Capítulo 1

Giovanni se aliviava no banheiro imundo enquanto Guilhermino o chamava de volta para o jogo de cartas, e não conseguia parar de pensar no quanto seu amigo era um porco maldito. Primeiro, ele arranjara problemas ao esfaquear o neto de Don Sarutobi, transformando todo o bando em um alvo para a Cosa Nostra. Tudo bem que o pirralho é um bastardo pretensioso dos infernos. Mas precisava colocar a cabeça de todo mundo a prêmio por uma besteira?

Depois, para melhorar as coisas, arranjam uma merda de esconderijo. Uma casa de dois andares, alugada por uma pequena fortuna, mas sem rádio nem um banheiro limpo. Pelo menos seria por pouco tempo. O navio para a América partia no dia seguinte, pela manhã. Eles já estavam escondidos há cinco dias.

E para terminar essa semana de merda, Giovanni havia sido limpo no jogo de pôquer por Guilhermino. Justo por ele.

Amarrou as calças, e já ia saindo quando ouviu os tiros. Seus companheiros gritavam e praguejavam, e logo mais tiros se seguiram, o barulho de mesas virando se misturava aos gritos de agonia dos que já estavam morrendo. Em poucos segundos, tudo havia silenciado.

Giovanni sabia que todos os seus amigos estavam mortos agora. Na verdade, ele já sabia antes mesmo do tiroteio acabar. Ninguém nunca sobrevivia quando Don Sarutobi soltava o seu cão selvagem.

Por isso tratou de pular para o beco para onde a pequena janela do banheiro saia. Se conseguisse chegar até o carro, poderia correr para o porto e pegar o primeiro navio que encontrasse para qualquer parte do mundo. A Sibéria era melhor que a morte, de fato.

Ele só precisava ser mais rápido que o assassino.

Não era.


Don Sarutobi alimentava seu pequeno macaco de estimação. Era uma lembrança de seu filho Azuma, oficial do exercito italiano morto durante a primeira guerra mundial. Quem trouxe o macaco para ele quando a guerra acabou foi Shikamaru, antigo sargento de ordens do pelotão que Azuma comandava na África. Segundo ele, o oficial havia comprado o macaco para divertir a família quando voltasse.

Sarutobi tinha um apreço especial pelo garoto Shikamaru, apesar de não ser um oficial como seu filho, era realmente muito esperto e, o melhor, pouco ambicioso. De fato, Sarutobi teve de convencê-lo a trabalhar para ele, mas agora ele realmente havia entrado no jogo. Era um dos seus melhores novatos.

Quem estava chegando agora, por outro lado, assustava muito o velho siciliano. Claro, ele jamais demonstraria isso para qualquer um. Ou não seria Don Sarutobi.

Kiba, o cão selvagem da Cosa Nostra. Os dentes eram amarelados, mais ainda fortes e ameaçadores para quem conhecia algumas das histórias do assassino. As roupas em nada lembravam a tradicional elegância de todos os comandados de Sarutobi. Calças e sapatos comuns, mas de boa qualidade, uma camisa branca já meio amarelada, terno e gravata de um sóbrio cinza. Completando a indumentária, um sobretudo marrom e o chapéu de abas largas.

O chapéu era o item mais estranho do vestuário. Na verdade ele servia apenas para esconder o rosto que era motivo de vergonha para Kiba. Não bastasse a marca de nascença na sua face esquerda, avermelhada e semi-triangular, a cicatriz de uma queimadura arrasara a sua face direita. Juntas elas lhe davam um aspecto bestial, como se ele fosse o próprio anticristo, vindo a terra para espalhar o terror, o desespero e a destruição.

– Está feito? – perguntou Sarutobi.

– Sim. Está. – respondeu o assassino.

– Ótimo. Suma por uns tempos. Eu vou cuidar o resto agora.

– Sim, senhor. Como está seu neto?

– Vai sobreviver. Eu agradeço, Kiba. Você me ajudou muito.

– Foi um prazer, senhor. Estimo melhoras ao Konohamaru. Com sua licença.

– Você a tem.

– Até mais, senhor.

– Até mais, Kiba.