pulmões, quando Harry a cutucou.

"Chegamos", informou, falando baixinho.

"Não quero ficar no Alasca e eu... Cadê o queijo?" perguntou.

"Que queijo?"

"O queijo com caramelo!", gritou. Algumas pessoas olharam para ela dentro do avião.

"Não tenho queijo com caramelo, mas... Serve com goiabada?", ele perguntou oferecendo.

"Eu..."

"No Brasil eles costumam comer isso e chamam de Romeu e Julieta, coincidência não? Quer um pouquinho?", perguntou oferecendo.

"Oh... Agora é de verdade", murmurou para si mesma, caindo em si.

"Você dormiu como uma pedra durante a viagem".

"Estava um pouco cansada", falou levando as mãos à cabeça.

"Teve bons sonhos?"

"Oh... Sim... Claro! Você nem pode imaginar como foram ótimos", falou sarcástica, enquanto esperava a aeronave pousar, torcendo que não demorasse mais nem um minuto para que ela saísse daquele avião. Na verdade queria pular fora dele e ficar longe do Harry o mais rápido possível, mas infelizmente ela realmente não estava com sorte naquele dia.

Não demorou muito para que chegassem ao chão, mas quando Ginny desceu do avião notou que o "chegamos" de Harry apenas se referia ao fato de estarem novamente em terra porque ao se deparar com a grandiosidade do aeroporto em que estavam ela tinha absoluta certeza de que aquilo poderia ser qualquer lugar no mundo, menos o paradisíaco arquipélago de águas cristalinas, sombra e paz. Ela estacou, fazendo Hermione literalmente tropeçar nela.

"Ginny?"

"Onde nós estamos?", perguntou com cara de espanto.

"Na escala, Ginny"

"Mate-me".

"Que?", Hermione achou que não tinha escutado.

"Por favor...", pediu com uma cara bastante convincente, mas Hermione apenas revirou os olhos e suspirou.

"Só espero que essa loucura toda não seja pelo Malfoy. Sei muito bem que você..."

"Não fala o nome dele, porque se o Ron escutar ele..."

"Não é ele que vai te matar, Ginny, mas pode ter certeza de que metade do clã Gryffindor vai querer a sua cabeça".

"Mione, você não vai-"

"Não contei até hoje, não é mesmo? E não vou contar. O que você fez lá em Hogwarts continuará apenas entre nós. Além do mais... Eu não pertenço a nenhum clã, esqueceu? Não tenho o direito de me meter, mas confesso que não suporto aquele loiro aguado".

"Bem... E eu não sei como você agüenta meu irmão".

Hermione sorriu. E as duas voltaram a andar. Os garotos tinham ficado para trás e elas não queriam continuar esperando ali, em frente ao corredor da plataforma de desembarque. Tudo o que queriam era pegar as malas e ir para o hotel, porque segundo Hermione o pacote prometia um Hotel cinco estrelas, localizado em uma das praias mais famosas do mundo, o que serviu para animá-la, pois já estava pensando em se jogar do primeiro prédio que aparecesse, por causa de uma cena que vira logo que se levantara da poltrona, dentro do avião e Draco não respondera nenhuma das ligações que ela fez desde que desembarcaram... Merecia uma explicação, mas o garoto deveria estar bravo mesmo e ela sabia que em parte ele tinha razão para ter ficado assim.

O que Ginny não esperava era ter visto o garoto de mãos dadas com uma garota da Slytherin, membro da família Parkinson. Foi naquele exato momento em que ela pensou no prédio, mas desistiu justamente por conta da nova perspectiva de aproveitar a viagem.

Ainda era fim de tarde e Ron já tinha milhares de panfletos na mão quando pegaram um pequeno ônibus que levou todos os alunos para o hotel onde aguardariam até a saída do barco que os levaria para o arquipélago, na quarta-feira. Com eles foram também os professores que supervisionavam a excursão.

Snape, o professor de química, estava carrancudo, como se estar ali fosse o maior castigo que ele pudera ter recebido na vida. O professor Binns, que lecionava História Geral mais parecia um fantasma de tão branco que estava e também não parecia muito feliz. Uma das poucas pessoas que parecia realmente satisfeita era a Professora de educação física, que se chamava Ninfadora Tonks e era a esposa do professor de Filosofia, Remo Lupin, que também estava muito animado.

"Muito bem, senhoras e senhores", ela falou ao microfone do microônibus, enquanto fazia o caminho para o Mar Hotel. "Até a quarta-feira ficaremos hospedados nesta cidade, como estava programado", Ginny revirou os olhos. "Quero informar que teremos uma maravilhosa noite de descanso, mas para quem quiser sair para conhecer essa bela cidade, podem formar grupos e pedir que um dos guias disponíveis do Hotel, para que os acompanhem".

"Para ocupar todo o nosso dia de amanhã, iremos a um famoso parque de diversões pela tarde e inicio da noite. Pela manhã aproveitaremos as praias e a piscina do Hotel. Partiremos para as ilhas em um navio às 15h00 de depois de amanhã. Até lá, aproveitem".

Harry se virou para Ginny, que olhava pela janela desatenta. Perdera-se em pensamentos desde que Lupin falara que eles teriam uma ótima noite de descanso.

"Ginny?"

"Oi..." virou a cabeça lentamente.

"Estava pensando se a gente não poderia sair hoje junto com o pessoal. Podemos ir conhecer o shopping que fica perto do Hotel e..."

"Como você sabe que tem um-", Harry mostrou um folder.

"Ron pegou alguns. Estava dando uma lida e vendo algo que poderíamos fazer para nos divertimos enquanto ainda está cedo".

"Boa idéia", falou sem muito ânimo. O garoto sorriu.

"Vai ser legal. Eu prometo".

"Ok".

"Ok".

Silencio mortal.

"O Ron ainda está com o braço-"

"Não", Harry interrompeu, respondendo. "Ele engessou no aeroporto. Não pode fazer muito esforço, mas vai ficar bem".

"Ok".

"Ok".

Silêncio anormalmente mortal.

Ginny voltou a olhar pela janela. Harry não tentou puxar assunto. Sinceramente não sabia o porquê dela estar tão distante, e se lembrava perfeitamente de que Ginny gostava muito dele quando era mais nova. Agora estavam noivos e ela nem ao menos conseguia ficar a vontade ao seu lado e... O ônibus parou. Acabara de estacionar em frente a um suntuoso Hotel e Harry nem duvidou que fosse adorar aquilo tudo.

-x-

Ginny ficou feliz ao entrar no quarto e se deparar com duas camas bastante confortáveis e a perspectiva de um bom banho, mas Hermione não parecia compartilhar com a ruiva da vontade de descansar. Ginny queria apenas dormir, esquecer o mundo e colocar a cabeça no lugar, enquanto Hermione parecia louca para conhecer a cidade com os amigos, tanto que agora andava de cima para baixo com um dicionário de Inglês-Português, pronunciando palavras que Ginny não fazia idéia do que significavam.

A ruiva não conseguia tirar a cena de Draco e a outra de mãos dadas, mesmo que soubesse que ele tinha feito aquilo de propósito, apenas pelo prazer de provocá-la. Já Hermione, finalmente abandonou o livrinho em cima da cama para entrar no banheiro com suas roupas, informando que não pretendia demorar, pois havia marcado de sair com o Ron, Harry, Neville e Parvati em menos de uma hora. Ginny agradeceu por essa excursão, porque só assim poderia ficar sozinha por um momento, coisa que estava ficando cada vez mais rara, já que ela era a futura senhora Potter.

Se os Malfoy e os Weasley eram famosos em Hogwarts, isso nem se comparava à fama de Harry Potter. Ele era uma verdadeira estrela: tinham escrito livros, feito filmes, especiais de televisão... E o garoto não que tinha feito nada de extraordinário para isso, apenas era o último membro, e único herdeiro, de uma família famosa e tradicional, além de ser o único que sobreviveu a um atentado promovido por Voldemort. Também não se pode esquecer o fato de ele ser um dos garotos mais ricos do país e ter sido eleito por três anos consecutivos o melhor partido da Europa. Isso porque tinha apenas dezessete anos, sem mencionar que Harry Potter era, em resumo, uma das futuras forças políticas do país, já que o rei Dumbledore, que não possuía herdeiros, era seu grande mentor. O que deixava bem claro o futuro da família real de Hogwarts.

Ginny se deitou na cama e fechou os olhos. Mesmo tendo falado para Harry que também iria sair com eles, pensava seriamente em voltar atrás, porque estava cansada mesmo após dormir durante toda a viagem. Tentou não pensar em mais nada. Apenas esvaziou a mente e limitou-se a tentar controlar sua respiração, seus pensamentos, relaxar e... Alguém a beijou.

Ela abriu os olhos, levara um susto, mas não tinha motivos. Reconheceu o cheiro daquele que lhe roubara o beijo, antes mesmo de confirmar quem era. Ela se afastou e encarou Malfoy. Levantou-se da cama e colocou as mãos na cintura, irritada, mas ele sorria cheio de si.

"O que está fazendo aqui?"

"Vim ver você, não é óbvio?

"Volta para a Pansy!", cuspiu as palavras, mas ele sorriu mais uma vez.

"Até parece que você quer que isso aconteça", alfinetou.

Ginny se aproximou do rapaz e não pensou duas vezes ao encher a mão e atingi-lo no rosto, com muita raiva. Draco não se abalou com a tapa e segurou-a pela mão, a mesma que usara para agredi-lo, e puxou-a para beijá-la novamente. Não resistiu. Ela nunca resistia. Era impossível. Ele era insuportável, egocêntrico, metido, um completo perdedor, mas o amava.

"Você é um louco", sussurrou.

"Eu sei".

"Não estou brincando, Malfoy!", alertou com urgência, olhando para a porta do banheiro, temendo que Hermione voltasse.

"Eu também não estou brincando".

"Malfoy..."

"Não precisa me chamar de Malfoy quando estamos sozinhos, quantas vezes vou ter que repetir?"

"É o hábito", falou rápido e baixo.

"Não importa... Bem... O que pretende fazer hoje à noite?", perguntou mudando de assunto, beijando-lhe o pescoço.

"Não tenho nada programado e...", ele se afastou um pouco e sorriu maliciosamente. "Quê?"

"Vem", segurou a mão dela e a arrastou pelo quarto.

"Quê?", tentou fincar seus pés no chão, mas ele a puxou com mais força.

"Vai ser divertido".

"Onde nós-"

"Não vou atacar você, se é o que está pensando".

"Eu não pensei em nada", mentiu.

"Claro que pensou", sorriu travesso.

"Certo, eu pensei... Mas aonde vamos?"

"Conhecer a cidade", falou com simplicidade.

"Sair assim, de noite e sozinhos?"

"É, mas se você quiser, eu posso chamar o Potter para nos fazer companhia", eles já andavam pelo corredor, tentando evitar qualquer aluno ou professor, pois não poderiam ser vistos juntos de forma alguma.

"Ora, por favor, sem ironias, Draco".

"E qual é a graça de não ser irônico com você? Adoro quando você fica furiosa comigo", falou roubando-lhe um beijo rápido. "Temos que aproveitar! Ninguém nos conhece nesse país, então vamos simplesmente agir como um casal normal, OK?"

"Tudo bem", concordou sorrindo, ao entrarem em um elevador.

Os dois passaram despercebidos pelo saguão do Hotel e entraram no primeiro táxi que viram. Draco pediu que o motorista os levasse para o Shopping mais próximo, mas o motorista olhava para os dois com uma cara de quem não havia entendido nada... E era óbvio que não tinha entendido nada.

"Eu acho que ele não fala inglês, Draco", Ginny falou baixo, como se o motorista fosse se ofender, caso escutasse.

"Eu já percebi", falou abrindo a porta do carro, agradecendo ao motorista, em inglês mesmo e arrastando Ginny de volta para o Hotel.

"E agora?", ela perguntou. "Precisamos de alguém que fale português".

"Isso eu também já percebi".

"Quer parar de me corrigir?", perguntou irritada.

"Calma, senhora Potter. Não tenho culpa se você só fala coisas obvias".

"Senhora Potter?", irritou-se. "Olha aqui, Malfoy... Para mim já chega! Por que tem que ficar provocando? Não precisa ficar me testando quando já dei provas de que a única pessoa que eu quero é você, mas se o senhor não é capaz de entender isso...", se afastou. "Vou voltar para o meu quarto e dormir! Esquecer que esse dia aconteceu na minha vida e de preferência esquecer que você existe!", virou-se e deixou o rapaz sozinho no Hall.

"Obvia, esquentadinha e... E uma Weasley!", gritou, chamando a atenção de algumas pessoas no saguão. "Como pude sequer olhar para essa gryffindor falida?", perguntou-se baixinho, enquanto tomava o caminho para um dos elevadores.

-x-

Depois de sair do elevador e caminhar novamente por todo o corredor, Ginny entrou no quarto e bateu a porta com toda a força que tinha, fazendo Hermione pular de susto e esbarrar na mesa que tinha no quarto, levando a mão ao peito e arregalando os olhos, deixando o dicionário cair no chão.

"Quer me matar?", gritou.

"Desculpe".

Hermione suspirou e voltou a ler o dicionário, enquanto colocava as coisas dentro da bolsa que levaria ao passeio naquela noite, sem se importar com as desculpas da garota, afinal Ginny estava passando dos limites em tudo o que dizia respeito ao Malfoy.

"Você pode me esperar?", perguntou enquanto a amiga se dirigia ao lado oposto do quarto para calçar os tênis.

"Esperar?"

"Sim, eu mudei de idéia. Vou com vocês", falou, sem olhar para a amiga.

"O que o Malfoy fez?", perguntou já sabendo o motivo da mudança repentina.

"Não tem nada a ver com ele".

"Claro que tem", falou com ar de quem sabe das coisas. "Aquele loiro azedo é o único que consegue te deixar feliz, mas também é o único que consegue te deixar com essa cara".

"É tão obvio assim?", perguntou sentando-se em uma das camas.

"É", respondeu com simplicidade.

Naquele momento, Ginny se perguntou se Draco não tinha razão: ela era transparente e óbvia demais. Suspirou e abriu sua mala. Escolhei uma roupa simples, composta de uma calça jeans e camiseta branca. Depois se levantou e seguiu para o banheiro, prometendo que seria rápido e Hermione concordou.

E realmente foi muito rápido porque logo estavam no hall do Hotel, onde Harry e Ron já esperavam acompanhados por Parvati, Neville e por Luna, uma garota que pertencia ao clã da Ravenclaw e à família Lovegood. O guia que os acompanharia se chamava Rogério e lembrava e muito um garoto que estudara no colégio deles há alguns anos atrás, chamado Cedric, que fora morto por um Comensal-Bomba, que se explodiu junto com metade de uma rua.

Eles entraram em uma van e foram para o Shopping, onde pretendiam assistir a uma sessão de um filme de comédia, que tinham visto em cartaz. Todavia, ao chegarem viram que tinham muito mais opções e resolveram comprar o ingresso para a última sessão, para dar tempo de curtir um pouco mais o local antes do filme.

Primeiro eles resolveram visitar uma livraria, para satisfazer as vontades de Hermione, mas Harry logo sugeriu que eles saíssem dali, pois percebeu o quanto algumas pessoas olhavam para ele. Parecia até que o conheciam e logo ficou claro o porquê daquilo: Havia uma prateleira com lançamentos onde seu rosto estava estampado em alguns dos livros que falavam sobre sua vida, sobre seu país e na prateleira ao lado havia jornais europeus, o que significava que também tinha jornais de Hogwarts e que obviamente possuía fotos dele na primeira página.

"Que ótimo...", murmurou enraivecido.

"Calma, Harry", Neville pediu.

"Até em outro país as pessoas me conhecem", reclamou.

"Então você nunca terá problema se perder os documentos, Harry", Luna apontou sabiamente. "Onde ficam os games?", perguntou. Ron e Neville sorriram. Ela podia parecer aluada, mas sempre amenizava as coisas com seus comentários aleatórios.

Acatando a sugestão da amiga ravenclaw, todos passaram quase uma hora gastando dinheiro e jogos eletrônicos e tirando fotos adesivas. Quando finalmente se cansaram, correram para uma das praças de alimentação que ficava no piso inferior.

"O que vamos comer?", perguntou Parvati.

"Voto em McDonald's. Adoro o palhaço e a surpresa", Luna levantou a mão.

"Prefiro algo com menos gordura", Parvati cruzou os braços.

"Tava com vontade de comer pizza", Neville se meteu.

"Eu queria japonesa", Hermione e Ron falaram ao mesmo tempo.

"Eu como qualquer coisa", Ginny comentou entediada.

"Eu também voto na japonesa", Harry concordou com os amigos.

"E você, Rogério?", perguntou Neville.

"Também gosto muito de comida oriental, mas prefiro chinesa. Mas aconselho a todos nós decidirmos pela mesma coisa, para ficarmos juntos. Afinal vou ter que traduzir o que vocês falam para os atendentes não é mesmo?"

"Concordo", Hermione informou.

"Mas e então? O que vamos comer?", perguntou Ron.

"Vamos tirar na sorte?", Neville sugeriu.

"Não costumo ter muita sorte...", lembrou Luna. "Nunca tem o brinquedo que eu quero. Sempre está esgotado".

"Melhor não... Vamos decidir calmamente, analisando prós e contras", Rogério sugeriu muito sensato e todos começaram a dialogar.

Quase meia hora depois, eles ainda estavam parados, de pé discutindo que sushi não era melhor do que um Mcduplo e que além de tudo um Ovomaltine era mil vezes melhor do que tomar Coca-cola, mas que sem dúvida era pior do que uma pizza gigante do Misterpizza e...

"Daqui a trinta minutos começa a sessão do filme, gente. É melhor irmos logo se não nunca vamos achar lugares bons", Rogério avisou.

"Que ótimo...", Ginny resmungou.

Todos foram andando e subiram pela escada rolante que ficava em frente ao cinema. Lá esperaram alguns minutos na fila e todos compraram pipoca, refrigerantes e doces com ajuda de Rogério. Era uma tentativa desesperada para enganar um pouco a fome. Entraram na sala do cinema, se sentaram nas fileiras superiores, viram que ela lotava aos poucos e acharam maravilhosa a idéia de chegarem cedo para escolher os lugares.

Rogério sentou na ponta e ao seu lado ficou Parvati, seguida por Luna, Neville, Hermione e Ron. Harry e Ginny ficaram logo depois, e não se falaram por um segundo sequer. Ficaram mudos, sem olhar para o lado e também não entraram na conversa dos amigos, que estavam bem animados.

Esperaram mais um pouco e as luzes se apagaram, mas não por completo. O filme iria começar, mas antes veio um aviso, falando das saídas de emergência, brigada de incêndio e também para desligarem os celulares. Tudo em português, mas Rogério traduziu para que todos entendessem.

Depois vieram os trailers e um dos filmes mostrados foi Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban.

Filme que mostrava a história do garoto que havia sobrevivido a um atentado e que agora era dono de um verdadeiro império, mas que vivia fugindo da sombra do seu passado e de um prisioneiro que fugira de uma famosa cadeia de Hogwarts.

"Meu Deus, eu tinha me esquecido dessa coisa!", exclamou devido ao susto, encolhendo-se na poltrona.

Ginny não conseguiu conter um sorriso.

No trailer havia um ator bastante parecido com ele, interpretava algumas cenas que Harry nunca viveu deixando sua vida tão poética e melosa que nem ele se reconhecia. Harry se encolheu ainda mais e ajeitou a franja para cobrir a cicatriz. Não queria ser confundido com um fã desesperado dele mesmo.

Depois vieram mais trailers, incluindo alguns de filmes brasileiros, que eles não entenderam absolutamente nada, excluindo Hermione que conseguia entender algumas palavras e frases simples; e então as luzes apagaram de vez, deixando a sala mais escura, para que o filme realmente começasse.

Uma musica muito louca começou a tocar e o título do filme apareceu na tela, escrito em português e Rogério traduziu, dizendo que aquele era o título adaptado para a língua do Brasil. Começaram a mostrar algumas imagens enquanto os nomes dos atores passavam nos créditos iniciais, mas Harry parou de prestar atenção quando sentiu alguém pegar em sua mão. Não precisou pensar duas vezes para saber de quem era. Virou-se para Ginny com uma cara de quem não entende muito bem o que está acontecendo e ela sorriu.

"Pensei que estivesse me evitando", falou o garoto, muito baixo.

"E eu estava mesmo", confessou. Harry riu. Ginny conseguia ser engraçada mesmo quando falava coisas que pudesse feri-lo. "Mas tomei uma decisão e não vou ficar esperando por algo que sei que não vai acontecer".

"O que..."

"Eu vou me casar com você, certo?"

"O que te fez..."

"Não que eu não quisesse antes... Só não gostei de não ter sido consultada", comunicou tentando manter os pensamentos longe de Malfoy.

"Sinto muito por ter agido sem te falar e...", ela o interrompeu com um beijo.

Se ela queria tirar o Malfoy de sua cabeça, que fosse o mais rápido possível e sua chance estava literalmente bem ao lado. Harry correspondeu ao beijo e nem se importou com o resto. Não queria saber se estava perdendo o começo do filme e também nem ligou para os protestos dos colegas ao lado, que não estavam entendendo nada do filme... Pois ele era dublado... Em português.

Meia hora depois eles saíam frustrados da sala de cinema, sem ter entendido nada do começo do filme, mesmo com as tentativas de Rogério traduzir simultaneamente. Na verdade ele acabou ficando rouco e eles saíram da sessão antes mesmo do filme começar a ter graça. Harry e Ginny nem ao menos entenderam o porquê de terem sido arrastados para fora da sala e só se deram conta das caras mal-humoradas de todos quando já estavam do lado de fora, com as luzes acesas.

"O filme era dublado?", perguntou Harry.

"Sim, era! Não assistiu o comecinho?", Parvati perguntou irritada.

"Na verdade não", confessou, corando.

Só então perceberam que ele e Ginny estavam de mãos dadas, o que nunca havia acontecido, a não ser quando Harry tentava arrastá-la para dentro do avião, naquela manhã.

"Então vejo que nesse dia cheio de azar, alguém saiu no lucro", Ron falou meio irritado, meio divertido. "Porque para mim foi um terror! Quebrei um braço, não comi nada no jantar, a não ser pipoca e ainda por cima tentei assistir um filme dublado em uma língua que nem sei para onde vai!"

"Calma, gente", Rogério amenizou. "A viagem só está começando. Amanhã vocês vão se divertir muito, eu garanto. Por isso é melhor voltarmos para o Hotel. Lá vocês podem jantar o que quiserem e depois precisam dormir para acordarem dispostos amanhã".

"Não vejo a hora de ir conhecer as praias", Harry falou feliz e Ginny sorriu amarelo.

Em seus sonhos ela conhecia as praias com Malfoy... Ia para as ilhas e ficava ao lado de Draco, mas ele não deixara escolha para ela. Namorar escondido e não poder viver como queria ela aceitava perfeitamente bem, mas ele passara dos limites naquele dia e a tirara do sério. Se ele podia ficar com a Pansy então ela podia ficar com o Harry e não tinha mais discussão. Se Malfoy não aceitasse o problema era dele... Só dele e...

Ela ia continuaria procurando uma forma de se enganar e falhando miseravelmente em todas as tentativas. Apenas pensava na idiotice que acabara de cometer enquanto voltavam para o Mar Hotel na van, com Harry ao seu lado, segurando sua mão e com a cabeça encostada em seu ombro.

Estava perdida. E fora ela própria que se metera naquele labirinto.


N/A.: Final da Parte I dessa insanidade. Comentários, por favor. Eu mereço *cara de pidona*