"Teddy"

"Vicky"

Victoire fez uma careta, emburrada. Não gostava muito do apelido e, consequentemente – como sua mente de quatro anos permitia – também não gostava muito das pessoas que usavam esse nome. Mas bastava um par de bochechinhas estufadas e uma carinha de má que todas elas, indefinidamente, trocavam de idéia e a chamavam pelo nome.

Todas, menos Teddy. E seu pai, mas papai era papai.

"O que foi?"

Victoire ficou muda, o biquinho ainda nos lábios enquanto baixava a cabeça e olhava de baixo para ele. Teddy tinha seis anos, quase sete, parecendo muito altivo em seu corpo magro e joelhos ralados pelas brincadeiras com o padrinho ou com os tios dela, mas aquilo não conseguia colocar medo nela.

Ao contrário, ela gostava. Principalmente quando, ao observá-lo brincando com seu pai, seu cabelo mudava de cor.

"Eu queria te mostrar uma coisa" disse, depois de um tempo, seguindo o conselho de mamãe de não ficar emburrada por muito tempo, porque isso a passaria por antipática. E ela, com sangue veela, não podia nunca parecer outra coisa sem ser bonita e adorável "Vem no meu quarto?"

Teddy pendeu a cabeça um pouco para o lado e arqueou uma sobrancelha – arte que ele aprendera a aprimorar com Gina , que fazia esse gesto toda vez que ele e Harry voltavam com algumas gotas a mais de lama para casa -, curiosidade escapando de seus olhos azulados "Mas estamos na Toca"

Victoire sorriu, metida e convencida.

Ela era tão mais esperta que Teddy.

"O meu quarto daqui, dãã"

Ele fez uma cara de entendido e, sem mais uma palavra, pegou sua mãozinha pequenininha na dele e começou a subir as escadas. Mas, quando chegaram no andar do quarto dos pais dela – não, não era propriamente dela – Victoire deixou sua mão e se colocou na pontinha dos pés para tapar seus olhos.

"É uma surpresa?"

"É"

"Mas, Vicky..."

Ela emburrou a expressão atrás dele, mas começou a andar e, assim, empurrá-lo em direção ao quarto. Ela foi até a base da caminha dela, toda em lençóis cor-de-rosa, e baixou os pés, os calcanhares tocando o chão quando suas mãos saíram da frente dos olhos dele.

"É um ursinho" ela disse, saindo de trás dele e pulando na cama, pegando o bichinho de pelúcia nos braços "Ele muda de cor, como você"

Teddy piscou, ignorando a vontade de falar que ele, em si, não mudava de cor, mas sim seus olhos e seu cabelo. Mas Victoire era só uma criança de quatro anos – e garota, ainda por cima, que só podia sofrer de intoxicação por viver rodeada por rosa – que não era sabido das coisas como ele.

Como poderia, se nunca nem machucara o dedinho?

"Ele está... verde-esmeralda" ela comentou, orgulhosa por ter se lembrado da cor a tempo de parecer uma pausa só pequenininha "Isso significa que eu estou feliz"

Ele fez que sim, pegando o ursinho quando ela lhe estendeu.

"Está lilás" ela analisou, olhando para os olhos dele com um sorriso confiante, que pouco a pouco virou curioso por causa do tom que os fios de Teddy adquiriram "Como o seu cabelo"

Ele soltou um sorrisinho "E o que isso significa?"

"Surpresa" Victoire respondeu, animada "Eu falei para o tio Rony que não seria inveja. Está me devendo uma boneca"

Teddy riu um pouquinho, e a cor mudou para um verde um pouco mais claro do que o de antes.

"E sabe qual é o nome dele?"

Ele negou.

"Teddy"

Teddy piscou, a cor de seu cabelo e do ursinho mudando para o vermelho fraquinho da quase-vergonha. Mas Victoire, sem reparar muito, pegou o bichinho de volta e fez com que a cor voltasse ao verde clarinho.

Era felicidade. E, subitamente, os olhos dele penderam para o mesmo tom.

OoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoO


Não, eles não são precoces. Só amiguinhos mesmo XD

PS: Não sei se vocês gostam dele, se já leram um livro dele. Saramago não estava na lista dos meus autores favoritos, mas eu queria poder fazer mais por ele que uma ou duas linhas de homenagem pelo grande feito que ele fez à Literatura.