Clara Oswin Oswald ainda não havia nomeado sua nova Tardis, e depois de um tempo viajando pelo espaço, desistira. Havia coisas mais importantes para fazer — além de que Tardis era um bom nome e a fazia lembrar do seu antigo amigo. Por mais doloroso que fosse.
Depois do que acontecera naquele dia, tudo ficou confuso. Ela era uma professora, pelos céus. E agora ela era uma viajante no tempo e possuía sua própria máquina do tempo. Ok, tudo bem, Clara nunca fora uma professora normal, muito menos uma pessoa normal. Já tivera várias vidas e já fora várias coisas, e há muito desistira de encontrar sentido em tudo que acontecera. Principalmente sentido nos últimos eventos. Concluiu que não racionalizar sua vida e continuar em frente eram as melhores opções. As mais sensatas, pelo menos.
Naquela manhã, no entanto, algo esquisito aconteceu. E um esquisito fora do comum, se é que isso faz sentido.
Ashildr estava Deus-sabe-onde fazendo Deus-sabe-o-quê e Clara passara os últimos dias sozinha, explorando e metendo-se em confusão em lugares distantes.
Em dias simplórios, Clara acordaria às 9, comeria seu café-da-manhã e assaria um bolo ou, por que não, um suflê. Seu espírito aventureiro demandava um dia de folga, de vez em quando. Onde passaria o dia lendo, recordando os dias de magistério.
Clara saiu sonolenta de seus aposentos e deu de cara com um menino de cabelos desgrenhados sentado numa poltrona. Sua reação imediata seria chamar por Me, porém logo lembrou que ela estava fora.
Suas sobrancelhas grossas arquearam-se e Clara amarrou seu roupão.
— Como você entrou aqui? — perguntou, checando a Tardis com seus olhos inquisitivos.
— A porta estava aberta. — o garoto respondeu simplesmente. Os pés pequenos balançavam no ar; uma expressão inocente estampada no rosto.
Clara respirou fundo e ponderou a resposta. Assentiu com a cabeça e sentou ao lado do menino.
— Muito prazer, sou Clara. — estendeu a mão — E você?
— Felix. — respondeu, apertando levemente a mão da desconhecida a sua frente.
— Muito bem… Felix. Onde estão seus pais?— perguntou casualmente — Por que você está aqui?
Clara tinha olhos doces e agradáveis, e um jeito especial em lidar com crianças. Felix sentiu-se a vontade.
— Minha mãe sumiu. Eu nunca conheci meu pai. — sua expressão era de tristeza — Eu não tinha para onde ir e estava escuro. Então entrei aqui para dormir.
Clara logo sentiu pena do garoto e desejou que Ashildr estivesse ali.
— Sinto muito. — disse — Você quer comer alguma coisa? Pode comer o que quiser!
Felix animou-se um pouco, pois estava faminto, e os dois correram à cozinha. Enquanto Clara o distraía, o menino contou-lhe sua história e, sem saber, Clara embarcava numa nova jornada.
Felix não tinha sobrenome e vivia com a mãe num vilarejo na Inglaterra, numa época mágica esquecida pela história. Eram pobres, mas felizes. Possuíam uma pequena fazenda e um gato chamado Tabby. Tinha doze anos, apenas. À noite, forasteiros saquearam a vila e sequestraram sua mãe. O pobre menino fugiu de madrugada e correu até seus pés cansarem. Pensou que passaria a noite na floresta quando encontrou uma espécie de estabelecimento no meio da escuridão. Algo que nunca vira antes, mas que não o impediu de checar, entretanto. Qualquer lugar era melhor do que lá fora, onde criaturas estranhas arrastavam-se pelas sombras.
Clara usava um avental e lambia uma colher enquanto terminava de ouvir a história.
— Hmmm… — Não era algo fora do comum. Vilas sendo saqueadas, mães sendo sequestradas, pensou. Não achava que tinha a ver com alienígenas.
Como estava enganada. Eram sempre os alienígenas.
— Eu vou te ajudar a encontrar sua mãe, Felix. Você veio à pessoa certa. — disse com um sorriso aventureiro no rosto. — A propósito, o que aconteceu com seu gato?
