Harry Potter™, personagens e lugares, não me pertencem.
AVISO: fanfic "Rated: Mature", não recomendada para menores de 16 anos por conter cenas e sexo, violência e linguagem imprópria.

DESÍGNIOS TORTUOSOS

Ela caminha até a porta já levemente corroída pelos cupins a passos confiantes. Os saltos do scarpin preto chocam-se contra o chão em intervalos regulares e eu sou capaz de ouvi-los apesar da distância e do vidro. Ou talvez o som já me seja tão familiar que a associação torna-se inevitável: um truque perspicaz da minha mente. Ela não olha para os lados, o castanho-amendoado envolto em um mar negro. Se os cílios exageradamente curvados e o generoso traço escuro sobre as pálpebras não fossem suficientes para delatar o seu estado, a vermelhidão dos lábios o faria. A melodia irritante da campainha interrompe minha análise. O meu cabelo é instintivamente bagunçado por uma das mãos, enquanto a outra se encarrega de desfazer os feitiços que bloqueiam a entrada.

- Olá, Malfoy.

- Granger.

Quando retorno à sala encontro-a acomodada no sofá, balançando os sapatos de verniz numa demonstração de impaciência.

- Aceita algo para beber, Granger? - A pergunta é feita enquanto dirijo-me ao bar. Preciso desesperadamente de mais uma dose de whisky.

- Vodca. Com gelo.

Ela agradece enquanto me sento na poltrona a sua frente.

- O que a traz à minha humilde residência, afinal?

O interior da casa nada se assemelha ao que os trouxas são capazes de visualizar da calçada, mas ainda assim tem resquícios de simplicidade. Os olhos atentos fixam-se aos meus, provavelmente numa tentativa de divisar algum pensamento. Uma adversária a altura, ouso declarar.

- Tenho informações. – Meu silêncio a incentiva a prosseguir. – Os planos em relação ao ataque à escola trouxa foram descobertos. Metade da Ordem já está no caso.

Observo-a. Ela não desvia o olhar, restando a mim a tarefa de distinguir sinceridade de dissimulação.

- Este é o plano, não é? Chamar a atenção dos aurores para um evento secundário, impossibilitando-os de chegar a tempo ao local onde o plano A transcorrerá.

Eu concordo, com um aceno.

- Potter irá à escola?

Ela brinca com os pedaços de gelo que restam no copo antes de responder. E eu me questiono se a hesitação deve-se à culpa ou à elaboração de uma mentira.

- Não. Ele não sairá do quartel general.

Avalio-a novamente. Nos últimos meses Hermione Granger tornara-se meu desafio favorito. Às vezes as visitas têm por único objetivo comentários ácidos e revelações falsas. Porém há dias em que as notícias que traz são peças-chave no desenrolar dessa guerra estúpida.

- Qual é o plano A, Malfoy?

- A Toca.

Pela primeira vez ela é incapaz de manter o contato visual. Os cubos de gelo já parcialmente derretidos tilintam.

- Horário?

- Três e meia.

- E qual o objetivo, afinal?

- Desestruturar os Weasleys. E Potter, por extensão. Haverá muitas pessoas na casa?

Observa o carpete verde-oliva por alguns segundos.

- Creio que não. Grande parte dos Weasleys estará na escola trouxa. E...

- Alguns com Potter, na sede.

- Sim. – Levanta os olhos maquiados em minha direção. Sei que o projeto a afeta, mas a mulher a minha frente não deixa tal fato transparecer nem mesmo por um instante. – Presumo que matarão os que encontrarem.

- Presume certo, Granger. – Não contenho um sorriso ao vislumbrar o extermínio de vários traidores do sangue.

Ela não parece se incomodar com minha felicidade incontida. Resume-se a pressionar os lábios rubros, uma mania recente.

- Se é só isso, eu já vou. – Declara, levantando-se.

Acompanho-a até a porta.

- Até mais, Granger.

Ela não responde, afastando-se determinada.


Ouço o alarme que indica a aproximação de um não detentor da marca negra. Abandono a sopa de abóbora requentada sobre a mesa e espio o visitante através das cortinas da sala. Granger, como eu previra. Os scarpins vermelhos contrastam com as canelas envoltas em uma meia-calça preta. Hoje há apenas uma discreta linha sobre os olhos e o batom é marrom-cappuccino. Ela retira a franja que insiste em atrapalhar-lhe a visão, pressionando o botão da campainha em seguida. A porta é aberta e ela não espera um convite para entrar.

- Vodca? – Pergunto, enquanto me dirijo ao cômodo. Ela aceita, com um aceno. - Soube que a operação na Toca não obteve êxito. – Acrescento.

- Apenas Percy e Carlinhos estavam lá. Fugiram por uma chave de portal improvisada. É necessário admitir que apesar de arrogante, Percy é talentoso.

- Sim, monitores-chefe costumam sê-lo.

Sorrimos, cordiais. Acomodo-me na poltrona de sempre, notando que ela não oscila os sapatos brilhantes com tanta freqüência quanto no último encontro.

- De qualquer modo, o ataque foi eficiente no que diz respeito a disseminar o terror.

- Imagino. – Visualizo Potter encolhido sobre os lençóis de sua cama, lamentando-se por colocar tantas vidas em risco. Patético.

- Ele não é tão medroso assim, Malfoy. Ou já teria sucumbido ao Quirrell, logo no primeiro ano. – Fito-a, espantado. – É importante nunca subestimar o adversário. – Conclui. Obviamente estivera a ler meus pensamentos. - Quais são os planos de Voldemort? – Opta por mudar de assunto.

- Nada realmente grandioso, apenas alguns ataques a trouxas. A idéia é difundir o medo.

- Que lugares?

- Bristol, Harlow e Durham.

- Além de Londres, suponho.

- Sim. Igrejas, escolas, algumas casas. – Ela absorve a informação, impassível. – E a Ordem, o que pretende? Há rumores de que Potter tenciona ir ao orfanato em que o Lorde cresceu.

- São falsos. A Ordem acredita que a missão seria um suicídio. Harry insistiu, mas conseguimos fazê-lo abandonar a idéia.

- Não mente, Granger. – Verbalizo a frase com suavidade, sorvendo mais um gole de whisky.

- Não estou mentindo, Malfoy.

A minha sobrancelha direita levanta instintivamente e percebo que um sorriso sarcástico enfeita meus lábios.

- Granger, Granger. Não me subestime. Quando pretendem realizar a busca?

- Já disse que não iremos.

- E eu já disse que não acredito.

Ela se levanta, irritada. Joga a franja maquinalmente para trás, dirigindo-se ao corredor.

- Granger.

- Não há razão para a minha presença se não acreditará nas informações que trago.

Seguro-a pelo braço, já quase em frente à porta. Os olhos dela transmitem um ódio puro e os lábios já estão pressionados um contra o outro.

- Porra, Granger! Será que dá para você decidir de qual lado está jogando?! Que merda! Eu já estou cansado das suas encenações. Sabe muito bem que a sua vida está em minhas mãos. Que basta a minha palavra para que o Lorde execute a você a aos seus pais de sangue imundo!

- Deixa de ser idiota! Você sabe que não fará isso. Jamais jogará pela janela a sua chance de alcançar um posto de importância frente aos comensais. O orgulho sempre em primeiro lugar, não? – Ela ergue uma das sobrancelhas e eu constato que esse convívio está nos destruindo. - E para isso você depende de mim. Depende das informações trazidas por uma sangue-ruim. Não deve ser fácil, não é? – Ri um riso quase insano. – Imagine o que o seu querido papai diria ao vê-lo sujeitando-se a tudo isso.

Atiro-a contra a parede, enfurecido. Costumo manter o controle ante as mais adversas situações, fui treinado para isso, mas a menção de meu pai me ensandece. Ainda me culpo por sua morte, apesar de não lamentá-la completamente. O maldito jamais me apresentou opções, tratando-me sempre como um fantoche, entretanto, o sangue que corria em nossas veias era o mesmo. E não há como ignorar o sangue.

- Cala a boca!

- Não me mande fazer alguma coisa! Eu não sou sua subordinada, Malfoy. Toquei na ferida, é? Você sabe que se fosse menos covarde o seu pai ainda seria um dos seguidores estúpidos de Voldemort, não é?

- Cala a boca, sua vadia!

- Você é patético. E fraco.

- Pelo menos não sou um traidor.

O soco que ela desfere com a mão ainda livre quase faz com que eu perca o equilíbrio. As costas dela chocam-se brutalmente contra a parede, guiadas pelos meus braços. A minha mão vai de encontro ao rosto ligeiramente rosado, deixando uma marca. Ela geme com a dor.

- Não toque em mim, sua filha da puta.

Ela tenta agredir-me novamente, mas, atento, eu bloqueio o golpe. Respira com dificuldade, os lábios já inchados de tanto que ela os comprime. Os olhos não abandonam o ar de superioridade, nunca, e eu sinto uma vontade irrefreável de fazê-la sofrer. Com as mãos inutilizadas, num gesto alucinado, é o lábio inferior dela que eu ataco com os meus incisivos. Ela grita e se debate, mas não é forte o suficiente para desvencilhar-se de mim. Posso sentir, em questão de momentos, o gosto do sangue dela.

- Tem gosto de lama? – Ela questiona, atrevida, quando nossos lábios se afastam alguns milímetros. E eu tomo-lhe os lábios novamente só porque a voz dela me incomoda.

Ela tenta retribuir a agressão, vitimando os meus. Livro-me dos dentes dela, me afastando.

- Uma sangue-ruim não pode se dar ao luxo de conhecer o sabor do sangue puro. – Provoco, num sussurro.

Os olhos dela faíscam. A língua encarrega-se de sugar o filete se sangue imundo que escorre. Então Granger me surpreende, cuspindo em meu rosto. Não contenho a atitude instintiva de limpar o local, soltando um de seus pulsos. Ela se liberta, iniciando uma corrida, mas alcanço-a antes que tenha a oportunidade de recorrer à varinha. Pressiono-a contra o meu corpo e a beijo. Sim, a beijo, porque sei que nenhuma dor física se comparará à provocada por aquele contato. A minha língua força a passagem, invadindo-a. Ela entrega-se ao desespero, socando o meu peito sem qualquer resultado positivo. No momento seguinte, sempre imprevisível, sinto-a corresponder. A língua dela explora minha boca numa coreografia bem desenvolvida. As mãos nervosas agora buscam eliminar qualquer espaço que possa existir entre nossas cabeças. O toque dela é resoluto. E ela geme quando minhas mãos percorrem as suas costas por debaixo da blusa de seda.

Puxa os meus cabelos, já completamente desalinhados, e num ímpeto eu abro sua camisa com ferocidade, fazendo com que os botões translúcidos espalhem-se pelo hall. O sutiã que ela veste é rendado e preto, combinando com a camisa que agora repousa no chão. Os beijos são interrompidos apenas o necessário para que recuperemos o fôlego. Ela desabotoa a peça que visto, hábil, e as mãos que apalpam meu tórax logo fazem com que o tecido deslize até encontrar a madeira escura. Sinto o pano delicado roçar a minha pele. Gemo dentro de sua boca. Em instantes, a lingerie é atirada a um canto do local. A pele dela é quente e provoca calafrios por toda extensão do meu corpo. Ela me enlaça com as pernas, clamando por mais contato.

Num impulso, subo as escadas com ela em meu colo. Atiro-a em minha cama e ela não parece se aborrecer com a falta de tato. Livramo-nos dos sapatos e eu puxo a meia-calça que veste sem delicadeza, voltando a sugar-lhe os lábios assim que possível. Sinto-a desabotoar meus jeans, e auxilio-a na tarefa de retirá-los. A minha excitação é visível e a agrada. Tateio o corpo delgado em busca do zíper da saia chumbo. Arranco-a, sem pudor. Voltamos a nos beijar, as mãos percorrendo com volúpia o oponente. A penetração impedida apenas pelas nossas peças íntimas. Acaricio-a e sinto a sua umidade. A calcinha é logo eliminada. Os meus dedos a estimulam e ela não controla mais os gemidos, noto. Busca, desesperadamente, livrar-me da peça que resta. Logo a boxer preta é arremessada. Eu a olho nos olhos e ela mantém a conexão, como se fosse um jogo no qual perderia aquele que desviasse o olhar primeiro. Penetro-a com violência e o corpo dela treme sob o meu. As estocadas são intensas e os nossos gritos ecoam pela casa vazia. As unhas dela traçam uma linha avermelhada nas minhas costas, e a dor do gesto me apraz. Durante um movimento mais brusco ela aterra os dentes em meu ombro. A sensação só me incita a usar de mais selvageria. Ela não parece afligir-se.

O seu rosto contrai-se e ela geme. Sinto-a mais lubrificada. Não altero o ritmo, realizando os movimentos com avidez. Derramo dentro dela, segundos depois, sem qualquer notificação prévia. Ela goza novamente e nos entregamos àquele prazer efêmero juntos. Acomodo-me ao seu lado assim que as sensações se atenuam. Adormecemos em seguida.

Abro os olhos, um tanto atordoado, e mapeio o quarto. Encontro meus sapatos, meias e jeans espalhados pelo chão. O único sinal de que houvera alguém ali além de mim é a leve depressão no colchão. Levanto-me, já preparado para enfrentar uma Granger irritada. Ou talvez ela usasse de indiferença. Uma surpresa, sempre.

- Querida! – Chamo-a, enquanto desço as escadas, e sou quase capaz de visualizar a cara de desgosto que ela faz perante o vocativo. Não há respostas. Ela não está no hall, nem na sala. – Granger? – Nem na cozinha. – Granger?

Vasculho a casa, hesitante. Não há vestígios dela. Aparentemente, eu subestimara meu adversário. Seria necessário reforçar os feitiços de proteção, sem dúvida.


N/A: A fic foi escrita para o Challenge de Traição do fórum do Seis Vassouras. Só terá provavelmente mais uns três ou quatro capítulos. Espero que gostem. E revisem ;)