Não, eu não morri.
Disclaimer: Naruto não me pertence. Se pertencesse...Bem, muitas personagens já não seriam virgens.
FIC: ENQUANTO SOMOS JOVENS.
AUTORA: EU. Duh.
BETA: YEAHREBECCA (Foi mal, eu não consegui me segurar mais...tenho que trabalhar meu atocontrole, né? ç.Ç)
OBSERVAÇÃO: Linguagem inadequada, insinuações de sexo e retratações de homossexualidade estão presente em todo o curso da história, embora não haja cenas de sexo propriamente ditas. SE VOCÊ NÃO APRECIA ESTE TIPO DE LEITURA, POR FAVOR, NÃO LEIA.
A fic não é M porque não há cenas de sexo propriamente dito (por enquanto). Potanto, não vi necessidade de recomendá-la apenas para maiores de 18 anos.
Era tarde, umas duas horas depois do almoço. Eu tava entrando na sala, quando lá no cantinho eu vi o Sai. Ele tava como sempre com aquela cara de parede dele – ou seja, pra variar não expressava nada. Então eu fui pra lá.
Era o segundo período do meu curso, publicidade e propaganda. Todo mundo diz que é curso de alternativos e porra-louca, mas eu não sou nenhum deles. Não se precisa ser porra-louca ou eu sei mais lá o quê pra fazer publicidade e propaganda. Na verdade eu sou um cara bem normal, só um pouco desligadinho. E o Sai é o meu melhor amigo. Ele é super-legal, tirando a cara de parede dele. Meio azedinho ás vezes, mas suportável.
Nos conhecemos quando eu estava no segundo período, num intervalo, quando eu fui ao banheiro. Não foi um jeito de se conhecer muito convencional, eu sei. Tá, de quantos caras você fica amigo depois que vocês estão fazendo xixi e ele te diz: "seu pênis é bem elegante"? Bem, poucos, eu acho. Mas foi o nosso primeiro encontro. E eu até bateria na cara dele se eu não tivesse com tanto sono naquele dia, mas eu acho que eu acabaria virando amigo dele uma hora ou outra. Sabe, aquele foi nosso primeiro encontro, mas somos dois dos cinco caras gays – assumidos, já que no armário ainda tem um monte - que entraram em publicidade e propaganda esse ano. Um desistiu, o outro trancou e o outro é uma bicha chata que não quer saber de nada além de esconder o olho dele atrás daquela franja hor-ro-ro-sa e dar em cima do professor de História da Arte. (eu não tenho nada contra quem fica dando em cima do mais feio professor de todos, mas o cara é mesmo insuportável) O que faz sobrar eu e o Sai. Tá, tudo bem, eu não sou realmente obrigado a só ser amigo de caras que jogam no time colorido, mas é porque realmente, eu tinha feito muitos amigos (amiguinhos, não amigos eternos, entendeu?) no primeiro período – a maioria deles heteros, diga-se de passagem -, e por coincidência, todos eram de cursos diferentes e acabaram as cadeiras e foram fazer outras que não tinham nada haver comigo. Ou seja, eu e o Sai ficamos a sós durante as aulas, já que ele andava com algumas colegas minhas, e embora que eu estivesse sempre tentando me afastar dele no começo, ele começou a se aproximar de mim.
Ah, e é claro, sem falar que metade da população masculina da minha sala tá no dilema "ser ou não ser gay: eis a questão?", o que os faz querer se afastar de mim com medo de que eu me apaixone por alguns deles coisa e tal. Frescura de gay não-assumido, digo eu por experiência própria. E os heteros, bem, na verdade, eles são até legais, mas ainda não deu tempo de se aproximar direito – meu período só começou há três dias. Sem falar que muitos deles são dessas irmandades bobas de universidade (aquelas onde os caras ficam disputando pra ver quem transa com mais gente até o fim do semestre. Mais gente, o que indica que vale qualquer coisa que seja humana, embora eles insistam que eles só fazem com meninas, o que é mentira, o que sinceramente, me dá bastante medo) e que alguns deles tem preconceito. E também tem o povo de outros cursos que tão aqui e eu mal sei quem são. Talvez um deles seja meu novo amiguinho no futuro. Ou não.
Tá, eu e o Sai somos amigos, e somos só nós dois porque muitos fatores externos atrapalham o aumento do nosso ciclo de amizades, até porque se eu quisesse ser amigo de uma bicha, tem muitas mais legais que o Sai por aí. Em breve você entenderá porque.
Conclusão: nós dois somos gays por pura coincidência. Tá, não por pura coincidência, mas tem bastante coincidência nisso aí.
Cheguei à bancada e sentei ao lado do Sai. A sala estava cheia. Eu larguei a minha lindérrima mochila laranja no chão e sentei.
- Boa tarde. – Ele cumprimentou, olhando para o nada.
- Boa tarde! – Eu disse alegremente de volta, dando um sorrisão pra ver se ele se animava, mas a cara dele nem se mexeu. Ai, ai... O que pode animar o Sai quando meu sorriso não funciona? Ah, fofoca é claro. E por sorte eu tinha uma bomba. Eu não pude me conter e fui logo fazendo aquela cara de mistério.
Ele olhou pra mim desconfiado. Tínhamos menos de seis meses de convivência, e mais algumas semanas de amizade, já que eu já cheguei a conversar com ele antes do segundo período, mas eu tenho que admitir que para conhecer alguém como eu, aquele curto período de tempo era o suficiente pra ficar sabendo de todas as minha manias, vícios e trejeitos. E principalmente se era uma pessoa tão observadora quanto o Sai. É que na verdade eu sou uma pessoa bem simples de entender e bastante previsível, embora eu odeie admitir.
- Qual é o babado? – Ele perguntou, meio que cochichando, o que na verdade nem precisava, já que todo mundo tava conversando e entretido em seus próprios assuntos.
- Hum...Sabia que você tava interessado, seu fofoqueiro! – Eu acusei, ainda com um certo jeito de mistério. Ele fez uma cara "e daí que eu quero ouvir?" e mandou:
- Desembucha logo! – Ele disse ansioso. Ele era a rádio da sala. Sabia da vida de todo mundo da turma. Tanto que quando as pessoas queriam mesmo saber de alguma coisa, elas procuravam ele no intervalo e chamavam ele pra um canto qualquer e perguntavam. Eu até ria quando ficava sabendo o que algumas pessoas perguntavam, pois sabe como é, tinha "santinho" fazendo pergunta digna de "diabinho".
Em termos de informação da sala, ele era a internet viva. E era realmente raro que alguém soubesse de algo que não ele não sabia, e quem me dera eu! Ele era um monstrinho da informação, e era a primeira vez, acho que em minha vida inteira, que eu sabia de algo que ele não sabia. Chegava a ser até emocionante.
- Tá, eu digo. Mas você tem que adivinhar. – Eu disse, sorrindo. Ele me olhou com cara assassina e eu ri. O melhor jeito de irritar Sai é ficar enchendo abobrinha e não deixar ele saber o que ele quer – ou ter o que ele quer. Mas eu olhei pra ele de um jeito que eu acho que deu pra entender que eu não ia contar até que ele chutasse.
- Uhm...A Kurenai e o Asuma se divorciaram? – Ele perguntou, sabendo que tinha errado. Ele tinha falado só pra eu dizer mais rápido.
- Não, não, é bem diferente disso. – Eu disse, fazendo certa malícia. Ele sacou, como sempre.
- Quem dormiu com quem? – Ele parecia estar pra ter um enfarte. Tá vendo? Ele não se agüenta. Ô língua abençoada que esse aí tem. Já tava quase se matando pra saber do que eu tava falando.
- Ah...Você já adivinhou. – Eu fingi estar desanimado. Mas eu suspirei e disse: - O Kiba e o Shino dormiram juntos. Ou melhor, dormem.
Sai olhou pra mim impassível. Ele retorceu a cara e disse:
- Credo, Naruto, isso é nojento! – Ele resmungou virando a cara. Quem ouvisse essa conversa de longe e não nos conhecesse iria achar que o Sai é um fresco preconceituoso. E ele é. Só que as pessoas falariam isso pelo fato dele estar xingando dois gays – embora que não-assumidos-, mas ele é por outros motivos, como ele explicou logo depois, mesmo que sem saber: - Eles são feios!
Sim, o Sai é um fresco preconceituoso. Como ele mesmo diz: odeia gente feia. E o pior é que esse safado é bonito e pode falar isso, tenho que admitir.
Se bem que eu não posso reclamar, né? Se ele é meu amigo, pelo menos eu tenho uma garantia de que não sou tão feio, dattebaiyo.
- O Shino e o Kiba? – Eu perguntei, passado. Fala sério, eles eram bonitos! E muito! – Sai, acho que cê não tá enxergando direito. Eles são lindos!
- Tá, são bonitos, não lindos. Mas muuuuito bizarros. – Ele disse, com o nariz empinado. – Principalmente aquele Shino. Eu pensei que ele era uma coisa feia de outro mundo até que a gente viu ele na praia naquele dia. – É, eu tinha que admitir. Eles eram meio estranhos às vezes. Tá, na verdades eles eram estranhos quase que em tempo integral. O Kiba tinha aquelas tatuagens nas bochechas e andava por aí com um casacão com o gorro sempre em cima da cabeça. E o Shino andava por aí com óculos escuros e casacão também, e era quase mudo.
Kiba era muito fofo, tenho que admitir. O tipo de cara que eu namoraria sem problemas. Mas o Shino era o maior estranho. Só descobri que ele era bonito quando eu e o Sai e galera – sim, a nossa turminha da qual nos separamos no começo do semeste - fomos à praia uns meses antes, no verão. E quando vimos, lá estavam Kiba e Shino de sunguinha e como pessoas normais na praia, só os dois e duas mulheres que pareciam ser da família do Kiba.
Bem, o negócio é que quando o Shino resolveu dar um mergulho no mar e saiu da água com os cabelos molhados e sem aqueles óculos escuros horríveis, todo mundo ficou de queixo caído. Ele era bonito. E não era pouco. Do Kiba a gente já sabia, mas o Shino era um gato e isso era novidade. Ele era tão bonito que aquilo ficou sendo o nosso principal assunto pelo resto da semana. Mesmo meus amigos heteros ficavam empolgados em falar da beleza do Shino. Era algo muito inesperado.
Mas ele era bizarro. E muito. Mas, fazer o quê, né?
- Ah, deixa de ser chato, Sai. Eles se amam! Você devia estar feliz por eles! – Eu disse. Ele me olhou com o olhar mais torto do universo. – O que foi?
- Helooo, até parece que você não é um universitário de quase vinte anos quando fala desse jeito. – Ele disse, fazendo com que eu me achasse um imbecil. Definitivamente, essa era a pior qualidade dele. Sai consegue fazer com que qualquer criatura se sinta a mais idiota do mundo quando ele fala desse jeito. Você se sente menor que uma ervilha, e pior que uma podre. – Eles não estão apaixonados nem nada, Naruto. Só são dois universitários desocupados com hormônios em ebulição sem namoradas que dividem o mesmo quarto. É claro que eles vão transar à primeira oportunidade, seu baka.
Eu não disse que ele é bem azedinho?
- Você nunca vê o lado positivo das coisas. – Eu resmunguei, fazendo bico. Pô, eu tinha acabado de contribuir para a rede de informações ilimitadas dele e ainda mais com uma das melhores informações que ele podia ter: saber que dois dos caras mais machos da nossa turma realmente tavam transando. Quem é que poderia arranjar uma informação tão boa assim e dizer pra ele na maior cara de pau que nem eu fiz?
Eu tava dando uma das maiores provas de amizade que eu já dei pra alguém à ele e ele ainda por cima ficava reclamando!
- Não. Na verdade você que deve parar de pensar como uma garotinha colegial portadora da complexo da Cinderela. – Ele resmungou. É nessas horas que eu tenho vontade de bater na cara dele até que ele fique roxo e inchado.
Mas afinal eu tive que aceitar.
- Aff, cê não tem jeito, viu! – Eu resmunguei. Era o melhor jeito de me conformar – sabia bem que ele nunca iria pedir desculpas.
- Bom dia. – Uma voz grave e bonita de homem chamou a atenção da gente. Quando eu, Sai e o resto da turma inteira nos viramos, demos de um cara MUITO lindo. Ele era bronzeado, alto, com cabelos pretos e presos num rabo de cavalo bem charmoso. Tinha umas olheiras enormes, o que sinceramente, dava um charme especial. Ele usava uma camiseta vinho lisa, calça jeans, tênis e um casaco de couro preto muuuuuuuuito charmoso.
- Descobri o novo prato que vou comer no jantar. – O Sai cochichou com os olhos vidrados no cara antes mesmo dele se apresentar. Ele era bonitinho, eu tinha que admitir.
Tá, ele era um deus na terra.
Mas, mesmo assim, não fazia meu tipo. Mas fazia o perfil do Sai, e principalmente por que ele tinha um ar de ser daqueles caras sérios e meio assustadores – o tipo de cara que o Sai mais gostava. Mas vendo assim, não deu pra acreditar muito neles dois.
- Foi mal por cortar tua onda, mas ele tem a maior cara de hetero, dattebaiyo. – Eu disse, com sinceridade. Ele tinha cara de ser o tipo de homem que gosta de pegar menininhas sem compromisso, e não qualquer menininha; tinha que ser uma daquelas menininhas lindíssimas e meio frescas. E era daqueles que pegava uma por noite. Era o tipo de cara também popularmente conhecido por "El Comedor".
- Não tem problema. Eu faço ele virar gay. – Sai disse determinado. Outro de seus defeitos: mais onipotente que ele só Deus mesmo. Sai é o tipo de pessoa que não economiza na prepotência e petulância. E o que mais me irrita é que ele sempre consegue o que quer e nunca se dá mal.
O ego dele bate na lua, 'ttebaiyo.
- Sou o professor temporário Itachi. O professor titular de vocês está com sérios problemas de saúde e não vai aparecer por aqui por algum tempo. – Eu tinha acertado. Ele não era nada simpático, na verdade, era bem sombrio.
- Itachi... – Sai suspirou, secando o cara. Céus, que vergonha.
- Pára de olhar pra ele assim. – Eu reclamei. Tudo bem que Sai sempre conseguia o que queria, mas pelo amor de Deus, mais absurdo que isso só seria mesmo o Rambo vestindo meia-arrastão. Ele é cheio de artimanhas, mas não o suficiente pra conseguir um cara daqueles tão fácil.
Ou pelo menos foi o que eu achava até que no outro dia ele ficou esfregando na minha cara que eles tinham ficado naquela mesma noite, depois que ele perseguiu o pobre professor até uma boate e fingiu que eles tinham se encontrado por acaso.
Absurdo, né?
Enquanto Ainda Somos Jovens
1ª Aula: Vida de universitário
Vida de universitário não é bem uma pérola. Principalmente a minha.
Eu tenho um amigo de caráter duvidoso, estudo publicidade e propaganda, tenho dezenove anos e me chamo Uzumaki Naruto.
Moro nos dormitórios da faculdade e divido o quarto com um cara chamado Gaara que faz medicina. Sou loiro, olhos azuis, fofinho, meio bronzeado e tenho gloriosos 1.74 de altura (eu sei que não é muito, tá? Mas não humilha...), peso 66kg. E sou gay.
Pelo que as pessoas me dizem, não dá pra saber que eu sou gay à primeira vista; é preciso conviver uns dias comigo pra descobrir.
Eu não falo afetado e nem ando rebolando por aí. Mas acho que não me importaria de fazer isso.
É que eu vim de uma família conservadora e cristã até morrer. O sonho da minha mãe era que eu fosse seminarista, ou qualquer coisa dessas. E eu acho que é por isso que eu não falo diferente nem ando diferente. Sabe, eu fui criado em um ambiente bem machista e completamente contra homossexuais, tanto até que quando me assumi, fui expulso de casa e acolhido por meu tio-avô - que é um famoso escritor de romances eróticos e pornográficos heterossexuais. Ele começou a me entupir de material pornográfico hetero numa tentativa de retrocesso e vivia me implorando pra não sair rebolando e nem ficar cantando caras por aí. Ah, e a coisa que era mais proibida era que eu levasse algum namorado pra casa.
Bem, acho que foi por isso que eu não virei nenhum gay-super-assumido, porque como diz o Sai, era pra eu ter sido ou uma drag, ou um tras. Mas, por causa de toda essa opressão, virei um cara bem hetero. Tenho até receio de ir pra a parada...
E deve ser por ter tido a minha sexualidade tão oprimida que hoje em dia eu me ocupo de ficar fazendo besteiras e falar da vida dos outros ao invés de ir pra "ação" – como vocês viram, me divirto fofocando como falando do Shino e do Kiba. A minha vida é bem trash, não faço praticamente nada que preste a não ser estudar de vez em quando pra não repetir de período e trabalhar a noite toda e nos dias que eu não tenho aula de tarde também. Sabe como é, né? Meu pai paga uma parte da minha faculdade – escondido da minha mãe, que não me considera mais seu filho - e meu tio-vô a outra. Para despesas pessoais, eles pagam uma merreca, e sem falar que eu tenho que juntar dinheiro pra comprar meu próprio apartamento quando sair da universidade, e por isso eu tenho que trabalhar num bar durante a noite e nos dias livres, trabalho numa loja de material para esportes à tarde.
Os meus passa-tempos são navegar na net e jogar basquete (esse último tem ficado de lado nos últimos dias). Durante os finais de semana, eu trabalho (dois empregos. Ninguém disse que a minha mesada é gordinha) e quando eu tenho uma folga, saio geralmente pra a praia, ou então fico em casa mesmo dormindo. Eu sei que eu tenho uma vidinha bem fútil, mas ela cansa, sabia?
Não sou aquele aluno exemplar, na verdade passei meus anos de escola sendo um vagabundo, mas acontece que agora, se eu repetir algum período, meu tio e meu pai vão parar de pagar a universidade, o que significa que eu tenho que estudar não importa como, o que às vezes se torna bem difícil já que de vez em quando eu tenho que me privar das minhas poucas horas de sono pra ficar na frente dos livros.
E olha que isso nem é tão recompensado às vezes, porque tem uns professores filhos da puta que te dão cinco mesmo se você tiver feito a melhor prova do mundo.
E, apesar de eu gostar muito de namorar, agora eu estou solteiro e pretendo ficar solteiro por mais um bom tempo. Não posso me dar ao luxo de ficar namorando; eu preciso me focar nos estudos, se não, vou tomar no rabo. Não que seja ruim, mas estou me referindo ao lado ruim da coisa toda.
É, eu sou um cara totalmente normal. Quer dizer, trabalhar feito doido e estudar como lunático enquanto se está na universidade não é uma coisa que os jovens de hoje em dia fazem. Teoricamente, a única coisa que me difere de um cara 'normal' é que eu sou gay.
Minha mãe me rejeita porque ela acredita na religião mais do que em qualquer outra coisa. Quando eu saí de casa, ela queimou tudo o que era meu, inclusive fotos. Só restaram algumas, que meu pai guardou escondido. Ela até hoje diz que eu sou uma criação do demônio.
Meu pai me aceita, ele até me liga mais ou menos três vezes na semana pra saber se eu estou bem, mas ele não se encontra comigo nem liga demais, porque ele tem medo que a minha mãe descubra. Isso até iria parecer desculpa esfarrapada de alguém preconceituoso demais, mas é que realmente, a minha mãe poderia realmente pirar se soubesse que meu pai ainda se encontra comigo. E eu tô falando de pirar de ir pra hospício.
Bem, soube por intermédio de meu pai – minha mãe não fala comigo há quatro anos – que eu tenho um irmãozinho. Ele nasceu fazem dois anos, o nome dele é Shiro, e eu nunca o vi pessoalmente, mas otou-san mandou umas fotos por fax, pra se eu quisesse ver.
Ele é muito fofo! Mas isso já faz um ano, agora. Ele deve tá bem maior, mas quando eu vi ele, ele era gordinho, ruivinho, que nem a minha mãe, e bem branco, com os mesmos olhos que eu e meu pai.
Não sei muito da vida deles, agora. Só sei que se mudaram de casa, porque a minha mãe insistiu, disse que queria me esquecer. É a mais ou menos uma hora de metrô daqui do bairro da universidade, mas eu nem ouso pisar naquela área. Só Deus sabe o que pode acontecer se a minha mãe me vir de novo.
Bem, e é por isso que ser gay mudou a minha vida. Mas eu já sabia que as coisas iriam mudar quando eu me assumisse, mas eu esperava ter mais apoio, ou pelo menos algum respeito.
- Esse homem é um deus. – Sai comentou aos sussurros, enquanto copiávamos umas coisas que o sensei tinha mandado a gente anotar. Ele ainda estava admirado com o Itachi.
- Sai, estamos em aula, por favor, pára com isso. – Eu pedi. Tava morrendo de vergonha. Já pensou se aquele homem reparasse que o Sai tava secando ele daquele jeito desde o começo da aula?
- Quem se importa? – Ele perguntou, sem dar a mínima. – Ele é realmente gostoso.
- É, já deu pra reparar que você acha isso. – Eu critiquei, com sarcasmo. Tinha horas que eu tinha vontade de sair correndo de junto dele. Eu ia passar uma humilhação sem precedentes se o professor visse aquilo.
- Ah, é, a propósito, como é que você descobriu o lace do Kiba e do Shino? – Ele perguntou, tirando um pouco os olhos do cara. Ufa!
- O Gaara me contou. – Eu disse, simplesmente. Sai ficou surpreso. Eu também tinha ficado, era raro Gaara falar da vida de alguém. Ah, só lembrando, Gaara é meu colega de quarto.
- Sério? – Sai questionou, atônito. – Como foi que ele soube?
- O dormitório do irmão dele é do lado do deles. – Eu justifiquei, fazendo uma cara de sabichão de propósito. – Ele tava reclamando ao Gaara que ele não conseguia dormir direito porque os caras que dormiam do lado ficavam transando e faziam muito barulho de madrugada. Segundo o Gaara, Kankurou tava pensando até em fazer uma denúncia anônima à administradora dos dormitórios, mas aí o colega de quarto do Kankurou passou um bilhetinho por baixo da porta deles, ameaçando contar pro campus todo se eles não fizessem menos barulho. Aí eles pararam.
- Uau. – Sai disse, impressionado. Eu também tinha ficado; as paredes lá dos dormitórios são super-grossas. Tinham que ser uns animais mesmo pra gemer alto o suficiente pra o som passar por elas e ainda incomodar alguém. – A gente já devia ter desconfiado, né? Eles andam juntos pra lá e pra cá o tempo inteiro.
- Se fosse por isso, o Juugo e o Suigetsu também seriam namorados. – Eu disse, dando de ombros. E foi falando isso que eu e o Sai processamos ao mesmo tempo. Olhamos um pro outro com os olhos arregalados.
- Deixa comigo. – Ele disse, empolgado. – Eu pergunto aos caras que dormem no dormitório vizinho ao deles se eles escutam alguma coisa.
- Ok. – Eu disse. Suigetsu fazia parte de uma dessas irmandades idiotas de comedores, mas o Juugo era o um dos caras mais machos que eu já tinha conhecido naquela universidade - e um dos mais comportados também; embora não me lembro de Sai comentando boatos de ele ficando com alguém - o que me fazia ficar ainda mais ansioso pra saber se eles estavam ou não dormindo juntos.
E foi por aí que nossa conversa entre cochichos parou, e voltamos a copiar em silêncio.
O sensei deu um olhar muito estranho para Sai, que ele não viu pois tava olhando para o caderno, mas eu captei. Mas eu não sabia direito o que aquilo significava, então não disse nada. Achei que ele tivesse reparado e ia passar a fazer marcação nele.
Passamos algum tempo em silêncio, até que ele me passou um bilhetinho:
Quer ir à Galaxy hoje à noite?
Galaxy era a balada gay mais badalada da área. Eu amava, mas as entradas eram muito caras e eu tinha que trabalhar. Respondi.
Foi mal, cara. Hoje eu tenho expediente.
Ele me respondeu:
Vamos lá!
E eu rebati:
Não vai dar, a gente pode ir quando chegar a grana extra de aniversário.
Ele ainda não tava satisfeito, e ainda me mandou outro, que dizia assim:
Temos que aproveitar, Naruto.
Eu coloquei um "NÃO!" enorme que ocupou o resto do espaço da folha que ainda estava sobrando.
E aí eu olhei pra ele de um jeito que deu pra entender o que eu pensava, e sussurrei, com honestidade:
- Eu ia amar, mas você sabe que as coisas não estão fáceis pra mim.
Ele parou pra pensar um tempo, mas assentiu pra mim com um olhar compreensivo, embora tivesse soltado um "você é muito dramático" abafado. Não era novidade pra ele que a minha vida tava sendo tão difícil.
Acho que a maior vantagem de ser amigo do Sai é que ele respeita você. Quando ele sabe que está mexendo numa ferida muito profunda, pelo menos.
Apesar de ele ser um fresco azedo, ele é um cara muito legal.
- A aula acabou. – O sensei sombrio disse, de um jeito que me assustou um pouco. – Podem ir.
Eu dei uma pressinha e escrevi bem rápido. Minha letra virou um garrancho que só eu podia ler, mas como ninguém nunca me pedia o caderno pra copiar anotação, tava tudo bem. Sai também acabou a dele.
- Vou no banheiro. – Eu disse, pegando minha mochila e me levantando. Ele guardou as coisas dele e disse:
- Espera, eu vou também. – Ele pediu, e eu esperei. Fomos andando até o banheiro.
O banheiro do segundo andar do nosso bloco é muito limpo, ao contrário do esperado. É grande, tem cinco boxes com vasos sanitários, uma parede cheia de urinóis (bem, eu acho que a maioria das pessoas que vai ler isso aqui são meninas, então é aquela coisa estranha que fica grudada nas paredes do banheiro masculino, pra quem só quer fazer xixi), e a parede à frente da onde ficam os boxes é onde tem as pias. Na parede vazia, tem um banco de cimento, onde a gente jogou as bolsas antes de ir fazer xixi. Não tinha ninguém lá além de nós dois.
Eu abri o zíper.
...
- Eu já te disse que o seu pênis é bem elegante? – O Sai me perguntou, olhando pro meu pequeno eu fixamente.
- Já. – Eu disse, meio perplexo com a natureza da afirmação. Ele continuou olhando. – Quer parar com isso?
- Mas eu não consigo. – O Sai disse, vidrado no...você sabe o quê. - Ele tem características tão sublimes...Me lembra a aristocracia européia...
- Quer que eu dê uma mijada no seu pé? – Eu perguntei, realmente mal-humorado. Ele olhou pra o tênis dele. Era um par de Adidas novinhos em folha.
- Hum...É melhor não. – Ele disse, e ficou olhando pra a minha cara.
- O que foi agora? Tá me tarando, é?
- Não, tô tentando parar de olhar pro seu pênis.
- Argh! – Eu resmunguei. Sai sorriu, divertido. Meu xixi acabou, e eu fechei o zíper e fui lavar as mãos. Sai veio logo depois. – Você é muito estranho.
- Eu ainda vou fazer um quadro dele, algum dia. – Ele disse, sorrindo, se divertindo com o terrorismo que fazia. Eu arregalei os olhos, mas preferi não comentar nada. Peguei as toalhinhas de papel e sequei as minhas mãos, fiz uma bolinha com o papel usado e joguei no lixo. Depois, peguei a minha mochila e saí do banheiro, assombrado.
- Ah, e eu já disse que ele...
- Me faz um favor, vamos mudar de assunto? – Eu pedi, fazendo cara de mau-humor. Conhecendo o Sai, ele ia levar a conversa a um rumo bem estranho, onde ele me faria ouvir coisas nojentas e bizarras até que eu vomitasse – como eu fiz uma vez e acabei sujando o corredor quase inteiro.
- Tem certeza que quer que eu fale de outra coisa? – Ele me perguntou, só para o seu bel-prazer. Sádico seboso.
- Olha aqui, se você continuar a falar disso, eu vou vomitar e vou vomitar em cima de você, ok? – Ameacei. Ele estava com os tênis novos dele, então pareceu ficar meio receoso. Sabe como é, eu quase sempre ameaço de blefe, mas, de vez em quando eu faço o que digo. E Sai aprendeu isso de um jeito bem ruim, quando eu coloquei algumas folhas de urtiga na cueca dele uma vez. Vingança por ele ter espalhado por aí que eu gostava do Gaara.
Daquela ele nunca vai esquecer.
Um turbilhão de gente passava pelos corredores àquela hora. Inclusive ex-ficante do Sai.
Adivinha o que meu amiguinho miserável fez?
Piscou pro cara.
É por isso que eu digo: Sai é como uma metralhadora. Atira logo pra todos os lados.
- Galinha. – Eu disse. Ele nem ligou. Eu dizia aquilo sempre à ele, então já estava acostumado.
- Eu me garanto, sei disso. – Ele disse, em tom metido. De novo eu tive vontade de bater na cara dele até ela ficar roxa e inchada.
- É, né, 'cê se garante uma bela DST. – Retruquei. Nas aventuras cavernosas dele, ele já tinha tido tantas DSTs quanto um ser humano tem cabelos. Ele até que tinha que diminuído o ritmo de loucuras feitas por vez. Sabe como é, gonorréia assusta qualquer um.
- Feche sua boca. – Ele mandou. – Eu só tive...aquela coisa, daquela vez.
- Além de sapinho. – Eu disse. Sai fez careta. Ele teve muita sorte de nunca ter pegado algo mais grave.
Tá, talvez nem tenha sido tantas assim.
- Você parece uma metralhadora, atira pra todos os lados. – Eu acusei. Sai me ignorou de novo. Ele não era o tipo de cara que se afeta por qualquer coisa.
- Diga o que quiser. – Ele disse por fim, e me ignorou pelo resto do tempo.
Em fim, chegamos à sala da próxima aula. Os lugares estavam todos lotados. Havia apenas três vazios; nenhum perto um do outro. Teria que me separar de Sai.
- Vamos ter que sentar separados. – Comentou, antes de ir para um dos lugares sobrando; o mais próximo da porta. O professor, em pé à frente do quadro começou a olhar pra mim, como se dissesse: "meu filho, você não enxerga que eu só tô te esperando pra começar a aula?", o que me fez ficar um pouco sem jeito. Então, olhei para o lugar vazio mais próximo e andei pra lá com uns passos bem rápidos.
Algumas pessoas conversavam, e um tava até ouvindo aquela música insuportável que só fica dizendo "Enquanto ainda somos jovens" o tempo inteiro. Mas o professor estava com uma cara tão feia que eu acho que o pessoal se assustou; as conversas pararam e a musiquinha também.
Coloquei a minha mochila laranja muito linda (ah, eu esqueci de descrever ela. É uma da Mizuno, bem esportiva, de um lindo tom de laranja, bem chamativo!) num cantinho ao chão e me sentei, meio duro. O professor parou de olhar pra mim e disse:
- Bem-vindos à minha aula. – E começou a fazer um bocado de embolações, como sempre. Coisa típica de primeira aula.
De cara, o infeliz disse que nos iria mandar fazer um seminário, e eu peguei a minha agenda e comecei a escrever, com a minha letra de garrancho apressado que só eu decodificar (sim, porque ela fica pior que aqueles códigos de guerra europeus).
Não tem aquelas horas onde você fica tão entediado que começa a viajar legal e vai até além de Plutão? Pois, é. Eu tava numa dessas.
Eu só olhava pra frente, devia estar que nem um velhinho em estado vegetativo no seu leito de morte: babando e com olho de peixe morto. Tá, talvez algo nem tão exagerado, mas parecido.
Mas eu reparei que não era o único. Quase todo mundo estava passeando pelo espaço sideral. Os que não estavam, não paravam de bocejar.
O professou terminou de dizer o que queria que fizéssemos no seminário – amém! – e deu o prazo de entrega. Depois, ficou falando umas chatices a mais.
E cansei de viajar na maionese. Sabe aquelas horas que você começa a ficar com tanto tédio e tanto sono que pensar vira um sacrifício? Eu fiquei assim. Agora sim, eu já tava quase babando.
Aí, eu passei o olho na sala. Sabe quando você quer pensar mas não consegue de tanta preguiça e inventa de fazer alguma coisa? No meu caso o que eu fiz foi mexer o pescoço para os lados e olhar cada um dos novos rostos lá da sala.
E como diria o Sai... ô povinho feio.
Quer dizer, eles eram bem normaizinhos. Nenhum excepcionalmente bonito e nenhum tão feio assim – além da criatura que dá em cima do professor de História da Arte sentado bem distante de mim.
Enquanto o professor dava seu discursinho chato, olhei pra todo mundo, e por último para as pessoas que se sentavam dos meus lados. Do direito, era uma menina, que parecia estar dando uma voltinha intergaláctica – mentalmente, é claro - que nem eu tava antes. E do esquerdo era...
Meu Kami-sama do céu.
Eu meio que só olhei de relance, mas depois, não resisti em virar mais a cabeça e olhar melhor. O que era aquilo, por Cristo? Eu fiquei olhando pra ele, mas os nossos olhares se cruzaram e eu virei a cara.
O negócio é que o cara era muito lindo, e muito fofo. Tinha cara de ser um riquinho meio enjoado desses, mas eu ignorei. Ele era lindo demais pra que eu parasse de olhar. Tipo, uma mistura de Sai e Itach-sensei (no sentido de aparência, não venha me lembrar deles dois como um casal, eu ainda estou abatido pensando nessa possibilidade), com um porte diferente. Ele era mais alto que Sai, mas menor que Itachi.
Sério, o cara era lindo!
-…E isso é tudo, então estão liberados. – O sensei disse, finalmente. Enquanto eu tirei os olhos deles para pegar minha mochila, perdi o cara. Ele foi embora.
- E depois eu que sou o tarado que fica assediando as pessoas no meio da aula. – Sai disse, aparecendo do nada como um fantasma. Eu tomei um susto tão grande que dei até um pulinho meio estranho.
- Cara, assim cê me mata do coração! – Eu reclamei passando sermão. Sai murmurou um desculpa meio abafadinho, mas logo se focou em outra coisa:
- Naruto, cê tava quase babando só de olhar pro cara. Sorte sua que ele tava prestando atenção na aula!
Ele ainda por cima conseguia ficar prestando atenção numa aula daquelas? O que era ele? Peter Parkman ou Clark Kent?
Ai, meu deus.
CDE não tem volta. Só avisando, pra quem acompanhava, e me perdoem por isso. Fiz bobagem.
Mas bem, sempre quis escrever algo assum. Meio fútil, meio dramático. E espero que gostem.
Beijos,
Mei.
OBS: Esta fic não tem prazos de publicação definidos...Vou tentar colocar uma vez por mês, ou pelo menos a cada 15 dias. Sorry...Mas acho que a idade nos faz ficar mais lerdas...
